terça-feira, julho 31, 2018

Os terroristas russos nas cadeias de Donbas: «empurrados, sanita abaixo»

O nosso blogue já contou vários casos dos terroristas russos presos nas cadeias da Ucrânia. Situação absolutamente normal e bastante lógica. No entanto, cerca de meio milhar de terroristas russos, estão presos nas cadeias dos separatistas de Donbas. Tendência bastante interessante para apreciar e estudar.

por: Georgiy Alexandrov, Novaya Gazeta (Rússia), versão curta.    

O terrorista russo Alexey veio ao Donbas no verão de 2014. Desmobilizado do exército russo, endoutrinado pela TV russa, queria defender o “mundo russo” contra os “fascistas”. Serviu em vários grupos armados ilegais, em 2015, ele e mais dois russos foram detidos pela secreta separatista – “mgb” da dita «dnr».

«Espancaram apenas durante a detenção, — conta Alexey. — Ao colega que tentou exigir os “direitos”, deram tiro na palma da mão […] Acusações eram habituais — porte ilegal de armas, apropriação ilegal dos bens alheios […] No primeiro dia propuseram “resolver tudo amigavelmente” — por 100.000 rublos (1.602 dólares americanos) […] meses depois o preço subiu ao 1 milhão de rublos (16.200 dólares). Dizem que agora “resolução amigável” custa em Donetsk à partir de 50.000 dólares.

[…] Com ajuda dos familiares, o terrorista russo consegui reunir 800.000 rublos (12.840 dólares) […] mas ai os separatistas apresentaram mais uma exigência:

“Antes de libertação devo confessar, gravado de vídeo, todos os meus crimes, incluindo aqueles sobre os quais não gostaria de contar. Foi avisado, qualquer tentativa de exigir “os direitos” – gravação será colocada na Internet e será a base do processo judicial contra mim na Rússia. […] Um sapador me contou que foi liberto na condição de “lavar [seus crimes] com o sangue. […] A sua unidade de punição, afinal era EMP “grupo Vagner” na Síria”.

As consequências do terrorismo

O número exato dos cidadãos russos detidos em “dnr” é desconhecido. Segundo os dados “oficiais” dos separatistas, em 4 anos de conflito eles prenderam mais de 480 russos. Alguns deles foram acusados em … espionagem ao favor da Rússia (!) Neste momento nas cadeias separatistas ainda estão cerca de 150 russos, o destino dos restantes é desconhecido.

«Segundo as leis internacionais, qualquer militante pode ser considerado criminoso, — conta um dos “oficiais” da dita “dnr”. — Desde primavera à outono de 2014 vivíamos no caos total, os comandantes do campo levavam para si e para as suas unidades quaisquer viatura ou outros bens. Os “comandantes dos batalhões” colhiam as propinas em todas as empresas comerciais no território sob o seu controlo — desde quiosques aos salões de beleza, desde minas às fábricas metalúrgicas”. […]

O propagandista russo Roman Manekin, que veio em Donetsk em março de 2014 e desde aí foi raptado por duas vezes, conta que desde outono de 2017 tive a lista de 300 cidadãos russos, presos nas cadeias, controladas pelos separatistas de Donbas. […]

«Empurrados, sanita abaixo»

A “legislação” da dita “dnr” é uma mistura do Código penal da Ucrânia e do CP russo, com uso de algumas normas do CP da Ucrânia Soviética da década de 1960.

Segundo o “decreto” assinado pelo fuhrer dos separatistas de Donetsk, Olexander Zakharchanko, qualquer cidadão pode ser detido por 30 dias. Alguns estão presos há anos, sem apresentação de qualquer acusação. Além de colónias oficias (pertencentes antes de ocupação russo-terrorista) ao Ministério da Justiça da Ucrânia, os separatistas possuem várias cadeias não oficiais, chamadas popularmente de “caves” ou “buracos”.

[…] O russo Vladimir Ustyancev (nom de guerre «Zhuk», literalmente besouro), veio ao Donbas da Sibéria em 2014, comandava a 6ª subunidade do bando ilegal armado “brigada Prizrak”, chegando ao posto de “comandante militar” da cidade de Torez. O terrorista foi condenado, pelos separatistas, aos 21 anos da cadeia do regime severo “sem direito de apelação” (!), por apropriação de viaturas e apartamentos.

[…] Uma fonte na “união dos voluntários de Donbas” (estrutura terrorista russa que enviou ao combates do leste da Ucrânia mais de 10.000 cidadãos russos) diz que até hoje cerca de 500 russos estão nas cadeias da dita “dnr”.

«As autoridades russas não fazem nada para a libertação dos seus cidadãos, — explica o interlocutor. — Eles estão fora da lei. Logo que eles passaram a fronteira [ucraniana], eles simplesmente foram empurrados sanita abaixo».

Rússia não quer saber deles

Os familiares dos terroristas russos escrevem ao Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores russo, suplicando pela ajuda. Em resposta, recebem a explicação de que, caso um cidadão russo for detido na Ucrânia, Rússia lhe daria assistência consular. No caso da dita “dnr” isso já não é possível. Os separatistas respondem aos familiares russos que estes deveriam se dirigir à Comissão de Minsk da resolução do conflito.

As “autoridades” da dita “dnr” recebem uma ordem [russa] não declarada para manter lá o maior número possível dos terroristas russos. Até aplicando às penas perpétuas. Eles devem apodrecer no Donbas, ou, então, visitando “grupo Vagner”, desaparecer silenciosamente na Síria.

As duas histórias elucidativas do terrorista russo e da separatista ucraniana, ambos adeptos do «mundo russo», que foram raptados pelos separatistas de Donbas.

Conta o terrorista russo Vitaly Chernyshev:

[…] Em 2015 o edifício da nossa fundação foi visitado pela [secreta terrorista] MGB. Se apropriaram de vários camiões/caminhões de alimentos, roupas, medicamentos […] levaram os bens no valor de 3 milhões de dólares. Eu fui acusado de espionar ao favor da Rússia. […] Me espancavam, colocaram uma sacola plástica na cabeça, amarravam as mãos atrás das costas (famosa tortura soviética “andorinha”), quebraram as costelas, esmagaram os dedos na perna, partiram os dentes com a coronha da pistola, causaram o traumatismo craniano. […]

A separatista Lyudmila Chaykivska (concubina do Vitaly Chernyshev) por duas vezes foi raptada pelos separatistas de Donbas:

[…] No dia 6 de fevereiro de 2015 […] no mercado central [de Donetsk] levaram os [nossos] bens no valor de alguns centenas de milhares de rublos […] era unidade do [comandante do campo] “Chempion” (Campeão), pertencente ao “ministério da defesa da dita “dnr”.

Me algemaram numa sala com piscina. Fiquei lá por mais de um mês. Estava muito frio. Era levada à casa de banho / ao banheiro duas vezes por dia. Prometiam me separar dos meus filhos para sempre. Éramos içados com as mãos atrás das costas (a famosa forma de tortura medieval chamada cavalete). Os sequestradores estavam interessados em uma questão: “Onde está o dinheiro?” Supostamente, eu deveria receber um grande valor em dinheiro. Na realidade era cerca de 100 mil rublos (1.602 dólares). Mas nas fantasias dos sequestradores, os rublos se transformavam em euros, depois a soma aumentou aos dois milhões.

[…] A separatista soube que estava grávida, apresentou uma declaração médica aos seus sequestradores, mesmo assim foi proibida de receber as roupas quentes e acabou por abortar. Confessou os seus crimes (um dos iniciais era a “espionagem ao favor da Rússia”), foi libertada em novembro de 2016 e se refugiou na Rússia, pedindo o asilo. Recebeu a recusa oficial, pois, como lhe explicaram, a sua vida não corria o perigo na dita “dnr”.

Blogueiro: os apoiantes brasileiros dos terroristas russos (e dos estrangeiros), costumam acusar o nosso blogue de ser “politicamente motivado” (embora não por palavras tão elaboradas), quando chamamos os terroristas brasileiros de terroristas. No entanto, eis a prova provada, os piores russos são condenados pelos piores ucranianos às penas de prisão de até 21 anos e possivelmente até as penas perpétuas. Alguma coisa isso significa e não deve ser coisa boa por parte dos terroristas.

Bónus

Chegou a informação nova sobre dois terroristas mortos na Síria (ambos mercenários da EMP russa “grupo Vagner”), ambos liquidados na famosa limpeza da área em Deir ez-Zor, efetuada pelas forças americanas em 7/02/2018.
Terrorista do "grupo Vagner", cidadão ucraniano Pyotr (Petró) V. Poberezhniy "Umka"
Um dos abatidos é cidadão ucraniano Pyotr (Petró) V. Poberezhniy “Umka”, nascido em 15.10.1976 na cidade de Brianka da região de Luhansk; separatista de Donbas. Outro é cidadão da Armênia, Gevorg Grachyan, participou nas atividades terroristas na Donbas; nascido em 11/11/1980.
Terrorista do "grupo Vagner", cidadão arménio Gevorg Grachyan
God bless America!

Como a União Soviética explorava o trabalho infantil (5 fotos)

Desde os primeiros dias de existência da URSS, as crianças eram requisitados aos trabalhos pesados e às vezes perigosos (o caso da colheita de algodão), com agravanto de que trabalhavam “voluntariamente e em nome do partido” – ou seja, de graça e de forma compulsiva.

O que contava a propaganda comunista

Oficialmente, o trabalho infantil foi proibido na União Soviética – pelas disposições legais dos códigos de trabalho soviéticos de 1918 e de 1922. A “amiga das crianças”, a viúva oficial do Lenine – Nadezhda Krupskaya constantemente enfatizava o dito progressismo de legislação laboral soviética – trabalho forçado de crianças, contava ela, só existe nos países capitalistas como nos Estados Unidos e no Ocidente em geral, que gradualmente está apodrecendo e logo desaparecerá da face da terra.
A menina Katia Novikova conta que tem 15 anos, estuda na 7ª classe e já 4 anos
trabalha numa área de 0,2 ha de beterraba industrial (matéria prima de fabricação de açúcar)
A propaganda soviética também adorava publicar as histórias dos tempos czaristas, escritas nas décadas de 1880-1910, que em “detalhes terríveis” contavam a exploração de crianças na Rússia czarista – os mestres que davam as tapas nas caras dos ajudantes e negavam lhes a comida. Todas as crianças dessas histórias trabalhavam de manhã até à noite em quartos baixos, escuros e cheios de fumaça, e comendo, na melhor das hipóteses uma vez por dia.

Teoricamente, a URSS era simplesmente campeão — venceu o czarismo terrível e estava se mover na direção das amanhas cantantes.

A realidade da URSS pré-II G.M.

Na realidade, as crianças eram exploradas e bastante – em fazendas coletivas (kolkhozes), nas empresas ou simplesmente usadas como a mão-de-obra gratuita nos diversos trabalhos não qualificados. No início da época de estalinismo (final da década de 1920) isso até era relatado na imprensa soviética, por exemplo, o jornal “Pravda de Pioneiros” de 1929 costumava à escrever: “O camarada Petrov, que falou connosco sobre a vida das crianças no kolkhoz nos contou que a jornada infantil dura 6 horas diárias. Pelo seu trabalho, eles recebem 25 copeques. Os jovens com idades entre 14 à 17 anos recebem 50 copeques por dia” (à título de exemplo, em 1936-37 um sabonete de 100 gr custava entre 2.30 rublos e 1,15 rublos; 1 litro de vodca entre 11,75 e 4,75 rublos; 1 kg de pão – 1,7 rublos; 1 kg de carne – 6-7 rublos; 1 kg açúcar – 4,7 rublos).
O trecho permite saber que as crianças trabalhavam nos kolkhozes 6 horas por dia; que trabalhavam não apenas os adolescentes de 14-17 anos, mas crianças mais novas. E outro ponto muito importante – por um trabalho similar, os adultos recebiam quantias maiores. Então, seguramente, estamos perante a exploração de trabalho infantil.

Na época do estalinismo posterior, a propaganda mudou de enfoque, começando a sugerir que o trabalho infantil é para o benefício das próprias crianças, tudo é feito exclusivamente voluntariamente e “para o benefício da sociedade”. Criança trabalhou de graça – recebeu a gratidão socialista e um diploma de mérito de papelão. É fácil adivinhar o motivo dessa mudança – em vez de viver cada vez melhor, as pessoas na URSS estavam ficando cada vez pior, e mesmo as crianças foram usadas no trabalho nas fábricas e empresas.

Fábricas estalinistas e plantações de algodão
A capa do poema propagandista “Danila Kuzmich”
Na maioria das vezes, as crianças eram mandadas aos trabalhos tediosos, trabalhosos e não qualificados nas fábricas, minas, unidades produtivas – nas minas, os adolescentes faziam trabalho de estivadores, nas fábricas – trabalhavam nos tornos mecânicos e nas máquinas de perfuração. O poeta da corte estalinista, Sergei Mikhalkov, escreveu o poema propagandista “Danila Kuzmich” (1938) – sobre o menino, que dia e noite produzia as peças, usando uma caixa vazia para chegar aos comandos do torno (que era alto demais para ele) – isso foi apresentado como uma grande conquista do poder comunista soviético. O propagandista terminava o seu poema assim: “ao Danila Smirnov e ao resto – aplausos!”, após disso, seguramente se dirigia à um jantar generoso no seu espaçoso apartamento estatal.

Mas provavelmente a pior exploração de crianças era o trabalho árduo e muito difícil na colheita de algodão, praticado na Ásia Central soviética: no Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. A norma infantil diária era de 50 à 60 kg de algodão, para a conseguir as crianças tinham que trabalhar 12 horas por dia. O seu trabalho era avaliado em alguns tostões, que mesmo assim, na maioria das vezes eram recebidos pelos chefes de empresas (por exemplo, das escolas) que garantiam o envio das crianças ao trabalho mandatário.
Além do trabalho duro em si mesmo, outros perigos esperavam pelas crianças nos campos de algodão – desidratação, choques térmicos e impacto de agro-químicos, que na URSS eram usados, de forma muito generosa. Havia casos de morte de crianças na colheita. Quando um caso destes foi relatado ao 1º Secretário do PC uzbeque Sharof Rashidov, este respondeu – “o algodão é uma batalha, e no campo de batalha há baixas!”
O campo de pioneiros "Artek" (Crimeia ocupada), os nossos dias...
A propaganda soviética não dizia que a safra do algodão era um trabalho pesado, perigoso e nada infantil. Pelo contrário, era exortado como exemplo para as crianças, os casos daqueles que se matavam trabalhando  em 1935, a imprensa soviética escreveu sobre a jovem tajique Mamlakat Nahangova que recolheu 100 quilos de algodão num único turno e ganhou a viagem graciosa ao campo internacional de pioneiros “Artek”. Naturalmente ninguém falava de milhares de outros meninos e meninas desconhecidas que dia e noite colhiam algodão, sem serem lembrados ou recompensados com nada e por ninguém. No “país do socialismo triunfante”, isso simplesmente não poderia acontecer.

Exploração de crianças na URSS nas décadas de 1960-1980

A exploração de crianças nunca parou na URSS, apenas tomou outras formas. Nas décadas de 1960-1980, as crianças eram enviadas para trabalhar nos kolkhozes, de forma gratuita, na remoção de ervas daninhas, colheita e triagem de vegetais. Era um trabalho bastante pesado e sujo, que nem todos adultos suportavam, e era fácil para uma criança ganhar uma hérnia ou asma. O trabalho nem sequer era considerado como tal – oficialmente a escola simplesmente “fornecia ao kolkhoz uma ajuda possível”.
Havia casos em que as crianças eram enviadas às obras de construção civil – para diversos trabalhos não qualificados. Isso foi chamado de “trabalho socialmente útil e atividades físicas”. Naturalmente alguém recebia dinheiro pelo trabalho, mas ninguém pagava às crianças – eram casos mais que habituais.

Ainda existiam as obrigações como recolha de papel, sucata ou mesmo frascos de vidro para a reciclagem – a mania de frascos existia nos anos 1960-1970 – quando cada aluno tinha que trazer para a escola 7-8 frascos de medicamentos, muitas vezes as crianças despejavam os medicamentos dos pais ou avôs, para conseguir “fechar” o plano, à fim de cumprir os “padrões da unidade educativa”.
E por fim, havia assim chamados “sábados comunistas”, em que as crianças eram forçadas a trabalhar em alguns trabalhos menores sem um grande motivo plausível, somente para que escola puder informar as autoridades de educação sobre a sua aderência à essa iniciativa socialista.

Fotos: arquivo | Texto: Maxim Mirovich

segunda-feira, julho 30, 2018

Ucrânia nos séculos XIX-XX em fotografias coloridas (17 fotos)

Hoje publicaremos uma pequena colectânea de fotografias históricas, algumas coloridas, que mostram como vivia o interior da Ucrânia na segunda metade do século XIX – início do século XX.

A foto inicial mostra a cidade ucraniana de Putyvl, com à vista ao mosteiro (hoje novamente funciona), nas margens do rio Seym. A foto é da autoria do “pai” da fotografia colorida no império russo, Sergey Prokudin-Gorskii, que desenvolveu as técnicas e também tirou as primeiras fotografias às cores, no início do século XX, únicas na sua qualidade de imagem.
Legenda: moço e moça na mesa numa casa no interior, 1903
Os carros de bois interligados. A aldeia de Shevchenkovo, região de Cherkasy, início do século XX.
Azenha (moinho de água) no rio Vorskla. A vila de Okhtyrka, região de Sumy, 1910.
Um grupo de camponeses. Região de Stanislaviv (atual Ivano-Frankivsk). Início do século XX.
Moças ucranianas em roupas tradicionais. Região de Kharkiv, a aldeia de Podvorki, 1902.
Uma ucraniana de meia idade em um paletó (chamado svitka) branco. Região de Kharkiv, século XIX.
Mansão camponesa. Aldeia Stara Veremiivka, final do século XIX
(possivelmente pertencia à um camponês abastado, daqueles que o poder comunista
iria chamar de kulak/kurkul e tentar exterminar em purgas intermináveis).
Uma menina ucraniana, foto do Sergey Prokudin-Gorskii, 1904
Segunda metade do século XIX, o atual distrito de Slovianoserbsk de região de Luhansk:
Legenda: a casa ucraniana (feita) de pedra selvagem no distrito de
Slovianoserbsk e quintal com uma cerca de pedra 
Legenda: rua numa aldeia ucraniana 
Legenda: aldeia Oleksiivka (Alekseevka), da circunscrição de Mykhaylivske,
do distrito de Slovianoserbsk, fim do séc. XIX.
Fotos: arquivo

domingo, julho 29, 2018

O “anti-semitismo” na guerra psicológica contra Ucrânia e ucranianos

Usando as velhas táticas do KGB, o ex-chefe da campanha do Donald Trump, Paul Manafort e a sua equipa investiram o esforço lobista para desacreditar os ucranianos perante Washington: “Nos desenvolvíamos ativamente a concepção do anti-semitismo, como parte de [pontos de vista] da oposição [ucraniana]”.

A equipa de investigação do procurador especial Robert Mueller apresentou mais de 300 documentos que revelam os detalhes da cooperação do Paul Manafort com o “Partido dos Regiões” do ex-presidente Victor Yanukovych e com o atual “Bloco de Oposição”, descendente direto do “Partido das Regiões”, informa o serviço russo da rádio VOA. Além disso, foi revelada a lista das 35 potenciais testemunhas que acusação pretende convocar para deporem no julgamento do Paul Manafort, acusado nos EUA de diversos crimes bancários e fiscais, processo que se iniciará nesta 3ª feira, dia 31 de julho.

Os documentos revelados pela investigação são referentes aos diversos momentos temporais, esclarecendo as peculiaridades da política ucraniana, que estavam escondidas da atenção pública.

Os consultores políticos americanos do grupo Paul Manafort, estavam planear, ao pormenor, quer a agenda eleitoral do Victor Yanykovych, quer a campanha política do seu partido.

Por exemplo, Paul Manafort, na carta ao sei parceiro e consultor político Tad Devine, descreve ao pormenor como devem ser organizadas as intervenções do Mykola Azarov (um dos líderes do Partido das Regiões e futuro 1º Ministro da Ucrânia), e do próprio Victor Yanukovuch no congresso do seu partido em 9 de setembro de 2010.

Manafort determina: “Azarov intervém durante 10-12 minutos, falará em russo e criticará [Yulia] Tymoshenko pela desordem que essa deixou [na qualidade de 1ª Ministra] e apresentara a plataforma eleitoral. VFYa [Victor Fedorovych Yanukovych] intervirá durante 5-7 minutos, falará em ucraniano e apresentará o seu programa “Ucrânia para as pessoas”.

Documentos mencionam o custo do congresso do “Partido das Regiões” (naquele momento na oposição) – 565.000 dólares americanos.

Nos documentos também aparece a minuta do contrato entre agência americana de consultores políticos Devine Mulvey Longabaugh e o governo ucraniano do Victor Yanulovych, só em abril e maio de 2014, estes serviços deveriam custar 200.000 dólares [derrubado pelo movimento Maydan, naquele momento Yanukovych e Azarov já tinham fugido para Rússia].

Num dos documentos Manafort escreveu ao Yanukovych: “Nos desenvolvíamos ativamente a concepção do anti-semitismo, como parte de [pontos de vista] da oposição [ucraniana] (...) Isso foi a parte fundamental da nossa estratégia de Washington”.

Os documentos também mostram as perguntas que foram colocadas na conferência de imprensa de Victor Yanukovych, dedicada aos cem dias da sua presidência e as respostas dadas pelo Yanukovych.

A próxima audiência judicial no caso Paul Manafort será realizada em 31 de julho no Tribunal do Distrito Federal de Alexandria, no estado de Virgínia.

Blogueiro: recentemente, e após a publicação do artigo Militares judeus finlandeses na Talvisota e na Guerra de Continuação algum leitor anónimo e certamente muito “antifascista” deixou a seguinte mensagem: “La vem vc bajular os judeus, foram eles responsaveis por tudo de ruim q aconteceu com a Ucrania nos ultimos 100 anos. Mas eu entendo que hj em dia eh imprescindivel falar bem de judeu e elege-los como vitimas. Eu acho que vc cai no mesmo cliche. Toda aquela imundicie de comunismo so aconteceu gracas aos judeus e so sao eles q mandam no mundo desde entao. Os judeus formam menos de 100 mil habitantes na Ucrania e sao donos de mais da metade das riquezas do pais. Sao oligarcas corruptos e ex-comunistas. Ate quando vc vai se iludir em busca de apoio e se simpatia desses ratos” (a ortografia e sintaxe são conforme a mensagem original).

Como podemos ver, a cartada do suposto anti-semitismo ucraniano, uma velha tática do KGB, é usada hoje, como já era usada 50 ou 80 anos atrás. Os inimigos da Ucrânia ora acusam os ucranianos de serem “faxistas anti-semitas”, ora atacam os ucranianos por serem demasiadamente simpáticos, isso é “iludidos” em relação aos seus compatriotas, judeus ucranianos.
A propaganda soviética à "denunciar" amizade entre
o "militarismo israelita" e "nacionalismo ucraniano".
Início da década de 1980. 
Por isso, amigos e leitores, sejamos vigilantes e Glória à Ucrânia! מאַזעל טאָוו!

Abandonados: os POW soviéticos no Afeganistão (3ª parte)

Praticamente abandonados pela URSS, os POW soviéticos no Afeganistão estavam em constante incerteza do amanha. Na União Soviética eram tratados como “traidores” (por ter a ousadia de não morrer em combate), no Afeganistão eram vistos como invasores, por vezes eram maltratados e alguns deles acabaram morrendo ou foram executados...     

1(23). Dois POW soviéticos, à esquerda russo Valeriy Kiselyov (22.10.1962) e à direita ucraniano Alexander Sidelnikov (de 20 anos; chamado na imprensa ocidental de “capitão de blindados”, o que é bastante improvável, devido à idade; o seu destino posterior é desconhecido), capturados pela resistência afegã do movimento Hezb-e Islami na província afegã de Zabul.
A sua foto (em cima), da autoria de AFP/GettyImages é acompanhada pela legenda algo confusa: “The prisoners had told journalists then they would be executed by the Afghan resistance for refusing to covert to Islam to make eligible to be tried by an Islamic court” (Os prisioneiros disseram a jornalistas que eles seriam executados pela resistência afegã por se recusarem a se converter ao islamismo para poderem ser julgados por um tribunal islâmico).  
Em 28 (ou 29) de abril de 1982 eles foram apresentados ao grupo de jornalistas ocidentais, iranianos e chineses no campo de treino Allah Jirgha na província de Zabul, à uma distância de apenas 19,3 km da fronteira paquistanesa. Foto (publicada pela l´Unità): AP

2(24). O soldado da guarda Valeriy Kiselyov, um operador de morteiro, foi acusado pelas autoridades militares soviéticas de abandonar a sua base na cidade de Bagram (que desde 2001 é usada pelas forças norte-americanas) na província de Parwan em 18 de fevereiro de 1982. Pela informação disponível, em 22 de agosto de 1984 ele se enforcou na cadeia do campo prisional de Mobarez (?), no Afeganistão, possivelmente juntamente com um outro operador do morteiro, POW Sergey Mesheryakov (12/07/1962 – 2/10/1984), pertencente ao mesmo 345º Regimento especial de pára-quedistas, mas capturado pelos afegãos em 03.06.1982 (outros dados apontam que Sergey Mesheryakov morreu no cativeiro afegão vítima da doença).

3(25). Quatro POW soviéticos capturados pelo movimento da resistência afegã Hezb-e Islami, a foto foi tirada no campo de treino Allah Jirgha em Zabul (Mesheryakov é primeiro à direita).
Dois recrutas do Uzbequistão e Sergey Mesheryakov, recruta da unidade militar № 53701 da Bagram (o 345º Regimento especial de pára-quedistas), em 3 de junho de 1982 saiu da sua unidade militar, armado, para visitar a cidade de Bagram, foram interceptados pela resistência afegã e capturados após uma troca de tiros.
A jornalista, escritora e ativista da ONG americana “Freedom House”, a cidadã americana de origem russo-letã Ludmilla Zemels-Thorne contou que em janeiro de 1983 viu Sergey Mesheryakov no campo de [Allah Jirgha?], onde a resistência afegã mantinha 14-15 POW cativos. Mesheryakov, reparou no seu crucifixo ortodoxo e começou à gritar: “Ludmilla, eu, tão como você, sou ortodoxo! Ludmilla, me leve consigo para América, não quero ficar aqui, me salve!”...

4(26). 2/17/83-Nova Iorque: Esses quatro desertores soviéticos sentados foram entrevistados pela ABC-News numa base rebelde muçulmana no sudeste do Afeganistão. Um dos soldados explicou a sua entrega: “eu não quero matar mulheres e crianças”. Eles disseram que a moral nos regimentos soviéticos é baixa e descreveram a existência de armas químicas, repetidamente negadas por Moscovo. @ABC News 20/20  
Em fevereiro de 1984, o deputado britânico Lord Nicholas Bethell (um dos primeiros à entrevistar Nelson Mandela na prisão Pollsmoor em 1985), visitou 10 POW soviéticos, mantidos no campo de Mobarez (?). O décimo, Sergey Mesheryakov (na foto em cima primeiro à esquerda), estava muito doente, por isso não conseguiu sair do seu cativeiro.

5(27). O campo de treino da resistência anticomunista afegã em Badaber, ao sul do Peshawar no Paquistão, à 25 km da fronteira afegã. A foto foi tirada em agosto-setembro de 1983.
No centro da foto – a ativista Ludmilla Zemels-Thorne (14/03/1938 – 15/12/2009), membro da ONG americana “Freedom House” desde os meados da década de 1970 à 1997.

Ao seu lado estão os três POW soviéticos, ucraniano Nikolay (Mykola) “Abdurahmon” Shevchenko; chuvache Vladimir Shipeev “Abdullo” (1963) e arménio Mikhail (Micael?) “Islamutdin” Varvaryan (1960), natural da região ucraniana de Luhansk e POW desde 19 de março de 1982. A figura do ucraniano Mykola Shevchenko é a mais enigmática de todos. Alegadamente, após a sua captura pela resistência afegã em 10 de setembro de 1982, na auto-estrada Termez – Herat, ele foi levado para o Irão, onde, por dois anos, estudou o Alcorão e a língua persa. Por alguma razão estranha Shevchenko voltou ao Paquistão e estava preso (em condições bastante sub-humanas), em Badaber. Praticamente, a sua história é a primeira menção da permanência dos POW soviéticos no território do Irão.
POW soviético, ucraniano Mykola Shevchenko
Segundo os dados públicos da sua biografia, Mykola Shevchenko (1956) era natural da região ucraniana de Sumy, um civil (!) sob contrato, condutor do camião da 5ª Divisão de infantaria motorizada do 40º exército soviético (chamado pela propaganda soviética de “contingente limitado” de “militares internacionalistas” na República Democrática do Afeganistão).
Cartão do registo (posterior) do Mykola Shevchenko
Em 26-27 de abril de 1985, ele participou ativamente e até liderou a revolta de Badaber, a rebelião armada dos prisioneiros de guerra soviéticos e afegãos (cerca de 10-12 e até 40, respetivamente) que estavam detidos na fortaleza de Badaber, no Paquistão. Os prisioneiros lutaram contra o exército paquistanês e os mujahidines afegãos do partido Jamiat-e Islami, numa tentativa frustrada de escapar do seu cativeiro. Possivelmente, todos os POW soviéticos e maioria dos afegãos, participantes na rebelião, foram mortos no cerco que se seguiu e a fortaleza foi destruída numa explosão do stock de munição que estava armazenado no local.
Ludmilla Thorne: "Soviet POWs in Afghanistan"
Ludmilla Thorne: “Fiquei impressionada com as notícias sobre a explosão no campo de Badaber, que ocorreu menos de dois anos após a minha estadia lá. Abdul Rahim não me disse logo que os três soldados com quem falei estavam mortos” [fonte].

Ler mais: 1ª parte; 2ª parte 

sábado, julho 28, 2018

RIP escritor, dissidente e cidadão Vladimir Voinovich

Desapareceu fisicamente o grande escritor russo Vladimir Voinovich (1932-2018), verdadeiro e brilhante profeta. Em 1986, ele escreveu a distopia “Moscovo 2042”, em que descreveu a Rússia pós-soviética, liderada por um ex-espião do KGB, que trabalhou anteriormente na Alemanha.

O autor nasceu em 1932 em Tajiquistão, na cidade de Stalinabad (Duchambe), no seio de uma família sérvio-judia de origem ucraniana (ambos os seus pais nasceram na Ucrânia).

Em 1960 Voinovich trabalha na rádio, escreve poesia e canções (é autor de mais de 40 canções conhecidas), a canção baseada nos seus versos «Catorze minutos até a largada» se tornou o hino não oficial dos cosmonautas soviéticos. Os versos foram citados pelo Khruschev e Vladimir Voinovich «acordou famoso». Já em 1962 ele se torna o membro da União dos Escritores da URSS (na União Soviética, em geral, existia a regra de publicar os livros de autores soviéticos apenas no caso da sua filiação na União dos Escritores).

No final da década de 1960, Voinovich participa ativamente do movimento em defesa dos direitos humanos, o que causou o conflito com as autoridades soviéticas. Devido às suas atividades em prol de direitos humanos e da escrita fortemente satírica, o escritor foi perseguido: os seus passos foram seguidos pelo KGB, em 1974 ele foi expulso da União dos Escritores da URSS (e admitido no PEN clube da França).

Em 1963 o autor começa escrever a sua futura magnum opus, a distopia A Vida e as Aventuras Extraordinárias do soldado Ivan Chonkin, cuja 1ª parte foi publicada (sem a permissão do autor) em 1969 no Frankfurt-am-Main e em forma da trilogia completa em 1975 em Paris.
Póster do filme homónimo checo
Após a publicação do “Chonkin” no exterior, Voinovich foi convocado pelo KGB para “conversar” sobre a possível publicação de algumas de suas obras na União Soviética. Num destes encontros, no quarto № 408 do hotel moscovita Metropol, o escritor foi envenenado com uma droga psicotrópica.

Em 21 de dezembro de 1980, Voinovich foi forçado à emigrar para Alemanha Federal, em 1980—1992 vivia e trabalhva na Alemanha e nos EUA, colaborava com rádio Liberdade. Voltou à URSS ainda em 1990, antes do desaparecimento do império soviético.

37 anos atrás, no dia 16 de junho de 1981, pelo decreto do Secretário-Geral do Comité Central do PCUS, Leonid Brejnev, ao escritor Vladimir Voinovich foi retirada a cidadania soviética.

O escritor já esperava pela decisão semelhante. Antes disso, a propaganda soviética o chamava de inimigo, inimigo do povo, de chacal e até de uma barata. Mesmo assim, por alguma razão, Voinovich ficou ofendido e irritado, escrevendo, em resposta, a carta aberta ao Brejnev (que enviou ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung):
AO BREJNEV

Senhor Brejnev,
Você classificou meu trabalho de uma forma desmerecidamente alta. Eu não minava o prestígio do estado soviético. Devido aos esforços de seus líderes e da sua contribuição pessoal, o estado soviético não tem nenhum prestígio. Portanto, para ser justo, você deveria privar de cidadania à si próprio.
Não reconheço o seu decreto e considero que não seja mais do que uma carta fake. Juridicamente, é ilegal, mas na verdade, eu era e sempre serei um escritor e cidadão russo, até a morte e mesmo após dela.
Sendo um otimista moderado, não tenho dúvidas de que em pouco tempo todos os seus decretos, privando a nossa pobre pátria de sua herança cultural serão cancelados.
Meu otimismo, no entanto, não é suficiente para acreditar no desaparecimento, igualmente rápido, do deficit de papel. E ai, os meus leitores terão que levar vinte quilos de seus ensaios ao sistema de reciclagem, para conseguir o talão de um único livro sobre o soldado Chonkin.

Vladimir VOINOVICH
17 de julho de 1981,
Munique
Agência Inter-regional Frunzensky "Soyuzpechat". Loja № 32 "Krugozor". Moscovo,
avenida Leninsky Prospect, № 148. Abono № 3843 de colectânea das obras do Vladimir
Voinovich em 5 volumes, com cupons recortados, dos volumes 1-3 já recebidos. Foto: Vizu
Num dos momentos mais hilariantes do seu romance Ivan Chonkin (que próprio autor descrevia como o romance-anedota) – o capitão do NKVD Milyaga é capturado pelo NKVD. Devido à uma série de enganos tragicómicos, o capitão Milyaga acredita que foi capturado pelos nazis e NKVD consideram que capturaram um oficial nazi:

Ich bin arbeiten… ist arbeiten, arbeiten, ferchtein? – Capitão com as mãos tentou demonstrar algum trabalho, algo como cavar a horta, ou trabalhar com a lima. – Ich bin arbeiten... – Ele começou à pensar como identificar a sua instituição e de repente encontrou a equivalente inesperada: – Ich bin arbeiten in russische Gestapo. – Gestapo – o loiro franziu a testa, percebendo as palavras do entrevistado à sua maneira – kommunisten strelirt, bang-bang? – Ja, ja – voluntariamente confirmou capitão. Und kommunisten, und no partei und todos strelirt, bang-bang – fingindo disparar a pistola, o capitão abanava a sua mão direita. Então depois ele quis dizer aos interrogadores que ele tem uma grande experiência em lidar com os comunistas e que ele, capitão Milyaga, traria um certo benefício de instituições alemãs, mas não sabia como expressar um pensamento tão complexo (A vida e as aventuras extraordinárias do soldado Ivan Chonkin):

A posição cívica
Autor morreu aos 85 anos...
Durante a intervenção russa na Ucrânia, em março 2014, juntamente com outras figuras culturais russas, Vladimir Voinovich assinou um apelo contra a política agressiva do Kremlin e lamentou o apoio dessa política por parte de uma parte da intelligentsia russa.

Em 25 de fevereiro de 2015, Vladimir Voinovich, escreveu a carta aberta ao Vladimir Putin em defesa da Nadia Savchenko e contra a anexação da Crimeia e guerra de ocupação russa no leste da Ucrânia.

Em maio de 2018 juntou-se à declaração de escritores russos em defesa do realizador ucraniano Oleg Sentsov, preso e condenado ilegalmente na Rússia.