quinta-feira, maio 10, 2018

50 divisões do RKKA estão por sepultar desde 1941

No decorrer da II G.M., exército soviético (RKKA) perdeu cerca de 4,5 – 5 milhões de militares como “desaparecidos em combate”. Calcula-se que até 500.000 destes soldados e oficiais (cerca de 50 divisões de infantaria) não foram sepultados até os dias de hoje...

por: Olga Ivshina, BBC (versão curta do texto)

“Liquidação dos vestígios”

“Alguns anos após o fim da “Grande Guerra Patriótica” [como a II G.M. era conhecida na URSS e na Rússia atual], o Soviete Supremo da URSS decidiu eliminar os vestígios da guerra. No terreno, nos locais dos combates começaram arar a terra, construir, plantar florestas. Por um lado, era um passo para restaurar o país devastado pela guerra, mas, por outro, era a tentativa de esquecer as perdas colossais da União Soviética”, explica Ilya Prokofiev, funcionário do Centro de Informação e de Procura “Otechestvo”.

Um saco de insígnias

Nos primeiros momentos após o fim da II G.M. as mulheres e crianças arrastavam os restos mortais dos militares [do RKKA e do Wehrmacht] às valas e buracos mais próximos, cobrindo os com a terra. Algumas pessoas tentavam marcar estes lugares, mas os seus esforços foram logo eliminados pelas autoridades soviéticas.

Após o decreto do governo soviético sobre a eliminação de vestígios de guerra, os campos de batalha foram usados para a safra, modificados pelos sistemas de irrigação. Na região de Novgorod, no local dos combates mais pesados foi construída uma linha de energia elétrica. Nas outras partes do território, onde, segundo os relatórios de combate, morreram milhares de soldados e oficiais, foram plantados os pinheiros. O arado constantemente chocava e arrancava da terra os obuses não detonados e os restos mortais dos militares mortos, mas o trabalho não parava.

O vovô Ivan na década de 1960 era um tratorista na região de Leninegrado. Conta que o seu vizinho, Mikhalych, sempre recolhia os medalhões dos militares soviéticos caídos, que morreram tentando romper o cerco do Leninegrado. Um dia ele entregou um capacete inteiro destes medalhões ao Comissariado militar local. Em 1995, no decorrer das obras de restauração do edifício do Comissariado, num dos seus cofres foi achado um grande pacote com estes medalhões...
A cruz, feita de um pedaço de ferro por um militar soviético em 1941-42
A contabilidade típica, dos 4.232 militares achados, apenas 163 foram identificados
Em 1941, o marechal soviético Semyon Timoshenko emitiu a Ordem № 138 que aprovou o “Regulamento de controlo pessoal das perdas e do enterro do pessoal falecido do Exército Vermelho em tempo de guerra”. O regulamento introduzia os medalhões individuais aos soldados e oficiais soviéticos. Nos pergaminhos enrolados deveria estar escrito o seu nome completo, posto militar, ano e local de nascimento, endereço da família. No entanto, no RKKA estes medalhões eram conhecidos como “suicidas”, e os militares tinham medo de os colocar. Como resultado, hoje, em cada 100 restos mortais de militares soviéticos achados, apenas um possui este medalhão em condições de ser identificado [fonte].

Crânios e dias de trabalho
Após a II G.M., o enterro dos restos mortais dos militares foi feito, principalmente, pela população civil local. Mas as vezes, os regulamentos e instruções emitidos em Moscovo eram executados de uma maneira peculiar.

“Recebemos na aldeia a ordem de procurar pelos restos mortais. O chefe da junta de freguesia local disse que irá contar os crânios. Então fomos [ao bosque] e pegamos um saco de caveiras, tudo estava à superfície. Dependendo do número de crânios trazidos, foram contabilizados tantos dias de trabalho, e por cada dia de trabalho recebemos ou um dia de folga, ou a comida ou algum copeque. Eles são mortos, de qualquer maneira, e nos tivemos que alimentar as famílias”, – conta o camponês russo Mikhail Smirnov da aldeia de Pogostie (territórios que testemunharam umas das piores perdas dos efetivos do RKKA, no decorrer da ofensiva de Lyuban, no fim de 1941 início de 1942).

As florestas, ao contrário dos campos aráveis, praticamente nunca foram desminadas, por isso durante muitos anos após a II G.M., o povo local ia para as matas apenas no caso de uma grande necessidade.

“Quando a fome estava apertando mesmo, reuníamos umas dez pessoas e íamos na floresta para procurar a comida dos mortos. Os alemães tinham o pão em conservas. Muito saboroso. E o [militares soviéticos] também tinham qualquer coisa nas suas mochilas. Talvez era mau/ruim, mas como então tivemos que sobreviver?” – recorda o reformado russo Alexander Noskov, que trabalhou nos caminhos-de-ferro nos arredores de Pogostie.

Os militares mortos durante muito tempo ajudavam os sobreviventes. Dos mortos, estes tiravam os seus casacos e jaquetas militares, o pano era usado para costurar as roupas civis. As armas, medalhas e insígnias achados se escondiam nos sótãos ou se vendiam. Mais tarde, quando começou a demanda por capacetes e insígnias alemãs, começaram procurá-las.

Mas os restos dos antigos proprietários de todas essas coisas continuaram na floresta.

Placas lindas

No final dos anos 1950, começou o programa soviético para expandir os cemitérios militares. Pretendia-se abrir todas as sepulturas pequenas e nos locais afastados das localidades, devendo exumar e transferir os restos mortais aos locais memoriais maiores, que eram mais fáceis de cuidar. Na realidade, muitas vezes isso só se transformava em ações de reescrever os nomes dos mortos de umas placas para as outras.

“Anualmente encontramos túmulos comuns, combatentes são sepultados com as suas coisas pessoais, com medalhões de identificação, mas nas bases de dados está mencionado que eles são supostamente enterrados, em locais à dezenas de quilómetros de distância. Os seus nomes foram esculpidos em belas placas de granito, mas na verdade os nossos defensores estão deitados em valas e poços sanitários”, conta Alexander Konoplev, o chefe do Centro de Informação e de Procura “Otechestvo”.
Os voluntários russos à procura dos militares do RKKA, mortos em 1941-42
No caminho para casa, Ilya Prokofiev, que procura por militares desaparecidos há mais de 25 anos, acende cansadamente o cigatro e diz: “Quando esses meninos iam para a guerra, diziam-lhes: lutem de forma brava e a Pátria não vos esquecerá. E onde fica esta Pátria? Quem é ela? Será apenas um punhado de voluntários de busca?”

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