terça-feira, maio 26, 2015

Bar “Karatel” inspirado na propaganda russa

No início de maio corrente, em Kyiv foi aberto o bar-restaurante Karatel (punidor-carrasco), inspirado no seu design na propaganda russa, na sua visão e descrição destorcidas da realidade das unidades voluntárias ucranianas e das forças armadas da Ucrânia em geral. A comida é ucraniana e internacional, os preços são simplesmente fantásticos, nenhum prato custa mais que 200 UAH (10 USD).
A trollagem está mesmo na ementa, pois “Karatel” oferece “Dom-fafes grelhados” (codorniz grelhado, 100 UAH), “Pessoas educadas” (pernas de rã, 90 UAH), “Miliciano na grelha” (salmão grelhado, 95 UAH), “Berkut na grelha” (peito de frango), “Bandera cínico” (sanduíche clássico com o presunto), sobremesa “Pensionista da Crimeia” (panquecas do queijo com nata), “O que se passa lá com os ucranianos?” (prato com toucinho, alho e croûtons).
Dentro do bar existe o “local de estacionamento para os escravos” (com algemas e outros acessórios BDSM), um “altar nacional” dedicado ao Stepan Bandera e karaoke patriótico, com a permissão de cantar as canções dos que apoiaram e apoiam a invasão russa, tudo pela módica quantia de 250 USD.
"Estacionamento para os escravos"
O cofundador do estabelecimento, Yevhen Vasiliev, explica que a ideia do bar amadureceu durante cerca de meio ano, após verificar que na cidade de Kyiv não existe nenhuma local onde poderiam se encontrar os voluntários, combatentes da OAT, artistas e simplesmente patriotas da Ucrânia.
 
O bar oferece os descontos de 15% aos militares da OAT e também pretende apoiar as forças ucranianas financeiramente: «agora estamos decidir se será uma ajuda personalizada à unidade, onde estava combater um dos nossos, ou será uma ementa na forma de souvenir que os clientes poderão comprar, com os fundos canalizados à ajuda aos militares ucranianos», — explica Vasiliev (fonte e fotos).

A jornalista Laetitia Peron da agência francesa AFP foi conhecer o local e os seus proprietários e clientes mais de perto.
Altar ficcional ao Stepan Bandera
O título do menu: “Viva a Junta” e as caricaturas ao Vladimir Putin à imitar Hitler são alguns dos gags mais benignas de um novo bar em Kyiv, lotado todas as noites. Inaugurado este mês, o bar “Karatel”, cujo nome pode ser traduzido como “O Punidor”, oferece uma visão gastronômica de todas as principais clichês da propaganda russa sobre a guerra da Ucrânia com as forças russo-terroristas no leste do país.
"Punidor: local do propósito espacial"
Os proprietários, alguns deles veteranos do exército ucraniano, dizem que o seu humor negro é inofensivo e que ajuda as pessoas afetadas pelo conflito se sentir à vontade. Mas servindo novidades como o salmão “separatista grelhado” e peito de frango “Berkut grelhado”, uma referência à unidade de polícia, acusada ​​de dispersar com brutalidade os manifestantes pró-ocidentais na Maydan em 2014 – o bar empurra descaradamente os limites do politicamente correto.

Quando entram no “Karatel”, os clientes são convidados à deixar algemados os seus “escravos” na porta, em uma referência à uma reportagem na televisão russa, à afirmar que Kyiv oferece dois escravos para cada militar que luta contra os terroristas pró-Moscovo.
“Todas essas coisas engraçadas no restaurante são inspirados nas histórias falsas usadas pela campanha de desinformação da Rússia”, disse o gerente do bar Igor Pylyavets (29), convocado ao exército da Ucrânia e sofrendo um ferimento grave no verão de 2014 no cerco de Ilovaysk. Pylyavets explica que ele e os seus amigos não poderiam fazer nada, à não sendo rir pela designação russa dos soldados ucranianos como “punidores”, que pretendiam “estripar a população do leste da Ucrânia”.

“Nós rimos e é assim que nós decidimos chamar o nosso bar, criando um lugar onde as pessoas que passaram por guerra estão confortáveis”, – explica ele.
Sempre cheio

O grupo de amigos procurou a ajuda do cozinheiro-chefe francês Andre Pettre (60), que acredita que o bar é um sucesso porque apela à curiosidade das pessoas. Pettre compara o humor sarcástico negro do bar ao estilo de revista francesa “Charlie Hebdo”. “Desde que abrimos, nós estamos sempre cheios”, disse Pettre, que já havia trabalhando no mesmo local, quando aqui abriu “Claude Monet”, um restaurante francês.
Uma das bandas cujas músicas são mais tocadas aqui é “Okean Elzy”, que foi muito ativa durante a Revolução Laranja de 2004-05 e nos protestos da Maydan de 2013-14. Na sua decoração o bar misturou as paredes em tons de creme e toalhas de mesa elegantes com as cartazes do regimento “Azov”, a rede de camuflagem no lugar das cortinas e as camisetas do exército, usados ​​pelos barmans e garçons.

Com o conflito em Donetsk e Luhansk arrastando no seu 14º mês, muitos cafés agora fazem as referências à guerra e da anexação de Moscovo à península ucraniana da Crimeia, ocorrida em março de 2014. Mas “Karatel” é o primeiro bar em Kyiv à se concentrar inteiramente no tema da Operação antiterrorista (OAT) no leste da Ucrânia, disse Pylyavets.
“Algumas pessoas criticam-nos, porque acham que não é o momento certo para fazê-lo, durante a guerra. Mas é o momento certo. Nós não estamos atacando ninguém e nós não atiçamos nenhum ódio. Nós só estamos rindo”, disse ele (fonte e fotos).
http://karatel.kiev.ua
Visitar: Kyiv, rua Turgenevska № 25 (a entrada do estabelecimento);
Funcionamento: das 11h00 à 1h00

Pensar: Polina Gagarina: “A Million Voices”:

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