sábado, setembro 05, 2015

A arte clandestina anti-soviética (1)

"A nona onda" (1979)
Uma parte dos quadros foi pintada ainda na URSS e guardada no fundo dos estúdios dos artistas. Outros foram pintados já após o início da Perestroica, quando censura e KGB deixaram de ameaçar os seus autores. Ambas as partes são bastante interessantes, principalmente hoje, quando na federação russa o regime optou, claramente, pelo branqueamento total e até uma certa restauração da “prisão dos povos”, da União Soviética.

O “pintor popular” soviético, o prémio “Estaline” de 1950, Yuriy Kugach (1917-2013),  retrata no seu quadro “Do passado recente” (1960-1990) o processo de deskulakização, quando os camponeses mais capazes eram deportados à Sibéria ou às outras regiões soviéticas, tendo como única culpa o facto de possuírem mais que uma vaca ou habitarem em uma casa mais abastada. O processo da deportação é comandado e coordenado pelos agentes do CheKa / OGPU.
"Do passado recente" (1960-1990)
Egil Veydmanis (1924-2004), pintor soviético de origem letã, filho de um comunista letão, membro da unidade dos “atiradores letões”. Após a consolidação do regime soviético, o seu pai trabalhou no teatro letão “Skatuve” (Palco) em Moscovo, cujo grupo teatral, praticamente na sua totalidade, foi preso e fuzilado pelo NKVD durante o Grande Terror de 1937-38. O pai do pintor foi fuzilado no polígono de Butovo, juntamente com mais de 20.000 pessoas...
"Butovo. Polígono de fuzilamento do NKVD" (1999-2003)
Entre as vítimas do polígono de Butovo estão as pessoas com idades entre 13 à 82 anos, de pelo menos 73 nacionalidade e grupos étnicos, de todos as classes, incluindo cerca de 100 pintores e mais de 900 sacerdotes. Embora a maneira de extermínio no polígono era ligeiramente diferente a da pintada no quadro. A técnica de retirar os prisioneiros da viatura e fuzilar imediatamente no mato era usada pelo NKVD no Massacre de Katyn. Em Butovo, NKVD construiu uma barraca especial, para onde à 1h00 de manha eram trazidos os prisioneiros, 400-500 pessoas por noite. Eles eram lavados à barraca para o “tratamento sanitário” (a técnica mais tarde usada pelos nazis), seguia-se a verificação das suas identidades, depois as pessoas eram despidas e lhes anunciavam a sentença. A equipa do extermínio esperava numa outra barraca, bebendo a vodca, para ganharem coragem e indiferença. Depois, os condenados eram levados fora da barraca, um por um e fuzilados. No fim do processo, pela manha, uma retroescavadora tapava a vala comum.
"Inscrição ao kolkhoze" (1985)
A pintora ucraniana Nina Marchenko (1940), no quadro “Inscrição ao kolkhoze” (1985) mostra como comunista, em “budionovka”, o boné usado pela cavalaria bolchevique, obriga um camponês à se inscrever no kolkhoze. Após a aderência forçada ao kolkhoze aos camponeses arrancavam o trigo, que por sua vez era vendido no Ocidente para financiar a industrialização soviética (fábrica “Ford” em Nizhni Novgorod ou as turbinas “Siemens” de DniproHES). O preço à pagar foi Holodomor que custou a vida aos entre 3,5 à 7 milhões de ucranianos.
"Caminho de luto" (1998-2000)
"A última caminhada" (1998-2000)
"A mãe do 1933" (2000)
O pintor não conformista russo, Vasily Kolotev (1953), era famoso pela sua firme postura de não colaboração com o regime soviético (trabalhava como serralheiro e pintava nos seus tempos livres). Hoje o artista é considerado o documentalista da vida moscovita popular de uma época inteira.
"A data vermelha do calendário" (1985)
"Domingo" (1984)
"... E o barco anda. Cervejaria" (1979)
"As folhas do álamo caem do freixo" (1984)
"As cenas do boulevard" (1984)
Os temas dos seus quadros era o quotidiano moscovita (espelho maior do quotidiano soviético) dos anos 1970-1980. “A data vermelha do calendário” (1985): os proletários soviéticos bêbados celebram o dia 1 de maio. “... E o barco anda. Cervejaria” (1979), “As folhas do álamo caem do freixo” (1984) e “Domingo” (1984): retratam o passatempo popular no fim da época do Brejnev. A URSS invade o Afeganistão e ameaça invadir a Polónia, mas nas cervejarias ao céu aberto os intelectuais, caídos e os vindos do povo discutem a vida: desde as mamas da vendedora até a filosofia do Kant. Por ser inofensivos, são tolerados pelo regime. “As cenas do boulevard” (1984): uma das “conquistas” do “socialismo real” que suscita mais nostalgia dos saudosistas soviéticos é a vodca barata. Em 1984 o líder soviético Yuri Andropov aumentou o seu preço para 4,70 rublos pela garrafa de 0,75 litros. Oficialmente, para combater alcoolismo, na realidade para preencher o magro orçamento soviético que já não aguentava a corrida armamentista contra os EUA. 
"Nas escadas do prédio" (1983)
"A manha da vizinha" (1984)
“Nas escadas do prédio” (1983): dado que na parte europeia da URSS o frio apertava muito bastante pelo menos 6 meses ao ano, os bêbados soviéticos e as companhias dos jovens delinquentes costumavam beber nas escadas dos prédios de habitação, incomodando os seus habitantes. “A manha da vizinha” (1984): até o fim dos anos 1990 um grande número dos cidadãos soviéticos vivia nos apartamentos comunais: os bons apartamentos individuais da época do “czarismo sangrento” foram transformados em cubículos imundos, onde cada quarto passou à ser ocupado por uma família, com a necessidade de partilhar os locais comuns: casa de banho, banheira, cozinha, etc. “A nona onda” (1979): a vida quotidiana da família soviética. “A fila” (1985): uma parte considerável do seu tempo o cidadão soviético passava nas filas, filas por tudo e por nada: desde a mortadela até os sapatos jugoslavos, de papel higiénico até o café brasileiro.
"A fila" (1985)
As famosas filas soviéticas, a parte integral da economia planificada foram retratadas por diversos outros pintores. O quadro “A fila” (1986) do Aleksey Sundukov (1952) mostra uma fila feminina para comprar os alimentos que no calão soviético eram “deitados”, ou seja, apareciam em venda livre, mas em quantidade limitada.
"A fila" (1986)
O quadro do Vladimir Korkodym (1940) “Esperando pela mercadoria” (1989) mostra a população apática à espera pelos alimentos numa loja rural no interior. Nas prateleiras podemos ver os alimentos em venda livre e de pouca procura: algumas conservas e enlatados.
"A espera da mercadoria" (1989)
Fonte:
http://www.erich-hartmann.com/podborka-antisovetskoy-zhivopisi-raz

1 comentário:

Anónimo disse...

vc sabe quais os partidos que irão concorrer para as eleições regionais de outubro


Sabe se há pesquisas