quarta-feira, maio 08, 2013

Segunda Guerra Mundial – a conta pessoal


Será que irá ser tapada pelas comemorações falsas e de fachada, que reinam atualmente na Ucrânia no dia 9 de maio?

por: Vasyl Ilnytskiy, cidade de Uzhhorod

Cerca de dez anos atrás, os documentalistas ucranianos, liderados pelo realizador Serhiy Bukovskiy produziram um importante filme chamado “Guerra – a conta ucraniana”. O filme desmistificava a mitologia soviética da “Grande Guerra patriótica”, obrigava os espetadores encarar a 2ª G.M., através dos destinos de milhões de pessoas mortas e feridas, que passaram pelo inferno terrestre da guerra. Pois, provavelmente, cada família ucraniana tem uma conta naquela guerra. A minha também…


Após a ocupação da Ucrânia dos Cárpatos pelo exército húngaro em março de 1939, milhares de ucranianos fugindo das cadeias, miséria, hungarização forçada, mobilização compulsiva aos trabalhos e depois ao exército húngaro, procuravam a salvação na URSS. O irmão do meu pai, Mykhaylo Ilnytskiy, fugiu para URSS em 1940, para evitar a mobilização à tropa húngara. Na URSS ele foi imediatamente preso e julgado pela “travessia ilegal da fronteira”, morrendo em 1941 no campo de concentração soviético de PechorLAG. A nossa família foi informada sobre o seu destino triste apenas em 1990, durante a Perestroica do Gorbachov. O sistema judicial, ainda soviético, reabilitou o meu tio e devolveu-nos os seus pertences pessoais: documentos de identificação emitidos pela Checoslováquia e Hungria, fotos e um bloco de notas rústico com os textos de canções populares ucranianas, eslovacas, húngaros e inesperadamente, “A Internacional”…


No mesmo ano, o meu pai, Ivan Ilnytskiy (nascido em 1916), e os tios, Pavlo Betsa (1914) e Mykhaylo Voshepynets (1910) foram mobilizados ao exército real da Hungria. O pai, digamos, teve sorte, enviado à unidade de artilheria, onde por não falar húngaro, como a maioria dos ucranianos alistados, foi colocado como condutor dos cavalos que transportavam os canhões. A sua unidade entrou em combates em março de 1945, o meu pai foi ferido por algum soldado da 3ª Frente ucraniana do Exército vermelho. Passando 3 anos na guerra, ele nunca teve o direito de se chamar veterano, pois vestia uniforme do exército “alheio”.

Já os tios tiveram menos sorte. Foram colocados nas fileiras do 2º Exército húngaro que na batalha de Estalinegrado perdeu cerca de 150.000 homens (85% dos seus efetivos), entre prisioneiros, feridos e mortos. Os tios se entregaram aos soviéticos na primeira oportunidade, nenhum deles queria morrer pelo país alheio. Mas nem no pesadelo mais assustador eles imaginavam o inferno que os esperava.

Primeiro, foi a longa marcha de pé entre frio terrível e as cuspidelas e insultos da população local, depois as torturas pelo frio e fome no campo de prisioneiros da guerra. Após apenas alguns meses no campo soviético, o tio Mykhaylo Voshepynets, aos seus 33 anos, pesava cerca de 30 kg. Ao seu lado, diariamente morriam centenas dos seus camaradas, italianos, croatas, húngaros, ucranianos. O tio sobreviveu graças aos seus conhecimentos parcos da língua russa, ele trabalhou na equipa que sepultava os mortos, recebendo alguma alimentação extra pelo trabalho.

A salvação da morte certa veio na possibilidade de se alistar na Legião Checoslovaca, que foi formada em 1942 e após uma curta formação militar, colocada em combate contra as tropas alemães de elite nas batalhas pelo Kharkiv (aldeia de Sokolove), Kyiv, Bila Tserkva e Korsun-Shevchenkovsky.

Os “legionários” sobreviventes sonhavam em libertar a sua terra dos ocupantes, levar a liberdade às suas famílias. Mas Estaline não pretendia que os soldados experientes, tendo a cidadania estrangeira pudessem interferir nos seus planos sobre o futuro dos Cárpatos. A Legião Checoslovaca foi lançada num ataque frontal contra os alemães na passagem de Dukliany, onde em 80 dias de combates o Exército vermelho perdeu cerca de 150.000 efetivos.

Feridos por balas e estilhaços, sofrendo as contusões, mas extremamente felizes por estarem vivos, voltavam os ucranianos da Transcarpátia para casa. Mas quando eles, conjuntamente com os seus camaradas limpavam a Europa do nazismo, na sua casa um novo país criava o novo sistema repressivo.

Pelo Calvário da 2ª G.M., alistados nos diversos exércitos, em ambas partes da frente, passaram dezenas de milhares dos meus conterrâneos da Transcarpátia. Uma minoria teve sorte e não foi sepultada em valas comuns nas terras longínquas, ou simplesmente conseguiu sair com a vida dos campos de concentração soviéticos e nazis. Agora, entre nos, os verdadeiros veteranos são pouquíssimos, pois os seus regimentos e divisões já muito tempo que se pacificaram nos seus. Nestes dias de maio, vamos os recordar e oraremos por eles. Pelos que morreram em combate, sucumbiram mais tarde aos ferimentos, ou vivia durante anos, segurando a dor, causada pela guerra. Os recordaremos sem a falsidade ou celebrações refinadas de fachada. Talvez assim, cada conta pessoal nossa, daquela guerra, será paga, pelo menos parcialmente.

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