terça-feira, julho 31, 2018

Como a União Soviética explorava o trabalho infantil (5 fotos)

Desde os primeiros dias de existência da URSS, as crianças eram requisitados aos trabalhos pesados e às vezes perigosos (o caso da colheita de algodão), com agravanto de que trabalhavam “voluntariamente e em nome do partido” – ou seja, de graça e de forma compulsiva.

O que contava a propaganda comunista

Oficialmente, o trabalho infantil foi proibido na União Soviética – pelas disposições legais dos códigos de trabalho soviéticos de 1918 e de 1922. A “amiga das crianças”, a viúva oficial do Lenine – Nadezhda Krupskaya constantemente enfatizava o dito progressismo de legislação laboral soviética – trabalho forçado de crianças, contava ela, só existe nos países capitalistas como nos Estados Unidos e no Ocidente em geral, que gradualmente está apodrecendo e logo desaparecerá da face da terra.
A menina Katia Novikova conta que tem 15 anos, estuda na 7ª classe e já 4 anos
trabalha numa área de 0,2 ha de beterraba industrial (matéria prima de fabricação de açúcar)
A propaganda soviética também adorava publicar as histórias dos tempos czaristas, escritas nas décadas de 1880-1910, que em “detalhes terríveis” contavam a exploração de crianças na Rússia czarista – os mestres que davam as tapas nas caras dos ajudantes e negavam lhes a comida. Todas as crianças dessas histórias trabalhavam de manhã até à noite em quartos baixos, escuros e cheios de fumaça, e comendo, na melhor das hipóteses uma vez por dia.

Teoricamente, a URSS era simplesmente campeão — venceu o czarismo terrível e estava se mover na direção das amanhas cantantes.

A realidade da URSS pré-II G.M.

Na realidade, as crianças eram exploradas e bastante – em fazendas coletivas (kolkhozes), nas empresas ou simplesmente usadas como a mão-de-obra gratuita nos diversos trabalhos não qualificados. No início da época de estalinismo (final da década de 1920) isso até era relatado na imprensa soviética, por exemplo, o jornal “Pravda de Pioneiros” de 1929 costumava à escrever: “O camarada Petrov, que falou connosco sobre a vida das crianças no kolkhoz nos contou que a jornada infantil dura 6 horas diárias. Pelo seu trabalho, eles recebem 25 copeques. Os jovens com idades entre 14 à 17 anos recebem 50 copeques por dia” (à título de exemplo, em 1936-37 um sabonete de 100 gr custava entre 2.30 rublos e 1,15 rublos; 1 litro de vodca entre 11,75 e 4,75 rublos; 1 kg de pão – 1,7 rublos; 1 kg de carne – 6-7 rublos; 1 kg açúcar – 4,7 rublos).
O trecho permite saber que as crianças trabalhavam nos kolkhozes 6 horas por dia; que trabalhavam não apenas os adolescentes de 14-17 anos, mas crianças mais novas. E outro ponto muito importante – por um trabalho similar, os adultos recebiam quantias maiores. Então, seguramente, estamos perante a exploração de trabalho infantil.

Na época do estalinismo posterior, a propaganda mudou de enfoque, começando a sugerir que o trabalho infantil é para o benefício das próprias crianças, tudo é feito exclusivamente voluntariamente e “para o benefício da sociedade”. Criança trabalhou de graça – recebeu a gratidão socialista e um diploma de mérito de papelão. É fácil adivinhar o motivo dessa mudança – em vez de viver cada vez melhor, as pessoas na URSS estavam ficando cada vez pior, e mesmo as crianças foram usadas no trabalho nas fábricas e empresas.

Fábricas estalinistas e plantações de algodão
A capa do poema propagandista “Danila Kuzmich”
Na maioria das vezes, as crianças eram mandadas aos trabalhos tediosos, trabalhosos e não qualificados nas fábricas, minas, unidades produtivas – nas minas, os adolescentes faziam trabalho de estivadores, nas fábricas – trabalhavam nos tornos mecânicos e nas máquinas de perfuração. O poeta da corte estalinista, Sergei Mikhalkov, escreveu o poema propagandista “Danila Kuzmich” (1938) – sobre o menino, que dia e noite produzia as peças, usando uma caixa vazia para chegar aos comandos do torno (que era alto demais para ele) – isso foi apresentado como uma grande conquista do poder comunista soviético. O propagandista terminava o seu poema assim: “ao Danila Smirnov e ao resto – aplausos!”, após disso, seguramente se dirigia à um jantar generoso no seu espaçoso apartamento estatal.

Mas provavelmente a pior exploração de crianças era o trabalho árduo e muito difícil na colheita de algodão, praticado na Ásia Central soviética: no Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. A norma infantil diária era de 50 à 60 kg de algodão, para a conseguir as crianças tinham que trabalhar 12 horas por dia. O seu trabalho era avaliado em alguns tostões, que mesmo assim, na maioria das vezes eram recebidos pelos chefes de empresas (por exemplo, das escolas) que garantiam o envio das crianças ao trabalho mandatário.
Além do trabalho duro em si mesmo, outros perigos esperavam pelas crianças nos campos de algodão – desidratação, choques térmicos e impacto de agro-químicos, que na URSS eram usados, de forma muito generosa. Havia casos de morte de crianças na colheita. Quando um caso destes foi relatado ao 1º Secretário do PC uzbeque Sharof Rashidov, este respondeu – “o algodão é uma batalha, e no campo de batalha há baixas!”
O campo de pioneiros "Artek" (Crimeia ocupada), os nossos dias...
A propaganda soviética não dizia que a safra do algodão era um trabalho pesado, perigoso e nada infantil. Pelo contrário, era exortado como exemplo para as crianças, os casos daqueles que se matavam trabalhando  em 1935, a imprensa soviética escreveu sobre a jovem tajique Mamlakat Nahangova que recolheu 100 quilos de algodão num único turno e ganhou a viagem graciosa ao campo internacional de pioneiros “Artek”. Naturalmente ninguém falava de milhares de outros meninos e meninas desconhecidas que dia e noite colhiam algodão, sem serem lembrados ou recompensados com nada e por ninguém. No “país do socialismo triunfante”, isso simplesmente não poderia acontecer.

Exploração de crianças na URSS nas décadas de 1960-1980

A exploração de crianças nunca parou na URSS, apenas tomou outras formas. Nas décadas de 1960-1980, as crianças eram enviadas para trabalhar nos kolkhozes, de forma gratuita, na remoção de ervas daninhas, colheita e triagem de vegetais. Era um trabalho bastante pesado e sujo, que nem todos adultos suportavam, e era fácil para uma criança ganhar uma hérnia ou asma. O trabalho nem sequer era considerado como tal – oficialmente a escola simplesmente “fornecia ao kolkhoz uma ajuda possível”.
Havia casos em que as crianças eram enviadas às obras de construção civil – para diversos trabalhos não qualificados. Isso foi chamado de “trabalho socialmente útil e atividades físicas”. Naturalmente alguém recebia dinheiro pelo trabalho, mas ninguém pagava às crianças – eram casos mais que habituais.

Ainda existiam as obrigações como recolha de papel, sucata ou mesmo frascos de vidro para a reciclagem – a mania de frascos existia nos anos 1960-1970 – quando cada aluno tinha que trazer para a escola 7-8 frascos de medicamentos, muitas vezes as crianças despejavam os medicamentos dos pais ou avôs, para conseguir “fechar” o plano, à fim de cumprir os “padrões da unidade educativa”.
E por fim, havia assim chamados “sábados comunistas”, em que as crianças eram forçadas a trabalhar em alguns trabalhos menores sem um grande motivo plausível, somente para que escola puder informar as autoridades de educação sobre a sua aderência à essa iniciativa socialista.

Fotos: arquivo | Texto: Maxim Mirovich

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