segunda-feira, fevereiro 29, 2016

BarBaran entre os 100 melhores do Brasil

O curitibano BarBaran, também conhecido como cantinho da Ucrânia no Brasil, foi eleito ‪em 2016 pela #‎YelpTop100 como um dos 100 Melhores Lugares para Comer no Brasil. O bar ucraniano-brasileiro está na honrosa 23ª posição.
A lista contempla grandes nomes da gastronomia brasileira, locais consagrados em São Paulo, Rio de Janeiro ou Curitiba, entre outros, e BarBaran está ao lado dos melhores. É uma grande vitória e o reconhecimento do trabalho excepcional do simpático casal Igor Mazepa Baran e Denise dos Santos.
Um dos atrativos do bar é o ambiente muito descontraído, preços democráticos e alguns pratos típicos da cozinha ucraniano-brasileira: varenyky (pastel cozido ucraniano), cracóvia e a linguiça de Prudentópolis e a boa cerveja brasileira e internacional.
Mas sem dúvida, a especialidade da casa é a carne de onça (com a total permissão do IBAMA, pois claro!), o bife à tártara, composto pela carne fresca moída de altíssima qualidade, cebola picada, alho francês, broa, raiz forte, tudo isso acompanhado com o “traumatismo ucraniano”, a deliciosa horilka caseira, produzida pelos donos do estabelecimento graças à uma receita secreta bem guardada. A prova empírica apenas permite concluir que a bebida das bolinhas maravilhosas leva mel e malagueta e bebe-se às mil maravilhar, assemelhando-se à verdadeira água benta, como certamente diriam na Ucrânia.
É um local definitivamente in, aconselhamos curtir, compartilhar, apreciar, beber e se divertir no BarBaran. Essa conquista é de todos!
LocalizaçãoBarBaran (rua Augusto Stelfeld, 795, Curitiba, Paraná, Brasil), + 55 (41) 3322-2912; + 55(41)3322-2912; de terça à sexta-feira, das 16h00 à 1h00 hora (quarta até meia-noite). Sábados, das 11h00 às 20h00 horas. Domingos, das 16h00 às 21h00 horas. Entrada é franca. Agendamento de visitas ao museu da sede da Sociedade Ucraniana do Brasil no Paraná, fundada em 1922 (no edifício onde funciona o BarBaran): + 55 (41) 3224-5597; + 55 (41) 3224-5597.
Confira a lista completa dos 100 melhores aqui.

domingo, fevereiro 28, 2016

Marcha “2 anos da agressão russa” decorreu em Lisboa

Cerca de 200 ucranianos manifestaram-se neste domingo em Lisboa contra a guerra russa na Ucrânia. Na marcha lenta, que partiu do Terreiro do Paço com destino ao Largo de Camões, esteve presente a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Sra. Inna Ohnivets. A iniciativa fez parte de um movimento pan-europeu, que reuniu os milhares de ucranianos em várias cidades europeias à apelar ao fim da guerra que começou há já dois anos.
Em Portugal também foi entregue a carta ao presidente da Assembleia da República para pedir ao Governo português continuar a vigência de sanções económicas e políticas contra o país agressor, a federação russa, como deixou bem claro Pavló Sadokha, o líder da Associação de Ucranianos em Portugal (www.spilka.pt).
As principais mensagens que os ucranianos residentes em Portugal queriam fazer chegar à sociedade portuguesa eram simples e diretas: Rússia é um país agressor; Crimeia é Ucrânia; na Ucrânia decorre a guerra russa contra Ucrânia e não a guerra civil; o Mundo deve parar a agressão do Putin!
Durante a ação foi exibida a exposição fotográfica “Guerra pela Paz”, que retratava a vida dos voluntários da companhia de assalto “Karpatska Sich”, pertencentes à 93ª Brigada especial motorizada das Forças Armadas da Ucrânia (FAU).
Os ucranianos e amigos da Ucrânia presentes empunhavam as bandeiras da Ucrânia, dos tártaros da Crimeia, seguravam o retrato do político democrata russo Boris Nemtsov, assassinado um ano atrás nos arredores do Kremlin na cidade de Moscovo. Como o acompanhamento musical durante a ação os presentes ouviram a composição “1944” da cantora ucraniana Jamala, que irá representar Ucrânia no concurso Eurovisão-2016 (fonte e fotos; fonte 2).
A ação foi organizada pela Associação “Centro cultural e social luso-ucraniano” e pela Associação de Ucranianos em Portugal (www.spilka.pt).
Bónus
No dia 27 de fevereiro os militares da FAU retiraram da localidade de Shyrokyne, o BTR-3, danificado mais de um ano atrás e deixado lá pelo regimento “Azov”, no decorrer dos combates pelo controlo da vila. Recentemente, Shyrokyne novamente passou ao controlo da Ucrânia e assim a viatura foi recuperada pelas forças ucranianas. Os terroristas russos minaram a viatura, mas engenhos explosivos foram neutralizados pelos sapadores ucranianos. Devido a sua inatividade por mais de um ano, o blindado passará pelo restauro e recuperação que poderão demorar por cerca de um mês (fonte e fotos). 

Os perfis dos sabotadores russos liquidados em Mariupol

No dia 21 de fevereiro de 2016, a página da Direcção Geral de Inteligência (GUR) do Ministério da Defesa da Ucrânia informou sobre a liquidação, nos arredores de Mariupol, de um grupo russo de sabotagem e de reconhecimento. De acordo com a secreta militar ucraniana, foram liquidados três e feridos outros cinco militares russos. O informe cita os nomes dos mortos: o sargento das forças armadas russas Leonid Nikitin (nascido em 24/09/1995 em Arkhangelsk), os soldados Igor Sidorov e Vasily Petrachenkov. A comunidade voluntária internacional InforNapalm decidiu efetuar a verificação operativa dos dados, apresentando a confirmação da existência real destes militares.

Um dos primeiros foi achado o perfil do sargento Leonid Nikitin. Abaixo publicamos o arquivo do seu perfil e as fotos. É emblemático, que no seu perfil aparece a foto com uma nota ameaçadora que se refere à cidade de Mariupol [Mariupol, nós não te esquecemos, estaremos em breve]. Nas suas diversas fotos Nikitin está pousando com os terroristas das formações armadas ilegais da dita “dnr”.
Uma das últimas fotos do Nikitin, colocada no seu perfil em 16/2/2016
Arquivos:
1) https://archive.is/RYuF5 (arquivo do perfil salvo); https://archive.is/MECSy (fotos, com nome mudado); https://archive.is/seBwF (amigos);
2) https://archive.is/CSg0Z (arquivo do perfil salvo); https://archive.is/LjeNv (fotos);  https://archive.is/dLPaA (amigos);
3) https://archive.is/348ZZ (arquivo do perfil salvo); https://archive.is/wQsrq (fotos); https://archive.is/5RJW1 (amigos).

O nome do segundo terrorista apresenta alguma confusão. O mais provável que ele não se chama Vasily Petrachenkov, mas Aleksandr Viktorovich Petrachenko, que até apresentou no seu perfil numa das redes sociais a carta de agradecimento pelo “valor militar, coragem e bravura”, emitida pelo bando terrorista “batalhão Cheburashka”.

Arquivos:
https://archive.is/YgnNO (arquivo do perfil salvo); https://archive.is/4wlRY (fotos); https://archive.is/diQPv (amigos).

De momento, devido à grande prevalência do apelido / sobrenome russo “Sidorov”, as buscas pelo terceiro terrorista morto continuam.

Como a confirmação indireta da veracidade da informação revelada pela secreta militar da Ucrânia, se pode considerar a postagem lembramos e lamentamos, colocada numa das redes sociais, presumivelmente por um dos seus comparsas, que escreve sob o nome fictício de “Aleksandr Sumrakov”.

Infelizmente, até agora não foi possível encontrar mais informações sobre os mercenários mortos. Possivelmente, os serviços especiais ucranianos irão divulgar estes dados mais tarde, conjuntamente com alguma informação mais específica, como, por exemplo, os números ou nomes de unidades militares aos quais pertenciam os sabotadores russos, ora liquidados.

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sábado, fevereiro 27, 2016

Adeus, Lenine! – versão ucraniana

Após aprovação da lei de descomunização, Ucrânia se distancia do passado soviético rebatizando nomes de ruas e cidades que vigoraram no país por quase um século.
Quem viaja hoje à Ucrânia deve estar preparado para ficar confuso. Por exemplo, a cidade sulista de Illichivsk, que abriga o terceiro maior porto do país, não existe mais – ela se chama Chornomorsk, que pode ser traduzido como “a cidade no Mar Negro”. O velho nome, que remetia ao patronímico do líder soviético Vladimir Ilych Lenine, virou história. A Ucrânia está rapidamente se livrando do seu passado soviético rebatizando os nomes de ruas e cidades que vigoraram no país por quase um século.
A razão é a chamada lei da descomunização, aprovada pelo Parlamento em abril de 2015. Ela equipara o regime comunista ao nazista e determina a proibição da “promoção dos seus símbolos”. Não só estatuas de Lenine ou obras como a imagem da foice e do martelo estão desaparecendo: cidades inteiras, ruas e praças também estão sendo rebatizadas.
Uma das estações do metro de Kyiv
Algo similar ocorreu nos novos estados da Alemanha após a queda do Muro de Berlim. Por exemplo, Karl Marx Stadt (Cidade de Karl Marx) recuperou o seu velho nome, Chemnitz. A iniciativa ucraniana, no entanto, é bem mais abrangente. Desde que se tornou independente da União Soviética, em 1991, a Ucrânia não havia se debruçado muito na tarefa de mudar seus topônimos, o termo geográfico usado para designações.
De acordo com o Instituto Ucraniano da Memória Nacional, mais de 900 localidades devem ser rebatizadas. Até o momento, o Parlamento rebatizou apenas uma fração – pouco mais de 150 cidades e municípios. Embora o prazo fixado para as mudanças tenha terminado em 22 de fevereiro, a expectativa é que o processo dure pelo menos até maio.
Estátua do Lenine é derrubada na Ucrânia em 2014
Um número expressivo de cidades, vilarejos e estações de metro que evocavam lembranças da revolução que derrubou o Império Russo em 1917, assim como os antigos heróis da Rússia soviética, já desapareceu dos mapas. Novos nomes neutros, como Rua dos Carvalhos, Avenida do Inverno ou Praça da Rosa são especialmente populares. No entanto, eventos recentes também estão deixando suas marcas. Várias ruas ganharam designações com os nomes de pessoas que morreram nos protestos da praça Maidan, em Kyiv, dois anos atrás, ou que perderam a vida em combates contra os separatistas pró-Rússia do leste da Ucrânia.
No último outono, causou agitação a intenção de renomear a avenida Povitroflotski como Boris Nemtsov, o político oposicionista russo assassinado em Moscou em fevereiro de 2015. O prefeito de Kiev e ex-campeão de boxe, Vitali Klitschko, apoia a iniciativa. Ainda não está claro se isso vai mesmo ocorrer. Curiosamente, a avenida Povitroflotski é o endereço da embaixada russa.

O processo de mudança ocorre de maneira diferente em cada região da Ucrânia. Na parte ocidental do país, onde poucos lugares tinham nomes comunistas, o processo já foi completado. A área de Ivano-Frankivsk é considerada a precursora do processo na região. De maneira surpreendente, também ocorreram iniciativas súbitas no leste da Ucrânia, que é muito mais marcada pelo passado soviético. Lá, a cidade de Artemivsk foi renomeada Bakhmut em setembro de 2015, em alusão a um rio de mesmo nome que fica na região.

Nomes problemáticos

Duas capitais regionais são consideradas casos problemáticos: Kirovohrad e Dnipropetrovsk. Kirovohrad recebeu o nome em homenagem ao líder revolucionário soviético Sergei Kirov, que foi assassinado em 1939. A cidade apresentou sete sugestões de novos nomes no final de 2015. O comitê parlamentar responsável por analisar o assunto escolheu Inhulsk, mesmo nome do rio que corta a cidade. Mas as autoridades municipais não gostaram da escolha e pediram que a decisão fosse adiada. O pedido atendeu o desejo dos habitantes da cidade. A maioria deles prefere que o nome original da cidade seja recuperado. Em uma pesquisa de opinião divulgada em outubro de 2015, a maioria favoreceu o retorno do nome Yelisavetgrad (Elisabethgrad), como a cidade era conhecida no tempo do império russo. Como se pode imaginar, Kyiv não está muito disposta a trocar um nome soviético por um russo após o início de mais um conflito com o país vizinho, desta vez por causa a anexação da Criméia.
Até hoje, Dnipropetrovsk, a quarta maior cidade da Ucrânia, ainda conserva o nome do oficial soviético Grigory Petrovsky. Neste caso, o retorno do nome ao nome original, Ekaterinoslav, que pode ser traduzido literalmente como “a glória de Catarina”, em referência à imperatriz [russa] Catarina (1729-1796), também provoca dificuldades políticas. O comitê parlamentar sugeriu “Dnipro”, o nome do maior rio da Ucrânia, que cruza essa metrópole industrial.

O adeus aos nomes soviéticos encontra resistência, sobretudo, entre os habitantes mais velhos e as pessoas do leste e do sul da Ucrânia, que simpatizam com a Rússia. Muitos não querem que os nomes mudem porque eles cresceram com essas designações e têm memórias associadas a elas. [...] Em uma conversa com a DW, o especialista em história da Alemanha Oriental, Karl Schlögel afirmou ser favorável a iniciativas como essa, mas advertiu que a mudança de nomes não pode ser imposta às pessoas que moram nos locais. “É preciso confiar nas comunidades e ouvir as suas ideias”, afirma. [fonte]

Blogueiro: podemos ficar absolutamente enganados, mas historicamente, não nós lembramos de nenhuma auscultação popular na Alemanha pós-II G.M., na questão de mudanças dos nomes nazis; nenhuma consulta popular na Itália pós-Mussolini ou em Portugal pós-25 de abril. Será que existem alguns monstros mais simpáticos que outros? Ou alguém se acha que os crimes comunistas foram mais “humanos” e “progressistas” do que os crimes nazis?

Bónus
O pintor e artista plástico ucraniano, Oleksandr Roytburd, tem a proposta criativa de novos usos que podem ser dados aos mais que demais monumentos do Lenine e outros líderes soviéticos, espalhados por essa Ucrânia fora. Garante que não é nada caro (o monumento original fica, por agora, na cidade ucraniana de Zaporizhia).

Bónus II 
Marcha da oposição democrática russa para recordar o assassinato do Boris Nemtsov. Moscovo, 27/2/2016
No primeiro plano, o advogado Mark Feygin (defende a piloto ucraniana Nadia Savchenko) e a sua irmã, Vira Savchenko.
Ler o artigo do Newsweek “How Putin tried and failed to crush dissent in Russia” (Como Putin tentou e falhou em esmagar os dissidentes na Rússia), original em inglês:

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Os dados pessoais da força aérea russa na Síria. Info ao Tribunal de Haia

A comunidade internacional de voluntários InformNapalm preparou a compilação de informação sobre os oficiais – pilotos e navegadores da força aérea russa que podem ser implicados na morte de mais de 1.380 civis, incluindo 332 crianças, vítimas de ataques aéreos russos, desde o início da operação aérea de Moscovo na Síria.

Durante a investigação aprofundada e de recolha de informações, achados no domínio público (a análise de vídeos de propaganda russa e as publicações nos meios de comunicação russos), os voluntários da InformNapalm identificaram 32 oficiais que fazem parte de tripulações de 20 aeronaves da força aérea russa, vistos na Síria durante a execução de missões de combate.

A publicação de dados pessoais dos oficiais russos é uma resposta aos atos terroristas e de ocupação russa na Síria e na Ucrânia. Nenhum crime da guerra deve ficar impune (para aumentar a imagem faça um click nela).
A infografia inclui os dados recolhidos na base na investigação levada à cabo pela comunidade de investigações OSINT, InformNapalm: 
Su-24M, número de bordo 04 “branco”, número do registo RF-90943
Su-24M, número de bordo 05 “branco”, número de registo RF-90942
Su-24M, número de bordo 16 “branco”, número de registo RF-93812
Su-24M, número de bordo 26 “branco”, número de registo RF-90932
Su-24M, número de fábrica 0715323
Su-30SM, número de bordo 27 “vermelho”, número de registo RF-93686
Su-24M2, número de bordo 72 “branco”, número de registo RF-95103
Su-24M2, número de bordo 74 “branco”, número de registo RF-95105
Su-24SM, número de bordo 22 “vermelho”
Su-24SM, número de bordo 26 “vermelho”, número de registo RF-91956
Tu-160 “Valeriy Chkalov”, número de registo RF-94110
Tu-160 “Aleksander Golovanov”, número de registo RF-94104
Tu-95MS, “Vorkuta”(RF-94127), “İzborsk” (RF-94117), “Krasnoyarsk” (RF-94123)
An-124
Tu-22M3, número de bordo 24 “vermelho” e 42 “vermelho”
IL-20 de vigilância radioeletrónica da força aérea russa

Se você gosta do que estamos fazendo, então você pode apoiar a página da comunidade InformNapalm financeiramente em Crowdfunding. Todo o dinheiro recebido será usado para melhorar o projeto. Juntos, venceremos!

domingo, fevereiro 21, 2016

O capacete azul

Um homem robusto, na casa dos cinquenta, com a face absolutamente pálida e olhos vermelhos, fixadas num único ponto, estava sentado de joelhos, junto ao corpo coberto com o lençol ensanguentado, incapaz de levantá-lo.
por: Sergei Loiko, fotógrafo e jornalista  

Ele vestia a jaqueta de inverno da polícia, de cor azul-escura, sem as insígnias, com uma gola de pele. O seu cabelo, cortado muito rente, ainda não tinha fios grisalhos.

Finalmente, ele levantou a ponta do lençol, imediatamente reconheceu o seu filho, e, novamente, cobriu o seu rosto. Depois virou o seu olhar ao lado, onde estavam estendidos mais onze corpos, também cobertos com os lençóis manchados de sangue. Em alguns lençóis, ao nível das faces, estavam colocados uns papelinhos, nos quais algo era escrito com um marcador vermelho.

No meio deste vermelho todo havia uma grande mancha azul – o capacete militar, pintado de azul. Por dentro e por fora o capacete fora manchado de sangue, e do lado esquerdo, ao nível do templo, era visível marcadamente um buraco, resultante da perfuração de bala.

Ustym Holodnyuk, de 19 anos, estudante da cidade de Zbarazh da região de Ternopil no oeste da Ucrânia, deveria se encontrar com o seu pai, às 11h00 de manha na rua Zhovtneva. Eles combinaram isso às 9h00.

Ustym foi um dos defensores da Maydan, desde o novembro [de 2014]. Eles combinaram com o pai, que este o levará à casa para descansar. As próximas duas horas, até o encontro com o pai, Ustyn não sobreviveu.

“Eu lhe disse: “Fique lá com cuidado, não arriscas, temos que ir para casa”, conta o pai. “Ele se riu e respondeu: “Pai, não se preocupe! Eu tenho um capacete mágico da ONU, e nada me vai acontecer”. – Estas eram as últimas palavras que ouvi dele”.

Volodymyr, o pai do Ustym levanta o seu capacete no chão e olha longamente para o sangue ainda fresco de seu filho, dentro e fora do capacete, o leva até ao rosto, como se estivesse tentando ouvir o cheiro e o calor de seu filho, tentando dizer algo, mas as suas palavras se cortam nas palavras “o capacete azul”, ele cai sobre uma cadeira, abaixa a cabeça e os enormes ombros estremecem.

Ex-policia, que toda a sua vida serviu fielmente ao seu país, ele está tentando abafar o ataque súbito, que desconhecia até agora. Ele quase consegue...

Ustym, tal como outros onze, deitados agora ao seu lado na recepção do hotel “Ucrânia”, [em Kyiv], transformado em um necrotério temporário, não tinham as chances de sobreviver, diz a médica-chefe da clínica móvel da autodefesa da Maydan, Olha Bogomolets.

“O franco-atirador ou franco-atiradores trabalharam profissionalmente”, diz ela. –“Todos os ferimentos foram no coração ou na cabeça. Todos morreram atingidos por balas de calibre 7,62 mm [a carabina de precisão Dragunov – SVD]. Atiraram para matar”.

Como cidadão, o pai apoiava Ustym no seu desejo de estar na Maydan, conta Volodymyr. Como o pai, estava se opondo.
“Eu não sei se Yanukovych deveria ficar na minha frente de joelhos, mas eu sei certamente que ele tem que se sentar na frente de um tribunal internacional por aquilo que ele fez com o meu país e com o meu filho”, diz o pai.
https://en.wikipedia.org/wiki/Ustym_Holodnyuk
 

sábado, fevereiro 20, 2016

Os crimes russos da guerra no leste da Ucrânia (2)

O militar ucraniano preso pelos terroristas e assassinado no aeroporto de Donetsk (com as mãos atadas atrás das costas)
A deputada do parlamento polaco, Małgorzata Gosiewska (partido PiS), apresentou publicamente o relatório dedicado aos crimes da guerra russos, cometidos no leste da Ucrânia contra os civis e militares ucranianos. O jornalista polaco Wojciech Pięczak do jornal “Tygodnik Powszechny” conversou sobre a investigação com Adam Nowak (pseudónimo), o investigador do grupo, ex-oficial do Bureau Central de Investigação (CBS) da Polónia.

por: Wojciech Pięczak (2ª parte, versão curta, +16)

— Quais os encontros com as vítimas eram mais difíceis?
— Após as conversas com as mulheres que foram torturadas me surgiu o pensamento que, se eu encontrar o criminoso, estaria pronto para matá-lo. Mas tentei manter o distanciamento, para que todo o procedimento decorrer de forma profissional. É impossível trabalhar sem o distanciamento. Mas é difícil, quando estas a ouvir de uma testemunha que numa qualquer cela de tortura ele tinha visto uma mulher grávida. Nós não sabemos quem ela era, e se ela sobreviveu.

— O que contavam as mulheres? Quem eles eram?
— Eles eram vítimas de torturas brutais, que incluía a corte das partes do corpo. Eles foram submetidos aos espancamentos terríveis, humilhação, na sua frente eram assassinados os seus amigos. Eram as mulheres e moças normais. Por exemplo, as voluntárias, que levavam os mantimentos [às forças ucranianas] e caíram no cativeiro. Mas era possível estar no cativeiro [terrorista] não apenas por causa das atividades políticas. Nas cadeias de Donbas também se encontravam os moradores normais, apenas porque possuíam alguns bens, uma casa bonita, um belo carro. No início, nos territórios ocupados os russos simplesmente armavam os criminosos locais, a escória da sociedade. Eles lhes deram as armas e disseram: agora vocês são a polícia aqui, deve haver a ordem. E estes separatistas escolhiam as vítimas entre os moradores locais e os mantinham nas caves, até que estes lhes passavam a sua casa ou os bens. Oficialmente, claro, isso parecia como a venda. As vezes, se alguém resistia bastante, era assassinado.

— Será possível, na base dos dados disponíveis, dizer qual foi a natureza dos crimes russos: esporádica ou sistémica?
— Certamente sistémica. Em Donbas ocupada não havia lugares, onde eram mantidos os prisioneiros ucranianos, militares e civis, em que não eram cometidos os crimes de guerra. Ou, dito de outra forma: havia muito poucos lugares onde eram mantidos os prisioneiros de guerra e civis, mas onde não havia assassinatos, tortura, etc. Em depoimentos recolhidos por nós há apenas um desses lugares – Ilovaysk. Os prisioneiros ucranianos, na sua maioria os homens do batalhão “Donbas” contaram que, num primeiro momento, capturados, eles passaram pelo inferno de Donetsk, mas depois, em Ilovaysk, foram bem tratados. O comandante separatista local disse lhes: “aqui ninguém vós toca, vocês são prisioneiros”. E confessou que agiu assim porque antes os seus homens foram capturados pelo batalhão “Donbas”, e foram bem tratados.
O cidadão e terrorista russo Igor Girkin "Strelkov" em Donetsk, 27/7/2014
— Será que entre os criminosos identificados está presente Igor Girkin (pseudónimo “Strelkov”), o coronel russo, que, como ele mesmo se gabou nas entrevistas, começou a guerra na Donbas, e alguns meses era o ministro da defesa [dos terroristas] em Sloviansk e Donetsk?
— Sim, a sua actividade está bem documentada. À ele podem ser atribuídos os crimes enumerados no Estatuto de Roma, a base legal em que opera o Tribunal Penal Internacional. Em primeiro lugar, Girkin como o comandante é responsável pelos atos dos seus subordinados e por tolerar a prática de crimes. Em segundo lugar, em Sloviansk ele tinha a sua sede no antigo edifício do Serviço de Segurança Ucraniano (SBU). Agora Sloviansk está novamente sob controlo da Ucrânia, nós visitamos aquele edifício. A sala do Girkin estava exatamente acima da cave, onde os prisioneiros eram torturados. A cidade tinha pelo menos dois locais de tortura: no edifício da SBU e na polícia. No segundo lugar as pessoas também eram fuziladas, condenadas à morte, por assim chamado tribunal militar de Sloviansk. Girkin participava nas reuniões deste pseudo-tribunal, a sua assinatura está nas sentenças de morte. Sabemos que os veredictos eram emitidos à noite, e eram feitos pelas “troikas”, como eram chamadas pelos russos.

— Isso é uma referência aos tribunais especiais do NKVD, que emitiam as sentenças, nomeadamente, aos oficiais [polacos] em Katyn?
— Sim, a direta. Eles adoram os nomes da União Soviética antiga, da era estalinista. Eles chamavam os seus tribunais de “troikas”, o seu serviço de contra-espionagem era chamado de NKVD, etc. E mais um detalhe curioso, que mostra a mentalidade dessas pessoas: numa ata da “troika”, assinada, entre outros pelo Girkin, da reunião que teve o lugar em 24 de maio de 2014 e onde foram condenados à morte duas pessoas, diz-se que o veredicto é baseado no ... Decreto do Presídio do Conselho Supremo da URSS de 22 de junho de 1941. Isso seria engraçado, se essas pessoas realmente não fossem assassinadas.

— Quantas pessoas foram sentenciadas pelas «troikas» de Girkin?
— Não sabemos. Após a libertação de Sloviansk, lá foram encontradas as valas comuns, mas certamente nem todas. No entanto, para fuzilar uma pessoa não eram necessárias nenhumas “sentenças”. Os depoimentos mostram que as execuções eram os atos quotidianos. Disparavam na nuca.

— E outros líderes das ditas repúblicas populares — de Donetsk e de Luhansk?
— O “chefe” da república de Donersk, Zakharchenko e o seu antecessor, [Alexander] Boroday, tal como outros líderes: todos eles são culpados de crimes de guerra. Ou, como comandantes ou como aqueles que estavam diretamente presentes nos locais de cometimento de crimes. Eles até não escondiam isso, e se fotografavam com os prisioneiros mortos, como, por exemplo, Zakharchenko. Temos um depoimento sobre Boroday, pessoa ligada ao Kremlin, que foi enviado à Donetsk de Moscovo. Os oficiais do GRU que torturavam uma das vítimas com qual falamos, o tratavam como chefe. Nós temos um caso documentado em que ele estava tentando obter o resgate de um milhão de dólares pela vida de um prisioneiro. Era um prisioneiro especial, que, como supomos, provavelmente pretendiam levar à Rússia e julgar lá juntamente com [piloto] Nadia Savchenko. Mas os carrascos de Donetsk o mutilaram bastante e Boroday, de acordo com o depoimento, disse-lhes que eles foram longe demais e “essa pilha de carne” agora não servia. Quando ele viu que não haverá o pagamento de resgate, ordenou a execução do prisioneiro. Este só sobreviveu porque no caminho à sua execução, no cemitério, ele foi “pego” por um outro grupo.

— Outro grupo?
— Lá as coisas funcionam assim. O prisioneiro foi levado por um grupo [terrorista] rival, que o trocou por alguém de quem eles precisavam, mas que se encontrava numa cadeia ucraniana. Quando eu recolhia os depoimentos, tinha a impressão que do outro lado não está um pseudo-estado separatista ou russo, mas bandos criminosos. Eles competiam nos saques, arrancavam uns aos outros os prisioneiros valiosos, pelos quais poderiam pedir o resgate...

— Porque vocês, polacos, se dedicam à isso?
— Para que tudo isto não morra de causas naturais, de modo que o mundo não deixe isso esquecido, para que o mundo saiba.

— Este motivo aparecia nas palavras das vítimas: para que o mundo saiba?
— Às vezes eu via nos olhos das pessoas com quem falávamos, a esperança (que imponha, diria eu, uma grande obrigação moral) que alguém, ainda mais os estrangeiros estão interessados nisso, então isso terá algum efeito.

— E assim será?
— Se o caso subir à tribunal de Haia, este poderá decretar a procura dos criminosos, poderia enviar os seus próprios investigadores. Ucrânia não assinou o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, mas o parlamento ucraniano decidiu que tudo o que aconteceu depois do início da guerra, passa para a jurisdição de Haia. Espero que, mesmo que essas pessoas não pudessem ser levados à justiça, porque a Rússia não vai os entregar, pelo menos eles vão sentir o medo. E se reduzirá a escala de crimes. Afinal, nada disso acabou, tudo continua. Estamos em contato com as pessoas que estão envolvidas na troca de prisioneiros, eles regularmente telefonam para nós. Dois dias atrás, recebi as informações sobre um homem que foi libertado do cativeiro russo, passando lá um ano. Dizem que ele esta em um estado terrível. Mas ele quer falar...

Ler a entrevista integral:
Ler o relatório completo (em inglês, francês e polaco): http://www.donbasswarcrimes.org/report
O grupo investigativo na rede Facebook: https://www.facebook.com/RosyjskieZbrodnieNaUkrainie

2º aniversário da Revolução ucraniana: os heróis da Maydan

Não fazem de mim uma pessoa heróica. Tinha medo no dia 20 de fevereiro de 2014. Tinha medo quando disparavam, quando a janela em cima de mim se quebrou do disparo, quando as colunas do palácio Zhovtneviy eram atingidas pelas balas, perdendo a estrutura e a pintura, quando a sangue da cabeça de um rapazinho saia pulsando. Quando tentávamos o reanimar durante 5 minutos, compreendendo que nada conseguimos fazer-lo...
por: Irina Soloshenko, paramédica da Maydan

Tinha medo quando gritavam pelo desfibrilador e eu corria para busca-lo e Oleksandr Prudko me apanhou pela mão e gritou: não é preciso, metade de cabeça se foi, já não o salvaremos. Tinha medo quando via Ivan Zholoban à ultrapassar a rua Instytutska, passando para a parte mais atingida pelos franco-atiradores, juntamente com Yevhen, o médico clandestino.
Fiquei com o medo quando vi o filme documental com a filmagem cronometrada que mostrava quando e onde o que acontecia. Fiquei com o medo pois pensei que os meus filhos dificilmente vão ficar bem no caso da minha morte. Fiquei com o medo pela memória curta das pessoas, eu vi como mudam as pessoas, mas encontrei as pessoas de verdade e fico feliz por eles.
Escrevi isso na noite de 20 à 21 de fevereiro de 2014. Quase não dormi naqueles dias. Estava a tremer, quando me limpava do sangue dos outros, fumo e sujidade, que penetraram nas mãos, eu deitei fora jeans e sapatos, coloquei o filho à dormir e uivava por dentro da minha almofada, não tinha forças para chorar...
- alguém entende do soro?
- eu, podem me passar
- façam
- quem o levará?
- nós podemos...
As macas militares são bem pesadas, um senhor e eu com um paramédico corremos (minha nossa), eu não consigo, vou cair agora, pessoal, ajudem, pego o sorro
- com cuidado, as escadas são escorregadias...
Em frente fica a viatura das emergências, um jovem enfermeiro assustado olha para mim:
- o que?
- é ligeiro...
- os ligeiros os levem ao mosteiro de Mikhaylovski
- que ligeiro, car@lho: perfuração dupla do pulmão, abre lá
Corremos, conseguimos, está salvo.
Ler texto integral (em russo), ver as fotos:
https://www.youtube.com/watch?v=GE9G_LWcviU