A revisão radical da política religiosa soviética que ocorreu em 1943 e permitiu restaurar as estruturas organizacionais da Igreja Ortodoxa Russa (IOR) teve um pormenor: o estabelecimento
de um controlo secreto apertado por parte das agências de segurança do Estado sobre todos os aspetos da vida jurídica da igreja.
O livro documental «A rede de agentes do NKVD–MGB–KGB no episcopado ortodoxo da Ucrânia (1939–1964): formação, funções, modelos de comportamento» é uma tentativa de olhar histórico ao papel da IOR na Ucrânia no período que vem desde a auge das repressões estalinistas até o fim do degelo de Khruschev.
Segundo Christopher Andrew e Vasili Mitrokhin, tanto o Patriarca Alexius como o Metropolita Nikolay «eram muito valorizados pelo KGB como agentes de influência». Nikolay teve vários
encontros pessoais com Estaline. Em 1950, tornou-se membro do Conselho Mundial da Paz, órgão criado e controloado pelo MGB-KGB, ocupando uma posição firmemente pró-soviética.
Através do agente Sokolov «Ptitsin» as autoridades soviéticas conseguiram subordinar toda a vida da Igreja Ortodoxa na Ucrânia ao Patriarcado de Moscovo. Participou,
ativamente, nos preparativos para a «reunificação» da Igreja Greco-Católica Ucraniana com o Patriarcado de Moscovo em 1944.
Como bispo de Kherson, Nikon (Petin) satisfazia plenamente o responsável soviético do Conselho para os Assuntos da Igreja Ortodoxa Russa na região de Odessa, P. I. Blagov, que caracterizou agente «Petrov» em 18 de Janeiro de 1956:
Nas pregações, nas conversas com o clero, fiéis e representantes de delegações estrangeiras, Nikon age como um verdadeiro patriota e aprecia sempre muito
os eventos realizados pelo Governo Soviético. O orgulho pela nossa Pátria, que se tornou a vanguarda de toda a humanidade avançada, foi uma base constante dos seus discursos patrióticos.
A 26 de setembro de 1950 Boris Vik foi nomeado o Bispo de Berlim e da Alemanha. Participou nas atividades do NKVD da URSS de liquidação das estruturas da ROCOR, em particular, conseguiu a transferência
à IOR do abade da comunidade de Berlim da ROCOR, Arquimandrita Mstislav (Volonsevich). Em 1955 a sua viagem pelas comunidades ortodoxas da América terminou com a sua deportação oficial dos EUA, uma vez
que o governo americano viu nele um agente dos serviços secretos soviéticos.
Apesar da colaboração de 23 anos como informador e agente de NKVD-MGB-KGB, bispo Kobets tentava salvar as pessoas e evitar a sua prisão, avisava constantemente os seus contactos sobre o interesse e os métodos do MGB-KGB, principalmente, nas
suas viagens ao estrangeiro. Desinformava constante os seus curadores e lhes passava informações erradas. Em resultado foi expulso da liderança de IOR.
Na década de 1950 agente «Sokolskiy», na altura arquimandrita Pylypchuk, foi colocado pelo MGB na procura de possíveis contactos entre a liderança da IOR da
Ucrânia com os padres ortodoxos americanos. Na avaliação de 1958, KGB estava muito safisteito com as atividades do seu agente, considerando que este «apoia ativamente e executa as ações
do governo soviético, sendo franco e aberto perante os órgãos de segurança do Estado».
Desde 21 de Maio de 1959 – foi nomeado como Bispo de Dnipropetrovsk e Zaporizhia. Ioasaf destacou-se pelo facto de não só não dar recomendações aos jovens que queriam
ingressar em seminários teológicos, mas também notificar imediatamente as autoridades soviéticas sobre tais candidatos, não ordenar ninguém da população local como padres
e diáconos, não realizar reuniões gerais com o clero, cumprir sem questionar as exigências do responsável do Estado e notificá-lo imediatamente sobre casos de «manifestação
de ativismo por parte de autoridades individuais da igreja». Desde 1965, é membro da Sociedade de Relações Culturais com os Ucranianos no Estrangeiro, organizamo criado na Ucrânia soviética,
sob controlo rígido do KGB.
Com base nos arquivos recentemente desclassificados do KGB da Ucrânia soviética, este estudo reconstrói pela primeira vez a composição pessoal da rede de agentes
no episcopado ortodoxo da Ucrânia no pós II GM, destaca as tarefas específicas atribuídas aos bispos agentes e os métodos de controlo do seu trabalho. É dada especial atenção
ao envolvimento dos agentes do episcopado na implementação da política ateia soviética durante a liderança de Nikita Khrushchev.
Patriarca Filaret contou aos seus subordinados da Igreja Ortodoxa da Ucrânia-Patriarcado de Kyiv, que foi registado no MGB sob o pseudónimo de «Antonov» em 1946, quando entrou
no Seminário Teológico de Odessa, e que foi recrutado por oficiais do MGB quando vivia com os seus pais na aldeia de Blagodatne, distrito de Amrosiivskyi, na região de Donetsk. Filaret também mantinha
a versão do que não deu o seu consentimento tácito, mas que MGB-KGB o registaram dessa forma.
Título: «A rede de agentes do NKVD–MGB–KGB no episcopado ortodoxo da Ucrânia (1939–1964): formação, funções, modelos de comportamento», Editora da Universidade Católica da Ucrânia, Lviv, 2025 – 360 p.
Autor: Roman Skakun