quinta-feira, outubro 06, 2016

“Barrett M107A1” na caça na Donbas

O quotidiano de caça dos franco-atiradores ucranianos armados com a poderosa Barrett M107A1 – a espingarda lendária americana de alta potência, usada, com bastante sucesso, na luta contra os terroristas russos.

por: Yuriy Butusov (Censor.net.ua)

No cinema as ações dos franco-atiradores são reduzidas aos momentos mais dramáticos quando o alvo fica na mira, o atirador olha para a face da vítima e ainda assim prime o gatilho. Há surpresa, alguma angústia moral, destreza, agilidade, impiedade.

Na realidade, na linha da frente, o rosto e os olhos do inimigo são raramente visíveis – o local mais seguro para atingir o alvo é o tronco que está no centro do corpo, não há tempo para ver e apontar a cara. Do impacto do poderoso cartucho de 50 BMG (12,7 mm) não salva nenhuma proteção.
Cartucho "Barrett" 50 BMG (12,7 mm)
Na realidade, a arte de atirador da linha da frente é um trabalho de equipa, pormenorizado e de longo tempo, para conseguir um único tiro.

Tal como agora. Três dias são gastos para escolher a melhor posição. Onde os mercenários russos disparam os morteiros, onde trabalham os seus franco-atiradores, onde andam os seus grupos de sabotagem e reconhecimento (DRG).

O reconhecimento de posições inimigas e da zona neutra. O reconhecimento de engenharia das passagens até ao inimigo. O reconhecimento com ajuda dos drones – as colinas devem ser inspeccionadas das alturas. No decorrer da escolha das posições vantajosas para atirar, o grupo que foi ao “trabalho” desarmou quatro minas. O inimigo colocou-as pensando neles.

De seguida, é organizada a observação, colocados os postos avançados de proteção e apoio da retaguarda. Tudo isso discretamente, silenciosamente, depois de escurecer – o apagão completo.
A "Barrett" olha para nos
Mas o inimigo na linha da frente também organiza a caça aos ucranianos, e não pretende levar a bala. Os mercenários russos não relaxam – há muito tempo foi lhes retirado o hábito de se banhar ao sol junto às suas trincheiras.

Os franco-atiradores precisam de avançar mais que todos os outros – aos locais, onde os alvos serão bem visíveis. Deixar as trincheiras tão confortáveis, onde existem os meios de disfarce e locais para se esconder é sempre um risco. E sair de sua trincheira, avançando para frente, para o local, onde você não está protegido – parece como ficar sem a pele. É necessário ficar perto do inimigo, onde você também poderá ser detectado. É precisa ter a certeza de que o seu esconderijo não é visível do outro lado. Que é sua mira óptica não brilhará ao sol.

O menor erro e o vigia – operador do morteiro inimigo lançará contra a “zona verde” uma série de granadas de 30 mm, usará os morteiros, SPG ou automático 2B9M «Vasilek» de 82 mm.

“Barrett” permite disparar até a distância de 1.800 metros (contra 800 metros da SVD), mas para ter a certeza, a melhor marca é de 1000 metros, nesta distância, nas mãos competentes, praticamente não há falhas.

O franco-atirador ucraniano com a “Barrett” americana é um alvo prioritário dos terroristas. Sem dúvida, no caso de ser descoberto pelo inimigo, este fará todo o possível para capturar a arma e os atiradores. Mas todos esses pensamentos os atiradores cautelosos deixam no linha “zero”. Eles avançam adiante, confiantes de que os seus companheiros serão capazes de lhes proteger a retaguarda, conseguindo evacuar o par de atiradores em qualquer das situações. A confiança é necessária.

Finalmente a posição é ocupada, o nosso par se coloca nela. Agora, o resultado da operação está nas suas mãos. Eles observam o inimigo de perto. Determinam os padrões de ação – quando, onde, em que lugar aparecem os alvos. O comandante deu a palavra simples e quotidiana na despedida: “Fogo à vossa escolha no momento da preparação!”

No momento exacto do disparo, a equipa de observadores dará o sinal ao grupo de apoio e eles ligarão a motosserra para dissimular o som do tiro e para dispersar a atenção. Em caso de necessidade, os locais observados e relevantes serão alvejados pelo fogo do morteiro automático.

As medidas foram tiradas, estamos à espera do inimigo, o meu lugar é no posto de observação. Na linha da frente nenhuma agitação – o inimigo não anda, não aparece sem a necessidade. Observação e espera levam as longas horas. Eu mesmo, sem conseguir resistir o acordar cedo, adormeci por uma hora. Mas observação continua, a nossa posição é muito promissora, e é claro, que alguém cairá na mira – os guardas, os observadores, a inteligência, a logística, às vezes aparece o mais interessante – o franco-atirador inimigo que também vai à caça. As distâncias são grandes, não se olha para as faces e detalhes, aponta-se contra a silhueta. No grupo de proteção, o segundo par controla a situação. No objetivo é claramente visível como duas silhuetas aparecem à vista. Eles nada suspeitam. Eles não sabem que em algum lugar muito longe, a morte, empacotada num carregador, mede o tempo de suas vidas.
A mira ótica x45
Eles são observados, através da óptica x45 que acabou de ser trazida pelos voluntários, por vários pares de olhos. É preciso disparar com segurança – o franco-atirador tem o direito de apenas um tiro. O silenciador poderoso irá extinguir completamente a clarão do disparo e conseguirá silenciar o som. Um disparo e logo – a mudança de posição. Assim é possível sair, ao segundo tiro definitivamente será notado. Caso contrário, o par dos franco-atiradores será descoberto e eles próprios virão a caça – dezenas de seus inimigos ferozes – operadores de metralhadoras, dos morteiros AGS e SPG, franco-atiradores inimigos vão começar o jogo mortal para não deixar sair vivos os ucranianos.
O silenciador e abafador dos clarões de fogo "Barrett" M107
A caça do inimigo é adrenalina e estresse. As pessoas começam a sussurrar – mesmo aqueles que estão à 2 km da distância e observam tudo através de binóculos. Os franco-atiradores sentem a enorme responsabilidade – se não fazer o bom cálculo, se errar, se intervir o acaso, se o inimigo suspeitar de algo – então todo o este trabalho de vários dias de uma equipa inteira foi em vão? Por vezes, acontece isso mesmo. A falha também faz parte do trabalho. Por isso agora ninguém se apressa e todos entendem tudo. Os franco-atiradores ucranianos estão esperando o momento certo em que uma das silhuetas, por um momento, ficará completamente exposta. Duas silhuetas lá em baixo – quem são eles, vieram de Moscovo, Novosibirsk, Vladivostok? Eles não provocam nenhumas emoções, nem os sentimentos. Eles são apenas um alvo sem nome que não tem nenhum lugar na terra ucraniana.

Tudo acontece casualmente e, de repente. De repente, segue um breve relatório: "1 +". Abruptamente, tudo entra em movimento. "1 +" significa que quatro dias e quatro noites, desta vez não foram em vão. Isso significa que agora mesmo a bala de 45 gramas disparada de uma distância de 1.000 metros e à uma velocidade de 850 metros por segundo atingiu uma das silhuetas.

Observadores dão a confirmação. Qualquer que seja o mercenário que calhou na mira, ele efetuava, na linha da frente, o seu próprio trabalho. O franco-atirador ucraniano fez o dele. Estamos se retirar. Os batedores escolheram para o amanha um novo ponto de tiro.

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