quarta-feira, dezembro 13, 2017

Prémio Sakharov é atribuído à oposição democrática da Venezuela

A União Europeia atribuiu o Prémio Sakharov de 2017 à oposição democrática da Venezuela. O ex-presidente da zona Metropolitana de Caracas — Antonio Ledezma é um dos rostos da oposição a Chávez e Maduro. Após 1002 dias da prisão — conseguiu fugir do seu país a tempo de receber, em Estrasburgo, o prémio que a Europa atribui anualmente a figuras que se distinguem pela Defesa dos Direitos Humanos.

Quando a União Europeia anunciou, a 26 de outubro, que iria atribuir o Prémio Sakharov à oposição democrática da Venezuela, Antonio Ledezma era um dos presos políticos do regime de Nicolás Maduro. Mas após 1002 dias de cativeiro (a maioria em prisão domiciliária), o antigo presidente da zona Metropolitana de Caracas — e um dos rostos da oposição a Chávez e Maduro — conseguiu fugir do seu país a tempo de receber, esta quarta-feira, em Estrasburgo, o prémio que a Europa atribui anualmente a figuras que se distinguem pela Defesa dos Direitos Humanos.

Antonio Ledezma, a quem Maduro chama de “vampiro“, chegou a ser apontado como candidato contra Hugo Chávez em 2008, mas acabou por avançar para a presidência da zona metropolitana de Caracas. Acabou por vencer o candidato do partido chavista e logo no mais importante cargo autárquico. Chávez contornou a questão e criou um “chefe de Governo do distrito capital” que assumiu parte dos poderes da competência de Ledezma. Em protesto, o autarca fez greve de fome. Desde então tem sido um dos rostos da oposição ao regime. Primeiro de Chávez, depois de Maduro. Acabou detido a 19 de fevereiro de 2015 pela secreta venezuelana no seu escritório na Torre EXA, em Caracas. Chegaram a ser disparados tiros para o ar no momento da detenção e esteve preso mais de dois meses na prisão militar de Ramo Verde até ser transferido para prisão domiciliária por razões de saúde.

Conseguiu libertar-se a 17 de novembro de 2017. Depois fugiu para Colômbia e de çá voou para Madrid, onde foi recebido por Mariano Rajoy, o que irritou ainda mais o regime de Maduro. Agora sente-se livre e vai receber — ao lado de outro rosto do combate ao regime de Maduro, Leopoldo López — presencialmente o prémio Sakharov. Com o tempo contado, em Estrasburgo, concedeu uma entrevista ao Observador.

Nicolás Maduro é pior do que Hugo Chávez?

São farinha do mesmo saco. São ambos representantes do populismo maléfico na política, que tira vantagem da democracia para chegar ao poder. Não para melhorar e aprofundar o sistema, mas antes para se enraizarem, como acontece com todas as ditaduras, no exercício do poder, sem querer saber dos danos que provocam aos cidadãos. Por isso, a situação – antes com Chávez e agora com Maduro – vai de mal a pior. São defensores do mesmo plano demagógico e de uma governação cheia de anacronismo, de esquemas fraudulentos, como o câmbio e o controlo dos preços, inspecionando tudo e fazendo com que, hoje em dia, a Venezuela tenha a inflação mais alta do mundo. Com este controlo dos preços, tem sido um boomerang [arremesso] contra os consumidores. E com o controlo do câmbio, enriquecem-se as elites que tornaram a economia venezuelana num casino financeiro. Um dólar hoje em dia – para que tenha uma ideia de como está a conversão na Venezuela – é equivalente a 100 milhões de bolívares. E para ter uma ideia da crise social, um trabalhador num supermercado na Venezuela, numa categoria qualquer, ganha um salário médio não superior a cinco dólares por mês. São salários paupérrimos.

E é possível tirar Maduro do poder de forma pacífica e democrática?

Nós temos insistido na saída de Maduro pela via pacífica. Temos insistido e por isso propusemos, no ano passado, um referendo revogatório. Lamentavelmente, foram logo encerradas todas as vias para um referendo revogatório.

O Partido Comunista Português, que tem deputados aqui no Parlamento Europeu, tem defendido Nicólas Maduro em intervenções política. Tem ideia que está num Parlamento em que existem forças que defendem o regime de Maduro?

É a liberdade de pensamento e há que o respeitar. São opiniões. Gostava que [os deputados do PCP no Parlamento Europeu] fossem à Venezuela para terem noção dos grandes desequilíbrios que temos, em distintas áreas. Deixe-me sublinhar algumas: a situação de pobreza em que vivem muitos venezuelanos, que têm de vasculhar o lixo para comer. Isso é insólito num país rico como o nosso, que tem das receitas de petróleo mais elevadas do mundo. Também podem ir à Venezuela e ver que temos dos mais altos níveis de insegurança, que são níveis superiores aos de qualquer país europeu: estamos nos primeiros lugares dos países com mais insegurança do mundo. Somos ainda um país com uma grande interferência económica do Estado e onde os governantes são generais, narcotraficantes, terroristas e corruptos… Se é isso que [os deputados comunistas] querem defender, é sua responsabilidade.

Ler o texto integral da entrevista.

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