Reportagem
do primeiro julgamento na Ucrânia de um mercenário terrorista proveniente fora
do espaço da ex-URSS com as entrevistas, depoimentos, fotos, vídeos e algum
moral da estória, visto e presenciado pela página ucraniana Novynarnia.
O
medo e tédio em Pechersk
“Pode
imaginar o medo que ele está sentindo?” – pergunta Ihor Vovk, o procurador do
Ministério Público (MP) de Kyiv, o chefe processual no processo penal do
mercenário brasileiro da “dnr” e “lnr”, Rafael Lusvarghi.
A juíza Svitlana Shaputko |
Passou
quase uma hora desde a troika de juízes do tribunal distrital de Pechersk – liderada
pela Dra. Svitlana Shaputko – foi às consultas sobre os termos de condenação. Os
juízes determinarão o destino do mercenário que no outono de 2014 veio do
Brasil via Moscovo e Rostov para a cidade de Alchevsk (região de Luhansk), onde
se juntou ao bando armado “Prizrak”, liderado pelo já liquidado Alexey Mozgovoy.
Lusvarghi e Mozgovoy |
Há
coincidências interessantes: quase ao mesmo tempo, em dezembro de 2014, a juíza
Shaputko se transfere do tribunal de Alchevsk para Kyiv, no bairro de Pechersk.
Desde então, a sua biografia de juíza tive várias decisões polémicas. Mas ao
acórdão de 25 de janeiro de 2017 aplaude toda Ucrânia.
O procurador Ihor Vovk |
Mais
uma coincidência: o jovem procurador ambicioso no caso Lusvarghi é o filho do
major-general Vasyl Vovk do Serviço de Segurança da Ucrânia que em 2014 chefiou
o Departamento geral de Investigação do SBU. Agora, o seu pai se aposentou, e
Dr. Ihor Vovk, é funcionário do MP da capital ucraniana e começa
a ganhar os pontos no campo de aplicação da lei. Acusação contra Lusvarghi e a
sua condenação é uma vitória considerável do Vovk Júnior.
Quando
Dr. Vovk diz que Lusvarghi sente o medo ele não se refere à condenação em si,
mas sobre o local desta condenação. Lusvarghi foi o primeiro mercenário e
terrorista julgado na Ucrânia pela sua participação na guerra russo-ucraniana
que não pertencia ao espaço da ex-URSS. Ex-estudante e adepto das redes
sociais, ele ia à guerra como à uma festa, quase qualquer manobra sua e mesmo a
rajada da arma automática mereciam uma postagem no Facebook, VK ou YouTube. O
amor às redes sociais levou o “cavalheiro da novaróssia” à cadeia ucraniana, as
provas do seu envolvimento nas atividades terroristas estão acessíveis na
Internet, mesmo nos dias de hoje.
Lusvarghi
se tornou um dos mercenários mais mediáticos da “dnr/lnr”, merecendo a “medalha”
às mãos do terrorista russo Igor “Stelkov” Girkin. Agora, nas cadeias
ucranianas, outros presos, consideram Lusvarghi como um “terrorista glamoroso”,
amiguinho do Girkin que veio de muito longe para matar os ucranianos na
Ucrânia.
Provavelmente,
para Lusvarghi, a intriga principal estava nem tanto no número de anos à que
ele será condenado mas ao facto de precisar voltar à cela comum na prisão
Lukyanivka. Nos últimos três dias antes do julgamento a sombra da morte na
prisão aterrorizava Rafael muito mais do que a artilharia ucraniana no
aeroporto Donetsk.
“Este
é um homem endurecido, durante as interrogações ele nunca pediu água, nunca fez
a única queixa. Ele não tem nenhum dinheiro, não recebe, nem pede nenhuma ajuda”,
– conta o defensor oficioso do brasileiro, Dr. Maxim Herasko do Centro do Apoio
Judiciário Secundário Gratuito.
Ex-militar
da Legião Estrangeira Francesa, em-PM, ex-“voluntário de Dombass”, no dia do
julgamento Lusvarghi parecia um coelho assustado, quando se falava do seu
possível retorno à cadeia Lukyanivska, a sua nova casa na Ucrânia, onde ele divide
a cela com outros quatro «desconhecidos». Apenas que nenhum coelho grita: «Eu
não voltarei ao SIZO!»
«Não!»
– quase gritou Rafael, quando advogado lhe explicou que irá recorrer da
condenação. Significa que o brasileiro passará mais algumas semanas na cadeia. «Concordo
mesmo com 15 anos, mas ficando em segurança», – explica Lusvarghi através da
sua tradutora. Naquele momento realmente foi evidente que brincadeiras acabaram
e Rafael não está passar um bom momento.
Réu com o seu advogado Dr. Maxim Herasko |
Uma
declaração especial foi feita pelo Lusvarghi, após consultar o seu advogado, no
meio da 2ª e última sessão do seu julgamento.
«Me
começaram espancar três dias atrás, exigindo o dinheiro. Uma vez durante o
passeio, outra vez na cela», – disse Rafael, sem explicar, ao pedido da juíza,
quem exatamente foram os seus atacantes. O advogado fica preocupado e confirma,
SIZO №13 vive vários problemas de manutenção de legalidade jurídica.
Lusavrghi
por várias vezes pediu pela assistência médica e pela possibilidade de voltar à
cadeia de SBU, onde se sentiu em segurança. Além disso, brasileiro deseja
começar a cumprir a sua pena, trabalhando fisicamente numa colónia penal. No
entanto, a sua situação na “zona”, dependerá inteiramente dos “colegas” de
encarceramento, explica o advogado.
O advogado Dr. Maxim Herasko |
Lusvarghi
não é o primeiro terrorista julgado na Ucrânia e todos os que já foram
condenados, passam o seu tempo na companhia de outros presos. «Em lugar nenhum
ele terá as facilidades», – reconhece o procurador Vovk.
Dr.
Vovk lembra que na cadeia de Lukyanivka agora estão presos alguns ex-membros do
regimento voluntário “Tornado”, conhecidos pelo seu radicalismo e comportamento
expressivo. Será que foram eles que assustaram Lusvarghi? Nasce a piada: “se o
pessoal do “Tornado” corta as suas próprias orelhas, se pode imaginar o que
eles cortarão à um “separ”?
Condenado
à solitária
Pouca
gente está presente no julgamento aberto ao público: réu, guardas, juízes,
secretária, procurador, advogado oficioso, tradutora de português, uma mulher
do público ligada ao processo, o jornalista da “Novynarnia” e equipa da TV
ucraniana «1+1» – bastante pouco para um caso bastante mediático.
Ao
mesmo tempo o processo foi rápido, a sessão preparatória e quatro horas da 2º
sessão que ditou a sentença. O réu confirmou todos os factos de acusação, mais
mostrou o “comportamento ideal na fase do pré-julgamento”.
O
procurador Vovk pediu para Lusvarghi uma pena de 14 anos e 224 dias. Rafael foi
acusado ao abrigo da 2ª parte do artigo 260 do Código Penal da Ucrânia – «participação
nas actividades de grupos armados não previstos na lei» (pena de 3 à 8 anos), superado
pelo artigo mais pesado, a 1ª parte do do artigo 258-3 «participação num grupo
ou organização terrorista», com penas de 8 aos 15 anos. Os 224 dias é o tempo
da sua prisão preventiva – 112 dias desde a sua detenção no aeroporto de «Boryspil»
no dia 6 de outubro de 2016 x 2, segundo a “Lei Savchenko”. Dado que réu
reconheceu a sua culpa, se arrependeu, colaborou com a investigação (isso é,
com SBU), ele foi condenado aos 13 anos de cadeia.
Faça click para ler o texto integral da acusação |
“Nos
termos do artigo 66º do Código Penal da Ucrânia, entre os factos atenuantes, o
tribunal tem em conta o pleno reconhecimento de culpa e o arrependimento
sincero do acusado. As circunstâncias previstas no artigo 67º do Código Penal
que agravam a pena, não foram estabelecidas pelo tribunal. Entre as
características da pessoa acusada, foi tido em conta que Rafael Marques Lusvarghi
é casado, possui a formação superior, não possui as condenações anteriores”, – se
pode ler na condenação do réu brasileiro em nome da Ucrânia.
Também
foi decidido o confisco dos seus bens: laptop Dell e smartphone Samsung, que foram
apreendidos pelo SBU e agora figuram entre as provas materiais. Além disso, o
tribunal decidiu que o réu terá que pagar a quantia de 15.500 UAH (cerca de 570 dólares)
pelas peritagens técnicas que provaram que o bravo “cavalheiro da novaróssia”
nos vídeos do YouTube é o réu e nenhuma outra pessoa (foram efetuadas duas
peritagens independentes, baseadas na aparência e na voz).
Provavelmente
a parte da acusação mais importante é essa: «Nos termos
do artigo 206 do Código de Processo Penal (“os deveres gerais dos juízes em
termos dos direitos humanos” – parte “N”) e do artigo 19º da Lei da Ucrânia “Sobre
a segurança das pessoas envolvidas nos processos penais” o tribunal decidiu favoravelmente
a questão da segurança do Rafael Marques Lusvarhi, através da sua colocação na
sela solitária e aplicação de um exame médico”. O acórdão não menciona se a
decisão se aplica à sua permanência em SIZO Lykyanivska ou durante toda a sua
pena. Isso intrigou um pouco o procurador (a condenação é mencionada desde 12´57´´).
Embora
em geral, Dr. Vovk está contente, o processo mediático foi julgado rapidamente,
a pena está próxima da pedida pela procuradoria (Dr. Vovk confessa que esperava
12 anos).
Advogado,
que na sua intervenção pedia considerar todos os atenuantes e condenar
Lusvarghi aos 3 anos de cadeia (embora ele próprio afirmava que seria
fantástico demais, dado às acusações pendentes contra o seu cliente), ficou
contente com a prisão solitária do réu. «Digam, por favor, aos responsáveis que
há decisão sobre a solitária», – pediu Dr. Herasko aos guardas que levavam
Lusvarghi no fim do julgamento.
Dado
que Rafael não recusou a apelação, o advogado oficioso disse que irá recorrer
no prazo legal de 10 dias: «pode ser que a pena será reduzida até 12 anos,
embora é pouco provável», – reconhece Dr. Herasko, conhecendo a prática
corrente neste tipo de casos.
Com
a “salada russa” na cabeça
Olhando
para Lusvarghi (32), um barbudo parecido com o hippie, é difícil acreditar que
estamos perante um inimigo mortal da Ucrânia, mercenário profissional com
ideias anti-ucranianas e salada ideológica na cabeça.
Nas
diversas entrevistas ele se declarava “nazista e desde o pivete ... que as suas ideias socialistas vem, na maior parte, dos ideias do fuhrer e só depois do Stalin”, mas também
conservador e socialista, estalinista e anti-trotskista, duginista euroasiano e
adepto da Rússia unida de “Dublin à Seattle”, pagão (a sua tatoo “Berserk” com
um erro gramático).
Aos
jornalistas Lusvarghi contava que desde criança gostava os cartoons soviéticos,
“por exemplo, sobre os cossacos” (produzidos na Ucrânia). O seu pai, que
abandonou a família, gostava do filme “Taras Bulba”, filmado, parcialmente em
Salta, na Argentina e baseado vagamente na obra do Nicolas Gogol (com lendário Yul Brynner no papel do
Taras Bulba).
continua...
Traduz o que o Lusvarghi disse no julgamento. Estou ansioso em saber. São cinco minutos apenas.
ResponderEliminarViva a Ucrânia!
ResponderEliminarQue se lasque, um sociopata a menos no mundo.
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