terça-feira, junho 30, 2009

As cores ucranianas do Paraná

A exposição “Miguel Bakun: A Natureza do Destino”, que abre no dia 30 de Junho na Casa Andrade Muricy, na cidade de Curitiba, marcam os 100 anos de nascimento do artista plástico Miguel Bakun, de ascendência ucraniana e nascido em 1909, na pequena Mallet, sul do Estado do Paraná (Brasil).

Publicado em 28/06/2009 ANNALICE DEL VECCHIO – Gazeta do Povo

Os paralelos entre vida e obra do pintor, comummente traçados em exposições retrospectivas, merecem pouco destaque nesta mostra que pretende alertar justamente para a necessidade de se prestar mais atenção ao legado artístico de Bakun e menos ao mito criado em torno de sua vida – e, principalmente, de sua morte: ele se suicidou aos 53 anos, em 14 de Fevereiro de 1963, após um período de depressão.
“A cidade está sempre matando Bakun por falar de sua morte antes mesmo de mencionar sua obra. É justamente o contrário do que deve ser feito”, diz a artista plástica Eliane Prolik, idealizadora da exposição.

Durante a mostra, ela lança o livro de mesmo nome, que reúne imagens de 60 obras de Bakun; textos dos críticos Ronaldo Brito, Artur Freitas e da própria Eliane; um ensaio de 1976, escrito pelo crítico e artista plástico Nelson Luz, falecido em 1977; e uma cronologia. O livro de 112 páginas será vendido a R$ 30.

Eliane tomou contacto com a pintura de Bakun em 1970, quando sua família adquiriu algumas obras do artista. A intimidade com as telas a levaria, em 2000, a desenvolver uma monografia sobre Bakun para o curso de pós-graduação em História da Arte do Século 20, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

A intenção, desde aquela época, já era transformar o trabalho académico em livro e exposição itinerante. Mas só nove anos mais tarde isso se tornaria possível, com a aprovação do projecto pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. “A data não foi pensada, mas veio bem a calhar”, diz a artista, que abre a exposição e lança o livro no ano em que se comemoram os 100 anos de nascimento de Miguel Bakun.

Eliane conta que houve interesse da editora paulista Cosac Naify em publicar o livro, mas preferiu mantê-lo dentro da lei de incentivo como forma de lançá-lo, junto com a exposição, primeiro em Curitiba. “É preciso haver mais entendimento sobre sua trajectória na própria cidade onde ele viveu. As obras nos acervos públicos do Paraná poderiam ser mais numerosas, e Bakun poderia ser representado em museus nacionais”, analisa a artista, que negocia uma exposição no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, no ano que vem.

Para compor a mostra, Eliane emprestou obras dos museus de Curitiba e de colecções privadas. “Não é uma retrospectiva de grande porte, é uma mostra que permite visualizar a poética do artista”, diz. Se o próprio Bakun elegeu as paisagens como foco principal de seu trabalho, a artista decidiu que elas seriam o tema da exposição – dentre as 50 obras, há apenas um retrato e uma natureza morta.
Para pintar, Bakun ia aos arredores de Curitiba, onde retratava marinhas, pinheirais, cafezais, lagos e fundos de quintal com uma paleta de cores que variava muito pouco: entre o amarelo, o azul, o verde e o branco. “Isso acaba sendo a sua grande força, cria uma identidade”, explica Eliane.

Sobre essa “economia expressiva” de um artista que se inventava como podia, isolado do mundo em uma cidade pouco visível culturalmente, escreve o crítico Ronaldo Brito, no livro: “As suas telas modestas, marginais na acepção da escrita, agarram com vontade o mundo, o seu pequeno momento de mundo. Vorazes à sua maneira, ela o tomam pelo desenho tosco e brusco e, sobretudo, graças a uma tinta aflita que absorve pelos poros a paisagem até torná-la uma com o artista”.
Serviço

Miguel Bakun: A Natureza do Destino. Casa Andrade Muricy (Alameda Dr. Muricy, 915), (41) 3321-4798. Abertura da mostra da lançamento do livro de mesmo nome, dia 30, às 19 horas. Terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas; sábado e domingo, das 10 às 16 horas. Até 9 de Agosto.

Saiba mais sobre a vida e a obra de Miguel Bakun

1909 – Nasce em 28 de Outubro, em Mallet, sul do Paraná.
De 1926 a 1930 – Aos 17 anos, alista-se na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá. Em 1928, em estágio na Ilha de Villegaignon (RJ), conhece José Pancetti, então cabo da Marinha e pintor de convés. Os dois futuros artistas desenham juntos pequenos esboços. Devido a uma queda do alto do mastro do navio, recebe baixa e passa a receber pensão da Marinha. Muda-se para Curitiba, onde desenvolverá sua produção artística.
De 1931 a 1938 – Trabalha como fotógrafo ambulante, executa anúncios comerciais, letreiros e decorações de interiores. Dedica-se à pintura como autodidacta. Em 1938, casa-se com Teresa Veneri, viúva de um militar, com três filhos de seu primeiro casamento.
1939 – Viaja para o Rio de Janeiro para tentar se estabelecer profissionalmente, onde reencontra Pancetti.
1940 – De volta a Curitiba, participa de ateliê colectivo cedido a vários artistas pela prefeitura, o que estimula sua produção. Desde então, passa a produzir intensamente e recebe inúmeros prêmios em salões estaduais e nacionais.
1963 – Angustiado e em depressão, suicida-se em 14 de Fevereiro, aos 53 anos.

Ver os quadros do pintor:
http://kalena-artedosultrazidasdaeuropa.blogspot.com/search/label/Miguel%20Bakun

2 comentários:

  1. Olá sou do blog "Kalena arte do sul"
    já coloquei o seu link no meu blog
    gostaria de ser citada tambem no seu
    sucesso e obrigado pelo contato inicial

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  2. Informação sobre Bakun

    Tenho em mãos a Certidão de Batismo de Bakun. Primeiro sua data de nascimento real é dia 27 de outubro e o batismo foi no dia 28. O seu batismo deu-se na Igreja de Ucraniana de Rio Claro. Bakun falava ucraniano, é só se informar com a Eugenia Petriu, durante muitos anos dirigindo a Cocaco ( casa de artes ), cujo pai conversava com Bakun fluentemente em ucraniano.
    Muitos sobrenomes são comuns na Ucrania e Polonia. Pois o território étnico ucraniano atinge o atual território da Polônia e os Poloneses dominaram durante certo período a parte ocidental da Ucrânia. Um dos sobrenomes de meus avós é também sobrenome típico polonês - Konopatski - e nem por isso guardamos costumes, língua e tradições polonesas e sim ucraniana. Mallet é uma cidade com as duas etnias. A população total do Município é de 12.778 habitantes e o número de descendentes de ucranianos, calculado a partir da frequencia às igrejas, é de 7. 667 pessoas. Istó é, 60% da população do Município. ( Estudo elaborado em todo o Estado do Paraná pelo Economista Metodio Groxko com o apoio do Bispo Efraim Krevei ). A primeira e mais antiga igreja ucraniana que está sendo restaurada está localizada na Serra do Tigre em Mallet. Há outras várias igrejas ucranianas em Mallet sede, Dorizon, Serra do Tigre, etc.
    Quando fui à Universidade da Cracóvia tive o prazer em levar dois livros de poesia: um do Leminiski e o outro da Helena Kolody. Assim foi fácil dizer que os poloneses e ucranianos dominam a poesia no Paraná. Não há o que chorar que o Bakun é de origem ucraniana, tenho vários amigos de origem polonesa aqui em Curitiba que são excelentes pintores. Dias atrás ofereci um Borsht para a Dulce Osinki e o Claudio.De um lado da mesa se comia o pirogue e do outro o vareneke, mas a comida era a mesma.

    Vitorio Sorotiuk

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