À
semelhança das décadas 1960-1980, Kremlin decidiu apostar em África, oferecendo
aos países e regimes amigos as soluções tradicionais já testadas durante a guerra fria: venda
de armamentos e uso de “assessores” militares.
Porque
Rússia escolheu África?
Ano
2018 se caraterizou pela «pausa» da estratégia internacional da federação russa,
quando o modelo anterior já não funciona e o modelo novo ainda não foi criado.
A tentativa russa de fazer aos países europeus esquecer a «questão ucraniana» não
foi bem sucedida.
A
política das sanções, criada para conter o comportamento agressivo do Kremlin
foi alargada, principalmente após o “caso
Salisbury”, quando os oficiais do GRU russo envenenaram a família Skripal
no solo britânico. As tentativas russas de «descongelar» as relações com os EUA,
via amizade Putin-Trump, receberam uma reação negativa do congresso americano.
A chegada dos equipamentos russos em Moçambique, setembro de 2019 |
Por
sua vez, diversos países da África mostram o crescimento sustentável do seu PIB,
se transformando num campo de batalha económica das potências mundiais, quer
pelo controlo dos mercados, quer pelos seus recursos minerais. Actualmente, as importações
africanas chegam aos 500 biliões de dólares, cerca de 13% são canalizados para a
compra de alimentos.
Interesse
russo «triplo»: votos na ONU, armamentos e recursos minerais
Em
dezembro de 2018 a questão de cooperação russa com África foi debatida no
âmbito da discussão «Retorno da Rússia à África: interesses, desafios, perspetivas».
O
retorno russo à África é descrito na Rússia como algo que os próprios africanos
necessitam mais do que os russos: «Na situação da presença ativa da China e da
Índia, os colegas africanos precisam diversificar a interação. É necessário ter
aqui um equilíbrio, porque os países africanos entendem que a posição
predominante de um único país, especialmente com uma poderosa instituição de
financiamento, será semelhante ao passado colonial. A Rússia [...] pode mudar essa
situação».
No
entanto, os propagandistas russos, por exemplo, do canal televisivo “Tsargrad
TV” absolutamente não escondem a essência do interesse russo em África: “A Rússia
precisa da África não menos do que a África precisa da Rússia. Antes de tudo,
precisamos de criar as condições sob as quais nossos oponentes geopolíticos não
possam fortalecer suas posições e jogar contra a Rússia no campo africano às
custas dos países africanos...”
A chegada dos equipamentos russos em Moçambique, setembro de 2019 |
Neste
momento a Rússia está criando a estratégia de relacionamento com África,
intitulada “Rússia-África: uma visão geral em 2030”. Antes de tudo, será um
guia pensado para evitar os erros comuns cometidos pelas empresas russas em
África (até 90% de negócios russos na África se revelaram um fracasso). Cerca
de 30 especialistas russos preparam um documento que inclui análises macroeconómicas,
dos sistemas políticos e económicos dos países africanos e avaliação de riscos.
Com base nos dados apresentados, uma equipa de especialistas desenvolve
previsões e recomendações sobre o desenvolvimento das relações russo-africanas
até 2030. Com base nessa análise, serão tiradas conclusões sobre as
possibilidades da Rússia ocupar nichos específicos em África.
Até
o momento, as relações Rússia-Africa se baseiam no “interesse triplo».
Países
africanos possuem 54 votos na AG de ONU, que Moscovo pretende usar como apoio
das suas posições internacionais (a guerra contra Ucrânia, anexação da Crimeia,
reconhecimento internacional dos territórios ocupados da Geórgia, etc.).
Rússia
tenta aprofundar a cooperação técnico-militar com África, dado que vários países
africanos possuem, nas suas FA, os armamentos soviéticos e mostram interesse de
receber os novos tipos de armamentos russo (casos de Sudão, Angola, DR Congo,
RCA). Na imprensa internacional circulam os rumores de que Rússia planeia abrir
as suas bases militares em África (Egito, Líbia Ocidental, Sudão, RCA). Na RCA são
ativos os “assessores” e muito possivelmente os mercenários russos ligados à
EMP russa Grupo
Vagner.
Rússia
também pretende explorar os recursos minerais africanos. Em geral, a Rússia e a
África possuem aproximadamente 50-52% do potencial total de recursos da Terra.
Mas a nomenclatura de minerais na África e na Rússia é diferente.
Segundo
especialistas, os países africanos representam cerca de 30% das reservas
minerais do mundo, incluindo 83% da mineração mundial de platina, 45% de
diamantes, 40% de ouro, 47% de cobalto, 43% de paládio, 42% de cromo, etc.
Num
futuro previsível, a Rússia pode experimentar um déficit em vários minerais
extraídos em África. Isso a está pressionando a estabelecer controlo sobre as
minas, jazigos ou campos de petróleo e gás que interessam aos seus oligarcas.
Estes realmente gostam da África, porque devido às peculiaridades dos depósitos
minerais e à mão-de-obra barata, a rentabilidade dos investimentos na indústria
de mineração é significativamente maior do que em outras regiões do mundo, e o
custo dos produtos extraídos é notavelmente, geralmente de 20 à 30% menor do
que em outros lugares.
Para
a federação russa, que está sob sanções internacionais, o comércio com os
países africanos é muito importante como compensador. Além dos recursos
minerais, a Rússia está interessada no fornecimento de produtos agrícolas
tropicais (café, cacau, frutas cítricas), além de um aumento no fornecimento de
frutas e legumes, que deve substituir os produtos da Europa sujeitos às
“auto-sanções” russas.
Em
termos de exportação, Rússia vende aos países africanos fertilizantes, máquinas,
grãos, bem como a exportação de serviços e tecnologias de engenharia, incluindo
construção de estações/usinas nucleares, hidrelétricas, fábricas de
processamento, oleodutos e caminhos-de-ferro/ferrovias.
Segundo
dados de 2017, o volume de comércio entre a federação russa e os países
africanos, em comparação com 2016, aumentou 26,1% e alcançou 17,4 biliões de
dólares, principalmente exportações russas (14,8 biliões de dólares), que
aumentaram um terço (29,8%). As importações de bens africanos para a Rússia
cresceram 8,3% e somaram 2,6 biliões de dólares, e os investimentos russos
acumulados na África de 2003 a 2017 totalizaram 17 biliões de dólares.
A
Rússia, privada do potencial financeiro de seus principais rivais – os EUA e a China
– ocupa seu nicho na África, ajudando governantes autoritários em estados
instáveis, mas potencialmente ricos, propensos aos uso dos equipamentos
militares russos.
A
EMP russa “Grupo Vagner” trabalha de acordo com o esquema: “o fornecimento de
assistência militar e outras, em troca de licenças para a extração mineira”. Este
esquema é usado na República Democrática do Congo, Sudão, Líbia, Angola, Guiné,
Guiné-Bissau, Moçambique, Zimbábue, República Centro-Africana e Madagascar.
Putin, comparou as actividades do alegado dono do “Grupo Vagner” Prigozhin, as com
George Soros, um filantropo americano e financiador bilionário que o Kremlin há
muito tempo acusa de derrubar governos autoritários ao mando de Washington.
A chegada dos equipamentos russos em Moçambique, setembro de 2019 |
Mas
ao contrário dos EUA, que buscam popularizar e introduzir os padrões de
democracia aos países parceiros, Moscovo segue os passos da China, que está
pronta para cooperar sem condições políticas preliminares. No âmbito da
ideologia expansionista do espaço vital do “mundo russo” e construindo as bases
de influência do “império eurasiano”, para Kremlin é perfeitamente aceitável cooperar
com qualquer ditadura em África.
Até
o final do século XXI, pode haver mais de uma dúzia de países em África que iriam
superar a população da Rússia, tendo em vista que o número dos seus habitantes cairá
para o nível de 50 milhões de pessoas. Não se pode excluir que a liderança
russa já esteja considerando a opção de atrair migrantes africanos para
minimizar as perdas demográficas, talvez essa seja talvez a única maneira de
evitar a completa dissolução da Rússia pelos chineses.
Fonte: secção
«Delta» do grupo Resistência
Informativa
Sem comentários:
Enviar um comentário
No vodka, go home! / Proibida a propaganda totalitária ou anti - ucraniana.