domingo, setembro 29, 2013

A nova ordem futebolística europeia

A Ucrânia futebolística e não só está indignada, a FIFA decidiu que o próximo jogo Ucrânia – Polônia será jogado em Kharkiv no estádio vazio, o estádio “Lviv Arena” foi banido até 2018 e a Federação de Futebol foi multada em 45.000 francos suíços.

O Comité Disciplinar da FIFA acusa os fãs ucranianos de uso de pirotecnia no jogo contra São Marino (6.09.2013) e baseando-se na informação providenciada pela ONG (!) FARE (Football Against Racism Europe), acusa os fãs de “incidentes racistas e discriminatórios” (FONTE1).

O que FARE classifica como “simbologia discriminatória e ofensiva”?

Estranhamente, a bandeira vermelha-negra (usada pela FSLN sandinista, pela ELN da Colômbia e pelo Exército Insurgente Ucraniano – UPA), retratos do líder histórico da Organização dos Nacionalistas Ucranianos Stepan Bandera (prisioneiro de campo de concentração nazi Sachsenhausen) e do comandante-chefe do UPA, Roman Shukhevych, além do baner da 14ª Divisão Militar Galiza (1ª Ucraniana).

Nenhum destes símbolos é proibido na Ucrânia, tal, como nenhuma das personalidades citadas foi alguma vez considerada criminosa, tal como a própria Divisão Galiza, que não foi citada no julgamento de Nuremberga. Muito pelo contrário, a Comissão de Investigação dos Crimes de Guerra do Canadá (também conhecida como Comissão Deschênes), caracterizou os membros ucranianos da Divisão Galiza de seguinte modo:

Enquanto na Itália estes homens foram escrutinados pelas missões soviética e britânica e nem então, nem posteriormente, foi descoberta qualquer evidência que pudesse sugerir que qualquer deles lutou contra os aliados ocidentais ou foi envolvido em crimes contra a humanidade. O seu comportamento, desde que vieram ao este país tem sido bom e eles nunca indicaram em qualquer forma que eles estão infetados com qualquer vestígio de ideologia nazi.

[...]

A partir dos relatórios da missão especial criada pelo Ministério da Guerra para escrutinar esses homens parece claro que eles se ofereceram para lutar contra o Exército Vermelho por motivos nacionalistas que receberam maior impulso pelo comportamento das autoridades soviéticas durante a sua ocupação da Ucrânia Ocidental após o Pacto Nazi-Soviético. Embora a propaganda comunista tem constantemente tentado retratar eles, como tantos outros refugiados de “traidores” e “criminosos de guerra”, é interessante de notar que até agora nenhumas acusações específicas de crimes de guerra foram feitas pelos soviéticos ou qualquer outro Governo contra qualquer membro deste grupo. [FONTE2]

Por sua vez, o diretor executivo da FARE, Piara Powar, que em 2012 chamou no seu twitter um dos fãs britânicos de “coco” (FONTE3) explicou a razão de os símbolos ucranianos forem banidos pela sua rede:

Esta simbologia tem um impacto negativo, não reflete a opinião da maioria das pessoas. Além disso, ela pode ser usada pelas pessoas que são membros de grupos associados com a discriminação e os fatos racistas”.

Ou seja, uma ONG britânica, apoiada pela Comissão Europeia e UEFA, tem o poder de proibir e banir os determinados símbolos nacionais na base da sua opinião pessoal, sem necessidade de se apoiar em nenhuma decisão valida reconhecida internacionalmente. 

Embora o Sr. Powar afirma que os símbolos ucranianos estavam na sua lista pelo menos há quatro anos, os fãs ucranianos e os funcionários da Federação Ucraniana de Futebol afirmam que estes elementos só apareceram na lista após o jogo Ucrânia – São Marino.

O comissário de segurança (steward) do FC Dynamo Kyiv, Anatoliy Bankivskiy, conta que pela primeira vez os responsáveis de segurança do clube foram informados sobre essa proibição no dia 25 de setembro de 2013. Informação passada pelo delegado da UEFA e confirmada pela Federação Ucraniana de Futebol, escreve jornalista Olga Khudetska.

Os funcionários de futebol gostam de recordar que a “propaganda política é proibida nos estádios”, mas nunca ninguém disse que é proibida a história ucraniana. Por sua vez os fãs do Dynamo Kyiv já anunciaram que em todos os jogos que se seguem haverá bandeiras vermelhas-pretas em todos os setores dos estádios.

Para já, os fãs ucranianos das equipas FC Dynamo Kyiv e FC Carpaty já escreveram uma carta aberta ao presidente do FIFA, Joseph Blatter. Na carta, os fãs expressaram as suas dúvidas sobre a competência dos peritos da FARE na história da Ucrânia e nas necessidades de tomar as decisões globais com base em tais julgamentos preconceituosos.

Não é tarefa da FARE avaliar figuras históricas, que para muitos ucranianos são heróis nacionais. Nenhuma organização respeitável pode se permitir fazer avaliações tão unilaterais e tendenciosas,” – se lê na carta.

Quando se preparava este artigo se soube que a FARE, sem nenhuma explicação, retirou o seu “Manual de símbolos ofensivos e discriminatórios” da sua própria página e do local do armazenamento externo, issuu.com, onde este estava guardado.


Não é menos caricata a situação à volta do jogador da seleção da Ucrânia e do FC Metalist, ucraniano-brasileiro Edmar Halovskyi de Lacerda. Os observadores anônimos da FARE acusam os adeptos ucranianos de “gestos racistas” contra o jogador, comportamento categoricamente desmentido pelo próprio Edmar nos seguintes termos: “Para ser honesto, eu não ouvi nada disso. Pelo contrário, os fãs me apoiavam. Fiquei surpreso com tais declarações. Através do clube eu escrevi a carta que não tenho queixas”, disse jogador citado pela Gazeta.ua    

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