As autoridades russas têm vindo a recrutar ativamente mercenários para a guerra contra Ucrânia desde o primeiro trimestre de 2023. Foi o resultado direto das enormes perdas sofridas pelo exército russo no primeiro ano da invasão, que não puderam ser compensadas através da simples mobilização. Os primeiros alvos dos recrutadores russos foram cidadãos do chamado “estrangeiro próximo” – países da Ásia Central: Uzbequistão, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão.
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O processo de recrutamento de cidadãos da Ásia Central para o exército russo é realizado, através de três vias principais: engano, promessas de pagamentos elevados ou coersão. Alguns recebem ofertas de emprego como seguranças, outros recebem promessas de elevadas recompensas monetárias sob a forma de um salário mensal e cidadania russa, e outros são coagidos e ameaçados de prisão ou deportação. O resultado é igual para todos.
Mercenário do Cazaquistão Shyngys Seipiev (1998) é um dos últimos “wagneleiros da primeira vaga” em cativeiro ucraniano:
Dois meses após à sua saída da prisão, no decorrer de combates nos arredores de Bakhmut, Shyngys foi capturado pelas FAU. Na Ucrânia foi condenado novamente. Em maio de 2023, o tribunal ucraniano condenou-o aos 9 anos de prisão por mercenarismo. Tentando limpar a sua biografia à custa das vidas dos ucranianos, Shyngys só piorou a situação. Pelo terceiro ano consecutivo espera que os russos se lembrem dele. Mas o Ministério da Defesa russo não está a colocar os cazaques na lista de troca. Mas caso for trocado, será enviado de volta para a frente de combate ou enfrentará julgamento no Cazaquistão por mercenarismo ou por participar num conflito armado no território de outro estado.
Das suas fontes no comando do exército russo, Ucrânia recebeu uma lista de cidadãos do Cazaquistão que estão a combater ou combateram a Ucrânia. De acordo com os dados, pelo menos 78 dos 661 mercenários morreram até ao final de 2024. Estes são apenas aqueles para os quais existem as informações precisas sobre a data da morte e o local do enterro. Alguns dados não confirmados apontam que até outubro de 2024 mais de 3.000 cazaques étnicos e naturais do Cazaquistão (cidadãos russos e do Cazaquistão) foram mortos na Ucrânia.
Com base nas estatísticas, a vida média de um mercenário, desde a assinatura de um contrato até à morte, é de 130 dias. O período mais curto é de 9 dias. Se os russos não valorizam os seus próprios soldados, o que podemos dizer dos “não russos” que estão habituados a humilhar na vida civil? Portanto, viajar até ao outro lado do mundo, tendo acreditado em promessas de elevados pagamentos ou da cidadania russa, apenas para ser enviado ao ataque suicída por um comandante russo para invadir algum local geográfico da Ucrânia é, para dizer o mínimo, estúpido.
Gostaríamos de realçar que o mercenarismo é uma infração criminal na República do Cazaquistão. Aqueles que têm a sorte de sobreviver nas fileiras do exército russo correm o risco de receber uma pena de 12 a 17 anos com confisco de bens quando regressam a casa. Felizmente, o Cazaquistão segue a sua própria legislação, e os mercenários envolvidos na tentativa de ocupação da Ucrânia são regularmente presos e condenados. Naturalmente, Ucrânia fará todos os esforços para responsabilizar criminalmente os cidadãos de países terceiros que vieram à Ucrânia para matar os ucranianos e destruir os seus lares.
A publicação da lista de mercenários do Cazaquistão no exército russo, recrutados para a guerra contra Ucrânia, causou uma ressonância significativa nos meios de comunicação social do Cazaquistão. O projeto “Eu Quero Viver” recebeu inúmeros pedidos de comentários sobre este tema por parte de jornalistas, cidadãos e representantes oficiais da República.
A publicação, aparentemente, foi uma surpresa para as autoridades cazaques. Por exemplo, o vice-ministro do Interior, Igor Lepekha, declarou a necessidade de “verificar a informação”. Aidos Sarym, deputado da Majilis (câmara baixa do parlamento), reconheceu a existência de um mecanismo para envolver os cidadãos do país na guerra do lado russo e que a questão “deve ser abordada especificamente”. O deputado Aidos Sarym lembrou ainda que, de acordo com a legislação cazaque, os “voluntários” serão responsabilizados se regressarem ao país. Porque a lei proíbe estritamente a adesão a estruturas militares estrangeiras.
Os três jovens cazaques que lutaram no exército russo na guerra contra Ucrânia e que foram capturados. Todos os três assinaram o contrato voluntariamente. Infelizmente, não há nada de surpreendente nisto – estes são os resultados do impacto da propaganda russa e da expansão gradual da federação russa em todas as esferas possíveis da vida dos seus vizinhos.
De esquerda para direita: o primeiro nasceu no Cazaquistão, mas no «enclave» russo de Baykonur, o segundo é cazaque étnico, mas nasceu na rússia, e último nasceu no Cazaquistão. Apenas um, o último, disse que no caso de uma agressão russa ele iria defender Cazaquistão, quando os três foram perguntados sobre a sua lealdade nacional.
Blogueiro
Nas décadas de 1940-1950, durante diversas ondas das repressões estalinistas, o Cazaquistão, foi o destino, de diversas levas de deportações soviéticas, recebendo as populações ucranianas, polacas, lituanas ou tártaros da Crimeia. Casaquistão também abrigava diversos campos de concentração soviéticos do sistema de GULAG, nomeadamente o famigerado ALZHIR, onde eram presas as mulheres e crianças, cuja única «culpa» consistia em serem «membros da famíla do inimigo do povo». Na dita «primavera de Khruschev», nas décadas de 1960-1970, Cazaquistão foi o destino de jovens idealistas soviéticos, que trabalhavam na indústria espacial soviética ou nos projetos agrícolas, magalomaníacos e bastante desastrosos.
Devido à estes fatores, hoje em dia Cazaquistão possui importantes diásporas europeias, compostos por descendentes daqueles, que pararam no país, em vários momentos do século XX, muitas vezes contra a sua vontade, mas acabando por escolher essa terra como a sua segunda pátria.
https://www.portaldoholanda.com.br/mundo/brasileiro-recrutado-na-ucrania-sobrevive-bombardeio
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