quinta-feira, outubro 20, 2016

Alexander Hug: “Temos visto combatentes que tinham insígnias do exército russo”

Nas vésperas da Cimeira de Berlim sobre a paz na Ucrânia, encontramos o vice-chefe da missão de observadores da OSCE, implantado no terreno. A missão tenta acalmar as tensões e recolheu amplas evidências da presença do exército russo do lado ucraniano da fronteira.


Os líderes russos, alemães, franceses e ucranianos se encontraram na quarta-feira, dia 19 em Berlim, para tentar avançar o processo de paz na Ucrânia, agora em dificuldades. Esta é a primeira vez em um ano que Vladimir Putin, Angela Merkel, François Hollande e Petró Poroshenko foram reunidos no chamado “formato de Normandia”.

Na Ucrânia, a linha de frente se estabilizou. As entidades rebeldes de Donetsk e Luhansk aguentam e sobrevivem apenas graças à Rússia. Os combates pararam, mas os confrontos localizados continuam regularmente, fazendo baixas entre militares ou civis.

No terreno foi implantada uma missão de observação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa). Conta com 700 observadores distribuídos pela Ucrânia, dos quais 600 estão no leste. São provenientes de 45 países (incluindo a Rússia). Enquanto em Paris, Alexander Hug, vice-chefe da missão, nos concedeu a entrevista na qual ele relata a fragilidade contínua do cessar-fogo.

– O presidente russo cancelou recentemente a sua visita à França. Vocês acreditam que isso representa um risco de uma maior deterioração da situação na Donbas?
– O mais importante que diálogo continua, independentemente do nível ao qual ocorre. Nossa missão fornece uma visão sobre o que está acontecendo no terreno, facilitando a comunicação. Este é um papel fundamental, pois em caso de deterioração repentina, é necessário ter alguém para tentar encontrar uma maneira de restaurar a calma. Os resultados do nosso trabalho não são, talvez, muito visíveis. Mas nós participamos na manutenção de um canal de comunicação, e isso por si só é um resultado.

– Os observadores da OSCE enfrentam muitos obstáculos no seu trabalho diário?
– Sim, nós sofremos regularmente com os obstáculos e os relatamos. Temos usado as formas diferentes [de vigilância]: as câmaras fixas, drones e patrulhas. Muitos dos nossos drones foram abatidos. Às vezes acontece que os nossos observadores sofrem ataques de intimidação, ou as nossas viaturas ficam bloqueadas nos postos de controlo.

Os combatentes presentes nos dizem que não podem nos deixar passar, pela nossa própria segurança, porque o lugar está minado. Isso também é uma violação dos acordos. Estas restrições são sempre uma maneira de nos impedir de ver algo que eles não querem, de forma, relutante, que seja visto, isto é perfeitamente claro.

No entanto, este tipo de interferências não ocorre todos os dias, nem nunca no mesmo lugar. Em todos os casos, primeiro nos reportámos os casos destes entraves ao Centro Conjunto de Controlo e Coordenação (CMCA), que é responsável para ajudar-nos. Esta organização é baseada na área sob controlo da Ucrânia. Abriga oficiais ucranianos e russos, cerca de 75 pessoas, não armados, que são trocados à cada três meses.

Quando uma das nossas patrulhas é alvejada à tiro, nós imediatamente notificamos o CMCA, que deve garantir a nossa segurança. É também este organismo tem a responsabilidade de investigar todas as violações de acordos e deve assegurar a vigência do cessar-fogo.

– Como você avalia a situação no terreno?
– A situação na área da linha da frente é muito instável e imprevisível, longe de ser apaziguada. Existem muitas áreas onde as posições entre as partes em conflito são muito próximas, distam pouco mais que cinquenta metros. Este é o caso, por exemplo, da vizinhança do aeroporto em Donetsk. A tensão é permanente e o menor incidente resulta imediatamente em tiros. Por isso, tentamos fazer recuar as forças, não apenas as armas pesadas, mas também a infantaria, de modo que essas forças não entrem em provocações constantes.

No dia 21 de setembro [de 2016], chegamos a uma decisão que, em três áreas acordadas, ambas as partes recuem fora da linha de frente, de modo a ter uma zona tampão maior. Esta retirada é eficaz em duas dessas áreas. Na terceira, a retirada não ocorreu. O objetivo é poupar os civis, que são muitas vezes as primeiras vítimas, e encorajar um retorno ao normal. Mas isso requer confiança entre as forças presentes, e um nível de segurança para, assim, garantir que o terreno evacuado não é reocupado imediatamente por uma das partes.

No setembro passado houve uma calmaria quase completa por alguns dias. Isso mostra que quando há vontade política, ambos os lados podem controlar as suas forças e conseguir um cessar-fogo total. Achamos que devem existir as retiradas semelhantes ao longo dos 500 quilómetros de linha de frente, e que isso poderá permitir uma trégua sustentável.

– No início da guerra, do lado ucraniano, existiam vários batalhões de voluntários que não estavam sob o controlo direto da liderança ucraniana. Onde estamos hoje? Todos estes batalhões foram integrados no exército?
– Sim, todas as tropas que lutam no lado ucraniano estão agora, por decreto, legalizados e trazidos sob o controlo do comando do exército. Eles estão sob controlo. Fomos capazes de fazer a verificação em setembro, durante o período de calma da qual falei. O governo ucraniano deu ordens claras. E estas são aplicadas. Esta é a prova de que todos os batalhões estão sob o comando unificado.

– Rússia garante que não está diretamente envolvida na Donbas. A missão de observação reuniu provas de uma presença directa do exército russo do lado ucraniano da fronteira?
– Nos vimos os combatentes que tinham insígnias do exército russo. Fomos capazes de entrevistar os prisioneiros que nos disseram que são membros das forças regulares russas. Nos vimos também o armamento sofisticado que o exército ucraniano não utiliza e que está disponível unicamente no exército russo. Documentamos tudo isso nos nossos relatórios.

Estes são os factos que temos visto. O nosso trabalho é precisamente este: relatar esses factos. No entanto, não nos cabe tirar as conclusões e eu não posso fazê-lo (fonte).

Blogueiro

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