domingo, novembro 26, 2017

Ucrânia recorda Holodomor. Kyiv 2017 (12 fotos)

No dia 25 de novembro Ucrânia recorda o Dia da memória dos Holodomores. Desde 2008 as cerimónias solenes decorrem junto ao Complexo memorial das vítimas do Holodomor no bairro Pechersk em Kyiv, composto por capela-memorial “Vela da Memória”, alameda detábelas negrase talvez a imagem mais poderosa do complexo – a menina de bronze, conhecida como “Filha Ucrânia”.

A sala de memória do museu apresenta os objetos do quotidiano dos camponeses ucranianos das décadas de 1920-1930, que foram recolhidos nas aldeias atingidas pelo Holodomor e também pode ser consultado o Livro Nacional da Memória das vítimas do Holodomor – o Martirológio mais completo que reúne os dados pessoais dos quase 900.000 pessoas que morreram durante a fome de 1932-33 anos.

Holodomor é a fome em massa na Ucrânia soviética que em 1932-33 cobriu quase todo o país e resultou em milhões de vítimas, as várias fontes referem entre cerca de 3-4 [aos 5-7] milhões de pessoas que morreram apenas durante o Holodomor de 1932-33 – sem contar com as vítimas das fomes de 1921-1923 e de 1946-1947.

A causa de Hododomor foi aquisição forçada de trigo [e outros cereais] – as autoridades soviéticas retiravam à força os grãos dos camponeses para o envio às cidades, e as aldeias famintas eram cercadas pelo exército e NKVD para que as pessoas não pudessem sair. Aldeias que não conseguiram chegar às normas conscientemente inalcançáveis de entrega de grãos eram colocadas nas chamadas “tábelas negras” – a aldeia era cercada, os destacamentos punitivos eram enviados para lá, praticava-se a tomada de reféns. Existem várias fotos e depoimentos de testemunhas desses terríveis eventos – depois de se familiarizar com eles, o cabelo se levanta na cabeça e surge uma pergunta calada – como tudo isso foi realmente possível no século XX: 

Todos os documentos sobre Holodomor foram conhecidos ainda nos anos 1990, e em 2007-2008 também foram achados os livros métricos de 1932-33, que se diziam “destruídos” anteriormente. Trabalho semelhante está sendo realizado nos arquivos de outras ex-repúblicas soviéticas, enquanto que nos arquivos russos, nem todos os documentos sobre esse período passaram o procedimento de desclassificação – aparentemente, as autoridades russas temem revelar a verdade sobre aqueles tempos.
Monumento ao Holodomor em Astana no Cazaquistão

Os motivos das ações do poder soviético são vistos de forma diferente por diferentes historiadores – uns dizem que a terrível fome foi o resultado de uma “política mal concebida”, outros acreditam que Holodomor foi organizado especificamente pelas autoridades soviéticas e por Estaline para quebrar a resistência do campesinato ucraniano. A segunda versão é reforçada pelo papel dos destacamentos da NKVD que não deixavam as pessoas sair das aldeias famintas...

02. Evento em Kyiv, dedicado às vítimas do Holodomor. O presidente da Ucrânia Petró Poroshenko ajoelha-se diante do monumento da menina atingida pela fome, a escultura também é chamada de “Filha Ucrânia”.

03. Aos pés da menina estão as maçãs e um ramo do viburno – muitas vezes nas aldeias ucranianas cercadas pelo exército era a única comida disponível...

04. Uma das tradições solenes é a colocação no monumento do pão com velas, assim como pequenos ramos de espigas, evocando a lei repressiva soviética de cinco espigas.

05. Petró Poroshenko e clérigos, nas mãos do presidente – a cerâmica, que lembra os utensílios do início do século XX, repleta de espigas de trigo e ramos do viburno (kalyna).

06. Petró Poroshenko se ajoelha junto ao monumento:

07. Outros políticos da Ucrânia também colocaram as espigas aos pés da menina:

08. As pessoas acendem as velas.

09. Hoje, a menina sentirá o calor humano...

10.

11. Participante na ação com a bandeira da Ucrânia.

12. As pessoas choram:

13. Ação solene vista por uma jovem criança, surpreendentemente semelhante à imagem da menina do monumento.
É importante reconhecer Holodomor de 1932-33 como um ato do genocídio, não importa se este crime foi planeado ou foi uma consequência da “política mal concebida” – todas as ações das autoridades soviéticas destinadas a bloquear as aldeias famintas não podem ser chamadas senão um crime consciente e premeditado.

Fotos: GettyImages | Internet | Texto @Maxim Mirovich

Blogueiro: como já é de costume, recordamos que Raphael Lemkin, jurista polaco/polonês e autor do termo genocídio não tinha dúvidas, Holodomor foi um genocídio comunista contra Ucrânia e ucranianos (ler em 28 línguas, em português nas páginas 166-172).
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O mesmo considera a historiadora americana de origem polaca, vencedora do Prémio Pulitzer, autora do “Gulag” e “Iron Curtain”, Anne Applebaum, no seu novo e importante livro Red famine: a guerra do Estaline contra Ucrânia, dedicado ao Holodomor ucraniano. 
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