No
dia 2 de dezembro de 2016, os policiais
militares da Força Tática do 28° Batalhão de Polícia
Militar de
São Paulo (PMSP),
localizaram um cativeiro
e libertaram dois modelos ucranianos que foram
feitos reféns na rua Alexandre Davidenko na cidade Tiradentes (Zona Leste de SP). No
meio de operação policial, de muito sucesso, que contou com a postura pró-ativa
das vítimas e com apoio da embaixada
da Ucrânia no Brasil, a sociedade conheceu a 1º tenente da
PMSP, a linda guerreira Isadora Katerenhuk.
O
nosso blogue não poderia perder essa oportunidade e por meio da ajuda dos
familiares da tenente entrou em contato com Isadora. O que segue é a conversa
que mantemos em mais que uma ocasião em janeiro-fevereiro de 2017. O texto
recebeu os mínimos retoques estéticos e é o mais próximo possível do discurso
original e direto da guerreira ucraniano-brasileira.
1.
Isadora, conte sobre a sua família e os seus antepassados, do lado materno e
paterno. Dado que pertenciam às etnias diferentes, isso não atrapalhou, de
alguma forma os seus relacionamentos?
A
minha família na parte do meu pai, em grande maioria reside no estado do
Paraná, infelizmente não sabemos tanto sobre a vinda da minha família da
Ucrânia, porém, os meus avos, quando eram vivos, mantinham os costumes
ucranianos; inclusive alguns filhos aprenderam a língua; o meu Pai se chama
Simão Katerenhuk, ele nasceu no estado do Paraná, hoje trabalha como
representante comercial e infelizmente não fala ucraniano fluentemente, mas percebe
o idioma;
Minha
Mãe se chama Marize de Carvalho Katerenhuk, atualmente é dona de casa, cuidando
do lar; a família dela portuguesa e síria, ela nasceu no sul do estado de Minas
Gerais. Minha mãe conheceu o meu pai em São Paulo, quando ambos trabalhavam com
vendas nos supermercados, o namoro deles até que não foi muito difícil, pois ambos
estavam residindo em SP, ou seja, longe dos condicionalismos familiares.
2.
Sendo uma parte da sua família é ucraniano-brasileira, como a família mantêm as
tradições ucraniano-brasileiras, o idioma, etc.?
Sim,
minha família mantêm muitas das tradições ucranianas, alguns dos familiares falam
ucraniano; eles mantêm também a boa parte da culinária ucraniana, algo, que praticamente
toda família aprecia. A família do meu pai costuma se reunir no Natal, são
preparados alguns pratos tipicamente ucranianos que sempre estão em menu / no
cardápio, como o Kutia, Borchtch/Borsh, Varének/Varenyky.
3.
Será que vocês mantêm alguma ligação como os Katerenhuk na Ucrânia ou fora do
Brasil? De alguma forma os seus familiares estão ligados à vida
ucraniano-brasileira?
Infelizmente
não temos tanto contato com os parentes na Ucrânia; quando as tradições, alguns
primos meus, por residirem no estado do Paraná, têm o maior contato com a
cultura, religião e as tradições ucranianas.
4.
Até que ponto Isadora e a sua família estão atentes à atualidade da Ucrânia?
Seguem o desenrolar da atual guerra russo-ucraniana? Como vê a situação em que
Brasil, como membro do grupo BRICS, mantêm o equilíbrio entre Rússia e apoio à
Ucrânia, com quem sempre tive as relações muito amistosas?
Sim,
acompanhamos; na minha família, fora do circuito restrito dos Katerenhuk, temos
outros parentes na Ucrânia, com os quais sempre conversamos sobre a situação
económica e social do país. Dentro das relações internacionais, vejo que o
Brasil deve manter boas relações tanto com a Rússia, quanto com Ucrânia; pois
como muito bem diz a pergunta, Brasil e Ucrânia sempre tiveram um bom
relacionamento.
5.
Conte por favor sobre a sua meninice, escola, se era uma boa aluna, o que
queria ser quando tinha 12-15 anos, quando é que nasceu a vontade de ser uma
PM?
Então,
quanto a escola sempre me dediquei bastante, tive boas notas; porém quando fui atingindo meus 15 anos,
comecei a me dedicar mais, prestando bolsas de estudo em cursos preparatórios,
o que me ajudou muito à ingressar na área militar. Não tenho uma explicação
quanto a vontade de me tornar militar, porém desde muito pequena gostava de ir
em exposições de artigos, hinos ou fardamentos militares; os meus pais me
levavam à feira de aviação, promovida pela Aeronáutica, eu ficava encantada
pela Aeronáutica.
6.
Foi muito difícil entrar na PM? É difícil ser a 1º tenente mulher?
Quando
prestei provas para a Academia Militar, a prova era realizada pela FUVEST;
a prova era de extrema dificuldade; fora da prova escrita, havia ainda a prova física,
que contava com natação, corrida, flexão, abdominais e agilidade; a parte
psicológica e a investigação social [do perfil do aspirante]. Quanto a questão
de ser mulher e tenente na Polícia Militar, para mim é uma grande honra, algo
que faço por amor a profissão, e como muitos perguntam quanto a condição física,
acredito que com esforço podemos superar as dificuldades.
7.
Como a Isadora lida com o medo? Pois está diariamente nas ruas, a cidade de SP
não é tão violenta como pode parecer, mas o perigo sempre existe. Como funciona
o seu processo de superação?
Já
faz algum tempo que estou na minha profissão, então acho que já me acostumei
com as situações diárias; mas claro que as vezes nos surpreendemos com algumas
ocorrências (por exemplo essa situação que envolveu os modelos ucranianos), algo
que não é tão corriqueiro; mas sempre procuro, nas folgas, através do desporto/esporte
tirar o stress.
8.
O terrorista brasileiro atualmente preso na Ucrânia, Rafael Lusvarghi era
ex-soldado da PM em SP, tentou ser oficial da PM em Acre. No seio da PMSP se
fala do assunto? A PM faz algum trabalho de acompanhamento deste tipo de
situações? Dos radicais da direita e da esquerda que podem tentar penetrar na
PM, representando o perigo à sociedade brasileira?
foto @PM Cleber Quirino |
Quanto
ao Rafael Lusvarghi, não vejo se falar tanto a respeito desse assunto; porém na
Polícia temos diversos profissionais, tanto da área da Saúde mental, com o auxilio
psicológico, quanto na parte de inteligência policial; os quais sempre
acompanham os policiais.
9.
No caso dos modelos ucranianos libertados em SP, será que Isadora foi destacada
por acaso ou pesou o fato de ter a origem ucraniano-brasileira?
Quanto
ao caso dos modelos ucranianos, até para mim foi uma surpresa que as duas vítimas
serem do mesmo país do qual provêm a minha família. Infelizmente não falo
ucraniano, mas fiquei feliz por poder ter ajudado, tanto eu, quanto a minha
equipe de Força Tática, pois tal trabalho só foi possível graças a todos
policiais da equipe.
10.
Neste momento Ucrânia está passar por uma profunda reforma de polícia nacional
e de todo o sistema de lei e ordem. Como tal, no sistema foram convidados à
trabalhar alguns estrangeiros para pudessem compartilhar as melhores práticas
daquilo que se faz no exterior. Se Ucrânia (o Ministério do Interior ou Guarda
Nacional da Ucrânia), convidarem Isadora para trabalhar na Ucrânia, aceitaria o
cargo?
Se
eu fosse convidada, com toda certeza aceitaria, primeiro, porque sempre quis
conhecer o país de meus parentes; e segundo pela experiencia profissional na área
militar; acredito que para um Oficial, experiências assim são de suma importância,
pois compartilharia as vivências tanto do Brasil, quanto da Ucrânia.
11.
Além de servir na PM, Isadora está fazer o curso de Direito, que tipo de carreira
gostaria de seguir?
Hoje
em dia estou terminando a Faculdade de Direito, estou me empenhando em aprender
o inglês; pois em breve pretendo prestar a prova para o ingresso nas Forças de
Paz da ONU, podendo servir fora do país.
12.
Tendo a sua vida tão preenchida, sobra o espaço para a vida privada? Namora com
alguém, pensa em casar ou constituir a família?
Estou
namorando com um colega do PMSP, num clima da paz e sem os choques hierárquicos ;-), mas dado aos planos da carreira, dento e fora da PM, dificilmente haverá
as mudanças na minha vida pessoal, pelo menos, nos próximos tempos.
Texto @Ucrânia em África; fotos @Facebook da Isadora Katerenhuk (todas) e Cleber Quirino (marcada como CB)
Parabéns Tenente!!
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