quinta-feira, dezembro 15, 2016

Rússia: o clima de caça aos espiões volta em força

A propaganda soviética. "Tagarelar é ajudar ao inimigo!"
A caça aos espiões da Rússia atual está longe dos padrões estalinistas da época do Pequeno ou Grande terror da década de 1930, no entanto o número dos “espiões” condenados é o mais alto desde a derrocada da União Soviética em 1991.

No dia 15 de dezembro foi divulgada a informação sobre a condenação aos 12 anos de prisão severa do coronel russo na reserva, Aleksey Siniakov, acusado de “traição estatal”. O serviço de imprensa do tribunal russo Lefortovsky informou que além da condenação, Siniakov também perdeu a sua patente militar. Dado que o caso recebeu a classificação de “absolutamente secreto”, não foi divulgado nenhum pormenor do processo.
  
Na atual prática corrente russa, geralmente todos os casos julgados ao abrigo de “traição estatal” (artigo № 275 do Código Penal russo) e “espionagem” (artigo № 276), recebem a classificação de “segredo” e os seus pormenores não são divulgados. Sabe-se apenas que em 2015 na Rússia, ao abrigo destes dois artigos foram condenadas 28 pessoas.

Há vários casos em que pela “traição estatal” foram condenadas às prisões efetivas os cidadãos russos e até estrangeiros (!) que nas vésperas da invasão russa contra Geórgia em 2008, mandaram aos amigos na Geórgia a(s) SMS que davam a conta do avanço dos equipamentos militares russos, dirigindo-se à fronteira georgiana. Uma das condenadas é Oksana Sevastidi, outra – Inga Tusiani, escreve a página Meduza.

O caso da Oksana Sevastidi
A cidadã russa de origem georgiana, Oksana Sevastidi de 46 anos foi condenada à 7 anos de cadeia, acusada de “traição estatal”. A sua culpa foi o envio de alguns SMS em 2008, nas vésperas da guerra russa contra Geórgia, ao seu amigo georgiano, contando sobre um comboio ferroviário russo com os equipamentos militares, visto por ela na cidade de Sochi e dirigindo-se à Abecásia.

Embora Oksana Sevastidi foi condenada em 3 de março de 2016 e de momento está cumprir a sua pena prisional, na base de dados do tribunal que a condenou não há dados sobre o seu caso, escreve Meduza. No entanto, no dia 7 de março de 2017 Oksana recebeu o perdão presidencial e no dia 12 de março efetivamente foi libertada da cadeia moscovita de Lefortovo. Para o dia 15 de março está marcada a apreciação do seu caso no Tribunal Supremo da federação russa, pois Oksana Sevastidi pretende provar que nem sequer cometeu crime algum.  

Casos da Inga Tusiani e de Ekaterina Kharebava

A sociedade russa de defensores públicos «Team29», que oferece a assistência jurídica à Oksana Sevastidi divulgou os pormenores de dois outros casos semelhantes.

Uma das condenada se chama Inga Tusiani, presumivelmente é cidadã russa de origem georgiana, na cadeia ela partilhou a cela com a cidadã da Geórgia (!) Ekaterina Kharebava (1969), condenada em 14 de novembro de 2014, aos 6 anos da colónia penal em regime geral, acusada de “espionagem”, tudo pelo envio de SMS ao seu amigo na Geórgia, o avisando sobre avanço dos equipamentos militares russos na direção da fronteira georgiana. É de notar que a Sociedade russa da defesa dos direitos humanos “Memorial” considerava Ekaterina Kharebava a prisioneira política (em junho de 2016 Ekaterina Kharebava foi libertada pela Rússia e desde a data se encontra na Geórgia). Ela não contacta com a imprensa, possivelmente pela orientação da própria Geórgia que tenta libertar os restantes cidadãos seus, condenados na Rússia, acusados de “espionagem” à favor do estado georgiano.

Sabe-se que Inga Tutisani foi condenada em junho de 2014, ou seja, 4 anos após a alegada “traição”, acusada de enviar à Geórgia a(s) SMS, avisando de aproximação das colunas invasoras russas. Devido à classificação de “segredo” não se sabe nem a data de envio da(s) SMS, nem o seu teor. Tudo indica que Inga Tursiani continua a cumprir a sua pena, informa Meduza.

As condenações 4 anos depois
A propaganda soviética: NÃO TAGARELE! Guarde severamente o segredo militar e estatal!
Os entendidos na matéria explicam o facto de as cidadãs acusadas pelo envio de SMS em 2008 forem detidas apenas em 2013 e condenadas em 2014 pelo facto de que o sistema russo SORM, o dispositivo de escuta mais intrusivo do mundo, monitorando e-mails, uso da Internet, Skype e todas as redes sociais, possuir um atraso gritante de análise de dados. Ou seja, apenas em 2013 os operadores chegaram a analisar os dados de 2008, a velocidade francamente inaceitável para as questões da segurança do país, mas útil para perseguir, amedrontar e castigar os seus próprios cidadãos, assim como os cidadãos dos países vizinhos.    

A UE prorroga as sanções contra a Rússia
Os líderes dos países da União Europeia concordaram em prorrogar por mais seis meses as sanções contra a Rússia, relata Reuters, citando as fontes diplomáticas. A rádio alemã Deutsche Welle escreve que as sanções serão prorrogadas até 31 de Julho de 2017.

Sem comentários: