quarta-feira, janeiro 23, 2008

Comunidade Ucraniana da Noruega

Até recentemente, os ucranianos que viviam na Noruega, eram muito poucos. A emigração “velha”, do período pós – segunda guerra mundial, estava diminuir drasticamente e a emigração “nova”, dos anos 90, era bastante rara.

Por isso, sempre é muito interessante falar com a líder da Comunidade Ucraniana da Noruega, Sra. Natália Ravn – Hristensen. Sra. Natália é natural da Galiza ucraniana, ela foi graduada pela Academia da Imprensa (especialidade: negócio editorial e correcção). Trabalhou cinco anos na cidade de Lviv na rádio “Lux”, onde era responsável pela publicidade. Casou-se com um dinamarquês e dois anos viveu na Dinamarca, depois o seu marido foi enviado em missão de serviço a Noruega. E desde primeiro dia Sra. Natália apaixonou-se tão fortemente pelo país, que decidiu nunca mais voltar a viver na Dinamarca.

Proponho a entrevista com a Sra. Natália Ravn – Hristensen, publicada no jornal da comunidade ucraniana da Austrália, “The Free Thought” (Вільна Думка), № 2927-28 de 2007, conduzida pelo jornalista Yuriy Atamanyuk.

O que a Noruega tem de especial?

Primeiro, porque na Noruega é muito simples arranjar o emprego. Ainda sem saber falar norueguês, eu perguntei numa creche se eles precisam de pessoal e a directora me disse que com muito gosto e perguntou se eu poderia começar amanha. Eu falava dinamarquês, por isso acharam que sou dinamarquesa. Nunca perguntaram sobre minha nacionalidade e só muito mais tarde souberam que sou ucraniana. Depois trabalhei na rádio, agora tenho uma empresa privada no ramo da óptica.

Alem disso, os noruegueses não dividem as pessoas entre os “seus” e “alheios”, eles gostam dos estrangeiros (na Dinamarca senti muito a divisão entre “nós” e “vocês”). Também descobri que a historia da Noruega é muito parecida com a historia da Ucrânia. Até a situação linguística é muito parecida com a ucraniana. Por isso logo que cheguei, me tornei a nacionalista norueguesa (em qualquer discussão com o meu marido dinamarquês, tomo a parte norueguesa). E as relações entre a Dinamarca e Noruega são muito parecidas com a situação na Ucrânia nos últimos 300 anos. Por exemplo, fiquei chocada, quando soube que o escritor norueguês Henrik Ibsen foi “privatizado” pelos dinamarqueses. Ibsen escrevia em dinamarquês, pois na altura não existia o norueguês escrito, mas ele escrevia sobre a Noruega. Quando os noruegueses me perguntam sobre a Ucrânia, eu respondo que “vosso Ibsen é como o nosso Gogol”. Ele escrevia em russo, embora existia a língua ucraniana escrita, mas as circunstâncias ditaram essa opção. E depois dessa conversa, já o norueguês não pode confundir a Ucrânia com a Rússia.

Como os ucranianos pararam na Noruega?

Primeiro, as mulheres que se casaram com os noruegueses. Ainda 7 – 8 anos atrás, no pais quase não havia ucranianos, alem dos muito poucos da geração da pós – II G. M. Depois veio o programa OPEP (trocas culturais), as mulheres ucranianas trabalham no país dois anos, depois voltam a Ucrânia, algumas se casam ou ficam para estudar. Terceira categoria – os estudantes, hoje não é muito difícil arranjar uma bolsa para estudar na Noruega. Existem também os professores ucranianos nas Universidades, temos as pessoas que trabalham na indústria petrolífera, mas estes vivem num mundo um pouco a parte.

Comunidade Ucraniana. Realidade actual.

A ONG “Comunidade Ucraniana de Noruega” foi oficialmente criada no dia 3 de Outubro de 2004, organização recebe ajuda do estado norueguês; contava com 50 membros em 2006 e 46 em 2007. Na criação da Comunidade ajudou bastante a Embaixada da Ucrânia na Noruega. Comunidade comemora Natal, Páscoa, organiza as tardes poéticas, encontrando-se uma vez por mês, num café na cidade de Oslo, que pertence à uma ucraniana, natural da cidade de Odessa. Entre as visitas constantes temos um companheiro de Symon Petliura (a sua vida foi contada em livro que foi editado em norueguês) e uma senhora que se mudou para o país depois do fim da II G. M. O resto é a juventude, as pessoas com 25 – 30 anos. Também recebemos o apoio moral dos maridos noruegueses, que nos visitam com as suas esposas. É muito gratificante ver que nas famílias mistas, as crianças falam as duas línguas: norueguês e ucraniano. Neste momento nós estamos reunir um grupo de crianças, porque pretendemos criar uma creche ucraniana e a escola sabática. Agora já temos dois grupos de crianças entre 3 a 6 anos e um grupo entre 9 a 12 anos.

Também temos uma mulher – psicólogo, que foi formada na Universidade de Oslo, ela dá consultas para as nossas mulheres. Pois nossa comunidade é basicamente feminina, é normal que nos encontros habituais aparecem 15 mulheres e apenas 2 homens.

E como fica a vida cultural da Comunidade?

Temos entre nós um verdadeiro artista, Sr. Ruslan de Kyiv, que canta em norueguês, sueco e ucraniano. Nos últimos cinco anos ele era o líder da Comunidade Ucraniana na Suécia. Ele nós ajuda em tudo que pode: traz nos músicos e escritores, organiza encontros poéticos. Temos as pessoas que gostam de cantar, mas não temos um grupo organizado. Mas cantamos em todos os nossos encontros, as vezes até levamos a guitarra e cantamos no parque da cidade.

Pessoalmente, sinto me integrada na sociedade norueguesa: falo norueguês, trabalho com os noruegueses, tenho muita gente conhecida e amigos noruegueses.

E a nostalgia pela casa?

Tenho tantos planos e tanto trabalho que não tenho tempo de pensar nisso. Só quando vou visitar a casa. Aparecem tantos sentimentos, principalmente quando oiço as crianças cantar as canções ucranianas. Senti isso no dia do Santo Nicolau (Pai Natal ucraniano, que aparece para dar as prendas na noite de 6 para 7 de Janeiro, correspondente em Portugal & Espanha a noite de Reis Magos), ele pediu que as crianças cantarem ou dançarem. Era lindo de ver, fiquei com umas memórias muito agradáveis.

Sem comentários: