terça-feira, abril 24, 2018

Moscovo destruiu a sua única biblioteca pública ucraniana

Como informa agência ucraniana UNIAN, nesta semana em Moscovo foi concluída a destruição final da única biblioteca pública ucraniana em toda a federação russa. No edifício onde estava situada a biblioteca até foi desmontada a respetiva placa.
De acordo com ex-funcionários, ainda há uma semana, no edifício № 61 na rua Trifonovskaya estava escrito: “Biblioteca de Literatura Ucraniana”. Depois a placa desapareceu e a página da biblioteca na Internet (mosbul.ru) está bloqueada, a inscrição em russo diz: “Desculpem, mas de momento o site está fechado para a reconstrução”.

Segundo os dados da UNIAN, o prédio da biblioteca foi transferido ao balanço do Departamento de Desportos da capital russa, no seu endereço será localizado o Centro de Desenvolvimento Turístico de Moscovo.
De acordo com o advogado Dr. Ivan Pavlov, que representa os interesses da ex-diretora da biblioteca Natália Sharina (60), no dia 24 de abril às 15h00 o Tribunal da Cidade de Moscovo deveria continuar apreciar o recurso apresentado pela ex-diretora, condenada aos 4 anos com pena suspensa, acusada da distribuição de literatura extremista e de desvio do dinheiro. Esperava-se que nessa sessão de tribunal pudessem falar a própria Natália Sharina e representante da acusação (Ministério Público russo).

A biblioteca, de facto, cessou o seu funcionamento ainda em 2017, ficando apenas a placa. Parte dos livros ucranianos foi enviada para a Biblioteca de Literatura Estrangeira, outra parte dos livros ucranianos foi simplesmente destruída.

Como conta um dos ex-funcionários da biblioteca, após a onda da repressão contra a biblioteca e condenação judicial da sua diretora, procura da investigação pela literatura “extremista” e “nacionalista”, os leitores deixaram de visitar a biblioteca. As duas últimas bibliotecárias foram demitidas no dia 1 de março de 2018.

Em 28 de outubro de 2015 a Biblioteca da Literatura Ucraniana em Moscovo foi alvo de uma busca policial no decorrer da qual a polícia russa colocou na biblioteca a literatura ucraniana considerada nacionalista (e que na realidade não existia na biblioteca). As buscas também foram efetuadas em casa da diretora Sharina.
Exemplos da literatura "extremista" e "nacionalista", (revista infantil ucraniana "Barvinok"),
achadas pela polícia russa na biblioteca em 2015
No dia 5 de junho de 2017 o tribunal moscovita do bairro Meshchansky condenou Sharina aos 4 anos de prisão com pena suspensa. Ela foi acusada de distribuir literatura extremista “que exorta ao ódio e hostilidade”, bem como de desvio de recursos financeiros do orçamento da biblioteca.

Natália Sharina recorreu dessa decisão. A organização internacional de direitos humanos Amnistia Internacional considerou que ela foi vítima de uma arbitrariedade judicial, e o veredicto mostra desprezo total do sistema judicial russo pelo Estado de Direito.

Além disso, a Biblioteca de Literatura ucraniana era única biblioteca pública ucraniana em toda a federação russa. Com o seu fecho, os cidadãos russos de origem ucraniana residentes na Rússia viram os seus direitos de manter e preservar a sua identidade e cultura ucranianas, no espaço público russo, desprezados e destruídos praticamente na sua totalidade.   

Blogueiro: no entanto, a ironia suprema reside no facto, revelado pelo co-diretor da organização “Ucranianos de Moscovo”, Valeriy Semenenko: a própria Natália Sharina foi colocada ao posto da diretora da Biblioteca, em 2007, exactamente para limpar a biblioteca do “perigo do nacionalismo ucraniano”. Valeriy Semenenko contou, em outubro de 2015, ao rádio moscovita Govorit Moskva (Fala Moscovo) que Sharina “zelosamente assumiu a limpeza, e agora, ela própria foi colhida pelas pedras de moinho. O que é uma reviravolta do destino, por assim dizer”.