sexta-feira, dezembro 13, 2013

Bancarrota de Yanukovych: mudança do poder na Ucrânia

A EuroMaydan foi provocada pelos longos anos de populismo, corrupção e acordo serviçal de gás com Rússia.

por: Boris Grozovski, observador econômico da Forbes.ru (versão curta)

Viktor Yanukoych se perdeu em três árvores econômicas. No intuito de enriquecer e consolidar o poder – sacrificou o clima econômico da Ucrânia. Para assegurar apoio da população se endividou e gastou as reservas. Para pagar as dívidas não assinou o acordo econômico com a Europa. A economia ucraniana está numa profunda crise financeira. Isso torna impossível a sobrevivência do regime de Yanukovych.

A recusa de assinar o acordo econômico com a Europa e uso da força contra os manifestantes levaram à erosão rápida da confiança política na Ucrânia. O regime do Yanukovych, desencanto pelo qual crescia rapidamente, aproximou-se aos passos do gigante ao seu fim.

A hora de resumo

Na base do conflito em Kyiv estão as motivações políticas. Mas, ao mesmo tempo no país se iniciou uma crise financeira sistêmica. Ela só será adiada através dos empréstimos que nem a FMI, nem a Rússia querem conceder a Ucrânia.

FMI […] em contrapartida à concessão do empréstimo exige a liberação do câmbio da moeda nacional, congelamento dos salários e reformas, aumento do preço do gás. Cenário suicida para Yanukovych, mas sem nenhuma alternativa à vista. Receber os fundos da UE como compensação pela integração (na UE), a equipa de Yanukovych contava apenas por causa da sua incompetência profissional. Dinheiro da China não resolve problema, são projetos ao longo prazo. As contrapropostas pelos créditos russos poderiam ser a cooperação com a União Aduaneira e cooperação industrial-militar. Seria o cenário suicida de Yanukovych, caminho reto às eleições antecipadas.

A necessidade urgente de receber empréstimo explica a recusa da Ucrânia de assinar o acordo comercial com a UE. Créditos são necessários para apoiar o orçamento e impedir a desvalorização da moeda nacional. Com a manobra europeia Yanukovych quis influenciar Vladimir Putin e assegurar a estabilidade econômica até as eleições (presidenciais) de 2015. Mas mesmo se a Rússia emprestará o dinheiro, agora este truque não funcionará. O acordo comercial com Europa se tornou para ucranianos no símbolo de outra vida: estrutura social e econômica, baseada não nas cunhas, privilégios e gratificações, mas nas regras de jogo honestas e iguais para todos.

Crise econômica

A economia ucraniana vive uma crise econômica real. No 1º semestre de 2013, o PIB caiu em 1,3%, indústria em 10 meses em 5,2%. Não há crescimento econômico desde a primavera de 2012. Durante dois anos não aumentam os preços, nem de consumo, nem industriais. Abrandou o crescimento de salários e rendimentos da população. Em janeiro-novembro (de 2013) as vendas dos automóveis caíram 39,8%, tubos de aço – 22%. […] Exportações caíram em janeiro-setembro em 6,5% […]

Euromaydan: que caminho seguirá Ucrânia

A situação poderia ser corrigida com a desvalorização da moeda nacional em 15-25%. Isso aumentaria a capacidade concorrencial dos produtos ucranianos e do turismo, reduzirá a atratividade das importações. Mas esta medida trará os problemas ao orçamento e aos bancos. População sentirá que algo não está bem com a política econômica. Por isso, a equipa econômica de Yanukovych fez de estabilidade da moeda nacional o seu objetivo principal, preferindo esgotar as reservas (de divisas) do Banco Nacional, à corrigir a taxa de câmbio.

Desde o fim de 2010 as reservas de divisas da Ucrânia diminuíram quase em metade: de $ 34,6 biliões para $ 18,7 biliões. […] Défice corrente poderia ser balançado com investimento (estrangeiro) e empréstimos. Mas os investimentos diretos estrangeiros […] no primeiro semestre de 2013 diminuíram em 2,7 vezes, até $ 1,4 biliões.

Ucrânia também não pode continuar a aumentar a sua divida externa. No período de 2006-2012 a dívida total cresceu quase 4 vezes, de $ 39,6 biliões à $ 135,1 biliões (PIB da Ucrânia em 2012 — $ 176 biliões). A dívida externa supera em 1,5 vezes as exportações do ano passado […]

A crise da economia ucraniana é derivada de algumas razões internas e externas.

1) Preços mundiais baixos de metais ferrosos. Em janeiro-setembro de 2013 as receitas de suas vendas baixaram em 9,6%, em comparação com o período homólogo de 2012. Os metais representam 1/3 das exportações ucranianas. O índice dos preços calculados pelo FMI desde 2011 caiu em 30%. Minério de ferro agora se vende 27% mais baixo do que no início de 2011, alumínio em 34%.

2) Preço ultra alto do gás russo. Ucrânia compra o gás mais caro do que a Europa […] Neste trimestre o seu preço é de $ 410 por 1.000 m³ (contando com desconto de $ 100) […] Na Armênia o gás russo custa $ 189, em Belarus — $163 […]

Apesar da lógica formal, o acordo […] foi desvantajoso também para Rússia. As condições extorsivas colocaram os parceiros ucranianos da “Gazprom” em dívida profunda, eles atrasam os pagamentos, exigem o pagamento antecipado pelo trânsito de gás russo à Europa. O fornecimento de gás para a Europa durante o Inverno está ameaçado. E, ao longo prazo, Ucrânia pretende sair da dependência de gás russo (fornecimentos já foram cortados pela metade) e irá conseguir isso no futuro.

3) Demasiado peso estatal na economia. O peso total (orçamento de Estado e das regiões, fundo social e de reformas) aproxima-se aos 50% do PIB […] Os impostos sobre salários são de 36% — fortíssimo estímulo de os evitar […] A divida estatal da Ucrânia não parece grande, apenas 17,2% do PIB. Se contar com as dívidas regionais e garantias estatais, a dívida geral se aproxima aos 35% do PIB […]

Em novembro de 2013 o Governo permitiu ao Fundo de Pensões pagar as pensões recorrendo aos créditos dos bancos comerciais. Estamos perante todos os indícios da pirâmide financeira […] Ucrânia é incapaz de alimentar o estado não efetivo, proliferado como carcinoma, onde os burocratas gozam (a vida) mais do que oligarcas.

4) O clima financeiro desfavorável. No ranking de corrupção da Transparency International, Ucrânia ocupa a 144ª posição das 177 […] As normas de conduta da burocracia são estabelecidas pela liderança política do país. No caso ucraniano (essa elite) se dedica à ocupação das áreas mais bonitas nos arredores de Kyiv e na Crimeia, cercando as com os murros gigantes e construindo os palácios atrás deles.

Tudo isso mina o clima empresarial. A carga tributária alta, mas que é possível não pagar. A legislação opressiva que tendo uns conhecidos é possível evitar. Risco de agiotagem patrimonial, envolvendo as forças da lei e da ordem. Compras públicas – exclusivamente de parentes, amigos e conhecidos. Sistema judicial tendenciosa. Influência gigantesca de burocratas no qualquer negócio. Mau funcionamento de todos os serviços públicos empresariais – alvarás, licenças, concessões. “Todas as pequenas e médias empresas – (pertencem aos) procuradores – explica respondente do inquérito empresarial realizado pela “CASE Ukraine”. – Sem a cobertura do Ministério Público (o negócio) pode ser expropriado”.

Como explica Lilit Gevorgian, a analista da IHS Global Insight, na entrevista ao Bloomberg.com: «Os problemas atuais da Ucrânia não são relacionados com a escolha entre a política pró ou anti europeia. Este é o resultado de muitos anos de má gestão econômica, o populismo do governo atual e anterior, incapacidade de combater a corrupção, a estrutura monopolista da economia e construir um sistema judiciário independente».

Crise financeira

O estado deplorável da economia nos dias de hoje, literalmente, se transforma em uma crise financeira. A crise terá três componentes: da dívida, das divisas e bancário.

Em 2014 Ucrânia deve reembolsar ao FMI $ 3,7 biliões, incluindo $ 1,2 biliões no 1º trimestre. Em abril terá que pagar $ 1 bilião das aplicações europeias. No total, em 2014 Ucrânia necessita não menos do que $ 7,3 biliões, apenas para refinanciar a divida, e nos próximos dois anos, pelos cálculos da Bloomberg.com, cerca de $ 17 biliões […]

Já há uma semana os ucranianos, que pressentem a desvalorização inevitável da moeda nacional não conseguem passar as poupanças em dólares e euros à taxa de câmbio oficial. As casas de câmbio não têm dinheiro. O câmbio de Hryvnia no mercado interbancário (8,25 dólares por $ 1) fica cada vez mais distante do oficial (7,99) […]

É preocupante a situação dos bancos. Ao longo da semana passada a saída dos fundos do sistema de depósitos, de acordo com os rumores, foi cerca de 5 bilhões de UAH – cerca de 1,2% (do seu valor total) […] Agora os cidadãos possuem nas suas contas os valores em moeda nacional que são 1,5 vezes superiores das reservas de divisas do Banco Nacional. Em tais circunstâncias, a provável retirada mesmo dos 10% de depósitos irá levar ao colapso total o sistema bancário […]

No caminho para a Europa, Ucrânia terá que passar por uma crise fiscal e financeira grave. O resultado deve ser o alinhamento das novas regras do jogo. O país é incapaz de alimentar o Estado-parasita que está sugando metade de insumo econômico. Por isso, Maydan é uma tentativa de reensinar o Estado nas alicerces novos, um comportamento econômico bastante racional. Caso contrário, será impossível evitar a estrada que conduz ao abismo.

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