segunda-feira, junho 29, 2009

Batalha do Konotop foi ganha 350 anos atrás

A Batalha do Konotop, foi a batalha entre Hetman da Ucrânia Ivan Vyhovsky e os seus aliados e o exército da Casa Real da Rússia, liderada pelo príncipe Aleksey Trubetskoy, no dia 29 de Junho de 1659, nas arredores da cidade de Konotop. Nos últimos 350 anos essa grande machadada no mito de “amizade eterna russo – ucraniana” foi silenciada e ignorada pelos historiadores russos e soviéticos.

Antecedentes

Essa batalha teve lugar durante o período da História da Ucrânia, que geralmente é referida como a Ruína. Foi o período das lutas internas incessantes, entre as diferentes fracções dos cossacos ucranianos. Este período começou com a morte do carismático e muito influente Hetman Bohdan Khmelnytsky em 1657.

Durante o período do seu hetmanato, Bohdan Khmelnytsky conseguiu afastar a Ucrânia da dominação da República das Duas Nações, mas foi forçado a assinar o acordo de amizade com a Casa Real da Rússia em 1654. O seu sucessor, conselheiro geral e confidente próximo Ivan Vyhovsky, ficou a lidar com a influência crescente do Moscovo nos assuntos internos da Ucrânia, além das ameaças da guerra civil por parte das facções dos cossacos que lhe opunham. Com a rápida deterioração da situação, Vyhovsky começou as negociações com os inimigos recentes, os polacos, concluindo a assinatura do Tratado de Hadiach em 16 de Setembro de 1658. Sob o novo tratado, três regiões da Ucrânia Central (Kiev, Bratslav e Podilya) tornaram-se nações constituintes iguais da Comunidade Polaco-Lituana conjuntamente com a Polónia e Lituânia sob o nome de Principado de Rus, formando a República polaco-lituana-rutena.

As notícias alarmaram o Moscovo e uma força excepcionaria foi enviada a Ucrânia no Outono de 1658, sob a liderança do príncipe Grigory Romodanovsky. O comandante militar moscovita não apenas apoiava a eleição do Hetman novo e rival ao Vyhovsky, mas também começou a ocupação das cidades dos apoiantes do Vyhovsky. Os seus apoiantes eram brutalmente massacrados e as populações civis sofriam os abusos e os roubos por parte do exército russo.

Na Primavera do 1659 o exército com 100,000 homens de acordo com a "Crónica das Testemunhas" ou de 150,000 homens de acordo com o historiador russo Sergey Solovyov — foi enviado a Ucrânia para auxiliar Romodanovsky.

O exército chegou às fronteiras da Ucrânia no dia 30 de Janeiro de 1659 e ficou aquartelado durante 40 dias durante as negociações entre Príncipe Trubetskoy e Vyhovsky, pois o comandante russo tinha as instruções de persuadir os cossacos. Os cossacos, rivais ao Vyhovsky, comandados por Bezpaly, Voronko e os cossacos de Zaporizhia do comandante Barabash juntaram-se ao exército russo. O comandante supremo russo, Príncipe Aleksey Trubetskoy decidiu aniquilar a pequena guarnição (4,000 homens) do castelo do Konotop, liderados pelo coronel cossaco Hulyanytsky, antes de terminar as negociações com Vyhovsky.

Cerco do Konotop

Príncipe Trubetskoy esperava terminar rapidamente a questão do Konotop, mas o coronel Hulyanytsky e os seus cossacos recusaram-se a trair Hetman Vyhovsky, defendendo o castelo. De acordo com o historiador Markevych, no dia 21 de Abril de 1659, após a oração matinal, Trubetskoy ordenou o assalto final do castelo. A cidade foi bombardeada com as bombas incendiárias e o enorme exército avançou contra Konotop. Em algum momento as tropas do Trubetskoy até entraram nas muralhas da cidade, mas foram expulsos pelos cossacos. Após o fiasco do assalto inicial, Trubetskoy abandonou o plano do assalto rápido e começou o cerco da cidade e o enchimento da fossa protectora com a terra. Os cossacos retiravam de noite, a terra deixada por os russos de dia, usando-a para reforçar os murros da cidade e até perpetuaram alguns contra – ataques contra as tropas do Trubetskoy. Estes ataques forçaram Trubetskoy a afastar o seu aquartelamento cerca de 10 km fora da cidade e dividir as suas forças entre o exército principal e Quartel Geral. É estimado, que durante o cerco, as tropas do Trubetskoy perderam mais de 10,000 homens. Em vez de uma campanha rápida, o cerco arrastou-se por mais de 70 dias e deu ao Vyhovsky o tempo necessário para preparar a batalha contra o exército russo.

O Hetman não apenas organizou as suas tropas, mas também assegurou o apoio dos aliados — os tártaros da Crimeia e os polacos. Pelo acordo com os tártaros, o Khan Mehmed IV Giray, encabeçou o exército de 30,000 homens e dirigiu-se ao Konotop no início do Verão de 1659, assim como o destacamento polaco de 4000 homens, apoiados pelos mercenários sérvios, moldovos e alemães.

Batalha

No dia 24 de Junho de 1659 Vyhovsky e os seus aliados aproximaram-se à área e aniquilaram o pequeno destacamento de reconhecimento dos invasores russos, nas arredores da aldeia de Shapovalivka, à sudeste do Konotop. De acordo com o plano prévio, 30,000 tártaros ocuparam a margem esquerda do rio Sosnivka e as forças do Vyhovsky com os polacos e mercenário posicionaram-se na aldeia de Sosnivka, ao sul do rio com o mesmo nome.

Vyhovsky deixou o comando do exército para o irmão do coronel Hryhoriy Hulyanytsky, Stepan Hulyanytsky, e com um pequeno regimento cossaco marchou sobre o Konotop. Na manha do dia 27 de Junho de 1659, o destacamento do Vyhovsky atacou o exército do Trubetskoy nas arredores do Konotop, capturando um grande número dos cavalos do inimigo, dispersando os nas estepes vizinhas. O inimigo contra – atacou e Vyhovsky atravessou a ponte para outra margem do rio Sosnivka, dirigindo-se para o seu campo. Informado sobre o ataque, Príncipe Trubetskoy destacou um regimento de 30,000 homens, comandado por Príncipe Semen Pozharsky, com a participação dos cossacos do Bezpalyi, atravessando o rio para atacar Ivan Vyhovsky. As forças do Trubetskoy dividiram-se entre este destacamento, os do cerco da cidade e outros 30,000 do Quartel Geral.

No dia 28 de Junho de 1659, Príncipe Semen Pozharsky, perseguindo os cossacos atravessou o rio Sosnivka e aquartelou o seu exército na margem sul do rio. Durante a noite, o pequeno destacamento cossaco, chefiado pelo Stepan Hulyanytsky, atrás das linhas inimigas, capturou e destruiu a ponte, que Pozharsky usou para atravessar o rio. Além disso, a ponte destruído obstruiu o fluir do rio, alagando os campos em seu redor.
Nas primeiras horas da manha do dia 29 de Junho de 1659, Vyhovsky na frente do pequeno destacamento cossaco atacou o exército do Pozharsky. Após as pequenas escaramuças, com o exército muito maior do que o seu, as forças ucranianas fingiram a retirada desorientada na direcção do seu aquartelamento principal. Pozharsky, sem suspeitar nada, ordenou a perseguição do inimigo pelo seu exército. Uma vez que os russos entraram na aldeia de Sosnivka, os cossacos efectuaram três disparos de canhões, dando sinal aos tártaros, começando o seu próprio contra – ataque com todas as forças estacionadas em Sosnivka. Príncipe Semen Pozharsky ordenou a retirada, mas a sua cavalaria pesada e artilharia ficaram presos nos campos previamente alagados pelos cossacos. Neste momento os tártaros avançaram do flanco oriental, começando a chacina do exército russo. Quase 30,000 homens foram mortos, apenas alguns capturados vivos. Entre os capturados estava o próprio Príncipe Semen Romanovich Pozharsky, príncipe Semen Petrovich Lvov, dois príncipes Buturlin, Príncipe Lyapunov, Príncipe Skuratov, Prince Kurakin e muitos outros. O salvador do Moscovo dos polacos Dmitry Pozharsky e Príncipe Semen Pozharsky foram levados perante o Khan da Crimeia Mehmed IV Giray. Pozharsky era muito rude com o Khan de acordo com testemunhas, e de acordo com o historiador russo Sergey Solovyov ele dizia as palavrões e cuspiu na cara do Khan. Por isso foi decapitado pelos tártaros e a sua cabeça foi enviada com um dos prisioneiros até o aquartelamento do Trubetskoy.

Informado sobre a derrota do Pozharsky, Trubetskoy ordenou o levantamento do cerco do Konotop e começou a sua retirada da Ucrânia. Naquele momento os cossacos do coronel Hulyanytsky que resistiam dentro do castelo, atacaram o exército russo por trás dos murros. Trubetskoy perdeu a maior parte da sua artilharia, bandeiras militares e o tesouro. a sua retirada, os russos defendiam-se bem e Vyhovsky com os tártaros pararam a sua perseguição de três dias junto à fronteira russa.

Resultados e significado

O proeminente historiador russo do século XIX, Sergey Solovyov, descreve a chegada das tropas do Trubetskoy a Moscovo assim:

A derrota foi tão dura, porque foi inesperada, precedida de várias vitórias ilustres! Recentemente o conde Dolgoruki levou a Moscovo o aprisionado hetman da Lituânia, apenas recentemente toda a gente falava sobre os sucessos do Khovansky — e agora Trubetskoy, em quem todos tinham as esperanças maiores, do que nos outros — arruinou o exército enorme! Após a captura de tantas cidades, após a captura da capital lituana, a cidade real receou a sua própria segurança: em Agosto, czar decretou que as pessoas de todos os estatutos sociais devem empenhar-se nos trabalhos de fortificação em redor do Moscovo. Até o czar e os seus boiardes estavam presentes na construção; as pessoas das áreas longínquas, e espalharam-se os rumores, do que o czar deixou Moscovo para afixar-se além do rio Volga em Yaroslavl.

Infelizmente, a guerra civil ucraniana continuou e o período da Ruína conseguiu aquilo que Trubetskoy e seu exército não alcançaram. Após as forças do Hetman Vyhovsky conseguirem ocupar algumas cidades ucranianas, os cossacos de Zaporizhia, liderados por Ivan Sirko atacaram os tártaros da Crimeia no Sul e Khan Giray foi forçado a deixar a Ucrânia. Algumas cidades imediatamente rebelaram-se contra Vyhovsky: Lokhvytsia, Hadyach, Poltava, Romny. Apenas dois meses após a batalha, os cidadãos do Nizhyn juraram a fidelidade ao czar russo. No mesmo mês, os cidadãos e os regimentes cossacos em Kiev, Pereyaslav, Chernihiv também passaram ao lado russo.

No mesmo ano, Vyhovsky foi forçado a abandonar o posto de Hetman e emigrar para a Polónia onde mais tarde foi executado pelos polacos em 1664. A sua derrota é largamente atribuída à sua aliança impopular com os polacos, além da aparente incapacidade de obter os apoios entre as camadas mais largas da população ucraniana e não apenas entre a rica elite dos cossacos, que por sua vez pretendiam trai-lo, em detrimento dos acordos com Moscovo ou Varsóvia.

A batalha do Konotop foi o tópico abandonado na historiografia imperial russa e soviética. Essa atitude pode ser explicada pelo facto, do que a verdade histórica dos acontecimentos, contestar fortemente a propaganda russa sobre a unidade dos eslavos orientais, em particular sobre a "amizade eterna dos russos e ucranianos" e sobre o "desejo natural dos ucranianos de viver reunidos com a Rússia". Apesar da enorme bravura dos cossacos — especialmente aqueles que defenderam a cidade de Konotop, a sua vitória teve um impacto muito reduzido na história da Ucrânia, onde as ambições pessoais dos dirigentes prevaleceram sobre a ideia do bem nacional comum.
Fonte:
Wikipédia portuguesa

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