sexta-feira, dezembro 18, 2015

Cândida Ventura: a dirigente do PCP que morreu anticomunista

Partiu aos 97 anos, a 16 de dezembro de 2015. [...] Acreditou no comunismo, viveu-o, e por isso morreu anticomunista.

por: José Manuel Fernandes (a versão curta)
Cândida Ventura à beira do Tejo, década 1940
Primeira mulher a entrar, depois de 1940, para a direcção do PCP (Partido Comunista Português), a sua ruptura com o comunismo começou e acabou em Praga. [...] É esse texto que agora recupero, para que se possa recordar quem era Cândida Ventura, uma mulher que viveu 18 anos na clandestinidade, foi e presa e torturada ao ponto de a terem feito perder o filho que estava a gerar, conheceu como poucos o modo de funcionamento dos partidos e dos regimes comunistas e, depois, viveu tempo suficiente para contar e denunciar (“O "Socialismo" Que Eu Vivi. Testemunho de uma ex-dirigente do PCP” (1984), reeditado em 2012 pela Bizâncio, ISBN: 9789725305003, preço: 8,55€, disponível).
Já segui para Moscovo com dúvidas [...] Depois, em Sochi, a estância para onde iam os quadros dos partidos amigos, encontrei um casal de médicos e [...] quando consegui ter um momento para lhes falar a sós, disse-me que era um dos médicos do processo dos ‘batas brancas’ [O caso dos médicos assassinos]. O meu choque foi tão brutal que, quando voltei a Praga, disse ao José Gregório que ia deixar o partido. Ele pediu-me para ter calma. Convenceu-me de que as coisas não iriam continuar como estavam.
Cândida Ventura em Praga, junto à placa memorial dos estudantes checoslovacos: Jan Palach e Jan Zajic
que se imolaram em janeiro e fevereiro de 1969, protestando contra a ocupação militar do seu país. 
Recordando um encontro com Dubček após o esmagamento da Primavera de Praga:
Olhámo-nos, ele aproximou-se e, discretamente, levantou o chapéu para me deixar ver os sinais das feridas que lhe tinham deixado os 'tratamentos' sofridos em Moscovo. Abraçámo-nos sem trocar uma só palavra. Não era preciso.
A ilusão de que o comunismo era reformável, que o estalinismo fora um passo em falso, um erro que ainda podia ser corrigido, (...) essa ilusão foi esmagada pelos tanques a 21 de Agosto de 1968 e nunca se recompôs.
Tony Judt, em Pós-guerra (edição: 2007; editora: Edições 70; ISBN: 9789724413006; preço: 36,00€; esgotado de momento).
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