quinta-feira, junho 14, 2018

Pintor “não retornado” Ilya Repin e o seu neto, fuzilado pelos comunistas

O pintor realista russo de origem ucraniana, Ilya Repin, é bem conhecido pelas suas obras-primas como “Rebocadores do Volga”, “Ivan, o Terrível, e seu Filho” ou “Cossacos de Zaporizhia escrevem carta ao Sultão turco”. Em contrapartida, pouco se sabe sobre o esforço tremendo do governo soviético em conseguir o seu retorno à União Soviética.
"Rebocadores do Volga", óleo sobre tela, (1870-73)
Em 1918, a propriedade rural de Ilya Repin em Kuokkala (atualmente Repino), junto com o seu dono e proprietário passou pertencer à Finlândia. E o próprio artista se tornou um ponto de tensão política nas relações entre os dois países. Para a Rússia soviética, o facto de Repin permanecer na Finlândia significou um grande golpe na reputação. Para Finlândia, Repin, apesar de sua fama, era um refugiado russo, cujas ações eram monitoradas por precaução. O próprio Repin, como mostram os documentos de arquivos finlandeses estava fora das suspeitas. Mas as permanentes delegações soviéticas preocupavam a polícia local. No relatório da Polícia Central Criminal da Finlândia, № 19, composto em 1926, na base de correspondência, está escrito que a URSS planeia atribuir ao artista o título de Pintor Popular e uma pensão no valor de 220-300 rublos (na época os 300 rublos eram o valor máximo de uma reforma/aposentadoria soviética). Os soviéticos prometiam ao artista de lhe devolver uma parte das suas propriedades.
Ilya Repin em 1909
No arquivo finlandês foi encontrada uma história detalhada de como Repin foi visitado em 1925 por um casal soviético. Pessoas, ora desconhecidas visitaram o artista e lhe entregaram o endereço oficial da liderança soviética, prometendo um apartamento e uma viatura.
"Ivan o Terrível e seu filho Ivan 16 de novembro de 1581", 1885
De acordo com as memórias e cartas, Repin respondeu o seguinte: “Vocês me oferecem dinheiro, vocês que estão mendigando, totalmente devastado grande Rússia, onde agora milhões morrem de fome e passam uma existência miserável... Eu não sou rico, mas não sou tão pobre para receber o vosso dinheiro”.

O casal partiu com pressa, deixando os presentes, umas maçãs da Rússia, comendo os quais Repin, sua esposa e filho, se sentiram muito mal. O próprio artista considerou possível que estes foram envenenados e pediu para que sejam enviadas para análise, embora nada é sabido sobre os resultados.

Como a URSS não conseguia persuadir o, os bolcheviques começaram a influenciar seu filho Iuri e neto Diy (Dmitry).
Iuri Repin (1877-1954) com esposa Praskovia (1883—1929)
e seus dois filhos, Guy (1906-1974) e Diy (1907-1935)
O neto de Ilya Repin, Diy Repin, fugiu secretamente para a União Soviética no início de 1935. Durante muito tempo o seu destino permaneceu desconhecido. Somente após o colapso da URSS se soube que ele foi fuzilado em agosto de 1935 “pela intenção de realizar ataques terroristas contra a mais alta liderança do Partido e do Estado soviético e pela violação da fronteira” (Diy foi detido em 28 de fevereiro de 1935 e condenado ao fuzilamento em 10 de junho de 1935). Em 1991, ele foi reabilitado devido à ausência completa de corpus delicti. A razão da sua decisão trágica foi a sede de conhecimento, ele queria se matricular no Instituto de Arte Proletária de Leninegrado (mais tarde a Academia Russa de Belas Artes). No passado, lá estudou e depois deu aulas o seu avô. A instituição receberá o nome do Ilya Repin em 1937, mas Diy não saberá disso. Ele foi fuzilado exatamente no aniversário de seu avô, em 5 de agosto de 1935.
Diy (Dmitry) Repin
Mas o que teria acontecido com o próprio Ilya Repin se ele tivesse sucumbido aos convites da liderança soviética e retornado à URSS? Podia ser fuzilado, tal como o neto, podia ser enviado ao GULAG, mas mais provavelmente iria viver numa “gaiola dourada”, vigiado 24/24 pelo NKVD e obrigado à produzir as obras ao estilo de “realismo socialista” e/ou bajular o “grande líder”, Estaline...

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