quinta-feira, junho 09, 2016

A guerra ucraniana do soldado Brian

Brian Boehringer (as vezes grafado como Berenger), o franco-atirador da lendária 101ª Divisão Aerotransportada do Exército dos EUA e veterano da guerra no Iraque, foi um dos três cidadãos norte-americanos que celebraram o contrato oficial com o Ministério da Defesa da Ucrânia em abril de 2016.

A situação na zona de conflito no leste da Ucrânia novamente se deteriorou seriamente nas últimas semanas da primavera e nos primeiros dias de verão. Em combates novamente são usados os equipamentos pesados que deveriam ser retirados da linha de contacto, em conformidade com o acordo de Minsk-2. De acordo com relatos não confirmados oficialmente, várias vezes, os separatistas abriam o fogo usando até os sistemas de mísseis “Grad”. Os combates com uso de armas ligeiras e morteiros ocorrem diariamente em quase todas as direções – desde Donetsk até Mariupol. Os pontos mais quentes são a área industrial de Avdeevka, aldeia de Zaytsevo, a aldeia Opytne nos arredores do aeroporto de Donetsk. E a lista não é completa...

Brian Boehringer passou quase por todos estes pontos quentes, vindo à Ucrânia para realizar pessoalmente o compromisso dos Estados Unidos ao abrigo do memorando de Budapeste. Passando por algumas unidades voluntárias, em abril de 2016, ele assinou um contrato oficial com as Forças Armadas da Ucrânia (FAU). O Decreto presidencial que permite aos estrangeiros ou cidadãos apátridas servir nas FAU foi assinada pelo Petró Poroshenko ainda em novembro de 2015.
Da esquerda para a direita: Brian Boehringer, voluntário georgiano (atrás) e Craig Lang
As fotos do Brian Boehringer e do outro ex-militar americano, Craig Lang, fizeram o furor na Internet, quando eles, na companhia de voluntários georgianos e de mais um cidadão americano, Dave Claman, receberam oficialmente as cadernetas militares emitidas pelo Ministério da Defesa da Ucrânia. Ação, que poderia ser vista como campanha das RP do comando militar ucraniano é encarada diferentemente pelos voluntários americanos: eles vieram a Ucrânia para ensinar os militares ucranianos e para proteger as vidas da população civil.

Na realidade, para Brian Boehringer a guerra já acabou, na Ucrânia ele conheceu uma jovem mulher ucraniana, o casamento está nos planos de ambos: “ela disse: ou eu ou a guerra e eu escolhi ela”.

O serviço russo da rádio Liberdade conduziu uma entrevista com Brian Boehringer que pode ser ouvida AQUI (15´03´´) em tradução russa. A seguir é a sua breve transcrição em português, exclusiva do nosso blogue.
A caderneta militar ucraniana do Brian Boehringer
Brian Boehringer (28) nasceu aos 24 de setembro de 1987 na família do militar americano numa base americana na Alemanha Federal. Os seus pais e uma irmã vivem nos EUA no estado da Carolina de Norte. Todos os homens da sua família, de uma ou de outra forma, são ligados ao exército dos EUA, por isso, Brian sempre sonhava com a carreira militar. Após terminar a escola secundária ele se alistou no exército onde serviu por quatro anos. No exército, Brian passou pela infantaria, depois se tornou franco-atirador e servia como batedor na 101ª Divisão Aerotransportada.

Apesar de não ser de descendência ucraniana ou eslava, após o início da guerra russo-ucraniana, em abril de 2014, ele decidiu que deveria ajudar Ucrânia. Através de uma rede de contactos, Brian achou os responsáveis ucranianos que trataram da sua vinda à Ucrânia, onde ele ajudou na formação dos militares do DUK PS (Setor da Direita), dos batalhões “Donbas” e “Dnipro-1”, da 80ª Brigada aerotransportada e 54ª Brigada especial mecanizada das FAU.   

Brian veio à Ucrânia com a sua própria mira ótica, recebendo no país as armas bem modernas, casos de Weatherby Vanguard e Winchester Magnum, em 2016 ele usava uma Barret e SVD.
O contrato com as FAU foi celebrado apenas por dois meses, este até já expirou. O seu amigo, Craig Lang, e mais 10 cidadãos não ucranianos (georgianos, cidadãos da UE e um australiano), continuam servindo na zona de Operação Antiterrorista (OAT), em diversas unidades, formando os militares ucranianos. Acusados por propagandistas russos e separatistas de serem “mercenários”, Brian e o seu pessoal recebem o salário padrão do militar ucraniano (cerca de 150-200 dólares mensais).

Brian comenta a acusação separatista de forma muito objetiva: – se [acreditar] que eu combato pelo dinheiro, sou o mercenário pior pago desta planeta. Eu poderia ir à guerra pelo “Blackwater” (até 2009 é o nome de uma das maiores empresas militares privadas americanas, atualmente se chama “Academi”) e ganhar centenas de milhares de dólares por ano. Mas eu fui para Ucrânia e durante o 2015 combati de forma gratuita. Mesmo aconteceu neste ano, além dos últimos dois meses, quando ganhei algumas centenas de dólares. Nos Estados Unidos, eu posso ganhar mais em 24 horas num emprego de salário mínimo.
Brian e Craig no refeitório militar ucraniano com insígnias da Legião Georgiana 
Desde a independência da União Soviética, Ucrânia era um amigo e aliado dos EUA. Os seus soldados ajudavam-nos, morriam nas nossas guerras, auxiliavam-nos na guerra global contra o terrorismo. Seríamos os maus amigos, se depois de [ucranianos] nos terem ajudado, não os ajudaríamos [...] Ucrânia ajudou os Estados Unidos quando renunciou as suas armas nucleares no âmbito do Memorando de Budapeste. O mundo inteiro, e não apenas a América, disse à Ucrânia: desistem de armas nucleares, e nós vamos ajudar-vos se alguém vos atacará. Os nossos políticos falam por nós. Se eles dão uma promessa – nos também damos essa promessa. Se você não pode cumprir a promessa – não deve a dar.

RS: – A guerra na Ucrânia é a guerra civil ou a guerra da Rússia com Ucrânia? Você pessoalmente viu os soldados russos no leste da Ucrânia?
BB: – Ambas. No Donbas existem as unidades regulares do exército russo. Eles usam equipamentos de alta tecnologia e os equipamentos caros. Eles são usados durante as operações ofensivas de grande escala. Quando não se trata de uma ofensiva séria, eles passam para a retaguarda. – Vi, sim.

– Quais são as diferenças e as semelhanças entre a guerra no Iraque e na Ucrânia?
– A guerra na Ucrânia é mais parecida com a guerra convencional entre dois lados opostos do que a guerra no Iraque. Combatemos os tipos que vestem as uniformes militares. Você consegue determinar, de uma distância bastante grande, quem é o inimigo e quem não é. Ou, pelo menos, supor, com um grau razoável de certeza. Praticamente não se usam nenhuns dispositivos explosivos improvisados, mas há minas modernas. A diferença é pequena, ambas as guerras matam as pessoas, mas a guerra na Ucrânia é muito mais parecida como uma guerra tradicional.
Brian na posição do franco-atirador
– Muita gente, pelo contrário, a chama de novo tipo de guerra, a “guerra híbrida”.
– Ela é “híbrida” no sentido de que a Rússia está tentando fazer parecer que não participa nesta guerra e lá combatem apenas os “milicianos”. Em relação aos métodos diretos de guerra é muito mais convencional do que a guerra no Iraque ou no Afeganistão. [...] A guerra na Ucrânia é uma espécie de mistura de I e a II G. M. Aqui existem trincheiras, as áreas residenciais, você sabe onde está o inimigo e o inimigo sabe onde você está. Esta é uma guerra muito convencional. [...] Aqui, quase todos vestem as uniformes, embora muitas vezes diferentes, mas certamente possuem as faixas coloridas para determinar quem é amigo, e quem não é.

– Como você avaliaria o estado e a nível de preparação das partes desta guerra? Do exército ucraniano, dos militares russos e das chamadas “milícias”?
– [...] Em geral, falando das “milícias” é um pesadelo completo, embora alguns das suas unidades são melhor preparadas do que as outras. Se falamos sobre as unidades do exército russo [...] eles são muito melhor treinados, melhor equipados e combatem muito melhor do que os exércitos das ditas “dnr” e “lnr”. Até certo ponto isso é verdade para os combatentes da Ucrânia. Algumas das unidades são melhor equipadas do que outras, algumas unidades possuem mais recrutas e, nas outras a maior parte são profissionais. Mas, em geral, o lado ucraniano parece muito mais profissional do que os seus adversários.

– Que momento na guerra você se lembra mais?
– Quando combatíamos nos arredores de Mariupol, uma vez ficamos sob o fogo muito intenso. Contra o nosso jipe dispararam 8 ou 9 morteiros. Graças à Deus ninguém morreu, mas a viatura ficou completamente perfurada. Eu tenho as fotos. Milagrosamente, apenas o nosso motorista foi ferido por estilhaços no ombro.
– A guerra na Ucrânia já dura o seu terceiro ano. Quando e como, na sua opinião, essa guerra poderá acabar? Acha que a ajuda americana à Ucrânia ao nível oficial deve ser continuada e expandida?
– Na verdade, Ucrânia tem militares suficientes, e esses militares possuem bastante entusiasmo e coragem para vencer. Mas quando se trata de política, esses conflitos podem levar bastante tempo. – Quero observar que os Estados Unidos, mesmo assim, ajudar Ucrânia – no domínio do equipamento técnico do exército e de outras formas, por exemplo através do envio de instrutores para treinar os militares. É claro, é uma questão de honra para os Estados Unidos – ajudar Ucrânia e continuar a fazê-lo na medida do possível.

– Voltemos à sua noiva ucraniana. Como vocês se conheceram?
– Logo no início, no consulado ucraniano me deram os números de telefones de pessoas que me poderiam ajudar com contatos na Ucrânia. Incluindo a gente da diáspora ucraniana dos Estados Unidos – temos muitos ucranianos que recolhem a ajuda financeira enviando-a ao exército e aos batalhões voluntários. Numa destas reuniões, um ucraniano me disse: “Eu tenho a irmã na Ucrânia, você irá gostar dela”. Começamos nos comunicar on-line, depois a conheci pessoalmente, estamos indo muito bem, e em breve vamo-nos se casar. Quando o meu contrato terminou, ela disse: “Tudo bem, agora ou sou eu, ou a guerra”. Eu escolhi ela. Por enquanto estamos na Ucrânia, mas eu espero que iremo-nos mudar. A sua família vive na mesma cidade que a minha. Assim, o casamento, certamente será celebrado nos Estados Unidos.
Agora Brian Boehringer reúne os documentos necessários para pedir o visto à sua futura esposa e pensa, onde irá passar a sua lua-de-mel. Se não fosse a guerra russo-ucraniana, este lugar poderia ser até na Rússia: “Ei gostaria muito de subir o monte Elbrus e pescar na península de Kamchatka, um dos últimos lugares no mundo, intocados pelo homem” (fonte @rádio Svoboda).

Blogueiro: a propaganda anti-ucraniana tentou usar do facto de três (!) cidadãos americanos assinarem os contratos oficiais com as FAU como um grande factóide que supostamente deveria provar a suposta aliança malévola entre Ucrânia e os EUA. Todos aqueles que têm a memória curta e juízo curto, deveriam se lembrar da placa que nos meados de maio de 2016 foi oficialmente inaugurada no espaço público do mosteiro de São Trindade da Igreja Ortodoxa Russa (IOR) em Moscovo. A placa, apenas e só, menciona os nomes dos 39 cidadãos da federação russa que vieram ilegalmente à Ucrânia para matar os ucranianos. Por azar deles, foram eliminados pelas forças ucranianas, em um único combate à decorrer em 26 de maio de 2014, pelo controlo do novo terminal do aeroporto de Donetsk.   

2 comentários:

Anónimo disse...

Por que só americano casa com ucraniana, NUNCA o contrário?

Jest nas Wielu disse...

Por várias razões: 1) nunca não é verdade, as vezes acontece; 2) a sociedade mundial atual é machista e ai os homens é que viajam, lutam nas guerras, se casam, etc. 3) as mulheres americanas/ocidentais são demasiadamente independentes, pós-modernas, os homens ucranianos não as apreciam; 4) as mulheres ucranianas são menos modernas e mais tradicionais (por bem e por mal) por isso são esposas desejadas pelos homens ocidentais, 5) etc, etc, etc.