segunda-feira, novembro 12, 2007

Advogado da causa ucraniana

Na sua generalidade, a sociedade portuguesa conhece bastante pouco sobre a Ucrânia. Por duas simples razões: antes do 25 de Abril de 1974, Portugal era dominado pelo regime autoritário do Estado Novo. Intelectualmente obscurantistas, o regime e a sociedade portuguesas acreditavam que na URSS viviam os russos; na Jugoslávia, os jugoslavos; na Ásia, os asiáticos e na África “portuguesa”, os portugueses.
Depois de 1974, os meios culturais portugueses passaram a ser dominados pela esquerda mais ou menos militante. Essa “esquerda de caviar” só se interessava pelas liberdades alheias, quando essas liberdades não chocavam com os ditames de Moscovo, Pequim ou Tirana. O resto não interessava para quase nada.

Subitamente, em 1989, cai o Muro de Berlim e, em 1991, desaparece a União Soviética. A Europa, afinal, estava repleta de povos completamente “estranhos”: os arménios (o primeiro país cristão do mundo, quem diria!), os belarusos (da Belarus, que no início até se traduzia como Rússia Branca) ou os ucranianos (esses são do Chornobyl e do Dínamo de Kiév).

Até há pouco tempo, nas minhas conversas com portugueses – mesmo com aqueles que tinham um nível cultural acima da média – eu ouvia frases do género: “Agora vocês são da Ucrânia, mas até pouco tempo atrás eram da Rússia, não eram?” Portanto, essa ideia mais ou menos generalizada do que os ucranianos são na realidade russos № 2, que por alguma razão estranha e misteriosa decidiram, em 1991, passar a chamar-se ucranianos, prevalece na TV, na imprensa escrita e nas mentalidades.

Por isso, podem imaginar o meu espanto, quando pesquisando a Internet na procura de informações sobre o Holodomor em português, encontrei na Wikipédia portuguesa uma página extremamente bem elaborada, em termos de conteúdo científico e de conhecimentos, sobre a Ucrânia.

Como é óbvio, procurei imediatamente identificar a pessoa que elaborava essa página. Trata-se de um português licenciado em História, chamado Luís Miguel de Matos Ribeiro, que sem dúvida “salva a honra do convento”, em matéria de conhecimento da História da Ucrânia pelos portugueses.

O Dr. Luís Ribeiro nasceu em 1964, na cidade de Lisboa, residindo actualmente em Grândola. Em termos académicos e profissionais, é licenciado em História pela Universidade de Lisboa, sendo professor de História de Portugal e História Universal em Grândola.
Relativamente ao Holodomor, o seu interesse começou há cerca de dez anos, quando leu o livro de Robert ConquestHarvest of Sorrow” (“Colheita do Sofrimento”). Desejoso de aprofundar o conhecimento do público português sobro o Holodomor, o Dr. Luís Ribeiro começou a coordenar os seguintes artigos em língua portuguesa, na Internet:

* Holodomor, http://pt.wikipedia.org/wiki/Holodomor
* Holodomor, http://pt.wikiquote.org/wiki/Holodomor
* Holodomor, http://pt.wikisource.org/wiki/Holodomor

Desde 2006, o Dr. Luís Ribeiro tem vindo a desenvolver várias acções de divulgação sobre o tema do Holodomor, tendo como objectivo o reconhecimento oficial deste genocídio pelo Estado Português.
Contando com a colaboração da Embaixada da Ucrânia e da Associação dos Ucranianos em Portugal, correspondeu-se com diversos partidos políticos e com os deputados portugueses do Parlamento Europeu, apelando ao reconhecimento do genocídio pela Assembleia da República e pelo Parlamento Europeu.
Participou nas comemorações do “Dia em Memória das Vítimas da Fome e das Repressões Políticas” (Lisboa, 26/11/06) e foi autor da petição à Assembleia da República para o reconhecimento oficial do genocídio (24/01/2007).
Também participou em duas reuniões com os membros da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República (juntamente com o Embaixador da Ucrânia em Portugal, Sr. Rostyslav Tronenko), a propósito da petição sobre o Holodomor (15/02/07 – 01/03/07) e colaborou nos colóquios sobre o Holodomor, realizados na Biblioteca Museu República e Resistência (Lisboa, 29/09/07) e na Biblioteca Municipal António Botto (Abrantes, 02/11/07).

Por fim, enquanto historiador, pretende fazer uma investigação sobre as notícias que a imprensa portuguesa publicou, em 1932-1933, sobre a Grande Fome da Ucrânia.

O que foi conseguido até agora em Portugal?
Infelizmente, continua a existir em Portugal um enorme desconhecimento sobre este terrível crime, e a comunidade académica portuguesa ainda não lhe dá a devida importância. Mas a comunidade ucraniana em Portugal também tem as suas responsabilidades nessa situação, tendo a obrigação moral, e o dever cívico, de desenvolver um maior esforço para sensibilizar o povo português para a importância histórica do genocídio organizado por Stalin contra a Ucrânia.

Para mudar essa situação, a Comunidade Ucraniana em Portugal e a Embaixada da Ucrânia em Portugal enviaram uma carta a todos os deputados da Assembleia da República, fazendo um apelo ao reconhecimento do genocídio.
Por sua vez, a Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República solicitou a opinião do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, tendo a resposta sido dada em 30 de Março de 2007 (o conteúdo da resposta ainda não foi tornado público).
Devido à presidência portuguesa da União Europeia – que decorre até ao final deste ano – não é de prever qualquer tomada de decisão pela Assembleia da República, em 2007. As novidades só deverão surgir nos primeiros meses do próximo ano, sendo previsível que o Dr. Luís Ribeiro, juntamente com o Embaixador da Ucrânia em Portugal, seja convocado à Assembleia da República para prestar alguns esclarecimentos sobre o tema do Holodomor.

Petição do Dr. Luís Ribeiro sobre o reconhecimento do Holodomor pela Assembleia da República:
http://www.assembleiadarepublica.pt/plc/Peticao.aspx?Pet_ID=11580

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