A guerra no leste da
Ucrânia está no fim ou pelo menos fora da sua fase quente. Por resolver ficaram
as questões do poder local, dissolução dos bandos separatistas, controlo da
fronteira estatal. A ausência do estado do direito e a queda do nível de vida
são resultados atuais da guerra russo-ucraniana no Donbas.
por: Pavel Kanygin, jornalista
russo, versão curta, 2ª parte
Os direitos humanos
A situação é monitorada
pelos representantes da ONU, OSCE e Human Rights Watch. Segundo os seus relatórios,
o regime da “lnr” e “dnr” pode ser descrito como uma ditadura semi-militar. A polícia
e os tribunais funcionam, mas o seu poder é nominal, os cidadãos não possuem acesso
à estes. Uma vez testemunhamos como no centro de Donetsk o militante do grupo
armado “Oplot” matou um cidadão por achar que este tinha a imagem da bandeira
ucraniana no seu telemóvel. «És um ukrop! — gritou miliciano. — Trabalhas pare eles,
cabrão!» Com um golpe ele derrubou o cidadão; na queda este partiu a base do
crânio. Alguém chamou a polícia e ambulância. Mas primeiro veio um minibus com
janelas “fumadas” e sem a matrícula que levou o atacante. Depois a ambulância
levou o corpo. Uma hora depois veio a polícia da “dnr” queixando-se com os
palavrões da inutilidade da sua vinda.
A polícia da “dnr” é
composta por quase as mesmas pessoas que trabalhavam no Ministério do Interior
da Ucrânia antes da guerra, tal como antes, a sua influência e autoridade são
minúsculas.
Os diferendos
empresariais são resolvidos com uso de “cobertura” por parte dos bandos
armados. Os próprios (“Vostok”; “guarda nacional da dnr”, ex-“Oplot”; “Prizrak”;
“Sparta”) substituíram os tribunais e as estruturas legais. Fazem parte do
vertical do poder das “repúblicas” autoproclamadas, exercendo as funções de
defesa, da polícia, de repressão e de fisco.
Após a manifestação
antiguerra de 16 de junho de 2015, Alexander Zakharchenko deu a ordem de encontrar
os organizadores da manifestação e “pôr fim às atividades subversivas”. Desde
então, os moradores de Donetsk receiam se reunir em grandes grupos. As
atividades da população são vigiadas pelo “ministério da segurança estatal”, o
sucessor do SBU, cuja maioria dos funcionários, no verão de 2014, como no caso da
polícia, jurou à lealdade à “novaróssia”. O “ministério” possui o seu próprio centro
de detenção que os locais chamam simplesmente de “cave”.
Human Rights Watch avalia
a situação dos direitos humanos em “dnr” como crítica. A HRW recebe a informação
sobre falta de serviços médicos e medicamentos, detenções arbitrárias e
desaparecimento dos cidadãos. Ucrânia denuncia dezenas de prisioneiros políticos
da “dnr”, entre os jornalistas, ativistas ucranianos, professores, empresários,
funcionários públicos e juízes. A “dnr”, não negando, os chama de “sabotadores” e “espiões”.
O poder
Desde o fim dos
combates, na região de Luhansk e Donetsk começou a “guerra dos curadores”, assim
os locais chamam uma série de conflitos e mudanças nas lideranças de “repúblicas”.
A “dnr” despediu com
escândalo um dos ideólogos do “Donbas independente”, o chefe do seu “conselho
supremo”, Andrey Purgin. Dizem que o assessor do presidente Putin, Vladislav
Surkov, considerado como curador mor dos separatistas, decidiu trocar Purgin
pelo Denis Pushulin, ex-coordenador regional da pirâmide financeira russa, MMM.
O "ministro" Lyamin às contas com a "justiça" da sua "república" |
(Nos meados de outubro último) a “lnr” deteve o seu próprio
“ministro de combustível, energia e indústria de carvão”, Dmitriy Lyamin, o
vídeo da sua detenção, interrogação, intercalada com os espancamentos
sangrentos foi colocada na Internet (o “ministro” é acusado na conivência com
Ucrânia na venda 88% de carvão extraído na região de Donetsk e na sua
comercialização posterior na Ucrânia).
https://www.youtube.com/watch?v=s5bizJwh_Nw
O caso é visto como a
consequência direta da luta entre Lyamin e jovem bilionário ucraniano Sergey
Kurchenko, próximo à família do Yanukovych. Após a queda deste, Kurchenko fugiu
para Moscovo, mas mantêm os negócios no leste da Ucrânia, mostrando que conta
com apoio do Kremlin e exige a sua parte do bolo energético. Em Donetsk, Kurchenko
tem oposição do líder da “dnr”, Zakharchenko, que ao mesmo tempo lidera o grupo
armado “guarda nacional da dnr”. Em outubro de 2015, Donetsk e Makeevka ficaram
alguns dias sem o gás por causa do conflito entre Kurchenko e Zakharchenko.
A economia, fronteiras e
impostos
No último ano Ucrânia introduziu
o bloqueio económico, energético e de transporte contra as “dnr” e “lnr”. Mas a
corrupção é forte nos postos de controlo ucranianos. Os separatistas também
ganham com o fornecimento dos bens ucranianos, oferecendo os serviços de “acompanhamento”
no seu território. Considera-se que oferecimento da “cobertura” ao contrabando
é a principal fonte da riqueza do Alexander Khodakovsky, líder do “regimento
Vostok”, chefe do “conselho de segurança da dnr” (e ex-chefe do grupo “Alfa” do
SBU de Donetsk).
As fronteiras com
Rússia continuam abertas, mas são usadas raramente. A liderança da “dnr” é
vista permanentemente em Rostov-no-Don e Moscovo. Os jornalistas russos que
visitavam a região através daquelas fronteiras (fora de controlo da Ucrânia),
automaticamente perdiam o direito de visitar Ucrânia. Os que entravam na região
legalmente, mantinham a possibilidade de trabalhar nos dois lados do conflito.
A “dnr”, através das pessoas
próximas do Zakharchenko, controla todas as operações comerciais acima de 10.000
dólares. Os separatistas introduziram o seu próprio sistema de impostos, à escolha
do empresário, 20% do lucro líquido ou 2,5% da receita bruta. Os cidadãos são
obrigados a pagar o imposto base de 13% do salário. Desde 1 de setembro de 2015
a divisa oficial da “dnr” e “lnr” são os rublos russos.
Os ativos imóveis (minas,
estações elétricas, redes comerciais, hotéis e estádio “Donbas-Arena”) do
bilionário ucraniano, Rinat Akhmetov, continuam intocáveis. Os impostos destes
empreendimentos são pagos na Ucrânia, os produtos do seu funcionamento, furando
o bloqueio, são comercializados na Ucrânia.
Ler o texto integral em russo:
Blogueiro
1.
“Primavera russa”: o termo cunhado pela
extrema-direita russa para descrever o processo da reconquista, militar e de influência política, do espaço pós-soviético (e não só) que começou
com a invasão e ocupação da Crimeia; continuou com ocupação do leste da Ucrânia
e tem o eco nas operações militares russas em Síria.
2.
“Ukrop” (literalmente endro; aneto ou erva
doce), o termo pejorativo que a mesma extrema-direita russa usava para
descrever os ucranianos em geral e os patriotas da Ucrânia em particular. Em
resposta os ucranianos criaram a insígnia “ukrop” e mais tarde formaram o
partido patriótico de cariz populista chamado UKROP.
Malditam sejam os terroristas
ResponderEliminarEstimados leitores,
ResponderEliminar1) os brasileiros que não participaram com as armas nas mãos nas formações russo-terroristas, apenas escrevendo na Net e angariando fundos e pessoas, em primeiro lugar violam as leis brasileiras e devem ser denunciadas no Brasil e não na Ucrânia.
2) ABIN http://www.abin.gov.br/modules/faleconosco/?op=O
3) PF http://www.pf.gov.br/servicos/fale-conosco/denuncias
Façam a vossa quota-parte!