terça-feira, outubro 17, 2017

A revolução bolchevique: a indoutrinação dos mais novos

Imediatamente após a vitória do golpe bolchevique de outubro de 1917, o novo poder soviético aposta na indoutrinação dos mais novos. Os líderes comunistas percebem que as crianças são mais vulneráveis à sua ideologia por causa da falta de experiência e de memória individual do passado.
Escuteiro-sinaleiro, cartão postal russo de 1915
imagem @arquivo
Mas antes de criar uma organização comunista entre os mais novos, o poder soviético decide sufocar e proibir as organizações juvenis já existentes. Como tal, as repressões comunistas recaem sobre o movimento escuteiro russo, e mais tarde do mesmo movimento nos países, que proclamaram as suas independências na sequência do desaparecimento do império russo e cujo territórios foram ocupados e anexados pela Rússia soviética no período entre 1919 e 1924.
Rapaz escuteiro, cartão postal russo de 1914
imagem @arquivo
O movimento escuteiro no império russo nasceu em 1909. No outono de 1917 existiam cerca de 50.000 escuteiros, distribuídos por 143 cidades do império. No entanto, já em 1919, a juventude comunista RKSM (futuro Komsomol) toma a decisão de dissolução (Sic!) do movimento escuteiro russo. Ou seja, uma organização juvenil toma a decisão de dissolver uma outra organização juvenil e o estado soviético aplica essa decisão na prática.
Escuteiro russos antes de 1917 foto @arquivo
O movimento escuteiro foi taxado de fenómeno reacionário, burguês e monárquico. As perseguições foram particularmente intensificadas desde início de 1922, que pode ser considerado como último ano das atividades dos escuteiros na Rússia soviética. Todas as organizações escuteiras russas foram banidas, os seus membros atacados em público, os seus símbolos arrancados, os escuteiros eram coagidos nas escolas, as crianças e adolescentes simpatizantes do comunismo espancavam os escuteiros e os denunciavam ao OGPU.

As organizações mais persistentes dos escuteiros russos duraram até a primavera de 1923, quando, em maio, o seu último encontro público decorreu nos arredores de Moscovo. Os participantes da reunião usavam as suas uniformes e bandeiras. O encontro foi disperso pela polícia soviética e os seus organizadores foram presos.

Em abril de 1926, a OGPU realizou prisões em massa de escuteiros (cerca de 100 líderes escoteiros foram detidos e enviados principalmente para o campo de concentração de Solovki). As organizações escuteiras, no entanto, continuaram a existir por mais algum tempo na clandestinidade, como, por exemplo a “Irmandade da Fogueira”, cujos membros cantavam:

Somos dez, oiçam – dez!
E o mais velho não tem mais que vinte!
Claro, podemos ser enforcados,
Mas primeiro devem nos encontrar!

Os grupos de escuteiros na clandestinidade foram totalmente extintos pela máquina repressiva do estado soviético em 1927.

O surgimento dos pioneiros comunistas

Em 19 de maio de 1922, a 2ª conferência do RKSM/Komsomol decide ampliar a experiência moscovita de criação dos primeiros grupos de crianças comunistas “nos mesmos alicerces que outras organizações do RKSM sob a liderança do Comité Central do PC(b)”.
Pioneiros comunistas com o slogan "Proletários de todo o mundo, uni-vos"
foto @arquivo 
Em setembro de 1923 nas escolas russas foram criadas as primeiras unidades dos pioneiros, a organização comunista juvenil composta por meninos e meninas até 14 anos de idade. As crianças soviéticas eram coagidas de entrar nessa organização, cada recusa (por exemplo, por razões religiosas), era vista pelas autoridades de educação e professores afetos ao regime como uma afronta à ordem comunista.  

Como tal, a organização cresceu rapidamente, nos meados de 1923 pioneiros contavam com até 75.000 membros; no início de 1924 — com mais de 161.000 e nos meados de 1926 – tinham cerca de 2 milhões de membros, reunidos em 45.000 unidades escolares.
Campo de pioneiros  foto @arquivo
No dia 21 de janeiro de 1924, aos 54 anos morre “vovô” Lenine e apenas dois dias depois, a organização que até ai se chamava de “Grupos comunistas juvenis “Spartak””, recebe o nome de “Organização de pioneiros “camarada Lenine””.
foto @arquivo
Em junho de 1924, decorre em Moscovo na praça Vermelha a primeira parada dos pioneiros, cujos participantes pronunciaram, pela primeira vez, as palavras do “juramento solene”, lido, do pódio do mausoléu temporário pelo camarada Feliks Kon, um bolchevique polaco (“... viver como legou o grande Lenine, como ensina o Partido Comunista...”). Na parada participaram os destacamentos de pioneiros de Moscovo e dos seus arredores.
As gastarbeiter levadas aos trabalhos forçados no 3º Reich foto @arquivo
Na primeira foto deste artigo podemos ver os “felizes” pioneiros que “entusiasticamente” marcham na praça Vermelha, trajando os lenços vermelhos e batendo a continência “pioneira”. A última foto retrata as jovens mulheres soviéticas (à julgar pela imagem, de origem eslava), levadas aos trabalhos forçados no 3º Reich. As mulheres também não parecem particularmente felizes, apesar disso, as suas faces são menos infelizes do que as de pioneiros “felizardos” por viver no “primeiro país socialista do mundo”.

E vocês ainda acham que comunismo e nazismo não são irmãos-gémeos?    

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