terça-feira, outubro 23, 2018

União Soviética: o país dos sovacos não lavados


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Hoje falaremos sobre a higiene pessoal na União Soviética. Comparando com todos os países desenvolvidos da época (ocidentais ou não), a higiene pessoal dos cidadãos soviéticos era bastante deficiente — uma das principais razões foi a pobreza e miséria da sua vida quotidiana.
Cartaz soviético: "Não mete na boca os copos, colheres, garfos, beatas, etc., alheias"
Em muitas cidades, para não mencionar as pequenas vilas as casas não tinham água corrente, nem quente, nem fria. Até o início dos anos 1960 um banheiro em um apartamento era considerado um luxo (nos filmes soviéticos da época se dizia: “ele recebeu um apartamento individual com um banheiro privativo, pode imaginar?!!”), como alternativa existia a possibilidade de tomar banho nos banhos públicos, mas isso custava dinheiro e não podia ser feito diariamente. Pela norma, se usava a mesma camisa e até meias por várias dias, tomavam o banho uma vez por semana.

A imprensa/mídia soviética e o cinema nem sequer tocavam este problema, como se este não existisse. Até hoje, vários fãs da União Soviética seguem as regras da higiene soviética: “URSS, ao menos fazia os melhores mísseis!” – gritam eles, dissimulando o cheirete das meias/peúgas sujas. E sem perceber que está na hora de fazer a barba e trocar de camisa.

No país dos sovacos não lavados

Os soviéticos se lavavam raramente não porque eram uns “porcos”, mas porque nem todos tiveram essa oportunidade. Até o fim da era estalinista (até meados da década de 1950), a maioria dos cidadãos comuns vivia em barracas de operários e apartamentos comunais, os bons apartamentos individuais possuía apenas a elite soviética – ligada ao aparelho estatal ou partidário, cerca de 5-10% da população geral.
O que era a barraca ou apartamento comunal soviético? Apartamento comunal era o antigo grande apartamento “burguês”, que antes do golpe bolchevique de outubro de 1917 pertencia à uma família e após a vitória dos bolcheviques foi entregue aos vários inquilinos, onde uma família, ou um “camarada” importante ocupavam um quarto separado. As barracas eram diversas edificações mais ou menos primitivas, com um corredor e cozinha comum, por vezes com WC fora do edifício, sem água corrente nos quartos. Tudo isso nas cidades, pois nas aldeias, principalmente nas aldeias russas, a vida quotidiana pouco diferia das realidades do século XVIII.
As barracas onde habitavam os soviéticos (16 fotos)
Na década de 1960 na URSS surgiram em massa os apartamentos sociais, mas individuais do tipo “Khrushevka” – mas os seus apartamentos minúsculos nem sempre tinham os banheiros. Em pequenas cidades soviéticas existiam muitos apartamentos sem o banheiro, sem os sanitários, sem água corrente, e de todas as comodidades possuindo apenas o aquecimento central. Do lado de fora, o prédio podia parecer um prédio normal, mas o WC ficava na rua, e as pessoas tinham que tomar banho nos banhos públicos, que não era tão barato para ser feito diariamente.
Os komunalkas: a vida nos apartamentos comunais soviéticos (12 imagens)
Como resultado de tudo isso, os soviéticos tomavam banho bastante raramente, e muitas vezes vestiam as roupas sujas – em primeiro lugar, por causa da pobreza tinham pouca interior, em segundo lugar, lavagem da roupa manual era um evento que exigia algum tempo e esforço. Ainda na década de 1980, os passageiros do transporte público muitas vezes tinham os sovacos malcheirosos. Na década de 1950 isso até era a norma. Quase todas as pessoas no país dos “operários e camponeses” viviam assim.

Higiene na arte soviética

O problema da higiene era praticamente ignorado pelas autoridades soviéticas. Isto é, os cartazes propagandistas diziam que é preciso lavar as mãos antes de comer, mas o facto de as pessoas não tomavam o banho durante semanas também era considerado normal. O governo soviético simplesmente não conseguiu resolver o problema, assegurando a água canalizada quente em todas as casas, porque era necessário construir mísseis, combater no Afeganistão, preparar envenenadores secretos dos dissidentes no exterior – havia muitas coisas importantes, o bem-estar dos cidadãos soviéticos claramente ocupava um dos últimos, senão o último lugar.
Cartaz soviético: "Protegem das moscas a criança e os alimentos"
Os filmes soviéticos da década de 1950, como “Cossacos de Kuban”, mostravam um operador do trator no fim da sua jornada de trabalho com uma camisa branca engomada e uma boca sorridente de dentes brancos – ninguém perguntava onde ele lavava-se, penteava-se, engomava a camisa, escovava os dentes, se ao seu redor tinha apenas a merda estepe virgem?

No filme “A carreira de Dima Gorin”, o seu herói se muda ao Extremo Oriente soviético para trabalhar numa aldeia. Na aldeia não existem chuveiros, nem banheiros, mas após uma jornada o trabalho físico árduo na taiga, todas as moças tiveram seus cabelos arranjados, e os rapazes, depois de despir, exibem as roupa interior novinha e branqinha. Esse modo de vida era compreensível e não causava questionamentos num país onde todos tinham sovacos à feder, e também onde estava na ordem do dia de viver nas cidades durante os meses de verão sem água quente canalizada.

Gagarin, cosmos, tampões e papel higiénico

Até o início da década de 1990 a URSS não produzia os tampões / absorventes femininos em quantidades necessários. Era um tópico “não importante, vergonhoso”. As mulheres soviéticas deviam pensar na vitória do comunismo e não em comodidade das suas partes íntimas. As senhoras eram obrigadas usar tudo o tipo de meios improvisados ​​– gaze, ligaduras, algodão. As vezes era usada uma película de polietileno para evitar os vazamentos, ou então pedaços de pano, cortados em tiras e fervidos em água.
As maravilhas da odontologia soviética (9 fotos)
Até 1968 a União Soviética não produzia o papel higiénico propriamente dito. Em 1961, Gagarin foi ao espaço, e apenas 7 anos depois, os cidadãos soviéticos souberam, que, afinal, além dos foguetes e mísseis existem outras conquistas da civilização como o papel higiénico – antes disso, os cús eram limpos com folhas cortados dos jornais “Pravda” ou “Izvestia”. À princípio, ninguém queria comprar o papel higiénico, mas logo à seguir este se tornou um deficit crónico.
Papel higiénico na URSS: do desconhecimento absoluto ao deficit total
Na URSS não existia a cultura de odontologia normal. O governo soviético apenas podia oferecer aos cidadãos os cartazes “Escovar os dentes pela manhã e à noite”, uma odontologia do século XIX e pó dentífrico, que em duas décadas de uso gastava os dentes até a raiz. Acrescentem a isso alimentação má/ruim e monótona, rica em carboidratos, trabalho árduo e ecologia pobre – e ficará claro por que, aos 30-40 anos de idade, os cidadãos soviéticos frequentemente tinham bocas desdentadas.

Os fãs da higiene soviética

Muitos fãs da URSS até hoje praticam os padrões de “higiene soviética”. Tomam banho uma vez por semana (como recomendavam os livros soviéticos) – dizendo que a lavagem frequente supostamente retira da pela uma importantes “película protetora” (aparentemente – a simples camada de sujeira). Os fãs soviéticos usam as pastas dentífricas mais baratas, ou nem sequer escovam os dentes. Os mais teimosos escovam os dentes com carvão vegetal esmigalhado. Lavam a louça com soda cáustica, “fortalecem” os seus cabelos com o caldo de calêndula e erva-cidreira, não cuidam da pele – argumentando que assim viviam os seus avós na URSS!
Sem perceber que as pessoas na URSS tomavam banho raramente simplesmente por causa da falta de água, e usavam os meios “populares” não por causa da sua alegada super-eficiência, mas simplesmente devido à pobreza e da falta de alternativas.

Fotos: arquivo | Texto: Maxim Mirovich

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