segunda-feira, maio 22, 2017

O verdadeiro choque de civilizações: último Lenine cai em Kyiv e culto do Estaline cresce em Moscovo

A maioria das pessoas influenciadas pelas ideias de Samuel Huntington sobre o “choque de civilizações” tem se concentrado no confronto entre o Ocidente cristão e o mundo do Islão. Um número menor concentrou-se no conflito entre o mundo ortodoxo da Europa Oriental e o ocidente católico-protestante da Europa.

por: Paul Goble, Window on Eurasia

            Mas talvez o choque mais importante de civilizações esteja em evidência no território do antigo espaço soviético entre aqueles que procuram erradicar o legado da opressão comunista soviética e aqueles que o celebram, ou mesmo vão mais longe e tentam impô-lo novamente nos seus próprios países e também no estrangeiro.
            Esse confronto tem sido muito em evidência na Ucrânia e na Rússia neste mês. Na sexta-feira passada (12/05/2017), as autoridades ucranianas derrubaram a última estátua de Lenine em Kyiv, enquanto os russos continuavam celebrando Estaline e a sua brutal ditadura como modelos de emulação, como parte das comemorações do Dia da Vitória.
            Em um comentário ao serviço ucraniano de Radio Liberdade [o jornalista e analista político ucraniano] Vitaly Portnikov argumenta que esta divisão civilizacional é “mais definidora do que as esperanças ucranianas na integração europeia e a quimera russa da União Euro-asiática” (ler original em ucraniano ou em russo).
            Ele salienta que “o desaparecimento do líder bolchevique do pedestal coincidiu com a decisão do Conselho da Europa em oferta final à Ucrânia de um regime de isenção de vistos com a UE”. O comentarista ucraniano diz “este não é simplesmente uma coincidência”, mas um sinal de uma mudança civilizacional mais ampla.

            Mas enquanto na Ucrânia “a própria memória de Lenine está desaparecendo”, prossegue Portnikov, “na Rússia, as memórias de Estaline estão sendo revividas. Precisamente do Estaline e não do Lenine “porque para o regime de Putin”, depois do desmascaramento do culto da personalidade de Estaline, Lenine era o símbolo de “um bom comunista”.
            De todas as evidências disponíveis, ele diz, “os atuais governantes da Rússia não podem concordar com esta imagem do líder humanista porque o verdadeiro Lenine nunca foi um humanista. Eles precisam de Estaline porque Estaline era um governante todo-poderoso e alguém que levou o mundo inteiro a temer a Rússia [URSS]. Putin quer que ambos, tanto o seu próprio [povo], quanto os estrangeiros o temam.
            Apesar do historial dos crimes de Estaline, a promoção de Putin de um culto do ditador soviético tornou-se cada vez mais hiperbólica à cada ano que passa, diz Portnikov, e “cada Dia da Vitória está se tornando um passo ao retorno do Estaline ao pedestal e ao renascimento total do poder dos chekistas e o medo do mundo da imprevisibilidade da Rússia”.

            “O divórcio civilizacional da Ucrânia e da Rússia”, argumenta Portnikov, “em grande parte é impulsionado não pelo facto de que um país está se esforçando para fazer parte da Europa atual, enquanto o outro está retornando aos valores e práticas asiáticas medievais. Na verdade, é impulsionado pelo facto de que os ucranianos se afastaram de Lenine, enquanto os russos estão retornando ao Estaline”.

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