KGB já tinha informações de que organizações de emigrantes ucranianos tinham, em vários momentos, desenvolvido planos estratégicos sobre a possível formação de unidades ucranianas a partir de ex-militares. Tais ideias foram consideradas principalmente nas décadas de 1920 e 1930. Entendeu-se que, no caso de uma nova guerra global entre os países ocidentais e a URSS, tais unidades seriam capazes de participar na luta para restaurar a independência da Ucrânia.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, tais planos ainda estavam a ser considerados durante algum tempo. Depois disso, a ideia foi posta em causa pela liderança político-militar dos países ocidentais, em particular dos Estados Unidos. Apesar disso, Moscovo encarregou o KGB de recolher toda a informação disponível sobre este tema junto dos centros de emigrantes ucranianos no estrangeiro, em particular sobre todos os ucranianos que se juntaram ao exército dos EUA. Eram considerados como aqueles que podiam ser utilizados para fins de sabotagem e espionagem contra a URSS. Assim, a liderança do KGB estava cautelosa com as informações obtidas pelos agentes sobre «um aumento do recrutamento de jovens de origem ucraniana pelos americanos para o exército».
Noutro caso, Moscovo foi informada sobre alegada conversa entre um turista /ucraniano/ de visita nos Estados Unidos, com o vice-presidente da União Popular Ucraniana, Stepan Kuropas. Terá perguntado ao turista o que aconteceria se três ou quatro divisões de paraquedistas ucranianos desembarcassem no território da Ucrânia e se o povo ucraniano os apoiaria. KGB concluiu que tal foi feito por uma razão e que tal curiosidade se baseava em informações disponíveis «sobre a preparação dos americanos para lançar paraquedistas, formados de emigrantes ucranianos na Ucrânia em caso de conflito armado». Esta instigação artificial de falsas ameaças e a inflação da situação eram típicas das actividades dos serviços secretos soviéticos daquela época. Tanto para confirmar ainda mais a sua importância e necessidade, como para mobilizar todo o aparelho de Estado e a população face à suposta ameaça dos inimigos capitalistas.
Por conseguinte, o KGB começou a compilar propositadamente listas de emigrantes ucranianos que serviram no Exército americano. Incluíam informações sobre os pais, local de residência, participação em organizações ucranianas, o local e ramo de serviço, as promoções. Juntamente com estas breves informações, haveria menção especial que a pessoa estava registada na base de dados do KGB.
Alguns nomes dos ucraniano-americanos que entraram na lista do KGB na década de 1960:
Myron F. Diduryk (1938-1970), natural da região de Ternopil. Em 1960, formou-se na Universidade St. Peter, em Jersey City, com o bacharelato em física e, ao mesmo tempo, como cadete numa escola militar, com a patente de tenente de infantaria.
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Major Myron Diduryk, 15-07-1938 - 24-04-1970 |
Desempenhou um papel fundamental como comandante de uma companhia de infantaria na Batalha de Ia Drang, a primeira grande batalha da Guerra do Vietname. Os seus feitos nessa batalha foram descritos por Hal Moore em «We Were Soldiers Once and Young». Moore disse que Diduryk era «... o melhor comandante de companhia de campo de batalha que já vi, sem dúvida». Major Diduryk foi morto em combate na sua segunda missão no Vietname.
Nicholas Stephen Hordij Krawciw / Mykola Kravtsiv (1935-2021), natural da cidade de Lviv, formou-se com honras em 1954 na Academia Militar dos EUA em West Point, recebeu treino especial em paraquedismo e guerrilha em Fort Benning e serviu em unidades de tanques dos EUA na Alemanha. Major-general na reserva.
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28 de novembro de 1935 – 29 de setembro de 2021 |
Filho de Bohdan Kravtsiv, um dos editores do jornal ucraniano «Svoboda» e membro do conselho da «Sociedade Científica Taras Shevchenko».
Roman Kuzyk (1941 - 2025), formou-se em 1963 na Universidade de New Brunswick, New Jersey, e simultaneamente fez cursos militares, fez a formação especial na base de Fort Benning, na Geórgia. Capitão na reserva.
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18 de junho de 1941 - 19 de janeiro de 2025 |
Roman se orgulhava de ser um americano, mas também amava profundamente o seu país natal, Ucrânia; foi membro da Associação de Veteranos Americano-Ucranianos, foi antigo chefe do Lar Nacional Ucraniano de Trenton e observador internacional das eleições presidenciais de 2004 na Ucrânia.
Mykhailo Skotsko (1935-?). Após se ter licenciado no Brooklyn College, serviu durante 4 anos na Academia Militar dos EUA, enquanto estudava simultaneamente chinês. Em 1961, formou-se na Academia Militar de West Point e foi destacado para uma base militar na Geórgia.
Steven N. Olek (1942-2017), os seus pais nasceram na América e ocuparam cargos importantes na «União Popular Ucraniana». Steven (Stepan) nasceu em Cleveland, onde se formou na escola primária católica e, mais tarde, no liceu em Chicago. Recebeu o grau de Bacharel em Artes e a patente de Segundo Tenente na Força Aérea dos Estados Unidos. Capitão na reserva.
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5 de janeiro de 1942 - 29 de outubro de 2017 |
“O Comando da Força Aérea dos EUA”, refere o documento, “atribuiu o símbolo nacional ucraniano do tridente como sinal de distinção à classe de treino “66-C” para o treino de oficiais pilotos de jatos supersónicos na Base Aérea de Webb, no Texas. Além disso, a unidade de treino mencionada recebeu o nome de «Cossacos Voadores». O emblema do tridente é usado pelos militares da classe “66-C” na manga esquerda dos seus uniformes e também se encontra nas fuselagens de aeronaves de formação. Após a formatura na escola de aviação, os seus graduados usam a insígnia do tridente durante todo o seu serviço no exército. Foi também criado um livro de graduados da união com o símbolo do tridente na capa”.
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Jornal ucraniano-americano «Svoboda», Nº.187, 1968 |
O comando da base e os cadetes da classe de treino gostaram deste símbolo e adotaram-no como o seu emblema. E isto apesar de já não haver ucranianos na unidade. O livro comemorativo dos formandos da turma «66-s» destacou, entre outras coisas, que o tridente ucraniano foi um brasão em inúmeras batalhas, na defesa do mundo ocidental e de tudo o que é mais precioso: a liberdade e a vontade. Por isso, a classe utiliza-o com profundo respeito e dever para com as brilhantes tradições do tridente e está pronta para continuar a defender os valores que o tridente defendeu.
Após completarem a formação, todos os formandos da classe «66-C» (segundo uma fonte, eram 48, segundo outras, 41) tinham o direito de usar um emblema de tridente na manga durante todo o serviço. O capitão Stepan Olek, como se observa numa publicação, embora nascido na América, «é reconhecido em todo o lado como um ucraniano de ascendência cossaca».
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Capitão Steven Olek se prapara para a missão de combate no U10-D |
A sua missão no Vietname terminou em 1969. O ucraniano conseguiu fazer 552 missões de combate. Nunca foi abatido. Recebeu a «Cruz de Mérito Voador» e outras condecorações. Continuou o seu serviço na Força Aérea. Reformou-se com a patente de major. No verão de 1995, visitou a Ucrânia para ajudar os estudantes de Lviv à aprender inglês.
Ao longo dos anos e décadas seguintes, como evidenciado pelas publicações na imprensa da Diáspora ucraniana que os «Cossacos Voadores» realizavam frequentemente reuniões de antigos alunos nas quais recordavam aqueles acontecimentos antigos. De 25 a 27 de Agosto de 2000, realizou-se uma reunião dos «Cossacos Voadores» em Tucson, no Arizona. Estiveram presentes 13 cadetes do grupo «66-C» e um instrutor. Steve vivia em Riverside, na Califórnia. No verão de 1995, ele visitou a Ucrânia, em Lviv, como instrutor voluntário de inglês, sem saber que até há pouco tempo estava registado no registo operacional secreto do KGB.
Ao mesmo tempo, com excepção de Steven Olek, outros americanos de origem ucraniana que serviram na Força Aérea dos EUA também foram incluídos nas «listas do KGB». Todos eles foram tidos em conta como aqueles que, no caso de um novo confronto global, se poderiam juntar à libertação da terra dos seus antepassados do imperialismo russo-bolchevique.
1 comentário:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2025/04/apos-ter-pais-levados-de-casa-jovem-ucraniano-foge-para-escapar-da-ocupacao-russa.shtml
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