sábado, junho 07, 2025

Restalinização rápida da rússia cada vez mais neo-estalinista

O monumento ao Estaline erguido no mêtro de Moscovo/ou em maio de 2025

No final do século XX na rússia permaneciam intactos cerca de 15 monumentos ao Estaline. Hoje existem 131, na sua maioria – 116 – foram reerguidos durante a presidência de putin. O processo de estalinização acelerou significativamente após a anexação da Crimeia e o início da guerra na Ucrânia em 2014. 

Monumento de Estaline em Kyiv, década de 1930

Os monumentos a Estaline que aparecem nestas duas fotos estavam erguidos no centro de Kyiv, ao lado da atual Praça Europeia. O primeiro, foi erguido no final da década de 1930, era uma escultura de betão de 30 metros que foi destruída pelos alemães em 1941. No início de 1950, foi erguido um monumento temporário na mesma praça, que recebeu o nome de Estaline e que se tornaria ainda mais monumental no futuro. Foi desmantelado em 1956, na sequência da política de destalinização no decorrer do «degelo» de Khruschev.

Monumento de Estaline em Kyiv, década de 1950

Desde os meados da década de 1960 não existem monumentos ao Estaline na Ucrânia. Mas na rússia de putin surgem, como cogumenlos venenosos, vários monumentos do ditador comunista soviético. Como se pode ver no mapa, o maior número de monumentos ao Estaline aparece no território junto aos «centros de decisão», mas não há falta deles no resto das terras russas. Os monumentos ao Estaline já estão presentes em 47 regiões da federação russa, em 125 povoações e cidades.

Os monumentos ao Estaline na rússia atual e na Crimeia ocupada

O maior número de monumentos foi erguido na Ossétia do Norte – em 26 povoações. Existe a versão de que Estaline era um osseta, embora ele próprio o tenha negado. O segundo maior número de monumentos está no Daguestão, nove unidades e o terceiro lugar ocupa a Iacútia – há monumentos em oito povoações.

putin e Estaline

putin mencionou Estaline mais de 60 vezes nos seus discursos e aparições públicas (a análise abrange o período de 2000 a 2024). O tom destas referências indica a evolução da atitude do autocrata russo atual em relação à figura do seu antecessor totalitário do século XX. 

No início do seu reinado, putin flertava simultaneamente com conservadores e tradicionalistas, bem como com democratas e liberais. Além disso, procurava agradar ao Ocidente, razão pela qual fazia uma avaliação negativa de Estaline nos seus discursos e entrevistas. 

Na década de 2000 putin, posicionou-se como um modernizador que não tem medo de chamar a repressão de repressão e os campos de concentração de GULAG de uma tragédia: «As feridas de muitas pessoas que realmente se lembram de todo o horror dos campos de Estaline ainda estão a sangrar». O vocabulário de Putin incluía frases sobre o brutal regime estalinista: «Não vamos fechar os olhos aos lados negativos das actividades deste regime estalinista». 

Em 2024 putin já tem o seu próprio Estaline. Não apenas o líder da era soviética, mas quase um reflexo do próprio putin: aquele que supostamente zelava pelos interesses nacionais, protegia os valores tradicionais e até aparecia como uma pessoa religiosa, que se virou para Deus a tempo: «A Grande Guerra Patriótica começou [a guerra nazi-soviética de 1941] e o que aconteceu? Molotov, lembram-se de como dirigiu, informando o povo soviético de que a guerra tinha começado? Como se dirigiu? «Cidadãos e cidadãs». Estaline, alguns dias depois, disse algo diferente: «Irmãos e irmãs».

Ler mais: https://texty.org.ua/articles/115175

A reação da Igreja Ortodoxa Russa ... no estrangeiro

De alguma forma surpreendente, mas a Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro (conhecida pela sua sigla em inglês, a ROCOR) criticou duramente a estalinização na federação russa. O Sínodo dos Bispos da ROCOR destacou que «em alguns círculos» da sociedade russa há um «regresso à ideologia falsa e anti-Deus que prevaleceu no século passado». «Tememos que, se isto continuar, a rússia, em vez de ser um farol brilhante da verdade ortodoxa (...), se torne uma mancha escura entre as nações», lê-se no discurso do sínodo. 

Em particular, a liderança da ROCOR critica as alterações introduzidas em 2024 no «Conceito de Política de Estado para a Perpetuação da Memória das Vítimas da Repressão Política» da rússia. «Em vez de uma compreensão sóbria da essência do regime criminoso, que custou inúmeras vítimas à rússia durante dezenas de anos, em vez de aprofundar a memória do povo sobre a tragédia que lhe aconteceu, o novo «Conceito» retrocede-a, restringindo este tópico espiritualmente significativo», enfatiza ainda mais o apelo. 

O Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa no Estrangeiro considera também «aterrorizante» a recente instalação em Moscovo de monumentos a Iosif Estaline e Felix Dzerzhinsky — «pessoas cujas atrocidades desumanas e anticristãs podem ser consideradas entre as piores do século XX». 

É de recordar que a ROCOR é a igreja ortodoxa que deixou a rússia juntamente com a emigração «branca», uma parte da sociedade russa que emigrou após 1917 e principalmente 1920-22, derrotada, pelos bolcheviques, na guerra civil russa. No entanto, após 80 anos de separação, a 17 de maio de 2007, a ROCOR, assinou oficialmente o Ato de Comunhão Canónica com o Patriarcado de Moscovo/ou, restaurando o vínculo oficial entre as duas igrejas. Apenas a parte menor das paróquias, incluíndo algumas brasileiras, se recusaram essa união e permanecem independentes de Moscovo/ou, que usa diversos meios de persuasão, para conseguir deitar a sua mão aos «irmãos intransigentes».

Adéus (bastante parcial) do Lenine no Quirguistão 

Foto de arquivo: o monumento a Lenine na cidade de Osh

Um monumento ao Lenine com 23 metros de altura foi desmontado no Quirguistão – era o monumento a Lenine mais alto da Ásia Central. Na cidade de Osh, no sul do Quirguistão, as autoridades decidiram substituir o monumento ao «líder do proletariado mundial» por uma bandeira nacional quirguiz num mastro de 95 metros. A estátua de bronze de Lenine foi retirada do seu pedestal na noite de 7 de junho e deixada na praça central da cidade, em frente à câmara municipal. Ao mesmo tempo, as autoridades locais pediram «para não politizar o processo», pois argumentam que «há exemplos de cidades russas onde monumentos a Lenine também foram desmontados ou movidos». 

Como recorda a agência AFP, citada pela DW, nos últimos anos, nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, em particular no Cazaquistão e no Quirguistão, os topónimos russos foram substituídos por nomes em línguas nacionais. Este tem sido alvo de críticas frequentes da e na rússia.

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