quinta-feira, julho 28, 2016

A batalha de Prokhorovka: mitos soviéticos e realidade histórica

73 anos atrás, em julho de 1943, no decorrer da II G.M. começou a batalha de Kursk. O historiador alemão, coronel na reserva Karl-Heinz Frieser (1949) que durante muitos anos trabalhou no departamento da história militar do Bundeswehr é tido como um dos melhores especialistas em história da Frente leste. Ele estuda profundamente os documentos dos arquivos alemães e russos. 

A parte mais conhecida de operação «Zitadelle» foi a batalha de blindados nos arredores de Prokhorovka em 12 de julho de 1943. Será verdade que naquela batalha se enfrentaram duas “avalanche de aço”?
Há quem diga que na batalha participaram 850 blindados soviéticos e 800 tanques alemães. Aldeia de Prokhorovka, onde foram alegadamente destruídos 400 tanques da Wehrmacht, é considerada como cemitério das forças blindadas alemãs”. Mas na verdade, nesta batalha participaram 186 tanques alemães e 672 soviéticos. O Exército Vermelho perdeu 235 tanques e as tropas alemãs – apenas três!
O blindado PzKpfw IV (T-IV) alemão destruído
Como isso pode ser possível?
Os generais soviéticos fizeram tudo de errado que poderia ser feito, porque Estaline cometeu um erro nos seus cálculos, estava apressa-los no tempo-limite da operação. Assim, o ataque Kamikaze, efetuado pelo 29º Corpo de blindados do RKKA terminou em armadilha despercebida [uma vala de 4,5 metros de profundidade] feita nas vésperas pelos próprios soviéticos, atras da qual estavam os tanques alemães. Os soviéticos perderam 172 dos 219 tanques. 118 destes blindados foram completamente destruídos. Na tarde do mesmo dia, os soldados alemães rebocaram os seus tanques danificados para a reparação e explodiram todos os tanques danificados soviéticos.

A batalha de Prokhorovka terminou com a vitória das forças soviéticas ou alemães?
Tudo depende do ponto de vista. Do ponto de vista tático venceram as tropas alemãs, e para os soviéticos a batalha se transformou no inferno. De ponto de vista operacional, foi o sucesso soviético, porque o avanço alemão foi parado por um tempo. Mas, em geral, o Exército Vermelho inicialmente previa a destruição de dois Corpos blindados do inimigo. Portanto, estrategicamente este foi também o fracasso soviético, uma vez que foi planeado implantar em Prokhorovka o 5º Exército blindado da Guarda, que posteriormente teria que desempenhar um papel importante na ofensiva do verão.

O historiador britânico Richard J. Evans, na sua trilogia The Third Reich descreve a mesma batalha de seguinte maneira:

Deixando uma parte dos blindados na reserva, [o general Pavel] Rotmistrov levou 400 tanques da direção nordeste. Outros 200 tanques vieram do leste, para enfrentar cara-a-cara as tropas alemães, endurecidas nas batalhas, mas que não estavam preparados para este adversário. Aos alemães, à disposição dos quais estavam 186 veículos blindados, dos quais apenas 117 eram tanques, se destinava uma derrota inevitável e absoluta.
O blindado alemão Tiger V, junho de 1943
No entanto, se fez sentir a fadiga da marcha de três dias e, possivelmente, a vodca distribuída generosamente nestes casos (pecado habitual do Exército Vermelho). Os condutores mecânicos soviéticos não repararam na vala antitanque com a profundidade de até 4,5 m; pouco antes disso, escavada pelos seus próprios sapadores, que preparavam as fortificações por ordem de Zhukov. Os primeiros tanques T-34 caíram directamente na vala. Vendo o perigo, os blindados que os seguiam quebraram as fileiras, colidindo, em pânico, uns com os outros. Uma parte deles pegou o fogo em resultado de serem atingidos pelos obuses alemães. Até o meio-dia, os alemães relatavam os resultados: no campo de batalha ficaram 190 tanques soviéticos destruídos e abandonados. Alguns tanques continuavam a arder. Os dados pareciam tão incríveis que para a verificação no local, chegou pessoalmente o comandante alemão.

A perda de um número tão grande de tanques irritou Estaline que ameaçou julgar Rotmistrov na corte marcial. Salvando-se, o general combinou com o seu comandante, bem como com o membro do Conselho Militar da Frente, Nikita Khrushchev, que declararam que os tanques foram perdidos no decorrer da maior batalha, na qual as forças heróicas soviéticas destruíram mais de 400 tanques alemães. Estaline, ele próprio que sugeriu o uso do exército em Rotmistrov no contra-ataque foi forçado a aceitar o relatório. Em resultado, nasceu a lenda de longa duração de que a batalha em Prokhorovka foi a “maior batalha de tanques da história”. Na verdade, esta batalha representa um dos maiores desastres na história de derrotas militares. As tropas soviéticas perderam um total de 235 tanques; as tropas alemãs – 3 tanques. Apesar de tudo isso, Rotmistrov se tornou um herói, e agora no local dos acontecimentos está erguido um enorme monumento.
As mesmas conclusões são suportadas pelo historiador russo Valeri Zamulin (1968), natural da região de Prokhorovka e maior especialista russo em batalha de Kursk. No seu livro, conhecido ao leitor ocidental pelo título Demolishing the Myth: The Tank Battle at Prokhorovka, Kursk, July 1943: an Operational Narrative (2011), autor conta, baseando-se nos documentos de arquivos, de duas partes de conflito, sem omissões, nem embelezamentos, a verdade sobre aquele acontecimento histórico.
No dia 12 de julho de 1943, na parte sul do arco de Kursk, não ocorreu nenhuma “batalha frontal de tanques”, tal como era reivindicado pelos historiadores soviéticos e livros de memórias dos marechais, desde 1953, mas um ataque frontal suicida contra as defesas preparadas. Os tanques soviéticos fluíram pelo riacho estreito, o local muito mal escolhido para o ataque, contra as defesas poderosas antitanque, preparadas em profundidade (os blindados “Tigre” enterrados e canhões antiaéreos de 88 mm). Os blindados soviéticos eram aniquilados como na carreira do tiro. Os blindados que conseguiam alcançar a vala, entrando lá inteiros, eram alvejados pela artilharia de calibres menores, já na sua saída. Os blindados soviéticos tiveram na batalha de Kursk as perdas monstruosas (perdendo 5 blindados por cada blindado alemão).

Bónus
O blindado soviético T-34, capturado e usado pelo Wehrmacht
Algo parecido aconteceu na Batalha de Raseiniai (23-27 de junho de 1941) na Lituânia, à 75 km à nordeste da cidade de Kaunas. Os elementos do 4º Grupo blindado alemão, comandado pelo General Erich Hoepner entraram em combate contra o 3º Corpo mecanizado do Major General Kurkin e 12º Corpo mecanizado comandado pelo Major General Shestapolov. Os alemães tinham 245 blindados, os soviéticos 749. Em resultado da batalha os alemães destruíram 704 blindados soviéticos, aniquilando o 3º Corpo de blindados. As perdas dos alemães eram da infantaria e dos veículos da logística. Todos os blindados alemães ficaram operacionais.

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