sexta-feira, março 20, 2009

Ossétia do Sul, sete meses depois

Em Agosto de 2008, o território da Ossétia do Sul tornou-se o campo da batalha entre a República da Geórgia, que defendia o seu território nacional e as forças da ocupação russas, que pretendiam renovar a sua presença colonial na região. A capital da Ossétia, a cidade de Tshinvali foi duramente castigada pela guerra. Era aqui que o exército georgiano consegui resistir três dias ao avanço das tropas russas, eventualmente salvando a sua capital e o seu país da uma ocupação moscovita. E agora, sete meses depois, como vive a república separatista?

por: Olga Allenova, Kommersant, 16.03.2009

Hoje (16.03.2009), em Moscovo deveria ter o lugar a reunião da Comissão Inter – Ministerial afecta ao Ministério do Desenvolvimento Regional, que decidirá se a Ossétia do Sul irá receber o financiamento do orçamento do estado russo. Mas não houve a reunião, esta foi agendada para o mês do Abril. Algo que acontece pela quarta vez, Moscovo não consegue acordar com o Tshinvali o esquema de financiamento (da reconstrução).

República em trevas

Uma estrada solitária liga o Túnel de Rokki (porta da entrada dos invasores russos em 2008) às aldeias silenciosas com as casas todas tortas, onde não vive ninguém. Na aldeia de Gufta – uma escola recém – reconstruída, mas não há crianças nas ruas. Em Djava também tudo é deserto. Em cima da colina – a base militar (russa): os soldados parecem ser únicos habitantes desta região. As aldeias do enclave georgiano, situado um pouco além, ficaram totalmente queimadas. Foi decidido (pelos russos e separatistas) não reconstruir estas aldeias – elas ficarão mortas para sempre.

A cidade de Tsinvali está escura e fria. Muitas casas não têm o aquecimento central, durante o Inverno o gás vindo da Geórgia, era fornecido com as interrupções. No Inverno, a Ossétia também várias vezes ficou em trevas, isso acontecia quando a neve rebentava as linhas da alta tensão nas montanhas da Ossétia do Norte.

Do Tshinvali até o Vladikavkaz (capital da Ossétia do Norte), são quatro horas da viagem. Até ao Tbilisi apenas uma hora. Mas a fronteira está fechada. Subiram os preços da alimentação, porque agora o fornecimento vem da Ossétia do Norte. Até os doentes graves são evacuados para a Ossétia do Norte. Já antes da guerra, os ossetas não conseguiam vender os seus produtos agrícolas na Rússia, a alfândega russa não deixava. Agora nem aos georgianos conseguem vender, que antes se abasteciam no mercado local. O Outono de 2008 foi o primeiro, quando os ossetas não foram colher a safra, tinham medo das minas. Os seus salários do Janeiro e Fevereiro de 2009, assegurados por Moscovo, só foram pagos no dia 8 de Março, agora existem rumor que o próximo salário será pago apenas em Junho. [...]

O Inverno passado foi um teste duro. Milhares de famílias ficaram sem a acomodação. Eles vivem em tendas nos seus próprios quintais ou nos apartamentos destruídos, onde os buracos nas paredes e as janelas partidas são tapadas com o plástico. Quem foi recebido pelos amigos ou familiares consideram-se felizardos. Se os perguntar se tem pena, que todas as relações com a Geórgia são rompidas, poderão dizer que não. Mas nos seus olhos vê-se a perdição e o medo. [...]

República sem o dinheiro

Toda a gente aqui sabe que o Moscovo cessou o financiamento da Ossétia do Sul. Os burocratas não falam disso abertamente, mas nas conversas privadas ficam admirados: “Moscovo quer criar a Direcção da Reconstrução da Ossétia do Sul e não quer que nós façamos a parte dela. Querem, que nós olhássemos como os empreiteiros moscovitas inflacionam os orçamentos e entreguem o alojamento sem a qualidade. E quando nós não concordamos, eles dizem: nos vos salvamos dos georgianos, e vocês ainda estão descontentes. Mas se nós somos a colónia, então podem nós dizer isso abertamente”. [...]

“A Rússia faz um erro atrás do outro, — argumenta o director do ginásio “Ruhs”, Uruzmag Djioev. – Dizem-nos: salvamo-vos. Mas a Rússia aqui não nos salvava. Ela salvava a si própria, os seus interesses na região. O Ocidente proponha-nos, fiquem com a Geórgia e brevemente estarão na UE. Mas nós lhes respondemos, que não vamos trair a Rússia. Nós somos honestos com o Moscovo, mas Moscovo connosco nem por isso. Se a Rússia não quer reconstruir a Ossétia do Sul, então teremos uma nova guerra”. [...]

A “ministra” da imprensa, Irina Gagloeva diz, que em Tshinvali o Ministério das Situações de Emergência da Rússia reconstruiu 29 jardins da infância, eles estão vazios, pois vive pouca gente no território. Mas na aldeia de Khetagurovo, as crianças estudam na escola semi – destruída. A escola foi considerada como avariada, está na lista de reconstrução prioritária, mas nenhum empreiteiro visitou a aldeia. [...]

República sem o alojamento

As únicas novidades visíveis em Tshinvali são dois semáforos novinhos em folha, que contam os segundos nos dois cruzamentos no centro da cidade. Dizem que é oferta da municipalidade do Moscovo. Mas nas estradas partidas há poucos carros, nos passeios ausentes não há pessoas, por isso os semáforos não alegram ninguém. Nos arredores de Tshinvali (no local da antiga aldeia, etnicamente georgiana, chamada Tamarasheni, queimada e saqueada por milícias separatistas ossetas), foram construídos cinco casarões com os telhados vermelhos. Isso é a futura vila “Moskovski”, que está ser construída nos últimos 6 meses e até agora é desabitada. Uma vila parecida é financiada (pelas petrolíferas da região) de Tyumen junto à aldeia de Khentagurovo, também está desabitada.

Na Geórgia foram construídas as vilas parecidas, isso demorou apenas dois meses e o alojamento já é habitado.

O empreiteiro do Ministério da Defesa da Rússia, “Fábrica mecânica №345” construiu a escola em Gufta, pelo seu orçamento, 1 metro² custava 100 mil rublos (cerca de 4.000 USD ao câmbio de Agosto de 2008). Os ossetas se recusaram a pagar e o orçamento foi coberto pelo próprio Ministério da Defesa. [...]

Na rua dos Heróis, no prédio № 111, o tecto de todos os apartamentos tem infiltrações fortíssimas de água. O edifício foi bombardeado durante a guerra, 17 apartamentos arderam, por causa das rachas no fundamento o edifício foi considerado “avariado”. Os burocratas explicaram aos moradores que o edifício é impróprio para a habitação. Mas antes do ano novo, o empreiteiro “Chechenstroy” fez um telhado novo, sem construir os sistemas de drenagem das águas e a casa ficou esquecida. [...]

Na Ossétia do Sul todos esperavam pelo mês do Março, porque poder político dizia que não é possível construir no Inverno. Agora esperam a Reunião da Comissão Inter – Ministerial, pois dela depende o financiamento. Mas mesmo se o esquema do financiamento será decidido, a reconstrução da Ossétia do Sul poderá começar apenas no Verão. Em Tsinvali dizem que a reconstrução foi mais difícil, do que a própria guerra.

Fonte & Fotos:
http://www.kommersant.ru/doc.aspx?DocsID=1138793

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