domingo, agosto 05, 2018

O guarda-fronteira modelo das portas do “paraíso socialista”

O guarda-fronteira Nikita Karatsupa foi a personagem ideal da propaganda soviética – órfão desde cedo, ele dedicou toda a sua vida à luta contra os “infratores da fronteira estatal”. A propaganda comunista apenas não revelava que absoluta maioria destes “infratores” simplesmente tentava escapar do “paraíso socialista”.

A propaganda estatal soviética o transformou em herói e modelo comunista, à seguir para todas as crianças, que eram pesadamente indoutrinadas na necessidade de servir no exército vermelho (RKKA). Karatsupa era o modelo ideal, segundo a sua biografia oficial, aos 7 anos ele se tornou órfão (ou seja, desconhecia a vida familiar normal), entrou no orfanato (da onde fugiu e tornou-se um vagabundo, mas na União Soviética essa parte naturalmente era omitida), mais tarde tornou-se um pastor num kolkhoz. No início dos anos 1930, ele foi convocado ao exército, mostrando a vontade de servir nas tropas de guarda-fronteira. O comissário militar que tratou do seu recrutamento observou que ele é muito baixinho para o serviço escolhido, mas este respondeu – “então os infratores não me vão ver!” – depois disso, foi admitido numa das unidades da guarda-fronteira soviética.
Nikita Karatsupa e um dos seus primeiros Indus/Ingus, 1936 | Wikipédia
Karatsupa fazia a dupla com os seus cães/cachorros pastores alemães, sempre chamados de Indus (Indiano), eram cerca de 12 ao longo dos anos – que, a propósito, mais tarde foram rebatizados na imprensa e na literatura soviética de Ingus, por razões do politicamente correto, de modo à não ofender Índia, que desde o fim da década de 1950 se tornou amiga e aliada “não-alinhada” da União Soviética. Com ajuda dos cães/cachorros, Karatsupa deteve (e também matou 129 pessoas), segundo várias fontes soviéticas, de 246 à 338 ou mesmo 467 “violadores de fronteira”, pelo que se tornou um herói soviético. Os propagandistas do regime comunista lhe dedicavam os poemas e canções, livros, postais e editoriais de imprensa, e as crianças queriam ser como ele.

[Karatsupa recebeu as mais altas condecorações soviéticas – o título de Herói da União Soviética, a Ordem de Lenine, duas Ordens da Bandeira Vermelha e outras condecorações. Serviu no Vietname comunista e morreu de pneumonia em Moscovo aos 84 anos].

O que a propaganda soviética omitia desde sempre, era o facto de que a absoluta maioria dos infratores fronteiriços não pretendia entrar na URSS, mas fugia do país – eram os cidadãos soviéticos em fuga que Karatsupa prendia e matava.

Pois os serviçais da guarda-fronteira soviética tinham as instruções muito claras: no caso de impossibilidade de deter o cidadão que tenta escapar da URSS, este deve ser abatido, antes que consegue chegar à um país capitalista:
Legenda: 4. Na impossibilidade de deter os infratores – usar armas, antes que eles conseguem passar ao território de um país capitalista
Foto: Wikipédia e arquivo | Texto: Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

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