sábado, dezembro 10, 2016

O doping estatal russo: 7 conclusões finais e 1.000 culpados

O chefe da comissão independente da WADA, Prof. Richard McLaren apresentou a parte final do seu relatório sobre uso do doping estatal no desporto russo. O novo relatório confirma os dados anteriores e apresenta as novas provas: no programa estatal de doping participaram mais de 1.000 atletas russos, entre eles os medalhistas de ouro de JO de Sochi. A televisão russa tvrain leu o relatório e sublinhou o mais importante.

O novo relatório é baseado não apenas nos depoimentos, mas nas provas materiais os dados medicinais e laboratoriais. Estes resultados são corroborados pelos depoimentos das testemunhas e pela correspondência eletrónica. McLarem também divulgou a base de dados que contêm 1.166 documentos, entre fotos, relatórios forenses, análise de testes, horários, e-mails e documentos de trabalho.

Mais de 1.000 atletas russos fizeram a parte do esquema de doping estatal (no período entre 2011 e 2015), destes, 84% representavam os desportos de verão e 16% de inverno. O sistema de doping estatal funcionou nos JO-2012 de Londres; nos Jogos Universitários de Kazan (2012); no Campeonato do Mundo de Atletismo de Moscovo (2013) e nos JO e JPO de Sochi (2014). WADA acredita que os burocratas desportivos russos optaram pelo sistema de doping estatal após a má exibição dos atletas russos nos JO de Vancouver.

— 12 desportistas russos que ganharam as medalhas em Sochi-2014 usavam o esquema de doping estatal: 4 deles eram medalhistas de ouro. Foram efetuadas 44 análises dos atletas russos que participaram nos JO de Sochi, na equipa feminina russa de hóquei de gelo as provas de duas atletas eram falsificadas, a urina continha ADN masculino. Para falsificar as provas, era usado o sal, água e café instantâneo uma série de análises mostravam as concentrações químicas fisiologicamente impossíveis. A falsificação de análises foi detectada em 6 das 21 provas de atletas paralímpicos russos em Sochi. No total, a comissão da WADA detectou 96 análises falsificadas (com invólucros violados) de JO de Sochi e 21 dos JPO de Sochi.

— O relatório confirma que o esquema de doping estatal em Sochi usava o método de «análises desaparecidoa», que permitia aos atletas russos usar o doping mesmo no decorrer das competições. O esquema foi lançado, pela primeira vez, nos jogos universitários de Kazan (2013). Ao esquema aderiram os atletas russos dos escalões mais altos da elite desportiva do país.

Nos JO-2012 de Londres o doping foi detectado nas análises dos 15 medalhistas russos dos 78 verificados, 10 deles já perderam as medalhas. No campeonato do Mundo de atletismo de Moscovo de 2013 foram falsificadas as análises dos 4 desportistas russos.

O Ministro do Desporto russo, Vitali Mutko, não podia não saber do sistema estatal de doping que estava sob controlo dos responsáveis do Ministério do Deporto, da Agência Russa Antidoping (RUSADA), FSB e do Laboratório Antidoping de Moscovo. Mutko, juntamente como o seu vice, Yuri Nagornikh geria o sistema de troca de análises: «Segundo as ordens de Mutko e do Nagornikh, os testes de doping previamente recolhidos fora das competições, deveriam ser recolhidos debaixo da mesa e em recipientes informais. Após a testagem destas amostras tomava-se a decisão se o atleta poderia ser “limpo” na competição, e se não for, ele ou ela ficavam em casa”.

O relatório da WADA não revela os novos nomes dos atletas apanhados em doping, justificando a sua decisão com o “respeito pela privacidade”. Os nomes da corredora russa Anastasiya Kapachinskaya e da lançadora do disco Darya Pishchalnikova, ambas desqualificadas e citadas no relatório, foram divulgados anteriormente.

Os nomes realmente novos
O pugilista russo de origem arménia, Mikhail Aloyan, detentor a medalha de prata no peso mosca (até 52 kg) dos JO-2016 no Rio perdeu a sua medalha pela decisão do Tribunal Arbitral de Desporto de Losanna (CAS). A análise do Aloyan (28), efetuada em 21 de agosto de 2016 acusou o uso de estimulador tuaminoheptane – o doping proibido. O treinador do Aloyan, Eduard Kravtsov prometeu que o seu pupilo irá recorrer da decisão do tribunal, pois alegadamente “apenas” usou o spray contra a rinite, escreve a página Meduza.

A mesma «Meduza» também expôs mais dois medalhistas russos de Sochi-2014, que foram apanhados no uso de doping e cujos nomes ainda não foram divulgados oficialmente. São Alexandr Zubkov e Alexey Voyevoda, a dupla do bobsleigh que ganhou quatro medalhas de ouro nos JO de Sochi.
No relatório do McLarem é dito que nas análises dos dois medalhistas de ouro de Sochi foi achada a quantidade anormalmente alta de sal, cuja presença é impossível na urina de uma pessoa saudável. Os nomes não são revelados, todos os dados são codificados, mas é dito que os dois ganharam 4 medalhas de ouro.

O impossível teor de sal
O documento sobre o teor de sal na urina, indicado no relatório se chama «Report on Urinary Sodium Analysis and Data Interpretation» (“Relatório da análise urinária de sódio e a interpretação de dados”); que apresenta os resultados de um estudo realizado em outubro de 2016. No total, foram efetuadas 121 testes, dos quais seis excederam a concentração máxima de sal; ou seja, há mais sal na análise do que é humanamente possível na urina de uma pessoa saudável com a desidratação. As mesmas seis amostras foram registadas entre as danificadas mecanicamente, o que também indica a falsificação das análises.

A página também demonstra que é possível chegar à mesma conclusão analisando o documento chamado «Schedule of Samples and ADAMS Reports.xlsx» («Agenda de amostras e relatório ADAMS.xlsx»; onde ADAMS é a base de dados da WADA que contém a informação sobre análises), e onde estão listadas todas as análises de todos os atletas com menção dos tipos de desporto, onde estes competem. O mesmo acontece na análise dos documentos «Medals per day.doc» (1 e 2) e «Medals Care Sochi COLOR.docx» («Plano colorido de controlo de medalhistas de Sochi»).

Os culpados

Os seus nomes já foram mencionados anteriormente. Alexandr Zubkov foi mencionado pelo ex-chefe do Laboratório antidoping de Moscovo, Grigori Rodchenkov, ainda na primeira publicação da The New York Times, que desencadeou a investigação massificada da WADA. Alexey Voyevoda figurava na lista que Rodchenkov entregou à WADA.

O natural da Ucrânia, Voyevoda (1980) socorreu-se da retórica patrioteira russa: «... quando surgiu a situação com Crimeia, começaram as sanções anti-russos, a retórica anti-russa, e isso continuou através dos atletas». Zunkov afirmou que nada teme: «Toda a minha vida joguei limpo, sempre realizei os testes de doping, e nem poderá haver problemas».

A posição do Kremlin

O secretário de imprensa do presidente russo, Dmitri Peskov, disse não se deve agir emocionalmente aos relatos da existência na Rússia de conspiração estatal de falsificação de testes de doping. Segindo Peskov, Kremlin estudará o relatório da comissão independente da Agência Mundial Antidoping (WADA) e verificará as informações disponíveis na página da comissão. Enquanto isso, o ministro russo do desporto, Pavel Kolobkov, afirmou que na Rússia “não havia e não poderia haver a conspiração estatal” e que com “as violações individuais e até mesmo [...] com os crimes cometidos [...] irão lidar as autoridades policiais russas”, informa a televisão russa tvrain

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