![]() |
Imagem ilustrativa: ID do KGB da Ucrânia Soviética |
Estamos em 1971, em plena Guerra Fria. KGB da Ucrânia soviética está preocupado com a compra de uma copiadora, papel e envelopes ocidentais para as suas necessidades operativas.
No decorrer das tarefas constantes, KGB organizava várias operações clandestinas no Ocidente, nomeadamente na luta permanente contra a emigração política ucraniana. Moscovo empregava diversos tipos de ações: desde os assassinatos até o fomento de conflitos entre os diversos grupos e correntes políticos da Diáspora ucraniana.
Para tal, os chekistas precisavam de imprimir e distribuir os folhetos/brochuras em nome de outrem, pretendendo se passar por determinadas organizações da Diáspora, para fomentar a divisão nos opositores do regime soviético. Só que o papel de escrever e as máqinas de fotocópias soviéticas bastante rudimentares, não eram adequados para essas tarefas. Quer pela sua má qualidade, quer pelas diferenças tecnológicas, que os fariam facilmente detectáveis.
Assim, no documento datado de 27 de julho de 1971, e dirigido ao vice-chefe do 12º Departamento da Primeira Direção principal do KGB da URSS, em Moscovo, solicita-se a compra, no Berlim Ocidental, de uma copiadora e 5.000 folhas de papel, de fabrico ocidental /«não cara e sem as marcas de água»/. No mesmo documento explica-se que KGB da Ucrânia soviética prepara uma operação da «bandeira falsa», querendo fabricar um panfleto, em nome da OUN-solidaristas (o nome usado pela ala histórica da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, a OUN-M).
Além disso, o chefe da 1ª Direção do KGB da Ucrânia soviética, coronel Timofeev, solicita a compra de:
- Papel de datilografar fabricado nos EUA: 3.000 folhas
- Papel de datilografar fabricado nos EUA, tamanho 19x14: 500 folhas
- Papel de datilografar fabricado nos EUA, tamanho 17,5x12: 500 folhas
- Papel de datilografar fabricado nos EUA, tamanho 26,5x19: 500 folhas
- Papel de datilografar fabricado no Canadá: 1.000 folhas
- Envelopes fabricados no Canadá: 500 unidades
- Papel de datilografar fabricado na Inglaterra: 1.000 folhas
- Envelopes fabricados na Inglaterra: 500 unidades
Dado que a compra deste tipo de «produtos estratégicos» não pode ser confiada à quaisquer pessoa, o camarada Timofeev faz a sugestão: os compradores podem ser dois ex-oficiais da 1ª Direção do KGB da Ucrânia soviética, anteriormente transferidos de Kyiv à Alemanha socialista, passando pelos funcionários soviéticos civis. Nomeadamente, o tenente-coronel Pakhomov, que se faz passar por jornalista da agência noticiosa soviética TASS e major Bezugly, alegado representante do Comité Soviético para as Relações Culturais com os Compatriotas no Estrangeiro.
Num caso relacionado, KGB informava, que numa outra operação da «bandeira falsa», compôs um panfleto e depois produziu e enviou 244 cópias (4 foram enviadas ao Brasil), onde em nome da ala revolucionária da OUN, a OUN(B), acusava Mykola Lebed (UHVR) e Oleh Sztul (OUN-M) de colaboração com os serviços secretos americanos. Usando para tal os envelopes fabricados na Alemanha Federal e uma máquina de escrever IBM.
Fonte: Arquivo Estatal Setorial do SZRU, via historiador Eduard Andrusenko
![]() |
Muito possivelmente o panfleto em questão, fabricado pelo KGB |
Tendo em conta, que os métodos das secretas russas (GRU, FSB e SVR) não diferem muito dos métodos do KGB, importa se lembrar que, por exemplo, hoje muitas das funções, oficiais e naturalmente clandestinas, no Ocidente, são executadas pela Rossotrudnichestvo, oficialmente, a agência federal de promoção das relações internacionais, a cultura e a cooperação humanitária da rússia. Naturalmente, os espiões russos já não compram os produtos da papelaria no Ocidente, compram outros meios, por exemplo, as consciências dos certos ex-militares portugueses, que, mau menor, ao menos já estão na reserva...