sexta-feira, agosto 12, 2005

A doença esquerdista do jornalismo ucraniano

Nas últimas semanas, a Ucrânia vive o escândalo ligado à família do Presidente Viktor Yushenko. O seu filho Andriy (19), é acusado de apropriar-se da simbólica da Revolução Laranja e é descrito na imprensa ucraniana como representante típico duma “juventude de ouro”, no seu pior sentido.
Pelos órgãos da comunicação social ucraniana, circula uma carta, endereçada ao Presidente e assinada pelos 700 jornalistas, com exigência de “pedir as desculpas públicas ao correspondente da Pravda Ucraniana”. O caso é explorado ao máximo pelo campo derrotado nas urnas em Dezembro de 2004. Chega-se ao ridículo! A radio – televisão portuguesa, a RTP mostra a cara de “politólogo” Mikhail Pogrebinsky, que tem a coragem de se auto identificar com aqueles que “ficavam ao frio, para Revolução vencer”. É claro, que os portugueses podem não saber, mas ucranianos sabem muito bem, que Sr. Pogrebinsky era principal especialista em Relações Publicas do antigo regime e fiz tudo por tudo no passado, para denegrir a imagem do Viktor Yushenko e derrotar a Revolução Laranja. Neste âmbito, gostaríamos de apresentar artigo, que constitui ao nosso ver, a melhor análise da situação política ucraniana do momento. Artigo foi publicado no site visado, UP, publicamos a sua tradução em resumo.

Grygoriy Klotchek* (Григорій Клочек)
www.pravda.com.ua/en / Pravda Ucraniana-UP / Українська правда
3 de Agosto de 2005

Se a carta (dos 700 jornalistas) entrar no história do jornalismo ucraniano, então é duvidoso que poderá embeleza-la. Mais provável é o contrário.

Vou tentar explicar o meu pensamento.

O antigo poder, tendo o instinto de sobrevivência dos diabos, muito antes das eleições presidenciais, calculou quem é a personalidade mais perigosa pare ele, atacando-o com todo o seu poderio. Funcionava uma maquina de mas – mídia enorme e muito bem paga, cujo principal papel era de baixar os 25% de apoio eleitoral permanente, que Viktor Yushenko possuía no país.
Convido toda a gente, imaginar o que sentia Viktor Yushenko, ficando alguns anos neste mídia espaço, cheio dos destruidores daqueles 25 porcentos – todos eles, justificando os honorários generosos, mascaravam-se de intelectuais objectivos e analíticos, procurando, e não conseguindo achar alguma falha, que poderia ser explorada, para fazer o seu RP negativo. E quando não arranjavam, então simplesmente mentiam.
Mais o apoio eleitoral não se baixou em nenhum porcento. Viva o subconsciente colectivo dos ucranianos: ele aguentou-se com todos aqueles ataque maldosos e maciços!
Eram dias frios e cinzentos de Outono. A noite ligava-se a TV e podia-se ver o enviado russo, jornalista Dmitriy Kiselev que, dezenas de vezes repetia sobre o envenenamento de Yushenko: “Então, Yushenko mente”. E até agora não pediu as desculpas.
Yushenko ganhou. Essa foi uma vitória dramática, mas linda, ela abalou o Mundo inteiro. Mas parece que não abalou o jornalismo ucraniano. Eu não encontrei nenhum artigo, que de maneira positiva, sem o cinismo pós – moderno, analisaria o acto heróico do Viktor Yushenko. Não encontrei nenhuma resposta adequada ao Dmitriy Kiselev, nem aos outros RP’s da categoria inferior. Aqui, o corpo jornalístico ucraniano praticamente refugia-se no silêncio.
Mas já na segunda semana do novo poder, as mídia ucranianos começaram publicar os reparos: “não mudou nada, o novo poder nem um bocado é melhor do que o poder antigo”.
Mais tarde, este motivo agravou-se, embora qualquer pessoa com mínimo do bom senso entende, que transformar um sistema de oligarquia quase tribal já formado, – é uma tarefa não de um ano. Ainda mais, o sistema criminoso e amoral, para garantir a sua sobrevivência, preparou-se para tudo. O sistema não apenas montou uma defesa total ao seu redor, mas conservando os recursos consideráveis no campo das mídia, rapidamente preparou e pós em pratica, a táctica de “contra – revolução rastejante”.
A guerra esta na Internet. Quando se olha para os fóruns diferentes, pode-se claramente ver uma tendência: no cada um destes fóruns, aparecem os comentários, cujo único objectivo é ofender o Presidente de maneira mais saloia possível. Todos estes discursos possuem a mesma estilística, o que quer dizer que são criados por um grupo de pessoas pagas, guiadas apenas pelas duas ou três deixas diferentes.
Viktor Yushenko já disse alguns vezes, que a liberdade de expressão deve ser responsável e o jornalismo – patriótico. Essas palavras não foram ouvidos.
Vivemos no país, onde o povo tem problemas gravíssimas de auto identificação, onde a táctica e estratégia de uma nação política são simplesmente ausentes, mesmo ao nível teórico.
Qual é a causa principal do que, uma vez recebendo a liberdade de expressão, a maior parte do corpo jornalístico ucraniano começou trabalhar no campo informático destrutivo? Explicar tudo, apenas pelo potente apoio financeiro, oferecido por parte do poder antigo, que sonha com o desforra, não é possível. Este apoio é um factor muito importante, mas não é determinante.

E aqui vou ter que usar o termo, que agora muita gente tenta não usar publicamente. Este termo é a síndroma do “russo pequenino”. Uma análise genial deste fenómeno, foi feita pelo escritor Yevhen Malanyuk, um dos ucranianos mais sábios do século XX.
- A síndroma do “russo pequenino” – é o nível da identificação nacional muito baixo ou até a sua total ausência. A síndroma, - considerava Malanyuk, - é uma doença psíquica, invisível externamente, sem sintomas físicas.
- A síndroma do “russo pequenino” – escrevia ele, - sempre foi uma doença da semi - inteligêntzia, mas em primeiro lugar da inteligêntzia, porque atingia a parte da sociedade, que devia desempenhar o papel do centro intelectual da nação. E aqui reside o problema... Numa psíquica normal, que não sofre desta síndroma, cada filho do seu povo, possui os especiais “reflexos relativos” do instinto nacional: bem – mal, correcto – incorrecto, limpo – sujo, Deus – diabo. A síndroma do “russo pequenino” enfraquece estes reflexos até o seu total desaparecimento”.
Apenas nas eleições de 2004, ficando perante real catástrofe nacional, sentindo intuitivamente o sopro mortal de situação do tipo “ser ou não ser”, o instinto nacional finalmente funcionou, o balanço entre Leste e Ocidente foi desestabilizado pelo Centro da Ucrânia. Exactamente aqui, nos terrenos da autêntica e genuína Ucrânia, deu-se o relâmpago único do esquecido instinto nacional. Em muito, este relâmpago foi provocado pela carisma do Viktor Yushenko – uma pessoa com uma base nacional muito funda.
Dirigindo-se aos jornalistas com pedido de ser responsáveis e patrióticos, Viktor Yushenko, praticamente pediu ajudar num trabalho super difícil – construção de uma Ucrânia civilizada e europeia. Mas até agora, o dialogo não aconteceu, o Presidente não foi ouvido.
Só agora, foi tornado público o facto, do que nos tempos do anterior regime, foi escrita e assinada por uma centena de jornalistas uma carta à presidente Kuchma, a quem estes, pediam (exactamente, pediam e não exigiam) não pressionar os mídia com muita força. Carta essa, nunca foi enviada. Tiveram medo...
A jornalística criativa, virada para implementação do Bem, exige o talento, uma das partes inseparáveis do qual é o patriotismo, moral elevada e a capacidade de aproximar-se da Verdade.
E no fim, outra vez volto à Yevhen Malanyuk: “... problema da síndroma do “russo pequenino” na Ucrânia, é um dos problemas maiores, ligados directamente ao nosso problema principal - ausência do Estado. Muito mais, é um problema, que em primeiro lugar entrará na ordem do dia dos homens do Estado na Ucrânia soberana. E ainda muito tempo, durante a criação e estabilização do Estado, este problema entrará no primeiro plano, e para a soberania – é um memento terrível.
E já que a nossa síndroma do “russo pequenino” – é a nossa doença histórica (historiador ucraniano Volodymyr Lypynskiy chamou a de doença de ausência de soberania), doença de muitos séculos, por isso é crónica. Nem a terapia temporal, nem a cirurgia – aqui não podem ajudar. Temos que sobreviver essa doença, durante longos e longos dezenas de anos”.

Falando francamente, quinze anos apôs a proclamação de Independência Nacional (24 de Agosto de 1991), podemos constatar que a síndroma do “russo pequenino” ainda nem começou a ser superado. Mas mesmo assim, pressinto, que podemos começar faze-lo muito brevemente.


Professor Doutor de Filologia,
Cidade de Kirovograd, Ucrânia
Correio electrónico: wira@ns.shtorm.com

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