sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Vencer a “União Soviética interior”: como e para que?

27 anos após o fim da União Soviética as pessoas ainda são marcadas pelo seu “sistema especial de valores”, que na realidade não passa de simples regras de sobrevivência numa sociedade autoritária. Regras, mais prejudiciais do que benéficos.

Hoje abordaremos 10 temas, explicando como e para que temos que vencer a “União Soviética interior” e começar, realmente, viver no século XXI.

1. Se vestir bem e cuidar da sua aparência

Na URSS, as pessoas vestiam-se muito mal, o típico guarda-roupa de um homem soviético era composto por 1-2 fatos/tenros cor de cinza de rato e castanho/marrom, um par de camisolas esticadas nos cotovelos, várias camisas de tons indistintos, para o inverno – um casaco velho da pele de carneiro. Opcionalmente, poderia existir um gorro de pele caro (às vezes amarrado debaixo de queixo para não ser roubado) e um par de jeans “Montana”, que custavam um salário e meio e eram comprados através da fartsovka. Em casa, os cidadãos andavam com calças azuis de fato de treino, esticadas nos joelhos. Sobre a roupa interior é melhor não dizer nada – as meias eram remendadas até o fim da sua vida útil e, parece, nunca deitadas fora.
Modelos da casa Dior nas ruas de Moscovo, 1959
O mesmo se aplica à aparência – colocar em ordem os dentes e os cabelos hoje em dia não custa muito dinheiro, mas a aparência e a percepção do mundo se mudam drasticamente.

2. Tentar viver nos interiores bonitos

Os interiores bonitos e elegantes (tal como a aparência física) tem uma forte influência sobre atitudes da pessoa. Existem os camaradas que até hoje usam os sofás comprados em 1970, argumentando: “na União Soviética esse sofá era novo, quero a URSS de volta!”
Um bom interior não precisa ser muito caro. Primeiro, tirem para o lixo ou mercado de pulgas o tapete da parede, o velho sofá, aparador polido, cadeiras esfarrapadas. Também se livrem dos livros soviéticos, cristais e figurinhas de porcelana – estes nunca serão lhe úteis.

Pintem as paredes de cores pastel ou colem o papel de parede monofónico de alta qualidade. As paredes ficarão ótimas com as pinturas modernas ou fotos antigas de família, nas prateleiras – lembranças de viagens ou coisas familiares valiosas. Criando um interior moderno em casa – menos o cidadão irá querer “voltar para a URSS”.

3. O futuro começa hoje

O poder soviético prometia às pessoas: “vamos viver bem, mas amanhã” – um dia virá o comunismo, e hoje é necessário “sofrer um bocado”. Esta visão de mundo migrou para a vida quotidiana das pessoas comuns – para que reparar a entrada do seu prédio, se amanhã virá o comunismo, e todos se mudarão aos palácios? Para que poupar dinheiro para a velhice, se amanhã tudo será de graça? Como resultado, o futuro veio – mas pessoas que não pensaram nisso, não tiveram um lugar decente nesse mesmo futuro.
Precisamos pensar sobre o futuro aqui e agora – e não apenas pensar, mas também fazer algo para tornar a sua vida no futuro melhor do que hoje.

4. Pensar e falar sobre o dinheiro

Na URSS ensinavam às pessoas que o dinheiro é muito mau/ruim e dele provem todos os infortúnios. A tese que formou a percepção de diversas gerações de pessoas. De facto, o dinheiro em si não é bom nem mau/ruim, é apenas um recurso, usando qual uma pessoa pode resolver certos problemas, e somente dele depende o que ele fará com o seu dinheiro.
No mundo moderno, o dinheiro, em primeiro lugar, é a sua independência, a capacidade de não trabalhar para os “outros” e ser o dono da própria vida. Os pró-soviéticos de todos os tipos e nacionalidades não gostam disso, na sua opinião, as pessoas devem ser pobres, dependentes e pedir “borsas” ao poder político, comer nas suas mãos e permanecer em silêncio. Quem não quiser viver assim – deve pensar e falar sobre dinheiro e sobre como e onde o irá ganhar.

5. Educação é um processo constante

Na URSS, uma pessoa era formada no ensino superior e logo considerada um “trabalhador especializado”. Existia um registo especial de profissões em que não eram admitidas, por exemplo, as profissões do futuro – tudo estava estritamente predeterminado. Existiam ainda os “cursos de melhoria de qualificação”, mas mais frequentemente um especialista soviético típico, após a sua formação já não aprendia mais nada, fazendo o mesmo tipo de trabalho durante toda a sua vida profissional.
No mundo moderno, tudo funciona de forma diferente – quem quer vingar, terá que aprender algo novo toda a sua vida – um processo extremamente fascinante, que não tem o fim. Vivemos no século XXI, e agora, uma pessoa pode obter várias formações e mudar 2, 3 ou mesmo 4 profissões, atingindo certos patamares em cada uma delas, vivendo não uma, mas várias vidas, o que é muito bom/legal e interessante.

6. Viajam, conheçam outros países

A União Soviética era um país fechado – para viajar ao exterior, o cidadão soviético tinha que passar por muitas barreiras internas, como verificações familiares e conversas com o KGB. Por causa de seu isolamento, muitos soviéticos tinham a certeza de que eles viviam no país mais bonito, amável e honesto, e ainda o mais rico, para eles a visita ao qualquer país mais ou menos civilizado, muitas vezes se transformava em um verdadeiro choque cultural.
Agora, quando graças ao Deus a URSS já não existe mais, as fronteiras estão abertas, e todos podem ir aonde quiserem. Quanto mais pessoa viaja ao redor do mundo – mais plenamente pode imaginar o funcionamento da civilização moderna e o lugar em que nela ocupa o seu país. É claro, melhor é conhecer as novas cidades, e não apenas escolher o descanso vegetativo na praia – as impressões serão mais completas.

7. Respeitem outros e o seu espaço privado

Na URSS acreditava-se que todos os que viviam “não como soviéticos” eram, no mínimo pessoas indoutrinadas ou, no máximo, inimigas. Isso se deveu à natureza agressiva e expansionista do marxismo-leninismo soviético – a doutrina se declarava como “a única ordem mundial verdadeira”, todos os que discordaram eram declarados loucos ou inimigos – milhões de cidadãos da URSS foram mortos sob este pretexto.
Quem não quer parecer um soviético – não diga às pessoas de outros países como eles devem viver e não venha por cima dos estrangeiros com observações do tipo: “O meu professor de história me contou tudo sobre o seu país / eu li tudo sobre o seu país, eu sei melhor como deveria viver Ucrânia!” Não se intrometa com a sua opinião onde você não foi convidado – apenas ouça, é mais interessante. O mesmo se aplica ao respeito pelo espaço pessoal – respeite o direito de outras pessoas ao seu espaço pessoal e liberdade.

8. Cria os planos da velhice
Na URSS, aqueles que se aposentaram acabaram por ficar inúteis, que só podiam jogar dominó no parque, cuidar dos netos e, na melhor das hipóteses, falar sobre a sua “juventude revolucionária” no palácio local dos Pioneiros. No século XXI, o sistema de emprego mudou, surgiram muitas profissões novas, a esperança da vida ativa está aumentando constantemente – portanto, é preciso pensar já hoje, sobre o que você fará aos 60, 70, ou mesmo aos 80 anos.

9. Seja dono da sua via, não procure pelos inimigos

Muitas vezes, na URSS, acreditava-se que em todos os problemas são culpados os míticos sabotadores, inimigos do povo e espiões. Uma porca na máquina está desaparafusada? É obra dos sabotadores da NATO/OTAN! Na sopa tem apenas ossos, em vez de carne? Os kurkuls/kulaks comeram a comida do povo! Alguém cagou nas suas botas? Estaline está certo, os inimigos estão em todos os lugares! O governo soviético, de todas as formas possíveis, implantava a ideia de “influência externa” para desviar as suspeitas da sua próprias falência e disfarçar os seus próprios erros, de modo que, mesmo em pensamentos, os cidadãos não duvidassem de sua legitimidade. A imagem do mundo externo como algo hostil e maligno se estendeu à vida quotidiana – as suas próprias falhas os cidadãos começaram justificar pelas “intrigas dos inimigos”.
Para não sermos soviéticos, temos que olhar no espelho e dizer a si mesmo que em tudo o que temos na vida – temos que repreender ou agradecer apenas a si mesmos.

10. Considerem o mundo em redor como a casa comum
É um mundo que temos. E não podemos obter um novo e diferente.

Fotos: GettyImages | Texto: Maxim Mirovich e Ucrânia em África

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