![]() |
| Manifestação de judeus «refuseniks» em Moscovo, 10 de janeiro de 1973 |
![]() |
| O visto de saída permanente (normal, tipo M) da União Soviética. Ao sair definitivamente do país, o indivíduo perdia a cidadania soviética. |
O processo de apresentação e análise dos pedidos de saída era acompanhado por uma série de formalidades burocráticas sufocantes, destinadas a tornar a emigração em massa o mais difícil possível, ou melhor ainda, impossível. Antes da ratificação do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, em 1973, a URSS não reconhecia formalmente o direito à livre emigração, e a emissão de autorizações de saída dependia exclusivamente da boa vontade das autoridades.
![]() |
| Piquete nos EUA exigindo a libertação dos «prisioneiros de Sião» na União Soviética |
![]() |
| Uma manifestação em Los Angeles organizada pelo Conselho do Sul da Califórnia para a Liberdade dos Judeus Soviéticos |
O desejo de emigração era especialmente forte entre os judeus soviéticos, mas também entre outros grupos étnicos – alemães, gregos, armênios, tártaros da Crimeia, bem como entre os crentes de grupos religiosos que sofriam repressão das autoridades comunistas – os ortodoxos «velhos crentes», pentecostais, batistas, adventistas, testemunhas de Jeová, católicos em geral e greco-católicos ucranianos. Todos os «refuseniks» eram frequentemente alvo de perseguição, como, por exemplo, demissão do trabalho e, consequente perceguição judicial, sob o pretexto de «parasitismo». Oficialmente, a União Soviética, exigia aos seus cidadãos de possuir, obrigatoriamente, um local de trabalho formal. O sentimento de emigração entre os judeus aumentou acentuadamente após a Guerra dos Seis Dias de 1967 e a guerra de 1973, quando a URSS se aliou completamente aos países árabes em sua luta armada contra o Estado de Israel e apoiou movimentos palestinos radicais.
![]() |
| Agentes da KGB inspecionam uma exposição não autorizada, dedicada ao feriado israelita/israelense do Dia de Jerusalém, organizada na floresta de Ovrazhki, arredores de Moscovo/ou, 1979 |
A Guerra dos Seis Dias provocou um ressurgimento da consciência nacional dos judeus soviéticos. Em 10 de junho de 1968, um ano após o rompimento das relações com Israel, o Comité Central do PCUS recebeu uma carta conjunta da liderança do Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores da URSS e do KGB, assinada pelos Gromyko e Andropov, propondo permitir aos judeus soviéticos de emigrarem legalmente. No final da década de 1960 e início da década de 1970, a política de União Soviética sobre a repatriação para Israel se suavizou e, entre 1969 e 1975, cerca de 100.000 repatriados da URSS chegaram a Israel.
![]() |
| Emigrantes judeus chegam da URSS a Israel, 1972 |
No início da década de 1970, após o caso da tentativa de sequestrar e desviar um avião de passageiros do Leninegrado ao exterior, as autoridades soviéticas flexibilizaram as restrições à emigração da URSS para outros grupos étnicos que desejassem fazê-lo. No entanto, no início da década de 1980, após o início da Guerra do Afeganistão, surgimento de sindicato Solidariedade na Polónia e o exílio forçado do académico Dmitry Sakharov, as autoridades decidiram «encerrar» a emigração, e muitos daqueles que haviam solicitado a sua saída tiveram os pedidos recusados. Eles passaram a ser chamados de «refuseniks», uma mistrura de palavras, do inglês «to refuse» - «recusar» e do russo «otkaznik», o alvo de uma recusa, embora as recusas já tivessem sido praticadas antes. Se em 1979 os 51.333 judeus soviéticos receberam os vistos de saída, em 1982 foram recebidos 2.688 vistos, em 1983 - 1.315, e em 1984 apenas 896. As autoridades soviéticas anunciaram que não havia mais famílias aguardando a reunificação, embora isso não fosse a verdade e famílias de muitos judeus soviéticos os aguardavam no Israel e no Ocidente em geral.
Livro propagandista soviético de Yuri Ivanov «Cuidado: Sionismo!» (em cima), 1970. Foi publicado durante a fortíssima campanha Estatal antissemita, mascarada de antissionista, que começou em 1967, após a URSS romper relações diplomáticas com Israel em resultado da Guerra dos Seis Dias. O livro antissemita de autoria de um propagandista judeu, Adolf Edelman «Judaísmo: Passado sem Futuro», 1977.
![]() |
| «Refuseniks» no Aeroporto de Sheremetyevo se despedem de seu camarada partindo para Israel, 1970 |
Um movimento significativo em defesa dos «refuseniks», e especialmente dos «prisioneiros de Sião» (ou seja, os «refuseniks» presos), desenvolveu-se nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Israel e outros países ocidentais.
«Prisioneiro de Sião», Iosif Begun, que passou oito anos em prisões e campos de trabalho forçado. Ele aparece em um cartaz da organização americana em defesa dos judeus soviéticos, 1985.
![]() |
| Participantes da greve de fome em Moscovo/ou: 36 «refuseniks» judeus georgianos, julho de 1971 |
![]() |
| Manifestação de judeus «refuseniks» em Leningrado |
![]() |
| Imigrantes da URSS no Aeroporto Ben-Gurion |
Os ativistas foram acusados de alta traição, crime punível com pena de morte nos termos do artigo 64º do Código Penal da rússia soviética. Mark Dymshits e Eduard Kuznetsov foram condenados à morte; mas, depois de protestos internacionais, a pena foi reduzida para 15 anos de encarceramento; Yosef Mendelevitch e Yuri Fedorov: 15 anos; ucraniano Oleksii Murzhenko: 14 anos; Sylva Zalmanson (esposa de Kuznetsov e a única mulher em julgamento): 10 anos; Arie (Leib) Knoch: 13 anos; Anatoly Altman: 12 anos; Boris Penson: 10 anos; Israel Zalmanson: 8 anos; Wulf Zalmanson (irmão de Sylva e Israel): 10 anos; Mendel Bodnya: 4 anos.
Trailer do filme documental Operation «Wedding», da diretora Anat Zalmanson-Kuznetsov (2016):
Em 20 de maio de 1978, no estado americano de Nova Jersey, o FBI deteve o espião soviético Vladimir Zinyakin junto à um esconderijo de materiais confidenciais. No mesmo dia, agentes do FBI prenderam seus colegas dois outros espiões soviéticos, V. Enger e R. Chernyaev, que estavam na área onde a operação estava sendo realizada. Zinyakin, que tinha imunidade diplomática, foi libertado. Enger e Chernyaev foram condenados a 50 anos de prisão. Após negociações, em 27 de abril de 1979, em Nova York, dois oficiais de inteligência soviéticos (Enger e Chernyaev) foram trocados por cinco dissidentes (incluindo Kuznetsov e Dymshits). Nos Estados Unidos e em Israel, os «aviadores» foram recebidos como heróis. Além de Kuznetsov e Dymshits, Anatoly Altman, Wulf Zalmanson, Arie Knoch, Boris Penson e Gilel Butman foram libertados no início de 1979.
Da esquerda para a direita: o grupo do «aviadores desviadores»: Arie Khnokh, Wulf Zalmanson, Boris Penson, Anatoly Altman e um dos líderes da organização sionista de Leningrado, Gilel Butman, antes de partir para Israel.
![]() |
| Panfleto ocidental em apoio dos «aviadores desviadores». Imagem: (c) acervo pessoal de Maxim Kravchinsky (Toronto) |
Em 1987, com a liberalização gradual do regime soviético, a grande maioria dos «refusenik» recebeu permissão para emigrar e, no final da década de 1980, esse foi desaparecendo. O fim dos «refusenik» se deu por completo com o colapso da URSS em 1991 e a adoção de leis sobre a liberdade de entrada e saída do país.
![]() |
| O primeiro-ministro israelita/israelense Yitzhak Rabin aperta a mão de emigrantes judeus a bordo de um avião voando para Israel, 1994 |
















Sem comentários:
Enviar um comentário