quinta-feira, maio 31, 2018

Precedente franco-romeno da morte encenada do Arkady Babchenko

O “assassinato” encenado do jornalista russo anti-Kremlin Arkady Babchenko surpreendeu os observadores e enfureceu os ditos profissionais dos direitos humanos e a Rússia, apontada pela Ucrânia como autora de conspiração para matar o jornalista, uma façanha, que na verdade tem um precedente histórico.

Foi em 1982 que os serviços secretos da Roménia comunista planeavam assassinar o dramaturgo, escritor e dissidente romeno Virgil Tănase, residente na França.
Paris, 1980, Virgil Tănase em greve de fome conta tortura na Roménia | @contemporanul.ro
Após a publicação na revista francesa Actuel do panfleto do Tănase “Sua Majestade Ceauşescu, o Primeiro, o Rei dos Comunistas”, texto altamente crítico do regime do ditador comunista Nicolae Ceauşescu, Bucareste incumbiu o seu agente na França, Matei Pavel Haiducu, para matar o autor, então cidadão francês.

Mas Pavel Haiducu não pretendia se tornar um assassino (ele se dedicava à espionagem industrial, especialmente na área de tecnologia nuclear), por isso revelou o plano de assassinato e toda a conspiração romena aos serviços secretos franceses, juntamente com a segunda tarefa que recebeu, assassinato de um outro escritor e dissidente romeno, Paul Goma (devido aos relatos de repressão política na Roménia no seu livro “Os Cães da Morte”).

Foi então que as autoridades francesas encenaram o sequestro do Tănase.

“Virgil Tănase era um refugiado romeno na França que os serviços romenos (de inteligência), a famosa Securitate, queriam eliminar e a DST (Direction de la surveillance du territoire) escondeu por um certo tempo, fazendo pensar que estava morto”, conta Eric Denece, chefe do Serviço de inteligência francês CF2R, na conversa com à AFP.

Jacques-Marie Bourget e Yvan Stefanovitch escreveram um livro – “Des affaires très spéciales:1981-1985” (Os assuntos muito especiais:1981-1985) – sobre este caso.
Ler o livro em francês on-line de graça
“Em 20 de maio de 1982, Virgil Tanase foi sequestrado fora de sua casa em Paris”, escreveram os dois. Sua esposa, preocupada em não ter notícias, ligou à DST. No dia seguinte, acompanhada por dois gentes da DST, ela participou o desaparecimento de seu marido na esquadra / delegacia de polícia local.
Imprensa francesa de época fala do misterioso desaparecimento em Paris do escritor romeno
“Ela estava mais que perfeita no papel de esposa preocupada porque não sabia o que tinha acontecido com o marido”.

Este é um outro paralelo ao caso da Ucrânia, já que a esposa de Arkady Babchenko não tinha a menor ideia de que a morte de seu marido havia sido encenada – algo pelo que ele pediu perdão quando ressurgiu.

Virgil Tănase foi levado para uma casa segura na Bretanha, onde esteve por três meses, enquanto a secreta romena Securitate foi publicamente acusada pelos franceses da sua morte.

Os três meses eram necessários para evitar levantar suspeitas na Roménia e dar tempo ao Matei Pavel Haiducu de organizar a fuga de sua família. A DST francesa ajudou ao agente romeno de fingir que o plano de assassinato estava sendo executado segundo as ordens do Bucareste, recebendo a concordância de cooperar, das suas duas “vítimas”, Virgil Tănase e Paul Goma.
foto: AFP / PIERRE GUILLAUD
Até que em 31 de agosto de 1982 o jornal parisiense Le Matin, publicou um artigo escrevendo que o rapto foi encenado pela inteligência francesa. No mesmo dia Tănase, Goma e Haiducu (apresentado ao público apenas como senhor Z) apareceram nas instalações da revista Actuel (foto em cima) para dar uma entrevista coletiva.
 FRENCH FAKE A MURDER TO AID RUMANIAN SPY | The New York Times
Foi um caso de muito sucesso da contra-espionagem francesa.

O caso, digno de um drama de espionagem, obrigou o então presidente francês François Mitterrand (que conhecendo a realidade dos factos, fez o seu papel até o fim), declarou publicamente no dia 9 de Junho de 1982 que temendo a “trágica hipótese” de um assassinato sancionado por um Estado estrangeiro, cancela a sua viagem marcada para Bucareste.
Virgil Tănase, 2012, Bucareste (?)
Tănase, hoje com 72 anos, retornou à sua carreira como escritor e dramaturgo. Haiducu se estabeleceu na França e viveu no país sob o nome de Mathieu Forestier, casando-se com uma cidadã francesa e tendo dois filhos. Em 1984, ele publicou o livro (J'ai Refusé De Tuer – “Recusei-me a Matar”) com detalhes sobre o caso. Ele morreu em 1998.
Ler mais e/ou comprar o livro
Existem várias versões bastante complexas daquilo que realmente aconteceu. Uma das versões diz que Matei Haiducu tentou recrutar como agente da Securitate o ministro francês da Defesa, socialista e mação Charles Hernu, que Bucareste sabia que tinha colaborado com a inteligência soviética no passado. Além disso, em fevereiro de 1982, a noiva do terrorista esquerdista Ramirez Sanchez (Carlos, o Chacal) Magdalena Kopp foi presa na França. Ela confessou seus crimes e foi condenada a quatro anos de prisão por tentativa do cometimento de um ato terrorista. Carlos respondeu com vários atentados na França. As autoridades francesas sabiam tanto da tentativa de recrutar Hernu, quanto da cooperação de Carlos com a Securitate, mas Mitterrand não podia apresentar essas acusações contra Ceauşescu, por isso para o rompimento das relações com Bucareste foi usado o caso de Virgil Tănase.

quarta-feira, maio 30, 2018

Arkady Babchenko está vivo, graças à operação especial da secreta ucraniana SBU

O jornalista russo Arkady Babchenko que tinha sido dado como morto nesta quarta-feira, está vivo. O jornalista apareceu numa conferência de imprensa na sede do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), onde falou sobre a operação especial que decorreu durante dois meses e salvou a sua vida.
foto @Serviço de imprensa do SBU
A secreta ucraniana impediu o assassinato encomendado do Arkady Babchenko, pago e planeado por serviços de inteligência da federação russa. A informação foi revelada, em primeira mão, pelo chefe do SBU, general Vasyl Hrytsak, na conferência de imprensa  conjunta, com o Procurador-Geral da Ucrânia Yury Lutsenko e chefe da Polícia Nacional da Ucrânia, Serhiy Kniazev.
foto: AFP/Getty Images
De acordo com os dados do SBU, o assassinato do jornalista russa Arkady Babchenko foi encomendado pelos serviços de inteligência russos. “O cinismo dos chekistas  russos chegou ao ponto de que apenas uma hora após do suposto atentado contra Babchenko, o Comité de Investigação da Rússia abriu um processo criminal do caso. Os russos exigiram da Ucrânia a investigação rápida do “assassinato do cidadão russo”, incluindo numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, contou o chefe da secreta ucraniana.

Os operativos do SBU descobriram que a preparação do acto terrorista contra Arkady Babchenko é apenas um elemento da operação de serviços de inteligência russos, que visava a eliminação física de cidadãos russos que devido as suas opções políticas foram forçados a deixar a Rússia e viver na Ucrânia e em outros países da União Europeia, especialmente entre ativistas públicos e jornalistas que criticam publicamente o atual governo da federação russa.
O cidadão “G” no momento da sua detenção pelo SBU, Kyiv, 29/05/2018 | @vídeo do SBU
O SBU documentou que os serviços de inteligência russos recrutaram o cidadão ucraniano “G”, que recebeu a tarefa de contratar o autor de uma série de ataques terroristas com numerosas vítimas. Por seus serviços “G” recebeu 10.000 dólares e prometeu 30.000 dólares à um conhecido seu, “Ts” para levar ao cabo o assassinato do Arkady Babchenko, lhe pagando, como o sinal, a quantia de 15 mil dólares, – contou general Hrytsak.

Trecho de conversa entre coordenador (mandante) “G” e executante “Ts”:
Além do dinheiro, o “G” recebeu dos serviços de inteligência russos e enviou ao executante via Messenger o dossier técnico sobre Arkady Babchenko com informações detalhadas do seu trabalho jornalístico, posições cívicas, postagens no Facebook e vida pessoal, incluindo dados pessoais da esposa, pais e filha, os números de seus telefones e contas bancárias, páginas nas redes sociais, dados de passaporte.
Dossier russo do Arkady Babchenko e da sua esposa | @Serviço de imprensa do SBU
Armas ilegais compradas ao mando dos serviços secretos russos | fotos @Serviço de imprensa do SBU
“Serviços de inteligência russos incumbiram o “G” à efetuar a compra ilegal de armas e munições, na zona de OAT/OFC (planeava-se a compra de 300 AK Kalashnikov e munição ilimitada, centenas de quilos de explosivos, munição para morteiros AGS, etc.) e organizar o seu esconderijo na região de Kyiv”, – explicou o chefe do SBU.
O SBU impediu o atentado cínico, mas também documentou todo o processo de preparação dos serviços de inteligência russos deste crime ousado. O SBU recebeu atempadamente as informações sobre a preparação do assassinato do Arkady Babchenko e começou a busca de executores de assassinato. “Decidiu-se realizar uma combinação operacional, através do qual fomos capazes de reunir provas indiscutíveis de atividades terroristas de serviços secretos russos na Ucrânia”, – disse Vasyl Hrytsak.

Momentos da detenção do coordenador (mandante) “G” pelo SBU:
O Procurador-Geral da Ucrânia, Yuriy Lutsenko, agradeceu ao pessoal da SBU e as outras agências ucranianas da lei e ordem pelo seu profissionalismo. “Temos mais uma vez exposto os espiões e mercenários russos na organização de ataques e assassinatos na Ucrânia”, – disse ele. Os investigadores do SBU preparam a acusação formal contra o organizador do crime, acusado em auxílio aos serviços secretos russos, à fim de cometer um acto terrorista, no uso de armas, na organização de uma explosão e outras ações que criariam o perigo à vida ou a saúde humana para com intuito de violar a segurança pública e intimidar a sociedade, podendo levar à morte das pessoas, isto é, no cometimento de um crime, estipulado na parte 1 do Artigo 14º, na parte 5 do Artigo 27º, na parte 3 do Artigo 258º do Código Penal da Ucrânia. A investigação pré-julgamento está em andamento.
O próprio Arkady Babchenko apareceu na sala de imprensa do SBU e, quase em lágrimas, contou que tudo que passou fez parte de uma operação especial ucraniana para impedir um plano da sua morte, planeado pelos serviços secretos russos. “Queria pedir desculpa por tudo o que tiveram de passar”, disse o jornalista, acrescentando que “não havia outra forma de o fazer”.
foto: AFP/Getty Images
A esposa do Arkady Babchenko não sabia que a sua morte tinha sido encenada: “Queria pedir desculpa à minha mulher pelo inferno que ela tem passado”, referiu. A operação estava a ser preparada há dois meses.
O caso até já deu origem aos memes/demotivadores...

Fuzilados pela compra e venda de moeda e roupa ocidental

Em 1961, três jovens soviéticos, Jan Rokotov, Vladislav Faibishenko e Dmity Yakovlev foram fuzilados, por ordem direta de Nikita Khrushev, pela compra e venda da moeda estrangeira e fartsovka (compra e venda do vestuário ocidental).
Vladislav Faibishenko (com as mãos à cabeça) e Jan Rokotov (de camisa escura) na seção do seu julgamento
Apanhados em 1960 pelo KGB, segundo a lei soviética da época, os seus “delitos” valeriam no máximo 8 anos da cadeia. Mas o líder soviético de então, Nikita Khrushev, exigiu pessoalmente uma condenação exemplar, pressionando o Procurador-geral da União Soviética, usando, para os efeitos de propaganda, as leituras públicas de cartas dos operários «indignados com a condenação branda». O seu caso foi acompanhado pela campanha absolutamente histérica da imprensa soviética. No segundo julgamento os três foram condenados aos 15 anos da cadeia, mas mesmo assim, a condenação não satisfez o líder comunista soviético. Uma vez mais Khrushev exigiu a condenação exemplar, o que aconteceu, os três jovens foram condenados à pena capital, o fuzilamento.
Jan Rokotov, no momento da sua morte com 33 anos de idade
O trio, não acreditava na realidade dos acontecimentos até o fim do seu julgamento. Nas primeiras secções eles brincavam e citavam os clássicos da comédia soviética. Um deles, Jan Rokotov, era informador de OBKhSS (o departamento de combate aos crimes económicos da polícia soviética). O seu padrasto, Timofey Rokotov (1895—1945) era o editor-chefe da revista literária soviética «Literatura internacional».
Os preços variam entre 300 à 1200 dólares
Meio século depois, nos EUA nasceu o brand de roupa jeans “Rokotov & Fainberg” (Rokotov & Fainberg Inc ©. ROKOTOFF®), com logótipo em forma de número 88 (artigo do Código Penal da Rússia Soviética de 1960 «Violação de regras de operações com divisas») e dois cartuchos em pleno voo.
Turista ocidental (?) e polícia soviético na Praça Vermelha em Moscovo, década 1960
Agora pensem, em 1961 (não em 1761) três jovens cidadãos soviéticos foram fuzilados por razões ideológicas por causa de compra e venda de divisas e roupas ocidentais. Quem é que não gostaria de viver num país assim?

Factos:
O cartaz da propaganda soviética contra as pessoas que compravam as roupas ocidentais
Durante os últimos três anos da permanência do Khrushev no posto de Secretário-geral do PCUS, devido aos “crimes económicos” na URSS foram fuzilados cerca de 5.000 pessoas. O artigo 88 do Código Penal da Rússia Soviética (na sua redação de 1960): «Violação de regras de operações com divisas» foi revogado na Rússia atual apenas em 1994. Devido ao fuzilamento dos jovens, em 1961 a União Soviética foi expulsa da União Jurídica Internacional [fonte].

terça-feira, maio 29, 2018

RIP jornalista russo Arkady Babchenko assassinado em Kyiv

Arkady Babchenko em Tshinvali (Geórgia ocupada), agosto de 2008
Hoje em Kyiv, foi assassinado o jornalista russo Arkady Babchenko (18/03/1977-29/05/2018). O crime foi confirmado pelo assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, Anton Gerashchenko. O jornalista foi baleado mortalmente na saída da sua casa (o assassino o esperava no espaço comum do prédio). Arkady Babchenko morreu antes de chegar ao hospital.
La guerra más cruel, Circulo de Lectores; Barcelona, 2008
Arkady Babchenko participou na 1ª (devido ao SMO) e na 2ª (como voluntário) guerras russo-chechenas. Após o fim de seu serviço em 2000, começou a trabalhar no jornalismo – era um repórter de guerra do jornal russo “Moskovsky Komsomolets”, depois o repórter militar do programa “Zabytiy Polk” (Regimente Esquecido). Posteriormente, colaborou com diversas publicações russas e trabalhou no jornal “Novaya Gazeta”.
Arkady Babchenko na Maydan de Kyiv, 18 à 19 da feveriro de 2014
É fundador do projeto “Jornalismo sem intermediários”. Autor da coletânea de contos “Alkhan-Yurt”. Vencedor de prémios literários e jornalísticos. Arkady Babchenko foi um crítico constante e incessante das ações das autoridades russas na Ucrânia, acusando a liderança do seu país de desencadear uma guerra agressiva.

O panfleto anti-Babchenko em Donetsk, primavera de 2014
Desde 2017 ele morava no exterior, dado que por várias vezes foi ameaçado de morte na Rússia. Ainda em 2014 foi publicamente declarado como inimigo público das organizações terroristas “dnr”/”lnr”. A sua morte foi exigida publicamente pelos terroristas das organizações terroristas “dnr”/lnr”, ativistas do partigo clandestino russo Outra Rússia (ex-Nacional-Bolchevique). Últimamente vivia em Kyiv, onde trabalhava no canal de televisão dos tártaros da Crimeia – ATR. Estava muito ativo na ajuda aos militares e civis ucranianos na linha da frente.  

Em Moscovo deixa a viúva e uma filha adolescente.

Arkady Babchenko sobre si mesmo (2 de outubro de 2017, na entrevista à publicação russa 7x7:

Aconteceu comigo o mesmo que aconteceu com Ucrânia: eu vivia, não me metia com ninguém e só queria que tivéssemos um estado do direito, onde é respeitada a lei, os direitos humanos, onde as pessoas não são mortas, e os oposicionistas não são baleados numa ponte, e onde prendem por quatro anos pelas postagens do Facebook. Não foi eu que vinha ao estado da Rússia, é o estado da Rússia veio até a mim, matou e aprisionou meus amigos, e eu fui empurrado para fora do país.

A sua última postagem foi dedicada à memória do major-general da Guarda Nacional da Ucrânia Serhiy Kulchytskiy:
Quatro anos atrás, o general Kulchitskiy não me levou neste helicóptero. Por causa da sobrecarga. Não havia lugar. O heli sobrecarregado se afastou do chão com esforço e, quase batendo com chassi no parapeito, partiu para [a colina de] Karachun. Duas horas após [tirar] essa foto, heli foi abatido. Quatorze pessoas morreram. Eu tive sorte. Segundo aniversário, acontece.

Mi-8 em que seguia o major-general Serhiy Kulchytskiy foi abatido pelos terroristas russos do grupo “Strelkov” Girkin exatamente 4 anos atrás, no dia 29 de maio de 2014, nos arredores de Sloviansk. Na queda morreram militares do grupo especial do Ministério do Interior da Ucrânia (ex-destacamento “Berkut”) de Ivano-Frankivsk e militares da Guarda Nacional da Ucrânia.
Arkady Babchenko no último dia de Maydan, já não era aoenas jornalista, era um cidadão
Quatro anos depois, o mesmo inimigo vil e implacável atingiu Arkady Babchenko em Kyiv. A linha da frente é extremamente longa, a guerra russo-ucraniana continua...
Descarregar o cartaz

Quem alimentava à quem na União Soviética?

Mais de duas décadas após a queda da URSS, existem pessoas que acreditam que na União Soviética a “irmã mais velha” alimentava todos as outras repúblicas “desocupadas”. No entanto, de forma paradoxal, ou não, no lugar de felicidade pela partida das tais “desocupadas” em 1991, a maior nostalgia pela União Soviética é registada na atual federação russa.

Quando, de verdade, ganhava o trabalhador soviético?
Os fãs da URSS gostam de falar sobre o “caldeirão conjunto”, onde primeiro o “coletivo” mete as suas coisas e depois a mamãe-quarenta tira as coisas de lá e as distribui à todos por igual.

Segundo as estatísticas de ONU (citadas por diversos autores russos, por exemplo AQUI), as repúblicas soviéticas tiveram os seguintes números do PIB (de maior ao menor):
No sistema económico moderno, o PIB per capita anual, dividido em 12 meses mostra o salário médio aproximado de um determinado país (por uma questão de interesse, podem verificar isso, usando Wikipedia, funciona na maior parte dos países com um erro não superior aos 20%), e é lógico – pessoa recebe em forma de renda consoante  a sua produção. Mas na URSS tudo era completamente diferente. Por exemplo, de acordo com a tabela, o trabalhador médio da Ucrânia deveria receber em 1990 cerca de 1.033 dólares mensais que à taxa oficial soviética de câmbio do dólar seria equivalente aos 1.751 rublos por mês, valendo muito mais ao câmbio paralelo.

No entanto, o salário médio na URSS não ultrapassava a quantia de 140-150 rublos mensais (237-254 dólares). E para onde ia o resto? Na verdade, todo o dinheiro ganho por uma pessoa era levado pelo Estado comunista. Já isso, inviabiliza todas às fantasias dos fãs soviéticos de que alguém na URSS “alimentava” outros – não, os simples operários a camponeses, através do seu dinheiro suado, mantinham o exorbitante aparelho estatal, que gastava esse dinheiro ao seu belo prazer.

Orçamentos das repúblicas da União
Depois, os fãs da URSS tentam provar que a Rússia Soviética supostamente “alimentava todos”, mostrando a diferença do PIB da RSFSR (17.500 dólares per capita em 1990), e, por exemplo, do Tajiquistão (5.500 dólares per capita). Alegadamente, uma vez que na Rússia Soviética as receitas eram maiores – isso significava que esta alimentava o resto da União.

No entanto, este raciocínio também está errado. O PIB do Tajiquistão Soviético, per capita, significa que em 1990, o salário médio na república poderia chegar aos cerca de 458 dólares por mês – mas os tajiques recebiam os mesmos 140-150 rublos soviéticos. Na verdade, isso significa apenas que a burocracia soviética, da mesma forma que roubava os tajiques, também roubava aos belarusos, russos e ucranianos, só que dos tajiques recebia um pouco menos. Mais uma vez, para todos os alternativamente dotados – em 1990, um tajique médio ganhava com o seu suor e trabalho cerca de 5.500 dólares por ano, recebendo às mãos alguns poucos rublos.

Para onde se drenava o dinheiro?

O resto do dinheiro ganho ia para a manutenção de um grande número de parasitas que proliferaram na era soviética, por exemplo, junto às fábricas soviéticas relativamente bem-sucedidas, em grande abundância existiam centenas e milhares de empresas e fábricas subsidiadas e simplesmente desnecessárias, cujos funcionários trabalhavam no princípio descrito por escritor e dissidente soviético Venedikt Yerofeyev no seu imortal poema Moscou-sur-Vodka – “Entregamos-lhes duas vezes ao mês as nossas promessas socialistas – eles nos mensalmente pagam o salário”. O “trabalho” da “equipa socialista” muitas vezes consistia em que os mesmos trabalhadores ora desenterravam os cabos, em seguida, os enterravam, sendo pagos por este trabalho, bebendo sem nenhuma esperança de melhorar a sua vida.
Além disso, uma incrível quantidade de dinheiro, sem nenhum controlo da sociedade civil, era gasto em várias aventuras militares, como a guerra no Afeganistão, bem como no apoio de todos os bandidos armados do 3º mundo – bastava aparecer algum grupo armado algures no Médio Oriente / Oriente Médio, Ásia, África ou América Latina que declarasse a luta contra algum governo pró-ocidental – URSS imediatamente declarava o bando de “combatentes pela paz e socialismo”, após disso enviava lhes armamento e outra ajuda material.


O funcionamento de “redistribuição de recursos” na União Soviética funcionava de seguinte maneira. Imaginem um prédio com 10 apartamentos. De todas as famílias lá residentes, trabalha apenas você e o seu vizinho, ganhando 1.500 dólares ao mês. O “camarada comandante” leva todo o seu dinheiro, deixando lhe apenas 100 dólares ao mês. Os restantes 1.400 dólares são destinados à apoiar o João alcoólico/alcoólatra do primeiro apartamento, Sérgio, também alcoólico, do terceiro, uma parte dos fundos é roubada, e os 400 dólares mensalmente vão para comprar as bebidas para um bando de vizinhos do prédio ao lado, que lutam pelo seu direito de mijar no vosso elevador, depredar/pichar as paredes e roubar as lâmpadas do espaço comum.
Já agora, as paredes de áreas comuns do seu prédio sempre estão sujas e depredadas/pichadas, e quando você pergunta sobre a reparação do edifício, o “camarada comandante” levanta um dedo para o céu e começa lhe contar as estórias da situação internacional [na Palestina, na Síria, no Iraque e na Líbia].

Presunto para a ditadura do proletariado

Сomo podemos ver, não existiu nas repúblicas da União Soviética nenhuma “alimentação de uns aos outros” – todos os cidadãos soviéticos em toda a União Soviética recebiam muito menos, pelos seu trabalho, do que mereciam – variava apenas a quantia de fundos que a burocracia soviética lhes tirava. Mas no tópico de quem é que alimentou à quem na URSS, há outro aspecto curioso – quem, de fato, produzia na URSS os alimentos e quem os consumia?
Uma quantidade absolutamente considerável de alimentos de carne e laticínios era produzida na URSS pelos Estados Bálticos, Belarus e Ucrânia – nesses países antes de 1917 (e em algumas partes – até 1939) existia excelente produção privada local, que fazia bons e excelentes enchidos, salsichas, queijos, queijos frescos e outros produtos alimentares. Após o golpe bolchevique de 1917, os comunistas simplesmente nacionalizaram as empresas, expulsaram os seus proprietários legítimos, continuando lá fabricar alguma coisa – isso aconteceu, por exemplo, com um certo número de cervejarias, talhos/açougues semi-industriais e fábricas de produção de manteiga e queijo em Belarus e Ucrânia.

O mais interessante é que a população local das repúblicas soviéticas praticamente não via, em venda livre, os produtos das fábricas locais de processamento de carnes e outros alimentos. Diversos enchidos de carne apareceram nas lojas apenas em 1991-1992, após a queda da União Soviética, na URSS as empresas locais produziam tudo isso – mas enviavam ao mítico “centro”. Literalmente, à 100 quilómetros de Minsk ou Kyiv poderia funcionar uma grande fábrica de empacotamento de carne – e na cidade, nos talhos, as prateleiras estavam vazias. Aparentemente, todos os alimentos de qualidade iam diretamente para os “cestos bonificados” da nomenclatura partidária comunista...

Assim, toda a União Soviética trabalhava para a nomenclatura soviética – alimentando-a, calçando-a e vestindo-a, e até patrocinando as suas aventuras políticas internacionais.

Ilustrações: Anzhela Dzherih | Texto Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

domingo, maio 27, 2018

Donbas: FAU abatem um drone inimigo na área de Volnovakha

Na zona de ação de uma das brigadas mecanizadas na área de Volnovakha, os sistemas antiaéreos ucranianos da Operação das Forças Conjuntas (OFC) derrubaram um drone inimigo.
A informação e as fotos do drone foram divulgadas pelo centro de imprensa da OFC.
O drone das forças russo-terroristas executava a vigilância e tentava fazer a correção de fogo de artilharia e dos morteiros contra as reservas das brigadas das FAU.
Durante as últimas 24 horas, os combates mais intensos continuaram em redor das localidades de Luhanske, Zaitseve, Novoluhanske, Novoselivka, Novotroitske, Bohdanivka, Granitne, Chermalyk. Quatro terroristas foram mortos e cinco feridos, informa a página ucraniana nv.ua; as forças ucranianas não tiveram baixas.

General do GRU russo “Orion” é o principal responsável do abate do Boeing MH17

O grupo OSINT internacional Bellingcat e a publicação russa The Insider divulgaram os resultados da sua investigação do abate do Boeing-777 do voo MH17. Um dos principais coordenadores dos separatistas, responsável pelo abate do MH17 é o general do GRU russo Oleg “Orion” Ivannikov. Em 2006-2008, sob o nome falso, ele era o “ministro da defesa” da Ossétia do Sul, território ocupado da Geórgia.

Como foi apanhado Oleg Ivannikov 
A foto do Oleg “Orion” Ivannikov mostrada na conferência de imprensa de Bellingcat, 25/05/2018
Créditos: Remko De Waal / EPA / Scanpix / LETA
Em setembro de 2016, a equipa conjunta de investigação internacional (JIT), pediu a ajuda pública para identificar as vozes de duas pessoas. Os dois estavam coordenando a entrega do sistema de mísseis “Buk” aos ditos separatistas. As suas conversações foram interceptadas e gravadas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) em junho de 2014:
Nas conversas, ambos usavam os seus nomes de código e nomes paternais, que muito provavelmente eram falsos.

Um deles — Nikolay Fedorovich usava o nom de guerre «Delfin» (Golfinho). Em dezembro de 2017, o grupo Bellingcat e a publicação The Insider informaram que conseguiram identificar essa voz: pertencia ao tenente-general do exército russo, Nikolay Tkachev.
O tenente-general do exército russo Nikolay Tkachev no Kremlin
O segundo desconhecido — Andrey Ivanovich, usava o nom de guerre «Orion». Como consegui apurar SBU, era oficial do GRU russo, que segundo as comunicações interceptadas, estava na região de Luhansk e comandava as operações militares dos ditos separatistas. SBU divulgou não apenas as suas conversações, mas também os números de telefones, usados pelos terroristas russos. «Orion» usava o número ucraniano +380634119133.

Mais tarde, Bellingcat e The Insider, encontraram este número numa das listas telefónicas, gravado sob o mesmo nome de código — “Oreon”. Era um número anónimo pré-pago da operadora ucraniana de telefonia móvel life:). Na conferência de imprensa no dia 25 de maio de 2018, Bellingcat explicou que um jornalista ucraniano consegui aceder à base de dados da life:) e achou nela quatro números russos, que se comunicavam com «Orion».

Um destes números, da operadora russa de telefonia móvel “Megafon”, pertencia ao oficial do GRU russo, Oleg Vladimirovich Ivannikov. O número estava registado em várias listas telefónicas, numa delas como pertencente ao Ivannikov, na outra como pertencente ao «Andrey Ivanovich GRU do Husky». O grupo «Husky» — se posiciona(va) como um grupo de sabotagem (DRG) na dita “dnr”.

O mesmo número foi achado numa base de dados hackeada de uma loja online russa. Em 2017, o cliente “Oleg”, efetuou a compra e fez um pedido de entrega dos equipamentos especiais ao endereço «Moscovo, rua Polina Osipenko, № 76». Oficialmente, em Moscovo não existe este endereço, a rua Polina Osipenko é uma rua curta, com os prédios unicamente pares, №№2-22. Mas, a rua é próxima ao complexo predial com o número geral № 76 (e várias letras, A, B, C, etc.), que formalmente se situa na auto-estrada Horoshevskoe № 76, até 2006 era a sede do GRU do Estado-maior do Exército russo.
Usando este mesmo número do telefone móvel, Bellingcat e The Insider acharam o endereço da residência e do telefone fixo do Ivannikov em Moscovo, assim como descobriram que este tem um filho, que vive e trabalha na Suíça. Eles ligaram ao telefone fixo e gravaram a voz do Ivannikov, uma voz muito alta, bastante caraterística, muito “afeminada” e muito semelhante à voz do “Orion”, interceptada pelo SBU em 2014.

Nas bases de dados oficias russas, os investigadores OSINT descobriram os dados do funcionário do Ministério da Defesa da federação russa Oleg Vladimirovich Ivannikov, nascido em 2 de abril de 1967 e residente em Moscovo. Também foram achadas algumas fotos do mesmo.

Quem é Oleg Ivannikov?

Oleg Ivannikov nasceu no seio de uma família do militar soviético na RDA em 1967. Foi formado na Escola Superior Militar da Engenharia Aérea de Kyiv e depois no Instituto de Aviação de Moscovo (na 6ª faculdade de mísseis balísticos). Após disso, durante vários anos (pelo menos até 2003) viveu na cidade russa de Rostov-no-Don.
O general do GRU Oleg Vladimirovich Ivannikov
Em 2004, Ivannikov, usando o nome falso de Andrey Ivanovich Laptev foi enviado para Ossétia do Sul (região ocupada da Geórgia). Na Ossétia, ele encabeçou o comando militar dos separatistas, em 2006-2008 foi designado como o seu “ministro da defesa”. Considera-se que na época Ivannikov “Laptev” estava ligado à residentura do GRU em Tbilissi, desmantelada em 2006, o que levou à prisão na Geórgia de quatro oficiais russos do GRU. Em março de 2008, nas vésperas da guerra russo-georgiana em agosto de 2008, Ivannikov “Laptev” anuncia a sua demissão e se muda para Moscovo.

Em Moscovo, Ivannikov escreveu a sua tese de doutoramento em filosofia (Sic!) sob o tema «Caráter complexo da guerra de informação no Cáucaso: aspectos sócio-filosóficos», defendida na Universidade Federal do Sul em Rostov-no-Don. No texto, Ivannikov cita, de forma abundante, o conspirologista russo de inspiração fascista Alexander Dugin e exorta confrontar à “penetração informativa e cultural do Ocidente” no Cáucaso através de uso de “grupos especiais constituídos por altos funcionários e representantes de serviços especiais (SVR, GRU, FSB, etc.)”.

Possivelmente, ele permanece ligado à situação na Ossétia do Sul, dado que em 2013 visitou este território ocupado, usando o seu nome real.

“Orion” Ivannikov no leste da Ucrânia

Em 2014, Ivannikov é enviado para o leste da Ucrânia. O terrorista russo e ex-“ministro da defesa da dnr”, Igor “Strelkov” Girkin, lembrou mais tarde, que tinha visto Ivannikov na cidade de Sorokyne (ex-Krasnodon), situada praticamente na fronteira ucraniano-russa, onde se localizava o estado-geral da invasão militar russa; outras fontes o viram em Luhansk, junto ao Igor Plotnitsky, que, na altura, era apresentado ao público como “ministro da defesa da lnr”. Desta forma, é possível supor, que em Luhansk, Ivannikov coordenava as ações militares dos ditos “separatistas” daquela região.

Sabe-se que na Ucrânia Ivannikov possuía o poder do comando sobre a EMP grupo Vagner, dando ordens diretos aos seu líder nominal Dmitri Utkin (além do seu envolvimento na Síria, os mercenários russos do grupo Vagner participaram nas atividades terroristas no leste da Ucrânia).

As conversas telefónicas interceptadas pelo SBU indicam que Ivannikov estava coordenar as atividades militares dos ditos “separatistas” no terreno, recebendo, ele próprio, as instruções e ordens, vindos do general Tkachev, que se encontrava, via de regra, na Rússia. Algumas fontes entre os ditos “separatistas” afirmam que Ivannikov foi o lobista principal de nomeação de Igor Plotnitsky como chefe da dita “lnr”.

Desde 2015, Ivannikov deixou o território da Ucrânia; o seu paradeiro atual é desconhecido, informa a página Meduza.