quarta-feira, julho 04, 2018

O engenheiro sul-africano fuzilado pelo NKVD soviético

O engenheiro sul-africano Robert Sassone, vivia a trabalhava na União Soviética, quando foi preso pelo NKVD em 3 dezembro de 1937, condenado pela “tróica” do NKVD em 20 de dezembro, acusado de “agitação anti-soviética e intenções terroristas”, e fuzilado apenas dois dias depois, em 22.12.1937.

Pouco se sabe sobre africânder (bóer), possivelmente de origem francesa, Robert Sassone. Ele nasceu em Pretória em 1888, recebeu a sua formação na Academia Militar, possivelmente também sul-africana. O seu pai se chamava Richard, por isso, os soviéticos atribuíram ao Robert o nome patronímico e mudaram a letra S inicial de seu apelido para a Z, assim, nos documentos soviéticos ele passou se chamar Robert Richardovich Zassone (Роберт Ричардович Зассонэ).

Não se sabe como, por que e quando Robert Sassone se mudou para a União Soviética. Podemos deslumbrar duas hipóteses mais prováveis, ou isso aconteceu por vontade própria, então se trata de um simpatizante ingénuo das ideias de esquerda. Ou então, Robert veio por via de alguma missão militar britânica, dado que a União da África do Sul (fundada em 31 de Maio 1910) foi o domínio do Império Britânico, situação que se manteve até 31 de Maio de 1961 quando o país se tornou independente do Reino Unido, sob o nome da República da África do Sul.

No momento da sua detenção pelo NKVD, em 3 de dezembro de 1937, Robert Sassone tinha 50 anos, não possuía nenhuma filiação partidária e desempenhava as funções do chefe de departamento da madeira na construção do Canal de Moscovo (que até 1947 se chamava Canal Moscovo-Volga), uma das obras faraônicas do estalinismo, e vivia na localidade de Dedenevo (casa № 102), situada no distrito de Dmitrovski, na região de Moscovo.
A mão-de-obra semi-escrava dos prisioneiros do GULAG na construção de canais da navegação.
Tal como em diversas outras obras do regime comunista soviético da época, na construção do canal foi usada em massa a mão-de-obra semi-escrava de prisioneiros, políticos e comuns. Em 14 de setembro de 1932 para a construção do canal foi especialmente criado o campo de concentração soviético de Dmitlag, que funcionou até 1938 e cujo efetivo prisional chegou aos 192.000 prisioneiros em 1935-1936 (recorde absoluto em termos de número de prisioneiros, em todo o sistema GULAG soviético da época). Não existem os dados exatos sobre o número dos prisioneiros mortos em Dmitlag, mas segundo várias fontes, esse número varia entre 10.000 à 30.000 pessoas [fonte].
Os prisioneiros soviéticos do Dmitlag
Na construção das obras semelhantes também trabalhavam várias pessoas “livremente contratadas”, os trabalhadores civis, muitos deles ex-prisioneiros que após a sua libertação decidiam ficar e trabalhar na mesma obra em que trabalhavam como prisioneiros. Não se sabe ao certo se este era caso do Robert Sassone, mas não é de descartar a hipótese.

Apenas 17 dias após a sua prisão, em 20 de dezembro de 1937, Robert Sassone foi condenado pela famigerada tróica de NKVD da região de Moscovo, acusado de “agitação anti-soviética e intenções terroristas”. Não se sabe se Robert “confessou” os seus supostos “crimes”, mas ele foi fuzilado em 22.12.1937 no polígono de Butovo, nos arredores de Moscovo e reabilitado, à título póstumo, em 15 de julho de 1989.


O período extremamente curto de apenas dois dias entre a data de condenação e a data de execução, naturalmente demonstra que o condenado não teve nenhuma oportunidade de recorrer da sentença condenatória, muito menos de contar com auxílio de qualquer advogado. 

O seu processo № 20897 (volume II, p.166), está armazenado no Arquivo Estatal da Federação Russa (é possível consultar os seus dados online em russo AQUI ou AQUI).
Na foto de arquivo Robert Sassone está a sorrir, ele ainda não sabe que o seu destino já foi traçado e que ele será engolido pela máquina implacável do Grande Terror comunista...

@Ucrânia em África. O nosso blogue agradece aos leitores qualquer informação adicional sobre Robert Sassone.

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