sexta-feira, agosto 29, 2008

Limpeza étnica na Ossétia do Sul

Geórgia: as imagens de satélite mostram destruição e ataques contra as populações étnicas georgianas dentro da Ossétia do Sul

Nova Iorque, 29 de Agosto de 2008. As recentes imagens de satélite difundidas pelo programa das Nações Unidas – UNOSAT, confirmam a destruição pelo fogo posto das aldeias georgianas dentro de Ossétia do Sul, disse hoje a ONG Human Rights Watch (HRW). A análise detalhada dos danos sofridos em cinco aldeias georgianas nas arredores da cidade de Tskhinvali, mostra que foram causados pelo fogo posto e não em resultado dos combates militares.

Durante a sua pesquisa na área, os investigadores de HRW testemunharam pessoalmente as milícias ossetos pilharem e queimarem as aldeias georgianas, disse Rachel Denber, directora – deputada da Divisão de Europa e de Ásia Central de HRW.

“Estas imagens de satélites indicam até que ponto foram propagadas aos incêndios destas aldeias, realizadas nas últimas duas semanas.”

As imagens novas de satélite, feitas por um satélite comercial no dia 19 de Agosto foram analisadas por peritos do programa de UNOSAT, baseados em Genebra, que por sua vez fazem parte do Instituto das NU para o Treinamento e a Pesquisa e produzem o mapeamento por satélite como suporte para as agências das NU e da comunidade humanitária internacional. Os peritos de UNOSAT identificaram estruturas visíveis nas imagens que foram destruídas ou danificados severamente. A análise dos peritos indica claramente que os padrões da destruição são claramente consistentes com as evidências recolhidas pelos investigadores de Human Rights Watch que trabalham na região.

Entre as imagens publicamente disponíveis do Web site de UNOSAT (http://unosat.web.cern.ch/unosat) está o mapa que marca as posições detectadas por satélite dos lugares com a alta actividade de fogo, nas aldeias georgianas em redores de Tskhinvali. O mapa mostra fogos activos nas aldeias georgianas nos dias de 10, 12, 13, 17, 19 e 22 de Agosto, bem após as hostilidades militares terminadas na área em 10 de Agosto. Nestas datas a ausência de nuvens permitiu que os satélites vissem aquelas posições.

Fogos por datas (alta resolução, 3.3MB)
Fogos por datas (baixa resolução, 1.6MB)

UNOSAT igualmente liberou um conjunto de seis imagens de satélite de alta resolução do conjunto das aldeias georgianas situados à nove quilómetros à norte de Tskhinvali, mostrando que a maioria deles foi destruída.

Aldeias georgianas destruídas (alta resolução, 26.7MB)
Aldeias georgianas destruídas (baixa resolução, 8.5MB)

As imagens indicam fortemente que a maioria da destruição em cinco das aldeias – Tamarasheni, Kekhvi, Kvemo Achabeti (Achaveti do Baixo), Zemo Achabeti (Achaveti do Cima) e Kurta – foram causadas pelo fogo intencional. As imagens de alta resolução destas aldeias não mostram nenhuma cratera do impacto do bombardeamento da artilharia, dos mísseis ou do ataque aéreo. As paredes de alvenaria exteriores e interiores da maioria das casas continuam em pé, mas os telhados de madeira foram destruídas, indicando que os edifícios foram queimados. Somente ao longo da estrada principal da aldeia de Tamarasheni existe um número de casas com as paredes exteriores destruídas, algo que pode ter sido causado pelos disparos dos tanques. As testemunhas georgianos de Tamarasheni disseram a Human Rights Watch que tinham testemunhado os tanques russos sistematicamente dispararem contra as suas casas no dia 10 de Agosto.
Imagens de satélite detalhadas da destruição das aldeias georgianas (10.2MB)
No dia 12 de Agosto os investigadores de HRW testemunharam a pilhagem maciça por milícias ossetos em Tamarasheni, assim como nas aldeias georgianas vizinhas. Os investigadores de HRW viram e fotografaram as casas ainda em fumaça, recentemente queimadas em Tamarasheni. Os testemunhas dos aldeões nas aldeias de Tamarasheni, Kvemo Achabeti e Kekhvi disseram a HRW que as milícias ossetos sistematicamente pilhavam e queimavam as casas georgianas. Na aldeia de Kekhvi, muitas casas tinham sido queimadas por milícias ossetos justamente antes da chegada dos investigadores de HRW, que fotografaram os casas queimadas.

• Ensaio fotográfico de HRW "Queimas e pilhagens das aldeias georgianas na Ossétia do Sul"

Os investigadores de HRW falaram com diversos membros das milícias ossetos que admitiram abertamente que as casas estavam queimadas por seus membros, explicando que o objectivo era se assegurar de que georgianos não tivessem as casas para regressar.

“Tudo isso adiciona as evidências de existência de crimes de guerra e dos abusos graves de direitas humanas,” disse Rachel Denber. “Isto deve persuadir o governo russo da necessidade de processar em juízo aqueles que são responsáveis por estes crimes.”

Os danos mostrados nas aldeias georgianas são maciços e concentrados. Em Tamarasheni os peritos de UNOSAT contaram um total de 177 edifícios destruídos ou danificados severamente, que perfazem quase totalidade dos edifícios na aldeia. Em Kvemo Achabeti há 87 edifícios destruídos e 28 severamente danificados (115 totais); em Zemo Achabeti, 56 edifícios destruídos e 21 severamente danificados (77 totais); em Kurta, 123 edifícios destruídos e 21 severamente danificados (144 totais); em Kekhvi, 109 edifícios destruídos e 44 severamente danificados (153 totais); em Kemerti, 58 edifícios destruídos e 20 severamente danificados (78 totais); e em Dzartsemi, 29 edifícios destruídos e 10 severamente danificados (39 totais).

Alguns depoimentos dos residentes georgianos:

“[Os ossetas] tinham os carros no exterior e pilhavam primeiramente tudo o que gostaram. Então trouxeram o feno, o espalharam pela casa e acenderam-no. A casa foi queimada na frente de meus olhos.”
- Zhuzhuna Chulukhidze, 76 nos, residente de Zemo Achabeti

“Eu fui espancado e a minha casa foi pilhada por milícias ossetos três vezes durante um só dia. Depois de levarem tudo e não havia nada mais para pilhar, trouxeram a gasolina, deitaram o em toda parte nos quartos e na parte externa a casa, e incendiaram tudo. Obrigaram-me ver a minha casa ficar queimada inteiramente.”
- Ila Chulukhadze, 84, residente de Kvemo Achabeti

“[Ossetas] vieram diversas vezes a minha casa e levaram tudo que gostaram. Uma vez que não havia nada mais para levar, derramaram a gasolina e puseram o fogo. Eu assistia como queimaram a minha casa, assim as casas dos meus vizinhos.”
- Rezo Babutsidze, 80, residente de Kvemo Achabeti

“Ossetas removeram primeiramente tudo que poderiam de minha casa. Então trouxeram o feno, puseram o em toda a casa e depois incendiaram. Não permitiram que nós levássemos até os nossos documentos. Eu vi como a minha casa foi queimada completamente.”
- Tamar Khutsinashvili, 69, residente de Tamarasheni

Fonte:
http://hrw.org/english/docs/2008/08/28/georgi19712.htm

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