quarta-feira, novembro 29, 2017

O papel das mulheres e desigualdades de género na URSS (13 fotos)

Falando de desigualdades de género no espaço pós-soviético é impossível omitir as raízes dessa mesma desigualdade, criada na União Soviética e, de facto, uma espécie de continuação das “gloriosas tradições soviéticas”.

Foi na URSS, sob o lema do “direito ao trabalho”, a mulher foi obrigada a trabalhar, muitas vezes em condições fisicamente difíceis e nocivos, além de desempenhar o papel de uma mulher-serva, obrigada à servir o marido e os filhos – uma imagem amplamente promovida como “normal e natural” em numerosos filmes, livros e outros meios de comunicação soviéticos.

Situação após o golpe bolchevique
Após o golpe de Estado de outubro/novembro de 1917 a Rússia soviética declarou “equação absoluta de direitos de todas as franjas da população”, e no mesmo ano de 1917 em um dos decretos foi anunciado a igualdade dos direitos entre os homens e mulheres, acabando com o “legado obscurantista do czarismo”! A Rússia soviética possuía a sua própria “marxista feminista”, a diplomata Alexandra Kollontai que acreditava que a relação entre um homem e uma mulher foi estragada pela propriedade privada e [advogava a teoria comportamental de cariz sexual, chamada de “copo de água”, em que o coitos era visto como a necessidade tão básica e simples como beber um copo de água no momento da cede].
Uma parta da nova legislação era progressista – a nova lei do casamento civil permitia à mulher manter o seu apelido/sobrenome de solteira, reconheceu o direito ao aborto, simplificou o processo de divórcio. Basicamente eram os direitos que não exigiam esforços e custos especiais do novo governo comunista. Ao mesmo tempo, toda a mulher agora era obrigada à trabalhar – sob a pena de responsabilidade criminal como “elemento improdutivo”.
No início dos anos 1930, começa o retrocesso ao “imperialismo tradicionalista” – as mulheres foram novamente reduzidas em direitos e, de fato, estavam perdendo as poucas liberdades que adquiriam na década de 1920. Em geral, este é um fenómeno muito interessante – a URSS dos anos 1930 absorveu os piores traços do império russo pré-1917, que os bolcheviques da “velha guarda” não conseguiam entender e não queriam aceitar, o que não fariam muita diferença, pois, pratiamente todos eles foram exterminados pelo Estaline.

Mulheres na época de Estaline
Sob Estaline aumenta a repressão contra as mulheres: em 1935 a União Soviética deixa de produzir os meios anticoncepcionais, em 1936 são proibidos os abortos. No mesmo ano, em 1936, é adotada uma lei que dificultou o processo de divórcio, e os casamentos livres também, de facto, foram banidos. Em 1943, ressurge a educação separada de meninos e meninas (existente nos ginásios da época czarista), estado soviético pretende educar os rapazes como “guerreiros e combatentes de linha da frente e da retaguarda” e as meninas como “mães e educadoras”. Em 15 de fevereio de 1947 a URSS proíbe os casamentos com os cidadãos estrangeiros.
Ou seja, de facto, as mulheres novamente foram colocadas “nos corais”, em termos legais, a sua situação piorou comparando com os tempos czaristas – a maternidade foi imputada às mulheres como um “dever socialista”, que, além disso, ainda eram obrigadas a trabalhar em alguma fábrica ou no escritório. Toda a conversa sobre “igualdade de mulheres” terminava em cartazes de propaganda – praticamente não havia mulheres na liderança superior do partido comunista, de Komsomol, no exército, serviços secretos ou sindicatos, toda a nomenclatura governante soviética era composta por velhos dinossauros comunistas.
O “direito ao trabalho” foi frequentemente interpretado de forma que as mulheres podem agora ser recrutadas aos trabalhos físicos pesados, antes considerados prerrogativa dos homens – na URSS isso era apresentado como uma espécie de “grande conquista do socialismo”.

URSS após o fim do estalinismo
Nos anos 1960, em resultado do degelo de Khruschev, a vida das mulheres melhorou um pouco – a partir de meados da década de 1950, na educação escolar, as turmas novamente se tornaram mistas, a proibição do casamento com os estrangeiros foi abolida em outubro de 1953, os abortos novamente foram permitidos, em 1965 novamente foi simplificado o procedimento do divórcio, em 1967 foi introduzido o conceito de “pensão alimentícia”, em 1968 introduzida a licença paga de maternidade de alguns meses – depois disso a criança tinha que ir à creche (onde as crianças choravam o tempo todo sem a mãe), e a mulher era empurrada ao trabalho. [Desde 1941 à 1992 na URSS / Rússia existiu o imposto aos cidadãos que não tinham filhos, o imposto era cobrado mesmo nos casos de filho único morrer, por exemplo na guerra de Afeganistão.]
Ao mesmo tempo o estado soviético propagava constantemente a imagem da “mãe trabalhadora”; do ponto de vista da ideologia soviética, a imagem ideal da mulher soviética era de uma mãe atenciosa que também trabalha fora de casa, executa as tarefas domésticas, prepara refeições / jantares, fica nas filas para comprar os alimentos, cuida de seu marido, resolve todos os problemas domésticos, lava e engoma as roupas de toda a família.

Com que ficamos no final?

— Na verdade, não havia a “igualdade do género na URSS”. O facto de que a mulher agora tinha a permissão de abrir as valas ou trabalhar nos locais de “construção do socialismo” significava apenas uma pequena possibilidade de escolha, oferecida pela lei de trabalho obrigatório – trabalhar em algum escritório, cavar com a pá ou com a picareta ou ser presa.

 — Não existia a “igualdade de género na família” – a mulher era vista como a dona de casa, que na URSS ainda era obrigada à trabalhar para o Estado em algum emprego formal. Ao mesmo tempo, por padrão, era considerado normal, quando uma mulher fazia todo o trabalho doméstico – um homem à ajudá-la era visto quase como acto “indecente”.
— Toda a política estatal soviética era determinada por homens, as mulheres com poucas exceções receberam algumas tarefas internas de pouca importância, como a pasta do Ministério da Cultura (Yekaterina Furtseva) e, no essencial, a URSS era governada por velhos dinossauros, parecidos com os struldbrug do Swift. O poder dos velhotes era evidente em quase todas as esferas da vida – desde o bombardeamento ideológico de cariz conspirativo, despejado aos cidadãos, até a ausência de produtos de higiene íntima feminina.

— O sexismo doméstico florescia em todos os lugares – com todas as declarações de “igualdade”, a mulher era considerada geralmente mais limitada intelectualmente em relação ao homem, ela podia ser espancada – na sociedade soviética isso era chamado de “ensinar à ser esperta”. As frases do tipo “bate então ama” eram muito populares na URSS e eram considerados um exemplo de relações normais e, em princípio, eram toleradas pela sociedade e cultura de massas.

Os modelos franceses de Dior caminham entre as mulheres soviéticas, Moscovo, 1959:

Nina Khrusheva e Jackelin Kennedy, 4 de junho de 1961, em Viena:
É assim. Como se vê, a igualdade de género na URSS era uma miragem. Com todas as histórias sobre “igualdade de género na URSS”, pode-se ver claramente que, na União Soviética, as mulheres tinham uma aparência muito pior, viviam uma vida de sofrimentos e sacrifícios e tinham muito menos direitos do que as mulheres nos países desenvolvidos capitalistas.

Foto GettyImages | Internet | Texto Maxim Mirovich e [Ucrânia em África

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