sexta-feira, março 30, 2018

«Watergate vermelho»: quando Portugal expulsava agentes do GRU e do KGB

Diário de Lisboa de 21 de Agosto de 1980 (@ Fundação Mário Soares)
Em 20 de Agosto de 1980, invocando a Convenção de Viena, o governo centrista português do Primeiro-ministro Sá Carneiro expulsa, por «intromissão nos assuntos internos portugueses» quatro agentes soviéticos, afetos à embaixada soviética em Lisboa: um do GRU e três do KGB. Era o culminar do processo de «Watergate vermelho».
Os detalhes deste episódio estão contados no 13.º capítulo da biografia Sá Carneiro
(ed. Esfera dos Livros). Leia os excertos mais relevantes
Eram o capitão-de-fragata Vladimir V. Koniaev (nos arquivos americanos é referido como Vladimir Konyayev), formalmente adjunto do adido naval da embaixada mas na verdade espião do GRU; e Albert A. Matveev (Albert Matveyev), ministro-conselheiro e número dois da embaixada, em Portugal desde 1974; Alexandre S. Koulaguine (Aleksandr Kulagin), terceiro-secretário e Youri A. Semenitchev (Yuriy Semenychev), conselheiro da embaixada, todos pertencentes à residentura do KGB em Lisboa, sendo este último o seu principal responsável.
A lista parcial dos espiões soviéticos expulsos dos diversos países entre 1970-1984
O primeiro-ministro português Sá Carneiro agiu assim, após, através do seu amigo e assessor militar, Carlos Azeredo, receber uma cassete gravada, de forma clandestina, durante uma sessão organizada no Teatro São Luiz em Lisboa pela Associação de Amizade entre Portugal e a URSS – na fita, ouvia-se o embaixador soviético Arnold Kalinin (1929-2011) a discursar e a criticar duramente a política externa da Aliança Democrática. Sá Carneiro também recebeu uma lista com cerca de dez nomes de espiões soviéticos a actuar em Portugal a partir da missão diplomática soviética – um era do GRU, o serviço de informações militares, e os restantes do KGB.
As denúncias de espionagem económica do PCP ao favor da URSS
Entre as actividades ilícitas graves daqueles espiões contavam-se: o envolvimento em acções de agitação e propaganda nos distritos de Évora e de Beja, tentativas de boicotar a Reforma Agrária; intermediação no financiamento clandestino soviético ao Partido Comunista Português (PCP) e aos sindicatos da CGTP, da linha comunista; e gestão de um sistema de escutas telefónicas a embaixadas ocidentais.
Os oficiais russos expulsos em todo o mundo até o dia 29/03/2018 (sem contar com Eslovénia).
Portugal decide que não apoiará os seus aliados da NATO e da EU...
Os diplomatas tinham cinco dias úteis para fazerem as malas e abandonarem Lisboa. A 26 de agosto de 1980, antes do fim do prazo, foram levados pelo embaixador soviético ao aeroporto da Portela e embarcaram num voo da Aeroflot. Era o fim do processo a que Sá Carneiro chamou «Watergate vermelho».

Sem comentários: