segunda-feira, junho 18, 2018

Ucrânia que se livrou do Lenine e da sua herança (10 imagens)

Em resultado da vitória do movimento Maydan (2013-2014) e de descomunização posterior, Ucrânia desmontou praticamente todos os monumentos ao líder bolchevique Vladimir Ulianov (nom de guerre Lenine). Uma figura histórica terrível e sinistra para com Ucrânia e os ucranianos.

Foi Lenine quem, de facto, ordenou a ocupação e destruição da independente República Popular da Ucrânia (UNR) e do estabelecimento da Ucrânia Soviética, criada, armada e dirigida pela Rússia Soviética; foi Lenine que instigou o início de onda das repressões políticas na Ucrânia, que levaram à primeira fome em grandes proporções de 1921-23, que se transformou em Holodomor de 1932-1933. Foi Lenine quem começou a deportar da Ucrânia a população trabalhadora e ativa – chamando-a de kulaks/kurkuls e de “sanguessugas”, a declarando inimiga do regime soviético.

O que Lenine dizia sobre Ucrânia

Se deve admitir, Lenine, em um certo sentido, era um homem honesto e direto, ele não se apegava aos mitos de “povos irmãos” ou “mundo eslavo unido”, ele dizia claramente: temos de conquistar Ucrânia, a fim de se apropriar do pão [trigo] e recrutar de lá soldados ao exército vermelho. Aqui está o que Lenine disse na conferência de trabalhadores ferroviários em 1919, o discurso publicado no 38º volume de suas obras completas:
Discurso na conferência de trabalhadores ferroviários, 38º volume das obras completas do Lenine (em russo)
«Agora, com a conquista da Ucrânia e com o fortalecimento do poder soviético na [região] de Don, a nossa força está se fortalecendo. Agora estamos dizendo que temos as fontes de pão [trigo] e alimentos, temos a oportunidade de receber combustível da bacia de Donetsk. Estamos confiantes de que, apesar de chegarem os meses mais difíceis, quando a crise alimentar se agravou, quando o nosso [sistema] de transporte está desgastado e destruído, nos, no entanto, sobrevivemos essa crise. Na Ucrânia há estoques enormes, excedentes de pão [trigo], é difícil os tomar imediatamente – lá ainda existe a insurgência.

Nos devemos mover para a Ucrânia não menos de três mil trabalhadores ferroviários, parte dos camponeses da Rússia faminta. O governo ucraniano [governo fantoche da Ucrânia soviética] já aprovou um decreto sobre a expropriação exata de pão [trigo] que agora pode ser levado em quantidade de 100 milhões de poods” (cerca de 1.638 milhões de kg).

Lenine não mentiu – de facto, após a ocupação da Ucrânia e da expropriação forçada de trigo e da leva de recrutas, o poder soviético ficou mais fortalecido, deixando na Ucrânia as aldeias devastadas pela fome e pela guerra.

O que Lenine criou na Ucrânia
Em 1917 na Ucrânia já existia a UNR independentemente, que possuía a Rada Central, o parlamento estatal, situado em Kyiv. Em contrapartida, os bolcheviques, sob a liderança, apoio e financiamento da Rússia soviética, criaram em Kharkiv o “governo” da Ucrânia Soviética e usando os meios militares (à Ucrânia foram enviadas numerosas tropas russas), os bolcheviques tomaram à força o poder da Ucrânia.
Os trabalhadores da fábrica de locomotivas de Kharkiv junto ao sino de prata, expropriado
da Catedral de Kharkiv na campanha da expropriação dos valores da igreja, 21 de maio de 1922
Imediatamente após a ocupação da Ucrânia, Lenine, como um homem honesto, honrou a sua promessa – organizando a coletivização e expropriação de trigo da Ucrânia, provocando a fome de 1921-23 anos – em maio de 1921 na Ucrânia passavam a fome cerca de 10 milhões de pessoas, quase metade da sua população – entre 1,5 à 3 milhões de pessoas, morreram em resultado dessa fome. Além da expropriação de trigo, os bolcheviques leninistas também devastaram as igrejas ucranianas, da onde, sob o disfarce de luta “anti-religiosa” expropriavam os ícones, ouro, outros valores históricos – que depois eram vendidos no Ocidente, e o dinheiro era novamente usado para a guerra contra ucranianos e contra outras nações do império soviético.
Crianças inchadas pela fome. Foi publicada pela primeira vez no jornal socialista de Lviv "Zemlia i Volia"
(Terra e Liberdade). Em 28 de junho de 1922 re-publicado no "Ucraniano Canadense".
Crianças inchadas pela fome. Foi publicada pela primeira vez no jornal socialista de Lviv "Terra e Liberdade".
Em 28 de junho de 1922 re-publicado no "Ucraniano Canadense".
Crianças doentes num hospital rural numa aldeia com fome. A foto foi publicada pela primeira vez no jornal
socialista de Lviv "Terra e Liberdade". Em 28 de junho de 1922 re-publicado no "Ucraniano Canadense".
Transporte ao cemitério dos cadáveres dos que morreram de fome nas ruas de Kherson.
Foi publicada pela primeira vez no jornal socialista de Lviv "Terra e Liberdade".
Em 28 de junho de 1922 foi re-publicado no "Ucraniano Canadense".
Foi Lenine que começou a deportar da Ucrânia a sua população mais activa, que foi chamada de kulaks (em russo) ou kurkuls (em ucraniano) – os camponeses mais capazes e mais trabalhadores, na melhor das hipóteses eles tiveram o direito de levar consigo apenas uma carroça (por família) de coisas pessoais, deportados para a Sibéria ou para Cazaquistão. Na Rússia atual além dos montes Urais e mais à Leste – cada segundo ou cada terceiro russo possui as raízes ucranianas, os seus antepassados ​​vieram da Ucrânia à estas regiões inóspitas não pela vontade própria...
“Armazéns alimentares e cozinhas da American Relief Administration (ARA) para as vítimas da fome na Ucrânia
 – o  verão de 1922”. O mapa é publicado em: Documentos da American Relief Administration:
Russian Operations, 1921-1923, vol. III, Universidade de Stanford, Califórnia, 1931, f. pág. 122
Na década de 1930, a política do Lenine foi continuada na Ucrânia por Estaline – organizando o Holodomor de 1932-33 e continuando a deportação dos ucranianos para os campos de concentração soviéticos (sistema GULAG) – os acusando de serem os “inimigos do povo”.

O que do Lenine sobrou na Ucrânia
No decorrer da Maydan de 2013-2014 e da descomunização que se seguiu, Ucrânia se livrou quase completamente de todos os vestígios do Lenine – desde 2015, quando a lei de descomunização foi aprovada, o país mudou os nomes de 987 localidades (geralmente devolvendo os seus nomes históricos) e mudou 52.000 outros topónimos. Também foram desmontados cerca de 1.500 monumentos do Lenine, que generosamente foram construídos na era soviética – Ucrânia até recentemente era o 1º país do mundo em número de monumentos do líder bolchevique.
A fome na URSS em 1921-1923 e ajuda alimentar anglo-americana
[Como testemunham os documentos de arquivo, por exemplo, os cartões semelhantes ao da fotografia em cima, em 1921-1923 os moradores da Ucrânia Soviética recebiam a ajuda alimentar americana. Bastava preencher o cartão emitido pela ARA em inglês e russo, colocando nele a sua identificação e o endereço. O cartão na imagem foi preenchido pelo cidadão ucraniano de origem judaica, Kalman-Wolf Hatskelev Minkes, morador da cidade de Odessa. Não se conhece a sua vida posterior. Não se sabe se ele consegiu escapar a fúria soviética de luta contra os “espiões ocidentais”. Nem tão pouco se sobreviveu a “solução final” nazi...]

A lei de descomunização proibiu na Ucrânia completamente o partido comunista e os seus símbolos, abriu totalmente os arquivos da KGB, e agora qualquer cidadão pode descobrir o que realmente foram o poder soviético, o que o bolchevismo e Lenine representavam para os ucranianos.

Foto: GettyImages | archives.gov.ua | istpravda.com.ua | Texto: Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

Bónus

Entre 1931 à 1944 existiu na Belarus soviética o kolkhoz “Krasnie Podonki” (Escumalha Vermelha), certamente um topónimo que tinha todo o direito de permanecer em memória coletiva do povo...

A cidade russa de Lensk, onde as vespas locais construíram uma casa diretamente no cú / na bunda de Lenine.

Lenine descansa no rio Sunja, algures na Ossétia do Norte, região de Cáucaso.
E mais alguns...

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