segunda-feira, junho 08, 2009

Caso Alexandra: uma menina, dois sistemas

Analisando o caso da Alexandra Tsyklauri, a menina portuguesa levada contra-senso para a Rússia, um país de desconhece por completo, comecei reflectir sobre as duas sociedades, que neste caso estiveram em evidência. A sociedade portuguesa, de acolhimento e a sociedade russa, que “ganhou” o caso, como se Xaninha fosse uma batalha da guerra fria, que terá que ser ganha custe o que custar, doa a quem doer...

Digo logo, não pretende “pintar” o Portugal como o paraíso na terra. Este pequeno país à beira mar, pátria dos muitos passionários, que no passado deram os mundos ao Mundo, hoje em dia é um canto calmo de Europa burguesa, onde nem a pobreza, nem a riqueza abundam, como em alguns outros pontos do nosso planeta. Mesmo assim, Portugal tornou-se a segunda pátria para mais de 5.000 cidadãos russos (dados do SEF, 2007), uma destes, Natália Zarubina será o alvo da minha análise hoje.

Sra. Zarubina. Também não quero moralizar em demasia, vendia ela o seu corpo ou não, andava bêbada em cima de autocarros ou não, as doidas trabalhadoras do sexo podem perfeitamente bem amar os seus filhos. Por isso ninguém entendeu como uma mãe “amorosa” pode bater e empurrar com a raiva, a sua filha, sangue do seu sangue no primeiro dia da “reunião familiar”. Além disso, em muitos países Ocidentais, uma mãe pode perder a guardo do filho, por um comportamento deste, mas enfim, podemos descontar por conta das diferenças culturais.

Sistema judicial português. Um grandessíssimo número dos portugueses, revoltou-se contra a decisão do seu próprio juiz, com mais ou menos razão, apontando lhe vários erros do julgamento, do humanismo, do carácter e por ai fora. Nunca ouvi ou li que algum português via a decisão do juiz como uma questão política Portugal vs Rússia, Ocidente vs Oriente ou as questões do género. Cerca de ¼ de todos os comentários russos nas várias páginas do Live Journal passam por cima de sequer existência da Xaninha, aterrando nas questões do Iraque, pedofilia & pobreza em Portugal, terminando com os habituais chavões soviéticos do tipo “mas nos EUA lincham os negros”!

Os pais. Se a vida da Natália Zarubina quer na Rússia, quem em Portugal pode dar o material para um bom thriller mais ou menos psico – erótico, os pais portugueses são cidadãos comuns, talvez um pouco mais abastados do que outros portugueses, mas também, se calhar, porque trabalharam um pouquinho mais. Na ausência dos factos reais, os “patriotas do império” ... simplesmente inventavam os “factóides”. “Essa Florinda é .... ela é uma .... e também a ....”. "E Juan (coitados nem o nome conseguiam escrever correctamente), ele é um ... e sempre foi ... desde a juventude!” Obviamente, quando pedias algumas provas, nem que seja o link para uma página electrónica ou a referencia do jornal, o silencio total e absoluto era a resposta dos russos da má consciência. No país deles isso se chama “Relações Públicas negras”, quer dizer RP que não conhecem nem as leis escritas, nem a moral, nem os usos, nem os costumes. Tudo serve e tudo é usado com o objectivo de enxovalhar o(s) oponente(s) na mais vil e baixa calúnia lamacenta.

A cadela Lúcia. Bichinho caseiro, mimado em Portugal (pois é normal que as pessoas mimam os seus animais domésticos, questão da saúde mental), logo após a sua chegada a Rússia, Lúcia foi acorrentada a uma horrorosa casinha, uma espécie do GULAG canino. Mais tarde, os seus filhotes foram enterrados VIVOS. Os portugueses ficaram chocados, eu fiquei chocado, mas os “patriotas do império” se riram de nós, dizendo que somos os “fracotes ocidentais”, que não estamos a entender a verdadeira dimensão deste império energético, que se “levanta do chão”.

Os russos. Ao mesmo tempo, notei que apesar dos últimos oito anos de propaganda anti – Ocidental desenfreada, os russos, na sua maioria, ainda são gente boa e até continuam ter um sentimento forte do auto – crítica (principalmente aqueles, que vivem bem longe do Moscovo, este verdadeiro “terceiro Roma”, que nada produz e tudo consome). Dizem que a petição internacional, assinada neste momento por cerca de 25.000 pessoas, tem por volta de 60% das assinaturas dos cidadãos russos. Não sei até que ponto todos eles são russos e se não há entre eles uns tantos ucranianos (que são “russófobos” por natureza, vivem sonhando em “prejudicar” a Rússia), mas o facto é este. Os cidadãos russos, conhecendo bem demais a realidade do seu próprio país, querem ver Alexandra de volta em Portugal. Vários grupos de cidadãos russos até já criaram alguns blogues que advogam o retorno imediato da Xaninha a Portugal: http://community.livejournal.com/sandra_parents e Clube dos pais do São Petersburgo. Além disso, existe um grupo de apoio da Alexandra na rede social russa Em Contacto. E não esquecer a blogueira Natália Radulova, que em apenas duas suas postagens sobre o “caso Xaninha”, reuniu primeiro 857 e depois 775 comentários. Os “patriotas do império” geralmente começam por exigir a retirada da sua cidadania russa (até recentemente, Radulova era ucraniana) e acabam em advogar os crimes de sangue, crimes contra a integridade pessoal, etc. Culpa da blogueira? “Ousadia” e “anti – patriotismo” em afirmar que a menina estaria muito melhor com a sua família em Portugal.

Os “patriotas” russos. Meia dúzia dos blogueiros profissionais, cujo “patriotismo canónico” é pago segundo as tarifas estatais, reclamam a obrigatoriedade de não deixar nenhuma alminha escapar do grande GULAG, o território da Federação Russa. Não faz mal, dizem eles, que a menina só come a carne enlatada, nós também comíamos. Não faz mal, que dorme em cima do forno, nós também dormíamos (um “patriota” me contou que um certo dia a sua avo lhe bateu, “para chamar atenção” com o ferro quente, sabem, numa “normalíssima” brincadeira entre a avo e o neto). Pelos vistos, nós, os “agentes” pró – Ocidentais queremos privar Xaninha destas maravilhas da vida rudimentar, que Ocidente “não espiritual” desconhece hoje me dia. Tomar o banho nos banhos públicos, os meninos nos banhos femininos (se forem com a mãe) e as meninas, nas masculinas (se forem com o pai). De visitar o WC muito parecido como o do filme “Quem quer ser milionário”, mas com pequeno pormenor, de ter que correr até lá debaixo das temperaturas gélidas, muitos graus abaixo do zero (de Outubro à Março)...

A história da Xaninha não termina por ai, mas gostaria de terminar este artigo numa nota positiva. Gostaria ver o seu caso servir de base para a mudança legislativa em Portugal e no resto da Europa civilizada, para que não haja mais casos deste tipo. Então o seu nome será lembrado para sempre, como uma pequena menina, que obrigou os grandes tios e tias a se lembrar do verdadeiro significado das palavras: “Interesse Superior da Criança”....

Autor do colagem:
http://morang.livejournal.com/59709.html

2 comentários:

No vodka, go home! / Proibida a propaganda totalitária ou anti - ucraniana.