sábado, setembro 13, 2025

Ivan Kotliarevsky: o pai da literatura moderna ucraniana

A 9 de setembro de 1769, nasceu em Poltava Ivan Kotlyarevsky, fidalgo, maçon, escritor, poeta e dramaturgo, o pai da literatura moderna ucraniana, o primeiro que começou à escrever as suas obras em língua comum ucraniana. Autor do poema «Eneida» (versão burlesca ucraniana da obra original do Virgílio) e de várias peças teatrais. 

Sobre os seus ombros surgiu a literatura ucraniana moderna, que contribuiu para a formação da identidade nacional ucraniana, o estabelecimento da língua literária ucraniana, a formação da cultura e da arte. Este é um acto revolucionário que elevou a nação ao nível da cultura dos países europeus, uniu os cidadãos em torno de prioridades de valores e direccionou-os para a restauração da sua soberania.

«Iluminada pelo sol, inflamada pelas paixões terrenas, a Eneida», de Ivan Kotlyarevsky (nas palavras do escritor ucraniano Oles Honchar), foi o primeiro monumento impresso da nova literatura ucraniana, uma enciclopédia da vida popular que revelou ao mundo a história da luta de uma grande nação, velada pelos costumes originais, pela vida quotidiana, pelo humor e pela sabedoria popular.

A ilustração de «Eneida» da autoria do Anatoliy Bazylevych

Um poema burlesco que, tendo iniciado um diálogo com o próprio Virgílio, atingiu um elevado nível europeu e uma grande popularidade. Não se trata apenas do passado heróico, da cultura, dos valores, bem como de um diálogo franco em pé de igualdade com a antiguidade, mas, sobretudo, do despertar da autoconsciência nacional, tão importante em todas as encruzilhadas do destino. É o que acontece também nas peças teatrais «Natalka Poltavka» e «Moskal-charivnyk» (Moscovita-curandeiro). São uma página brilhante do novo drama e teatro ucraniano, que fortaleceram o código cultural ucraniano. 

Ver «Natalka Poltavka» (filme ucraniano de 1978)

A historiadora ucraniana Hanna Cherkaska:

Jovem Ivan estudou no Seminário Teológico de Poltava, onde prevalecia um regime rigoroso. O maior inferno para ele era decorar a «Eneida» de Virgílio em latim. A falta de pedagogia irritava de tal modo Kotlyarevsky que começou a escrever poesia, seleccionando rimas engraçadas com habilidade e chegou a parodiar a «Eneida». Em companhia de outros estudantes lia as primeiras páginas da sua «Eneida», escrita por diversão.

Em 1808, o enérgico Kotlyarevsky ocupou o posto do diretor do Lar de Educação de Filhos de Nobres Pobres de Poltava. Serviu ali durante mais de um quarto de século. Os alunos, nada fáceis de lidar, adoravam Kotlyarevsky, cativava-os com o seu carácter: corajoso, decidido e, ao mesmo tempo, simpático e generoso. Despreocupado e otimista, nunca se queixava: «Não sou um mestre da piedade: tenho medo das lágrimas e do amor.» Após o fim da guerra napoleónica, em 1812, o czar russo Alexandre I assinou a reforma de Kotlyarevsky com o posto de major do exército e o direito de usar a uniforme. Kotlyarevsky recebeu um anel de diamantes e uma pensão de 500 rublos anuais, muito dinheiro na época. Uniformizado, viveu uma vida aventureira como nobre, frequentador de teatros e amante das mulheres. Em Poltava, com uma população de 8.000 habitantes, não havia jornal nem teatro, e as lojas maçónicas também estavam proibidas, pelo que Ivan Kotlyarevsky decidiu abrir um teatro. Abriu-o e, depois de ganhar experiência, foi para Kharkiv, onde visitou o Teatro Stein, criado e dirigido por encenador teatral ucraniano Kvitka-Osnovyanenko. Kotlyarevsky observou atentamente a prestação dos melhores atores da trupe e convidou-os a ir a Poltava em nome do Governador-Geral militar, Príncipe M.G. Repnin. O jovem major chamou a atenção da prima-dona do teatro de Kharkiv, Tetiana Pryzhenkivska. A animada cantora e dançarina gostou de Hryhoriy Kvitka-Osnovyanenko, conheceram-se e amaram-se. Kvitka pretendia se casar, mas a sua mãe fidalga disse categoricamente «não». Em consequência, Tetiana se casou com alguém que não amava, não perdoando Kvitka por isso.

«Marusia», o drama romántico de Hryhoriy Osnovyanenko, pulicado em Lviv, edição de 1849

A 1 de setembro de 1819 se estreia a primeira peça teatral ucraniana profissional da autoria de Ivan Kotlyarevsky, «Natalka Poltavka», se estreiou no palco do Teatro de Poltava. O papel de Natalka foi interpretado por Tetiana Pryzhenkivska.

Kotlyarevsky brilhava sempre com um sorriso amigável, repleto de piadas e elogios subtis. Alguns admiravam-no, como escritor ucraniano Gulak-Artemovsky, que escreveu que nada poderia ser melhor do que a «Eneida»; outros chamaram o poema de «brincadeira inteligente».

Pouco antes da sua morte, Ivan Kotlyarevsky libertou todos os seus criados (duas famílias, 6 pessoas no total) e distribuiu os seus bens móveis e imóveis entre os parentes e amigos. Legou uma casa no valor de 6.000 rublos à viúva de um suboficial, Motra Veklecheva, a sua governanta. Não deixou descendentes diretos e não passou os direitos autorais das suas obras a ninguém.

Faleceu a 10 de novembro de 1838, com 70 anos. Enterraram alguém que amava a vida, que sabia rir e amava rir, em mau tempo, à chuva, cujas gotas lavavam as lágrimas brilhantes dos habitantes de Poltava — o sentimento de perda indescritível era universal e sincero.

A sua obra-prima, a «Eneida» demorrou 26 anos para ser escrita. O poema foi publicado na íntegra em 1942 em Kharkiv já após a morte do autor.

O monumento do Ivan Kotlyarevsky em Poltava. Foto: visitpoltava

O czar russo Nicolau II permitiu a inauguração do monumento de Ivan Kotlyarevsky em Poltava em 1903, não em homenagem à um escritor ucraniano, mas na sua qualidade de um herói da guerra napoleónica de 1812. 

A primeira imagem ilustrativa de Natalka Poltavka, que, provavelmente Kotlyarevsky (na sua própria definição uma «ópera») chegou à ver. 

Publicação: Estrela da Manhã. Recolha de artigos em verso e prosa. Livro 2. – Kharkov, 1833. – No verso da página de rosto: Na Tipografia da Universidade, 1834. – VII, 100 p. 

Hoje, recordamos o seu primeiro amor, a maçonaria, padroeira secreta, a respeito do Taras Shevchenko e a versão mais popular da «Eneida», que foi publicada e reimpressa quase vinte vezes. A ilustração inicial é do famoso desenhador ucraniano Anatoliy Bazylevych.

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