sexta-feira, abril 08, 2011

91º aniversário do Ivan Demjanjuk

No dia 3 de Abril de 2011, o ucraniano John (Ivan) Demjanjuk completou 91 anos. Debilitado fisicamente, mas de espírito inquebrável, Demjanjuk informou publicamente que pretende entrar em greve de fome já no início de Abril, caso o tribunal de Munique continuar se opor em receber os documentos da sua defesa. Além disso, o prisioneiro da guerra ucraniano classificou o processo contra si de “politicamente motivado”, explicando as razoes desta decisão na sua 3ª declaração (desde o início do processo), que transcrevemos em seguida.

A 3ª declaração do John (Ivan) Demjanjuk:

Em criança, Stalin condenou-me a morrer no Holodomor, a fome artificial. Como o prisioneiro de guerra ucraniano soviético, os alemães tentaram me matar com a fome e o trabalho escravo. Os EUA e Israel de forma fraudulenta me acusaram de ser (o guarda) Ivan, o Terrível. Como resultado, passei 8,5 anos na prisão e cinco anos na câmara de morte. Apesar de inocente, em cada um desses 1.800 dias no corredor de morte, eu temi que fosse morrer devido à fraude irresponsável e os motivos políticos de procuradores corruptos e juízes que não procuravam a justiça.

Agora, quase no fim da minha vida, Alemanha, a nação que assassinou com a impiedosa crueldade milhões de pessoas inocentes, tenta atentar contra a minha dignidade, minha alma, meu espírito, e na verdade contra a minha vida com um julgamento político que procura culpar-me, um camponês ucraniano, pelos crimes cometidos pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. Eles me escolheram para a acusação — um prisioneiro de guerra estrangeiro nas mãos brutais da Alemanha — ao invés dos verdadeiramente culpados alemães e dos alemães étnicos. Os meios de tortura alemãs neste julgamento incluem a supressão de elementos da defesa, a falsificação da história, a introdução dos chamados princípios jurídicos que nunca existiram na Alemanha anteriormente, conspiração com os promotores fraudulentos dos EUA e de Israel, e uma recusa irresponsável de cada argumento, acção e meio de prova que a minha defesa apresentou e que deveria ter já resultado na minha absolvição e liberdade.

Temendo a verdade, o tribunal e os procuradores alemães continuam a fechar os olhos à justiça, recusando-se do seguinte:

Solicitar na Rússia e na Ucrânia o arquivo № 1627, com cerca de 1400 páginas de investigação soviética do MGB / KGB sobre o meu caso.

1. Requisitar à Rússia e à Ucrânia o processo № 15.457, o processo de investigação do Ignat Danilchenko, especificamente incluindo o relatório da entrevista realizada com ele sobre mim, a pedido das autoridades dos EUA em 1983/1984.

2. Solicitar um perito qualificado para examinar as fotografias de alta qualidade, existentes na assinatura do documento № 1393 de Trawniki, falsamente atribuídas a mim.

3. Aceitar como facto histórico de que os nazistas torturavam os prisioneiros de guerra ucranianos, iguais à mim, com a fome, de maneira que exterminaram 3,5 milhões de pessoas.

4. Aceitar como facto histórico, com base nas provas irrefutáveis fornecidas por diversos países e dezenas de testemunhas que os prisioneiros de guerra (no campo de) Trawniki foram coagidos sob a ameaça real de morte e foram executados pelas tentativas de deserção.

5. Aceitar como facto histórico, baseado nos registros processuais dos EUA e do Israel, que eu já foi previamente indiciado e julgado pelos crimes alegados agora aqui, que resultou na minha absolvição e libertação em Israel.

Eu sobrevivi a brutalidade de Stalin e da Alemanha nazista; a condenação errada e a sentença de morte dos israelitas e americanos. Eu vivi os horrores inimagináveis do Stalin e da morte por inanição, da Alemanha nazista e da morte pela fome e canibalismo como prisioneiro de guerra, até à morte por enforcamento em Israel. Este julgamento não é nada mais do que a execução destes três sentenças de morte, injustas e terríveis. Não há neste momento para mim nenhuma outra maneira de mostrar ao mundo a paródia da justiça que este julgamento representa. Salvo seja se o Tribunal aceitar os factos históricos, usar a sua autoridade para obter as provas cruciais de defesa e mostrar ao mundo que aceita plenamente o seu dever de procurar a justiça, em vez de apenas realizar um julgamento político, dentro de 2 semanas eu entrarei em greve de fome.

John Demjanjuk

A declaração do pai recebeu os seguintes comentários do seu filho, John Demjanjuk Jr.:

Se os alemães estão interessados na justiça, eles vão simplesmente pedir aos russos e aos EUA para entregar todas as provas, incluindo o arquivo de investigação soviético № 1627 sobre o meu pai e os relatórios desaparecidos do (Ignat) Danilchenko. Eles têm o acesso às provas e nós não. Este caso tem sido repleto dos encobrimentos governamentais, a má conduta do Ministério Público e as fraudes ao longo dos anos. Até agora, este julgamento foi apenas mais um capítulo da mesma injustiça. Os testemunhos e registros oficiais nazis durante a guerra provam que os prisioneiros de guerra soviéticos enfrentaram a fome aos milhões, foram coagidos a servir ou enfrentar a execução pela deserção. É repugnante que Alemanha transforma agora os seus ex-prisioneiros e vítimas em responsáveis pelos crimes cometidos por alemães, que em muitos casos foram absolvidos ou nunca julgados pela Alemanha. Isto não é sobre a justiça mais vale ser feita tarde do que nunca. Ao contrário, isso é o falhanço contínuo total da Alemanha em aceitar a responsabilidade pela destruição de milhões de pessoas que ela aprisionou”.

John Demjanjuk Jr.

Fonte (em inglês):

http://www.kyivpost.com/news/opinion/op_ed/detail/97938

Blogeiro

Na foto John (Ivan) Demjanjuk segura a cartolina com o número 1627, que corresponde ao número do processo soviético sobre si, requisitado pela sua defesa. O Ministério Público alemão acusa ucraniano Ivan Demjanjuk na conivência da morte de 28,060 judeus no campo de concentração nazi de Sobibor, gerido pelos alemães. No dia 22 de Fevereiro de 2011, após 16 meses do processo, o procurador alemão Hans-Joachim Lutz pediu 6 anos de prisão para Demjanjuk. Nos anos anteriores Alemanha absolveu vários guardas de nacionalidade alemã que serviram nos campos de concentração alemães, pois eles alegaram que participaram no extermínio de judeus coagidos e com o medo de serem executados caso desobedecerem as ordens dos seus superiores nazis...

Endereço para escrever ao John (Ivan) Demjanjuk (toda a correspondência eventualmente será lida pelos serviços prisionais alemães):

John Demjanjuk

Justizvollzugsanstalt Munich

Stadelheimer Str. 12

81549 Munich

Germany – Alemanha

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